A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

RESUMO

O presente artigo aborda o processo de relação entre professor-aluno e suas implicações na aprendizagem com base em enfoques literários, psicológicos, sócio-históricos e afetivos envolvidos pela Pedagogia Dialógica de Paulo Freire e a Concepção Vygotskyana. Com o objetivo de analisar como se processa a relação professor- aluno baseada no diálogo, suas implicações e eficácia no processo educativo, realizou-se um estudo teórico, em que se pesquisou o papel do professor quanto as oportunidades de diálogo, os laços de afetividade, os aspectos psicológicos e as intervenções pedagógicas no processo de aprendizagem do aluno.

INTRODUÇÃO

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O diálogo e a afetividade acompanham o ser humano durante toda sua vida e desempenham um importante papel no seu desenvolvimento e nas suas relações sociais. Nesse sentido, a criança que possui uma boa relação afetiva, é considerada como segura, tem interesse para adquirir novos conhecimentos e tem chances para um bom rendimento escolar.

Diante disso, o professor assume um papel de grande destaque para a aprendizagem da criança, pois ele é o mediador no processo de aprendizagem e não apenas um indivíduo detentor de conhecimentos, isto porque, a relação professor ? aluno é o ponto de partida para um bom desempenho no processo de ensino- aprendizagem, pois nela estão inseridos elementos que irão resultar em produtividade para ambas as partes. Partindo desse pressuposto, o professor é um agente indispensável no processo de ensino- aprendizagem, pois ele deve agir intervindo e mediando a relação do aluno com o conhecimento, isto é, atuando como elemento de ajuda na zona de desenvolvimento proximal, provocando avanços que não ocorreram.

Esse texto busca sistematizar a relação professor- aluno sob a perspectiva da Pedagogia Dialógica proposta por Paulo Freire, ressaltando o diálogo e a afetividade como componentes relevantes a uma aprendizagem significativa, assim como alguns aspectos fundamentais que a teoria vygotskyana dá ao processo de interação , especificamente, às intervenções pedagógicas e ao ensino na construção do conhecimento, destacando a zona de desenvolvimento proximal, que fornece subsídios para reforçar o papel de desafiador que o professor deve exercer em seu trabalho com os alunos. Desta forma, o tema escolhido tem como objetivo ressaltar a importância da relação professor- aluno como fator de interferência no processo de ensino- aprendizagem.

O texto está organizado em três itens. No primeiro item apresento os fundamentos teóricos discutindo a visão freiriana sobre a importância do diálogo e da afetividade no processo de ensino-aprendizagem. O segundo item relata um estudo teórico da concepção vygotskyana com enfoque na relação professor-aluno enfatizando o trabalho na zona desenvolvimento proximal. O terceiro e último tecei algumas considerações finais sobre a temática abordada.

1.A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO E DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM.

Em todo processo de aprendizagem humana, a interação social e a mediação do outro tem fundamental importância. Na escola pode-se dizer que a relação professor- aluno é imprescindível para que ocorra o sucesso no processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com as abordagens de Paulo Freire (2005), percebe-se uma forte valorização do diálogo com importante instrumento na constituição dos sujeitos. No entanto, esse mesmo autor defende a idéia de que só é possível uma prática educativa dialógica por parte dos educadores, se estes acreditarem no diálogo com um fenômeno humano capaz de mobilizar e refletir o agir dos homens e mulheres. E para compreender melhor essa prática pedagógica Freire, acrescenta que

[...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em

que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao

mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um

ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-

se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes.

( FREIRE , 2005 , p. 91)

Assim, quanto mais o professor compreender a dimensão do diálogo como postura necessária em suas aulas, maiores avanços estarão conquistando em relação aos alunos, pois desse modo, sentir-se-ão mais curiosos e mobilizados para transformarem a realidade. Quando o professor atua nessa perspectiva, ele não é visto com um mero transmissor de conhecimentos, mas como um mediador, alguém capaz de articular as experiências dos alunos com o mundo, levando- os a refletir sobre seu entorno, assumindo um papel mais humanizador em, sua pratica docente.

Segundo Paulo Freire (1967, p. 66), "[...] o diálogo é uma relação horizontal. Nutre-se de amor, humildade, esperança, fé e confiança". Na fala de Freire, percebe-se o vinculo entre o diálogo e o fator afetivo que norteará a virtude primordial do diálogo, os respeitos aos educandos não somente como receptores, mas enquanto indivíduos, ou seja, é na relação entre professor-aluno que juntos vão aprendendo a ser uma relação horizontal, afetiva, dialógica, problematizadora, reflexiva e transformadora, no qual o saber do educador vai se interligando ao saber dos educandos nos processos de trocas que vão sendo estabelecidas no decorrer da práxis educativa, através de uma relação mediadora estabelecida com diálogo e afetividade.

Entretanto, dialogar não requer apenas o encontro de duas pessoas que conversam sobre determinado assunto sem haver um maior engajamento e um objetivo comum entre os que dialogam, nem um momento onde as pessoas envolvidas apenas fazem comunicados umas as outras ao invés de se comunicarem. Antes disso, "[...] o diálogo é o encontro no qual a reflexão e a ação , inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para o mundo que é preciso transformar e humanizar, este diálogo não pode reduzir-se a depositar idéias em outro" (FREIRE, 1980, p. 83).

As relações afetivas que o aluno estabelece com os colegas e professores são de grande valor na educação, pois a afetividade constitui a base de todas as reações da pessoa diante da vida. Sabendo que as dificuldades afetivas provocam desaptações sociais e escolares, bem como perturbações no comportamento, o cuidado com a educação afetiva deve caminhar lado a lado com a educação intelectual, isto porque, é na escola que a criança e o adolescente procuram buscar o atendimento de algumas de suas necessidades afetivas. Por isso, é importante que, na relação entre professor-aluno, sejam levados em consideração tanto os aspectos cognitivos quanto os aspectos afetivos desta relação.

O diálogo e a afetividade são dimensões humanas inseparáveis do processo educativo, isto porque, na convivência amorosa, que é necessariamente dialógica, estabelece-se entre educador ? educando uma relação de respeito à dignidade de cada um dos sujeitos envolvidos. Nesse sentido, ser um profissional dialógico e afetivo e que compreende a realidade de seus educandos , que abraça, acolhe, dá carinho, não exime o educador de desenvolver seu trabalho com envolvimento, competência, comprometimento, seriedade e compromisso político. Ao contrário, é essa afetividade e dialogicidade que vai fortalecendo e contribuindo para que o processo de ensino-aprendizagem e o desenvolvimento da inteligência vão sendo enriquecido, construído, baseado no diálogo, na confiança e no respeito na capacidade do educando.

Conforme Freire (1995), uma relação pedagógica impositiva, autoritária que castra a curiosidade e nega o saber do educando, impondo um saber absoluto e indiscutível, que não abre espaço para o diálogo, para o debate, para o construir, por medo de perder a tão famosa ?disciplina" é antagônica à uma educação afetiva e dialógica que se compromete com a humanização dos sujeitos. Afetividade e dialogicidade só são significativas se estiverem entrelaçadas no processo de ensino-aprendizagem e envolverem todos os sujeitos, educadores e educandos, numa relação de reciprocidade.

Nessa perspectiva freiriana, o fator afetivo serve de referência para que o professor trabalhe não só elementos da construção do real, mas também a constituição do próprio sujeito, como os valores e o caráter. Ademais, a criança que se sente amada, aceita, valorizada e respeitada, adquire autonomia e confiança e aprende a amar, desenvolvendo um sistema de auto-valorização e importância. A auto-estima é algo que se aprende: se uma criança tiver uma opinião positiva sobre si mesma e sobre os outros, terá mais condições de aprender. Nesse ponto, o papel do educador é fundamental, sendo seu desempenho um bloco de construção da afetividade na criança. Faz parte do papel do professor a compreensão de que as ligações afetivas são as primeiras formas de relacionamento da criança com o mundo á sua volta e que começam entre a criança e os adultos que cuidam dela. As emoções manifestadas pela criança dependem da acolhida afetiva do adulto, porque a maneira como ele a faz se sentir influenciará suas trocas com o outro e, mais tarde, o aspecto cognitivo. Uma criança que vivencia o jogo interativo e as trocas afetivas tem auto-estima, elabora seu auto-conceito em harmonia com suas capacidades, se fortalece pelos sentimentos de adequação e se sente segura e confiante.

Logo, a afetividade e o diálogo têm um sentido pleno: estão relacionados às vivências de adultos e crianças, motivação de professores e alunos e é determinante da prática educativa. Conhecer o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança possibilita ao professor melhorar ainda mais suas intervenções no sentido de ampliá-las por meio do diálogo, ou seja, priorizando a afetividade em todos os relacionamentos, no espaço pedagógico e fora dele, para que, se relacionando com seus sentimentos e emoções, o professor possa dar um salto qualitativo no processo ensino-aprendizagem.

2.INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: TRABALHANDO NA ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL

A escola enquanto instituição educativa desempenha um papel relevante na interação professor- aluno, pois é o palco das diversas situações que propiciam esta interação, principalmente no que tange sua dimensão socializante, a qual prepara o individuo para a convivência em grupo e em sociedade.

Segundo Vygotsky (1976, p. 78), a relação professor-aluno não deve ser uma relação de imposição, mas sim, uma relação de cooperação, de respeito e de crescimento, no qual o aluno deve ser considerado como um sujeito interativo e ativo no seu processo de construção de conhecimento. Assumindo o educador um papel fundamental nesse processo, como um indivíduo mais experiente. Por essa razão cabe ao professor considerar também, o que o aluno já sabe sua bagagem cultural e intelectual, para a construção da aprendizagem.

Nesse sentido, a atuação do professor é de suma importância, já que ele é o mediador da aprendizagem do aluno sendo assim muito importante para o aluno a qualidade da mediação exercida pelo professor, pois desse processo dependerão os avanços e as conquistas do aluno em relação à aprendizagem na escola. Organizar uma prática escolar, considerando esses pressupostos, é sem duvida, conceber o aluno um sujeito em construção e transformação que, a partir das interações tornar-se à capaz de agir e intervir no mundo, conferindo novos significados para a historia dos homens.Quando se imagina em uma escola baseada no processo de interação, não está se pensando em um lugar onde cada um faz o que quer, mas num espaço de construção , de valorização e respeito, no qual todos se sintam mobilizados a pensarem em conjunto.

Na teoria de Vygotsky, é importante perceber que como o aluno se constitui na relação com o outro, a escola é um local privilegiado em reunir grupos bem diferenciados a serem trabalhados. Essa realidade acaba contribuindo para que, no conjunto de tantas vozes, as singularidades de cada aluno sejam respeitadas.

De acordo com Vygotsky, a sala de aula é, sem dúvidas, um dos espaços mais oportunos para a construção de ações partilhadas entre os sujeitos. A mediação é, portanto, um elo, que se realiza numa interação constante no processo de ensino-aprendizagem. Pode-se dizer também que o ato de educar é nutrido pelas relações estabelecidas entre professor-aluno. Nesse sentido, a construção do conhecimento se dará coletivamente, portanto, sem ignorar a ação intrapsíquica do sujeito.

Assim, Vygotsky conceituou o desenvolvimento intelectual de cada pessoa em dois níveis: um real e um potencial. O real é aquele já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria porque já tem um conhecimento consolidado. O potencial é quando a criança ainda não aprendeu tal assunto, mas está próximo de aprender, e isso se dará principalmente com a ajuda de outras pessoas. Vai ser na distância desses dois níveis que estará um dos principais conceitos de Vygotsky: a zona de desenvolvimento proximal, que é definido por ele como:

(..) A distância entre o nível de desenvolvimento que se costuma

determinar através da solução independente de problemas, e o

nível de desenvolvimento potencial, determinando através da

solução de problemas sob a orientação de um adulto ou de

companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1989, p. 97)

Partindo da teoria de Vygotsky (1989), o conceito de zona de desenvolvimento proximal abre uma nova perspectiva à prática pedagógica colocando a busca do conhecimento e não de respostas corretas. Ao educador, restitui seu papel fundamental na aprendizagem, afinal, para o aluno construir novos conhecimentos precisa-se de alguém que os ajude, eles não o farão sozinho. Assim, cabe ao professor ver seus alunos sob outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre colegas, que favorece também a ação do outro na ZDP (zona de desenvolvimento proximal). Partindo dessa perspectiva, o professor seria o suporte, ou "andaime", para que a aprendizagem do educando a um conhecimento novo seja satisfatória.

Nessa perspectiva, a educação não fica à espera do desenvolvimento intelectual da criança. Ao contrário, sua função é levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais se desenvolve mentalmente. Segundo Vygotsky, essa demanda por desenvolvimento é característica das crianças. Se elas próprias fazem da brincadeira um exercício de ser o que ainda não são o professor que se contenta com o que elas já sabem é dispensável. Partindo do pressuposto das implicações educacionais, que o conceito de ZDP traz para a prática docente, nota-se que são inúmeras e grandes, uma vez que, explorar essa "região" leva o professor a enfrentar novos desafios, que exigem dele maior atenção para com o processo educativo, pois a função do professor na teoria vygotskyana é de promover reflexos sobre as hipóteses do aluno e auxiliá-lo no estabelecimento de relações entre o ocorrido e o pretendido, isto é, adequar suas intervenções ao estilo do aluno e à situação contextual, enfim atuar dentro da ZDP. Além disso, conhecer o processo mental pelo qual o individuo realiza alguma tarefa é fundamental para se compreender o papel e a necessidade da intervenção pedagógica do professor dentro da ZDP do aluno, promovendo o desenvolvimento do mesmo.

[...]