A relação entre o consumo irracional de carne, desmatamento amazônico, e seus reflexos
  • Introdução ao assunto

Como de praxe, o almoço e a janta do brasileiro devem ter arroz, feijão, e um belo bife suculento. Nada mais importa! Não é simples questionar os fatos e doutrinas emaranhados há séculos na sociedade terrestre. Tal uso do questionamento já foi precursor de muitos conflitos, mas também provocador de revoluções essenciais. Um bom exemplo de indagação que mudou completamente a ordem de governo mundial foi a Doutrina Iluminista, que consistia no antagonismo aos dogmas católicos e absolutistas no uso da razão para definir a ordem social.

A partir disso, podemos concluir que tais questionamentos são essenciais, e a liberdade de questionar foi adquirida com o passar dos anos. Com essa mesma liberdade, posso então iniciar um assunto intrigante, que fará o leitor rever seus conceitos sobre o consumo irracional da carne.

O papel da escola é fomentar a capacidade crítica para questionar, de maneira coerente, os valores impostos no meio social, que na maioria das vezes são aceitos como “verdade absoluta”. Essa “verdade” está presente em variados âmbitos da nossa sociedade, inclusive no consumo de produtos de origem animal. Quando a escola não cita a existência dos valores impostos, o questionamento é desvalorizado, incluindo-se tais consumos.

Com certa pesquisa, é fácil notar que somos independentes do consumo de carne para uma saúde estável, e somos também a única espécie que continua a beber leite após o crescimento. Para sustentar esses “caprichos”, ambiciosos latifundiários necessitam de fomentar em larga escala a pecuária, devastando milhares de hectares de floresta nativa, não só para a formação de pastos, mas também para o cultivo de alimento para esses animais. A importância da Floresta Amazônica é esquecida, e atropelada por arados que só vêm destruir e desequilibrar a mata imaculada, interferindo diretamente na nossa saúde, no meio ambiente, e no bem-estar dos animais. Dizer que todos os humanos devem ser vegetarianos ou vegans (filosofia de abdicação do consumo de qualquer alimento ou produto de origem animal) é radical na conjuntura atual de valores, portanto inviável, mas é importante salientar a necessidade de sermos onívoros conscientes, interessados no que acontece antes do alimento chegar à mesa.

  • Questões de rentabilidade

Pesquisas apontam que durante o processo de criação do gado, há uma necessidade de 4 quilos de proteína vegetal (ração) para 1 quilo de proteína animal (carne já pronta para o consumo), gerando um enorme desperdício, sustentado pelo simples luxo de comermos carne. Nota-se certo excessivismo durante esse processo, quando percebemos que a proteína vegetal é 400% mais rentável.

Com números tão críticos como esses,é possível questionarmos as verdadeiras consequências dessa prática aparentemente inocente.

 

  • Consequências do consumo desenfreado

Com a grande escala de consumo de carne bovina, há a necessidade de ampliação da produção de soja, que é um grão indispensável para a elaboração de muitos produtos, como farinha, sabão, cosméticos, resinas, solventes, tintas, anticoncepcionais, produção de biocombustíveis, e também na produção de ração animal.

O cultivo da soja se iniciou no sul, expandindo-se pelo centro-oeste, e atualmente abrange partes imensas do norte. É válido ressaltar que o Brasil encontra-se como segundo maior produtor de soja do mundo, ocupando 22 milhões de hectares e com cerca de 100 milhões de hectares aptos à expansão (MACEDO e NOGUEIRA, 2005). Na Amazônia Legal(propriamente brasileira), o maior responsável pelo desmatamento é a agropecuária. Em nenhum lugar do mundo são derrubadas tantas árvores quanto na Amazônia. De acordo com um levantamento (2013) da ONU WWF, o Brasil é o país que mais desmata no mundo, com um contraste de 30% a mais de desmatamento em relação à Indonésia, que ocupa a segunda posição entre os países com maior taxa de destruição ambiental.

 

 As principais consequências do desmatamento na Amazônia podem ser apresentadas em tópicos, que serão desenvolvidos posteriormente.

  • Destruição da biodiversidade;

  • Genocídio e etnocídio das nações indígenas;

  • Erosão e empobrecimento dos solos;

  • Mudanças hidrológicas;

  • Elevação das temperaturas e contribuição para o aquecimento global.

 

  • Consequências propriamente ditas

    Destruição da biodiversidade

A biodiversidade amazônica não se destaca somente no fator gama (quantidade de diferentes espécies habitando uma região como um todo), mas também no fator alfa (quantidade de diferentes espécies habitando um mesmo ponto). E mesmo com a certeza de ter a maior diversidade de fauna e flora do planeta, ainda há muito o que se descobrir.

A biodiversidade é um elo entre todas os seres vivos, em que cada espécie exerce sua função, formando uma verdadeira “teia vital”. Para se ter noção, de acordo com a IUCN(União Mundial para a Conservação da Natureza) os serviços prestados pela natureza ao homem, seriam equivalentes a U$ 33 trilhões por ano! Mais do que o dobro do PIB dos Estados Unidos. Entretanto, ameaçar a biodiversidade perpassa a extinção de espécies animais, pois muito além do valor em dinheiro, estima-se que colhemos entre 50.000 e 70.000 espécies vegetais para uso na medicina tradicional e moderna em todo o mundo. Mesmo assim, as providências ecológicas não são efetivamente cumpridas.

 

Genocídio e etnocídio das Nações Indígenas

Para completar o ciclo de produção pecuarista e cultivo de grãos, nativos principalmente amazônicos vêm sofrendo opressão e são forçados a deixar suas terras, influenciados por suborno ou por ameaças. Com um considerável histórico de lutas, os indígenas sofre desde o Brasil Colonial, e fundações como a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) tentam instituir direitos a esses menos favorecidos. A ocupação latifundiária atinge diretamente no bem-estar do que ainda restou dos Índios. Segundo a mesma fundação, o número atual de indígenas brasileiros vivendo em aldeias é de aproximadamente 463 mil, quando se tinha de 4 a 5 milhões durante a invasão portuguesa.

 

Erosão, empobrecimento dos solos e desertificação

Segundo Meyer e Turner II (2011), a alteração da fisionomia dos solos nos últimos 160 anos tem sido identificada como excessiva pressão das atividades humanas, associadas aos campos e pastagens. Influenciando também na alteração climática, a mudança irregular das características nativas toma frente nas causas que acarretam um “efeito dominó” no âmbito de problemas causados pelo desmatamento sem controles biológicos, como reflorestamento. Muitas vezes os critérios de regulamentação de plantio não são seguidos; consequentemente, o solo perde sua fertilidade, fazendo com que cada vez mais o uso de agrotóxicos altamente danosos à saúde humana e ambiental sejam usados. Aumenta-se também a necessidade de alteração genética (GM) devido às mudanças na composição do solo, e devido também ao cultivo de certos vegetais em locais que não se enquadram nas características físicas e biológicas necessárias aos seus respectivos cultivos, para que a planta sobreviva de uma forma que gere menos perda durante a colheita.

A conferência das Nações Unidas sobre Desertificação, em 1987, em seu relatório indicava que 6% das terras do planeta constituíam-se de “desertos feitos pelo homem” e aproximadamente um quarto da superfície terrestre estava ameaçada por processos desertificação.

(disponível em DIAS, Genebaldo / Educação Ambiental – Princípios e Práticas, p. 248)

A Amazônia exerce papel protagonista no que se refere às potências naturais, contrapostamente, o Brasil não ocupa a mesma posição no quesito Expansão e Investimento na Educação Ambiental e nem nos seguimentos das propostas de preservação.

Mudanças Hidrológicas

Alterações radicais no perfil do solo são responsáveis por uma reação em cadeia. Essa mudança, tanto para pastagem quanto para produção agrícola, reflete nas cidades, pelo racionamento de água, consequentemente há reflexos no mar, que é poluído pela aplicação de biocidas e fertilizantes (no caso da agricultura). De acordo com o professor Genebaldo Dias (2004), a irrigação de pastagem e na agricultura é responsável pela maior retirada do ciclo da água (75%), e seus efeitos secundários incluem depleção, ou seja, redução dos rios e corpos d'água.

 

Elevação das temperaturas e contribuição para o aquecimento global

 

Não obstante a liberação de toneladas CO2 na atmosfera, o cultivo de gado influencia significativamente na poluição da atmosfera terrestre, desencadeando a elevação da temperatura global exponencialmente, cada vez mais rápido. O gás metano tem uma capacidade de retenção do calor cerca de 20 vezes superior à do CO2. Suas principais fontes de emissão são as flatulências de animais.

A pecuária de bovinos, ovinos e outros animais, junto à agricultura de várzea são responsáveis por cerca de 15% da poluição atmosférica atual (OXFORD essential world atlas; 5ª ed. Nova York: Oxford University Press, 2008, p. 15).

 

  • Relação governo vs empresas

Tomando como exemplo o frigorífico JBS, fundado em 1953, por João Batista Sobrinho, em

Anápolis (GO), há indícios de que quando irregularidades não descobertas pelo governo, a mesma utiliza-se de táticas antiéticas, como ameaças ocultas de mudança de país-sede, caso a empresa seja tachada de uma maneira superior ao que elas se permitem aceitar.

 

 

Essas empresas não são apenas ricas, mas também politicamente poderosas. Se o governo decide tributá-las ou regulamentá-las de uma maneira que não lhes agrada, elas ameaçam mudar-se para outro lugar, e há sempre um país disposto a receber suas receitas tributárias, seus empregos e seus investimentos.

(disponível em STIGLITZ, Joseph E. Globalização: como dar certo, p. 302)

A nação por não poder arriscar perder essas potências, que movem a economia nacional, e geram milhares de empregos, é forçada a ceder em alguns casos.

 

  • O Perigo da História Única

Como apresentado nas aulas de geografia, os estereótipos são um dos principais vilões durante um processo de desconstrução de valores equivocadamente impostos, no caso, a preservação da floresta nativa brasileira.

O Perigo da História Única, protagonizado por Chimamanda Adichie, consiste em uma palestra de aproximadamente 20 minutos de duração, disponibilizada pela plataforma TED¹, retratando as consequências de uma história contada sob um único ponto de vista. Trazendo para nosso tema, esse perigo pode se efetivar na concepção que a população possui em relação às florestas brasileiras, em que se crê na estória de recursos naturais infinitos, e não há com o que se preocupar ainda. Tal perigo da história única, faz com que tomemos conclusões surreais no processo de análise dos agentes causadores da devastação amazônica, quando as marcas multinacionais mostram apenas o lado positivo e impecável de sua gestão, passando informações duvidosas de que cumprem com seu papel ecológico no quesito ambiental. O que efetivamente não acontece.

 

 

¹Link disponível na bibliografia do trabalho.

  • Conclusões

Assim, concluo demonstrando total apoio às organizações não-governamentais de defesa ambiental pelas lutas incessantes por um mundo mais consciente, visto que, somente durante os períodos de 2000 e 2006, e de acordo com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), já foram desmatados 700.000 km², equivalentes à área de 23 Bélgicas, ou 17 Holandas, ou ainda 172.839.500 campos de futebol. Certa reflexão sobre práticas tomadas socialmente, em um contexto marcado pela degradação permanentedo meio ambiente e de seu ecossistema são relevantes, e dados lamentáveis como esses energizam a obrigação cidadã de disseminar a atual conjuntura do cenário de desmatamento no Brasil, esperançando um futuro sapiente, disposto a lutar pelo bem humanitário.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Bibliografia

  • DIAS, Genebaldo Freire, 1949: Educação Ambiental – Princípios e Práticas / 9ª ed. – São Paulo: Gaia, 2004.

  • SENE, Eustáquio de: Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização vol. 1 e 2 / 2ª ed. – São Paulo: Scipione, 2013.

  • JACOBI, Pedro, 2003: Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade / USP

  • http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-753X2012000200002&script=sci_arttext

 

 

 

 

  • https://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc