A ausência do Estado em políticas de bem estar público abre margem para que instituições da sociedade civil como Ongs e empresas venham substituir sua ação em diversas áreas. Neste sentido, os pobres que outrora eram explorados através da escravidão continuam a ser, mas por formas mais sutis sobre a roupagem de assistência e responsabilidade social.

A miséria é explorada como forma de visibilidade para as empresas e como forma de galgar a confiança, diminuir impostos, conseguir financiamentos nacionais e internacionais, que, muitas vezes, esconde esquemas corruptos de desvio de dinheiro. A verdade é que se o Governo não participasse como coadjuvante do sistema capitalista e representasse de fato os interesses da população, tal realidade não ocorreria.

Através do discurso da ineficiência dos serviços públicos e do custo social busca se cada vez mais restringir o acesso à saúde, educação, moradia e saneamento básico via privatização.  Quando se privatiza tais serviços essenciais à sobrevivência, a população de baixa renda passa a depender de caridade para viver, visto que o Estado perde o controle sobre esses bens. Os recursos naturais deixam de ser coletivos para se tornarem de uso exclusivamente particular, transformando se em produtos e em moeda de exploração.

Nesse sentido, diante de tanta injustiça e irresponsabilidades muitos grupos socialmente marginalizados se unem no afã de mudarem suas realidades. São estes movimentos a forma mais autêntica de organização da sociedade, pois objetivam mudança na ordem hegemônica através da atuação política.

As Ongs perderam seu caráter ativista nos anos 90, adquirindo um caráter internacionalista e assumindo posição favorável ao sistema econômico vigente e a reestruturação do capital. Assim, procuram esconder os conflitos de classe inerentes à sociedade e buscam incentivar a cooperação entre burgueses e proletariados.

No Brasil, como nos demais países, o que vale é o lucro e a defesa dos interesses daqueles que detém o poder. Era a elite brasileira a responsável pelas mudanças ocorridas na esfera política enquanto o povo ficava a margem do processo, sendo suas revoltas reprimidas com violência. As melhorias eram em favor do capital.

O Rio de Janeiro, denominado por estrangeiros por cidade morte, passou pela reforma que acabou com várias epidemias, mas obrigou as populações de trabalhadores pobres, que antes vivam no centro próximo as postos de trabalho, a ocuparem morros e residirem em locais inapropriados e de risco. Este é um exemplo por meio do qual fica evidente a preocupação Estatal com a economia e com interesses da elite.

No texto “O papel das Ongs no Século XXI”, apresenta se sete funções delegadas as tais Organizações, deixa claro sua corresponsabilidade nas questões sociais junto ao Estado, fomentando, desta maneira, sua desrresponsabilização por meio da publicitação (busca de aliança com vários setores).

Para Viana as parcerias são fundamentais para resolver os complexos problemas modernos. Afirma ainda que: “parcerias trissetoriais representam a tônica do pensamento das instituições multilateriais globais”. (VIANA, Virgilio. O papel das ONGs no século XXI. Carta Capital, 2015. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/revista/866/o-papel-das-ongs-no-seculo-xxi-7630.html/@@amp Acesso em 19 abr 2017).

Em suma, atualmente, a ideia de terceiro setor é difundida pelas mídias como espaço neutro que abrange as organizações da sociedade civil como se este fosse isento de interesses de classe ou conflitos.

Nesse contexto, as Ongs são exaltadas em sua visão solidária assistencialista, responsáveis por dar respostas às questões sociais mediante a minimização das ações estatais em diversas áreas de bem estar comunitário. Porém, diversas empresas maximizam seus lucros por meio do financiamento de projetos sociais, ganhando a fidelidade do comprador, melhorando sua imagem e reduzindo seus impostos. Não há afeto, apenas negócios que visam lucro.

O Globo ou Fundação Roberto Marinho, por exemplo, é uma grande rede de televisão assistida por inúmeros brasileiros, que possui o projeto social chamado Criança Esperança dirigida à crianças carentes. Entretanto, em seu editorial mais recente defendeu a privatização do ensino superior através de argumentos falaciosos. Assim, concomitante, assiste aos desassistidos e posiciona se em favor daqueles que objetivam minimizar o acesso de todos há um ensino de qualidade.

Referências Bibliograficas

BIANCHI, S. Quanto Vale ou É por Quilo? Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi do filme de Sergio Bianchi. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.

O GLOBO. “Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito”, 2017. Disponível em: http://oglobo.globo.com/opiniao/crise-forca-fim-do-injusto-ensino-superior-gratuito-19768461. Acesso em 19 abr 2017.

VIANA, Virgilio. O papel das ONGs no século XXI. Carta Capital, 2015. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/revista/866/o-papel-das-ongs-no-seculo-xxi-7630.html/@@amp Acesso em 13 abr 2017.