A REESCRITA TEXTUAL NO FUNDAMENTAL II: uma nova perspectiva da reescrita para o nono ano

Introdução
Muito se comenta acerca dos "erros" de ortografia existentes nos textos e/ou nas redações, mas o que não é enfatizado é que muitas vezes estes "erros" ortográficos ratasse do manifesto de uma ideia que é defendido pelo aluno como verdade absoluta.
Neste trabalho defendemos a reescrita como uma atividade de reflexão critica como bem esclarece os PCN de Língua Portuguesa do 1º e 2º ciclos (MEC, 1997: 47-48) quando diz que "[...] o objetivo é que os alunos tenham uma atitude crítica em relação à sua própria produção de textos [...]" onde ele possa inicialmente com o auxilio do docente identificar quais os pontos do seu texto que podem ser aperfeiçoado, seja na questão ortográfica, no que diz respeito ao conteúdo, na parte estrutural ou ainda na parte argumentativa, para que logo após ele possa fazer isso independentemente como um exercício de crescimento pessoal.
Por isso a reescrita não apareceu apenas com o intuito de correção, mas de aprimoramento do texto. Para tanto foi preciso conhecer as particularidades e funções existentes nesse processo de reescrita textual, já que aqui os mesmos apresentam-se como um processo de reflexão e de abordagem a fatos interligados ao tema no momento do desenvolvimento textual, assim como o aluno teve chances de refletir sobre a língua e sua forma própria de sistematizá-la.
Também foi de suma importância especificar e conceituar como se dá esse processo, observando sua posição nos estudos em linguística atualmente e, consequentemente, no contexto sócio-comunicativo. Tendo como objetivo geral, refletir junto com os alunos sobre o processo de reescrita a partir dos critérios de adequação ao tema, coerência e coesão e específicos, Analisar estruturas sintáticas e gramaticais elaboradas na escrita textual, propor estruturas sintáticas e gramaticais alternativas visando o aprimoramento textual e valorizar a atividade de reescrita como parte integrante da produção textual
Tais reflexões baseiam-se em propostas fundamentais nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa, e por teóricos da Análise do Discurso, que caracterizam o sujeito, apontam as possíveis posições que ocupa numa determinada Formação Discursiva, para delas poder enunciar. Alem de contar com teorias de Bakhtin e pesquisas de Matencio, Menegolo, Sercundes e de Prestes.

Referencial Teórico
A importância do ato de reescrita de textos reside no fato de que provoca o diálogo do sujeito-autor com o seu produto-criado. Possibilitando um relacionamento mais interativo com o seu próprio texto, oferecendo assim ao aluno a chance de refletir sobre a língua e sua forma própria de sistematizá-la. E, neste encontro de um "eu - escritor" com um "tu - reescritor", que só pode acontecer no que Bakhtin (1997: 285-290) chama de "cadeia de comunicação verbal", o aluno não é um mero receptor, pois, ao receber [seu texto, com apontamentos do professor], tende a compreender:
"[...] a significação (lingüística) de um discurso e adota, simultaneamente, para com este discurso, uma atitude responsiva ativa : ele concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se para executar; etc. e esta atitude do ouvinte está em elaboração constante durante todo o processo de audição e de compreensão desde o inicio do discurso [...]"
Este processo possibilita ao aluno que veja o que antes ele não via em seu texto. Para Bakhtin (1997: 332), "a reprodução do texto pelo sujeito [que se dá num processo de volta ao texto, releitura, nova redação] é um acontecimento novo, irreproduzível na vida do texto, é um novo elo na cadeia histórica da comunicação verbal". Portanto, quanto mais o ato de reescrever acontecer, mais o autor irá perceber que todo o texto poderá ser modificado, que não é um produto de dimensões de domínio da modalidade de escrita, porque vai internalizando regras de composição de gêneros textuais, consequentemente, melhorando seu desempenho redacional e compreendendo, aos poucos, o mundo dos textos escritos.
Neste sentido, colabora Sercundes (1997:89), confirmando que:
"partindo do próprio texto, o aluno terá melhores condições de perceber que escrever é trabalho, é construção do conhecimento, estará, portanto, mais bem capacitado para compreender a linguagem, ser um usuário efetivo, e, consequentemente, aprender a variedade padrão e inteirar-se dela".
Notamos a oportunidade de refletir sobre a reescrita de textos em situação escolar, tomando-se essas atividades como inerentes à produção de textos, ponto de partida para a aprendizagem da língua escrita. Portanto, é preciso que se faça uma reflexão com base em dados concretos apoiados em ideologias teóricas sobre o que vem a ser de fato a reescrita. Sobre isso Matencio (2003; p.3-4) diz que: "a reescrita é a atividade na qual, através do refinamento dos parâmetros discursivos, textuais e lingüísticos que norteiam a produção original, materializa-se uma nova versão do texto".
Assim sendo, a criação de uma "nova versão do texto" a partir da reescrita reforça a característica estrutural da primeira atividade, em oposição a um aperfeiçoamento interno do texto (um "refinamento" visado pela pratica de reescrita).

Metodologia
Esta é uma pesquisa de campo com características de pesquisa ação. Segundo Michel Thiollent (1988 apud VAL 2008, p.14), esse tipo pesquisa caracteriza-se por ser "um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo [...]". Ainda segundo Michel Thiollent (1988 apud VAL 2008, p.14), neste tipo de pesquisa "o pesquisado e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo."
Os dados aqui apresentados foram coletados durante aulas de Língua Portuguesa no nono ano, de uma escola municipal situada no município de Capoeiras, Pernambuco. A referida escola foi selecionada devido a dois motivos: um deles foi à facilidade de acesso da pesquisadora à instituição e devido à receptividade das gestoras e dos alunos à nossa pesquisa.
Os dados foram coletados da seguinte forma: após a explanação de um determinado assunto na aula, foi pedido para que os alunos fizessem uma produção textual dissertativa/dissertação abordando o tema trabalhado. Em seguida, foram esclarecidas algumas dúvidas dos alunos e, na sequência, foi feita a atividade solicitada.
Foi esclarecido aos alunos que a correção dos textos seria feita a partir dos seguintes critérios: adequação ao tipo textual dissertativo; adequação ao tema proposto; coerência (a lógica da argumentação) e coesão (o modo como os argumentos foram apresentados).
A coleta de dados foi feita em 5h/aula de observação e análise dos dados foi realizada em uma semana. Na análise, foram abordados os critérios anteriormente discutidos com os alunos.

Resultados
Após a analise dos dados coletados podemos apresentar resultados como no início os alunos apresentavam muito receio no que diz respeito ao ato de escrever, mas no decorrer das atividades eles já se mostravam bem mais participativos. Os textos por eles escritos já apresentavam mudanças construtivas em diversos aspectos, visto que eles já apresentavam maior preocupação com a visão que o leitor teria do texto e das conclusões que ele poderia chegar sem falar que nas primeiras escritas que tivemos contato eles apresentavam algumas divergências em suas frases como, por exemplo, nos trechos a seguir que foi tirado do texto nº 03 da adolescente J.L. aluna do nono ano do ensino fundamental II: linha 04: "[...] não tenho contado com meios de comunicação nem assisto TV [...]" e linha 05-06: "[...] adoro assistir a novela viver a vida, porque os personagens são fantásticos, [...]"
Neste contexto podemos ver que a aluna J.L. se contradiz de forma muito evidente, pois quem adora assistir, assisti e conhece a novela e isso não foi o que ela expressou na frase anterior quando diz que "[...] não tenho contado com meios de comunicação nem assisto TV [...]".
Estes e outros termos foram refletidos com os alunos apresentando mudanças notáveis como em uma segunda versão do texto da própria J.L. onde ela o reapresenta da seguinte forma no trecho do texto 04: "[...] Não tenho muito contato com os meios de comunicação, porem quando tenho oportunidade prefiro assistir a novela Viver a Vida que é transmitida diariamente pela rede Globo [...]" (Grifos Nossos).
Como podemos perceber neste trecho do texto 04 a aluna reescreveu o texto 03 de forma que re-contextualizou seu pensamento sendo que ela re-organiza seu suas ideias, porem ainda apresenta uma contradição implícita quando ela cita que a novela "é transmitida diariamente pela rede Globo", onde na verdade a novela tem espaço reservado apenas de segunda a sábado.
Apesar disso podemos notar que os avanços são notáveis e que os alunos ao decorrer dos dias passam a preocuparem-se cada vez mais com quem vai ler e como vai entender o que eu escrevi, e isso nos é gratificante visto que o nosso objetivo geral era exatamente "Refletir junto com os alunos sobre o processo de reescrita a partir dos critérios de adequação ao tema, coerência e coesão", levando também o aluno a refletir sobre o que ele esta escrevendo.

Considerações Finais
Após o inicio da atividade reescrita com o objetivo de perceber e corrigir os erros junto com os alunos instigando o aluno a refletir sobre o que esta escrevendo e para quem esta escrevendo, logo nota-se o entusiasmo com que participam e reescrevem e neste momento todo aquele receio de escrever e de participar é deixado para trás e os alunos participam com vontade e com determinação de querer melhorar, de querer aperfeiçoar seus textos e isso nos é muito gratificante com integrantes de uma pesquisa ação.
Alem disso após esse projeto podemos notar o quão é construtivo este processo onde o aluno (com ou sem auxilio) percebera seus erros e como o seu texto pode melhorar demonstrando de forma satisfatória e notória a satisfação sem muito mistério para a realização das atividades propostas.

Referências
BAKHTIN, M.M. (1997). Estética da criação verbal. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes.
BRASIL. Ministério da Educação. PCN: Língua Portuguesa. Brasília, 1997.
MATENCIO, M.L.M. Atividades de retextualização em práticas acadêmicas: um estudo do gênero resumo. Scripta, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 25-32,2002.
MENEGOLO, Ulizabeth Dias da Costa; MENEGOLO, Leandro Wallace. O significado da reescrita de textos na escola: a (re) construção do sujeito autor. Ciência e Cognição, Cuiabá, v. 04, 2005. Disponível em www.cienciaecomunicação.org. Acesso em: 20 de Nov. 2009
SERCUNDES, M.M.I. (1997). Ensinado a escrever: as práticas de sala de aula. Em: Chiappini, L. (1997). Aprender e ensinar com textos de alunos. V. 01. Col. Aprender e Ensinar com Textos. São Paulo; Cortez.