Por Lays Pederssetti
Aluna do primeiro ano de Jornalismo da Unicentro

"Mostrar aquilo que de mais importante aconteceu no Brasil e no mundo naquele dia com isenção, pluralidade, clareza e correção".
Esse é o objetivo, segundo William Bonner, dos jornalistas que trabalham no Jornal Nacional que é contado sucintamente no livro Jornal Nacional ? Modo de Fazer.
Começo enfatizando a clareza com que o livro foi escrito. As 248 páginas trazem um vocabulário de fácil compreensão que se volta, muitas vezes, para o leitor que não conhece as palavras técnicas usadas no meio jornalístico, com explicações e exemplos precisos.
Em 18 capítulos, que se desdobram em vários assuntos complementando-os, William Bonner escreve as situações mais incríveis pelas quais um jornalista pode passar. Além de contar um pouco sobre o que acontece por trás das câmeras, na redação, o papel de cada pessoa dentro do enorme grupo que forma o Jornal Nacional.
O primeiro capítulo, intitulado O que é o JN, aborda assuntos como o furo jornalístico, descrito pelo escritor como "o alimento da alma dos jornalistas" por ser um fato escasso, valioso e muito simbólico. A cobertura da Rede Globo de Televisão também tem espaço nesse capítulo, nenhuma rede de rádio possui esse mesmo alcance. O objetivo da produção do jornal é exposto em vários parágrafos: o dever de mostrar o que de mais importante aconteceu naquele dia.
A estrutura do Jornal Nacional é o assunto do segundo capítulo. Descreve o relacionamento de trabalho com as afiliadas espalhadas pelo Brasil: da RBS TV, no Rio Grande do Sul, à Rede Amazônica, no norte do país; um depoimento tirado do Memória Globo de Edney Silvestre sobre 11 de setembro de 2001, fala sobre o reportariado da Rede Globo; a estrutura de produção que é sempre baseada em assuntos factuais; a estrutura de edição que conta um pouco sobre como é o trabalho dos editores de texto e, finalmente, o segundo capítulo encerra com o fechamento e direção do jornal que mostra que o trabalho precisa ser feito em grupo e o quanto cada pessoa precisa da outra para ter bom desempenho.
Um dia no JN típico é o título do terceiro capítulo. Começando das sete horas da manhã até o final do dia, fala sobre pautas, retrancas, VTs, a ronda que é realizada através de telefonemas feitos pela "mesa de produção" a produtores de jornalismo das 121 emissoras integrantes da rede, a comparação de uma reunião de caixa feita há anos atrás e atualmente, explica em detalhes como é composto o "espelho" feito pelo editor-chefe. Enfim, o terceiro capítulo mostra como são feitos os "scripts", que compreende os elementos citados acima e mais um bocado de coisas.
A abrangência e a gravidade das implicações dos fatos estão presentes no quarto capítulo: Critérios Primários. O drama vivido em 11 de setembro de 2001 é contado por Jorge Pontual em uma descrição que revela os momentos de pavor de centenas de pessoas que estavam próximas ao World Trade Center.
O peso do contexto que será exibido tem o dever de conter as informações mais importantes daquele dia. William Bonner fala sobre a situação complicada de quando surge uma notícia de última hora que precisa ser publicada, fazendo com que o roteiro do jornal seja mudado no ar, por ele mesmo, enquanto os telespectadores assistem a algum VT.
O quinto capítulo fala sobre os critérios secundários: complexidade das notícias e o tempo nos dias em que existem muitas notícias importantes e precisam de pessoas para selecioná-las "mais obsessivamente", como Bonner explica.
Reunião de Espelho: A Hora dos Cheirosinhos. O sexto capítulo fala sobre o trabalho dos editores que chegam pela manhã e explica o motivo do apelido "editor cheirosinho" para aqueles que chegam ao trabalho pela tarde.
A reunião de pauta é relatada no sétimo capítulo. Ela recebe o apelido de "peneira", pois é neste momento "esquizofrênico", como William Bonner descreve, que acontece a seleção das notícias que nós veremos às 20h15min no Jornal Nacional.
O oitavo capítulo recebe o título de Edição e Fechamento: As Tarefas. Neste, Bonner fala sobre um acontecimento no dia 2 de julho de 2008 onde prova que para ser um bom jornalista é preciso saber tomar decisões e também voltar atrás e reconhecer as falhas. Os títulos "Correção" e "Sobre a Natureza dos Erros" são as duas vertentes desse capítulo que falam sobre a busca do "erro zero" e também sobre o erro individual e em grupo que possuem seus recursos para serem reparados de forma que o telespectador tenha sempre uma informação completa e correta.
O JN no Ar é o nome do nono capítulo que ressalta alguns dados técnicos que acontecem por trás das câmeras no momento em que o Jornal Nacional está no ar e sobre os truques do assistente de estúdio que tem como um dos papéis principais anunciar aos apresentadores, em tom grave, dez segundos antes de terminar a exibição de qualquer reportagem.
No dia 11 de maio de 2006, quinta-feira, três dias antes do Dia das Mães, começou uma operação de transferência dos bandidos do PCC para o presídio de Presidente Venceslau. No décimo capítulo intitulado o JN Atípico, William Bonner conta detalhes sobre essa notícia que ele mesmo afirma ter sido um fato histórico. Esse capítulo também trás os apuros vividos no dia em que a Rede Globo levou ao ar uma edição histórica do Jornal Nacional. Entre 2002 e 2008 o JN foi quatro vezes finalista do Emmy International, a Caravana JN e o acidente no aeroporto de Congonhas em julho de 2007 foram algumas das edições que levaram a esse prêmio.
Um dos capítulos mais emocionantes é O Adeus de Grandes Personalidades. Em seis páginas Bonner conta a trajetória da cobertura jornalística feita para o Papa João Paulo II que começa em outubro de 1996 e depois de ter recebido ajuda de freiras brasileiras para conseguir realizar sua reportagem, ele encerra, ao vivo no Vaticano, com o adeus do Papa mais estimado que o mundo já teve.
O décimo segundo capítulo nos mostra como a profissão de jornalista pode ser desafiadora. As histórias sobre a Copa que fizeram William Bonner repetir inúmeras vezes a frase: "Onde está você", a cobertura das eleições presidências dos Estados Unidos e as coincidências que deixavam os repórteres e as transmissões com um clima de determinação são exemplos de desafios enfrentados pelos repórteres do jornal.
Grandes Eventos e o Objetivo do JN. Nesse capítulo aparecem algumas críticas comuns, feitas pelos telespectadores, colocadas pelo escritor em relação à programação do Jornal Nacional em épocas de Copa do Mundo e Eleições, por exemplo. O aspecto de que o telespectador espera que o Jornal Nacional seja uma espécie de diário de certo evento também é mostrado, fazendo com que vejamos o lado positivo de se dar maior importância e cobertura aos eventos que envolvem outros lugares além do Brasil.
Apresentar o jornal, ao vivo, de outro lugar do mundo deixou de ser novidade pelo menos desde 1992 ? durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. No décimo quarto capítulo, que recebeu o nome de JN Fora do Estúdio: Da Ousadia à Normalidade, é contada a trajetória das transmissões feitas em várias partes do Brasil e do planeta, como o JN na Estrada, onde uma equipe afiliada a Rede Globo ia de Fortaleza para Porto Alegre e a outra vinha de Porto Alegre para Fortaleza, registrando pontos positivos e negativos de cada trecho percorrido, uma espécie de diário de viagem. A Caravana JN também tem seu espaço nesse capítulo, realizada por Pedro Bial, ela conta várias histórias de diferentes partes do Brasil.
A cobertura feita nas eleições presidenciais do Brasil, recortes tirados do Memória Globo, as conversas com o Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva e uma interjeição desagradável de William Bonner que rendeu desculpas à esposa do presidente são fatos que estão presentes no décimo quinto capítulo chamado JN nas Eleições.
Os Desafios do Texto fala sobre a importância que existe em ser entendido por todos os espectadores, o que implica em usar uma linguagem de fácil entendimento. Ao longo do capítulo há também uma série de cartas que foram mandadas para William Bonner. O lide (ou lead, do inglês), a diferença de como dar a notícia em jornal impresso e em telejornalismo, a herança de linguagem, a passividade e livre-arbítrio onde a linguagem usada em telejornalismo deve ser o mais parecido possível com a linguagem que existe entre as pessoas ao conversar e as cinco regras para poder realizar esse tipo de linguagem também são explicadas de uma forma bem completa nesse décimo sexto capítulo.
Feedback. O nome do décimo sétimo capítulo, que significa "retorno" é o tema em que são abordadas as formas que o público dispõe para se fazer ouvir pela redação, uma delas é o site onde o internauta envia mensagens através do "Fale Conosco". A atualização do site do Jornal Nacional é feita após a reunião de espelho e seguem explicações com fotos a respeito deste meio de comunicação.
O décimo oitavo e último capítulo do livro Jornal Nacional ? Modo de Fazer recebe o título de Opinião: Por que Não? Aqui William Bonner explica o motivo pelo qual o JN não é um jornal que expõe sua opinião no ar e faz críticas aos jornalistas que tem essa atitude em frente às câmeras. Bonner encerra o livro com indagações sobre o futuro do Jornal Nacional, mas deixa claro que será mantida a tradição dos 40 anos que passaram: mostrar aquilo que de mais importante se der, a cada dia, no Brasil e no mundo.
Em dezoito capítulos William Bonner resumiu o trabalho de uma das profissões mais desafiadoras: ser jornalista. Um jornalismo muito bem feito e que mostra que ser jornalista não é apenas aparecer em milhares de televisores todas as noites com a postura correta e roupas sociais.
Esse livro revela as experiências mais incríveis com as recompensas mais inesperadas que a profissão de jornalista pode oferecer. Aconselho a leitura deste livro não só para estudantes de jornalismo ou profissionais dessa área, mas para todas as pessoas que tem paixão por aventuras factuais.
Através dessa descrição do livro é possível perceber o quanto o Jornal Nacional participou, participa e ainda participará muito de nossas vidas. Todas as noites, no mesmo horário, ligamos a televisão, como faziam os nossos avós e como farão nossos filhos, para nos informarmos e saber o que de mais importante aconteceu naquele dia, no Brasil e no mundo todo.
O livro é bem ilustrado e diagramado. Há diversas fotos de arquivo para ilustrar os processos de produção de reportagens, dos bastidores e de cenas retiradas da transmissão de imagens. A capa também é bastante bonita, com a fotomontagem de William Bonner e Fátima Bernardes no primeiro plano e ao fundo a redação do JN em azul.
Longe de ser um manual de redação mais completo, como aqueles de O Globo ou da Folha de São Paulo, "Modo de Fazer" fala de decisões mais práticas que o editor-chefe William Bonner e seus superiores já tiveram que tomar, visando ao cumprimento do objetivo primordial do JN.
Não espere encontrar em "Jornal Nacional: Modo de Fazer" uma obra prima literária. Nem é a isso que o livro se propõe. Bonner escreve de forma muito simples e fluida, como se estivesse conversando com o leitor.
Jornal Nacional ? Modo de Fazer é um livro que vale a pena ser lido, principalmente por estudantes de jornalismo, como eu, mas também para quem gosta da profissão ou tem interesse em saber como funciona o principal telejornal do país.

Jornal Nacional ? Modo de Fazer, de William Bonner.
Editora Globo, 2009, 248 p.
Origem: Nacional.
Valor em torno de R$ 25,00.