A real percepção dos entrevistados em uma pesquisa dentro da empresa

A todo o momento nos vemos em uma situação que é muito comum para todas as pessoas.  Quase sempre estamos tomando decisões, ou para nós, para nossos filhos e também para pequenas, médias e grandes empresas.

A tomada de decisão exige informação, conhecimento e diversos outros quesitos. Mas acima de tudo exige responsabilidade. Se não houver responsabilidade, qualquer um pode decidir qualquer coisa, mas o sucesso nesses casos estará nas mãos da sorte.

Existem muitas ferramentas que ajudam as pessoas e empresas a tomarem suas decisões. Analises estatísticas, estudos psicológicos e comportamentais e pesquisas entre outras.

As pesquisas são realizadas em diversos níveis de uma sociedade. Um consumidor realiza pesquisa para ter o melhor preço e uma marca faz pesquisas com consumidores para entender um determinado mercado. Um departamento de uma empresa pode realizar pesquisas para entender como anda a visão dos funcionários perante a gestão.

Entre todos os tipos de pesquisa que existem, a que é realizada dentro de uma empresa ou departamento possui algo muito especial. A relação de trabalho está carregada de muitos fatores culturais que podem variar de um lugar para outro. As pessoas envolvidas no processo de pesquisa podem gerar um resultado com respostas não verdadeiras. Tanto entrevistado como entrevistador podem prejudicar o resultado final.

Isso ocorre, pois a cultura e relação de trabalho geram insegurança para os funcionários que irão responder uma pesquisa. Mesmo com a possibilidade de  sigilo das informações, as pessoas envolvidas podem se sentir inseguras para expor o que pensam sobre seus colegas de trabalho, sua gestão ou sobre outras áreas da empresa: “(...) trabalhar não é apenas ter uma atividade, mas também viver: viver a experiência da pressão, viver em comum, enfrentar a resistência do real, construir o sentido do trabalho, da situação e do sofrimento”

(DEJOURS, 2007, p.103).

O histórico de desemprego do país, o baixo nível intelectual e principalmente a falta de confiança entre gestão e funcionário fazem com que as pessoas entrevistadas possam omitir o que realmente pensam. Talvez o melhor seja deixar as coisas como estão do que se expor, elas podem pensar.

Uma pesquisa realizada com consumidores para saber o que pensam sobre uma marca não os coloca em uma postura inferior. Ao contrário, as empresas precisam dos consumidores. Já um funcionário de uma empresa precisa de seu emprego e se coloca nessa posição ao responder uma pesquisa de clima ou sobre a gestão atual, pois o medo de perder o emprego estará escondido em cada resposta fornecida.

O mundo do trabalho aparece como lugar de mediação privilegiado e as relações de comunicação se dão de maneira especial. Estudar a comunicação no mundo do trabalho possibilita problematizar a relação do sujeito com sua atividade e com o microcosmo social que é o lugar de trabalho. Preocupação que não se enquadra como problemática da linha da comunicação organizacional (Fígaro Paulino, 2007, p. 9)

Antes de realizar pesquisas, é fundamental entender o nível de comunicação que existe na empresa. Esse deve ser muito maduro.

Conceber a relação entre comunicação e trabalhadores como uma “ferramenta estratégica de gestão” (Nassar, 2006, p. 10) que deve ser aplicada por meio de um “setor planejado” (Kunsch, 2003, p. 154) da organização está no âmago do conceito de “comunicação interna”.

Os processos comunicativos ocorrem dentro de um contexto histórico e sociocultural que não é determinado apenas pela contradição econômica da luta de classes, mas também por uma pluralidade de matrizes culturais (MARTÌN-BARBERO, 2003).

 Para alcançar um resultado verdadeiro nas pesquisas realizadas nas empresas é necessário implantar uma cultura de confiança e de portas abertas. Em verdade, se conseguimos implantar uma real cultura de portas abertas, talvez nem sejam necessárias pesquisas para entender o que se passa dentro da empresa.

As informações podem chegar de forma sincera e direta. Apenas as validações se fazem necessárias. As pesquisas podem ter um resultado de sucesso, porém alguns fatores estruturais devem ser bem observados antes de mover as pessoas em um processo que pode gerar impacto operativo com utilização desnecessária de recursos e exposição das pessoas.