Foi um rápido telefonema, mas uma frase me fez refletir mais profundamente
ao longo daquele dia:

"Somos espíritas, sabemos; mas como é difícil controlar a emoção, a
saudade..."

Frase esta dita por uma amiga ao comentar sobre o recente desencarne de sua
mãe.

Mas o que nós espíritas "sabemos"?

Entre outras coisas, sabemos que:

. A vida é infinita, pois o espírito sobrevive à morte do corpo, sendo todo
esse processo devidamente explicado por meio de perguntas e respostas em "O
Livro dos Espíritos";

. É por meio do processo de reencarnação que vamos, pouco a pouco, nos
depurando e atingindo esferas mais elevadas, compatíveis à nossa evolução
moral e intelectual. Que a base moral da Doutrina Espirita é o Cristianismo
documentado e explicado sob a visão da Doutrina em "O Evangelho Segundo o
Espiritismo";

. O processo de intercâmbio entre os dois planos - material e espiritual é
totalmente possível e que não se trata de algo sobrenatural, tendo a sua
base científica em "O Livro dos Espíritos";

. É o amor que nos une, formando a nossa "família espiritual" e que
estaremos sempre, de alguma forma, ao lado das pessoas que amamos, sendo
que um dia estaremos todos juntos em "esferas mais elevadas";

Com base no exemplo descrito acima, faço uma generalização à forma como
conduzimos nossas vidas e então pergunto:

Enfim, se sabemos de tudo isso, de forma racional, por que, mesmo assim,
ainda não aprendemos a domar os nossos sentimentos, fazendo bom uso do
conhecimento e da fé raciocinada, de forma que os nossos sofrimentos sejam
amenizados?

Sinceramente, não é meu objetivo aqui dar uma resposta definitiva, mesmo
porque creio que também não a conheça.

Não se trata, talvez, de afogar os sentimentos, mas de fazer bom uso do
conhecimento racional que possuímos em prol da nossa felicidade terrena.

Mas me aventuro então a algumas reflexões...

Definitivamente não temos como negar os nossos sentimentos. Eles emanam a
todo milésimo de segundo da nossa alma. É como o ar que respiramos.

Sentimos coisas que poderiam ser qualificadas como boas e outras como "não
tão boas assim".

Vamos a alguns exemplos das coisas boas que sentimos: o amor, o respeito, a
fraternidade, a dignidade, a compaixão etc

Agora algumas "não tão boas": o orgulho, o egoísmo, a raiva, a inveja, a
intolerância, o ciúme, a cobiça etc

Uma análise racional desses sentimentos nos permitiria chegar a conclusão
de que bons sentimentos já se encontram na trilha segura e correta a nós
ensinada pelo Cristo, quando nos disse que "meu jugo é leve e o meu caminho
é suave".

Lembremos que amor é a palavra que sintetizou todo o ensinamento do Cristo.
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. E mais e
talvez muito importante para esta reflexão: "Não fazer ao outro aquilo que
não gostaríamos que fizessem a nós."

Esforçar-se para trocar maus sentimentos por bons sentimentos talvez seja,
portanto, um bom início para sofrermos menos e caminharmos mais próximos do
"caminho suave" nos ensinado pelo Mestre Jesus.

Que tal começarmos a nos esforçar por "substituir sentimentos"?

Ao invés da revolta, a resignação; da perda, a saudade; do ódio a
compreensão, do desespero a fé e assim por diante....

Em outras palavras, será que se realmente colocássemos todos os nossos
sentimentos nesta "régua do bem, dos bons sentimentos" nos permitiríamos
agir de alguma forma que estivesse desalinhada aos ensinamentos deixados
pelo Cristo?

Será que se antes de tomarmos qualquer atitude que pudesse afetar a nós
mesmos ou prejudicar ao próximo, colocássemos tais sentimentos, que acabam
por gerar as nossas ações, dentro desta avaliação, chegaríamos ao mesmo
resultado final em nossos problemas e dificuldades da vida cotidiana?

Será que se já tivéssemos aprendido essa lição cometeríamos atos que
pudessem gerar problemas, mágoas, perdas, ressentimentos ao nossos
semelhantes e a nós mesmos?

Quantas e quantas ações tomamos de forma consciente que afetam inicialmente
a nós e geram também conseqüências ao próximo?

São os nossos vícios que não encontramos forças para controlar/superar (o
álcool, o cigarro, a droga, o sexo desvairado), são os nossos sentimentos
negativos (a inveja, o ciúme, a intolerância, a prepotência, o preconceito
etc etc etc) são enfim as nossas imperfeições que acabam por gerar tanto
"choro e ranger de dentes" para nós e para aqueles que nos cercam.

Infelizmente, não aprendemos amar e respeitar a nós mesmos ainda, o que
dizer então de amar ao próximo?

Conhecemos muitas coisas, mas, infelizmente, aplicamos apenas uma pequena
fração do que sabemos em nosso dia a dia.

Tudo isso demonstra claramente o quanto cada um de nós tem que se esforçar
para controlar seus maus instintos e para definitivamente ir dominando cada
um dos sentimentos de forma a que nossas ações estejam cada vez mais
próximas aos sentimentos elevados.

Dominar os maus instintos, elevar os nossos pensamentos, aceitar sem se
revoltar nem se desesperar as vontades do Criador que ama indistintamente
as suas criaturas e que só quer o nosso bem; em uma palavra ter fé
racional, como tão bem nos ensinou Kardec.

Ter fé e praticar a caridade moral e material.

Esse me parece ser o caminho para aceitarmos os reveses da vida e para
podermos, mesmo estando ainda encarnados, nos elevarmos ao Criador de forma
que as vicissitudes da vida não sejam sentidas de forma tão pesada.

Longo caminho que temos a percorrer e que somente será trilhado
gradualmente em cada uma das nossas experiências terrenas.

E se o caminho é longo, que tal irmos pouco a pouco selecionando que tipo
de sentimento realmente queremos que nos acompanhe ao longo dele?

Me parece ser um bom ponto de partida e que só depende de nós para
colocarmos em prática.

Que encontremos a força necessária para tal...