De volta depois de um bom tempo, caro blog, mas é que a vida anda muito corrida; é no entanto uma correria produtiva e isso é veramente bom, sempre me sinto mais viva quando estou fazendo várias coisas ao mesmo tempo, o tempo todo. Como sobrou um tempinho, vim cá elucubrar sobre algo que me deixou bem invocada.
Meio que conversava atoa com alguém sobre as vicissitudes dessa época carnavalesca, algo que me deixa agastada, hoje em dia bem menos que antigamente, já que disponho de meios mais variados de lazer; dureza era quando dispunha apenas da tv e o carnaval me pilhava sem nada para ler, oh, dor!oh sofrimento!!
Mas, vai daí que essa pessoa, sem realmente ouvir o que eu estava dizendo (pois se prestasse atenção teria ouvido o que acabei de escrever) aproveitou a oportunidade para insistir num assunto que lhe era caro. A saber: eu realmente, realmente deveria ler um livro lindo,lindo,lindo!! chamado A Cabana; levando em consideração sua religiosidade - da pessoa, não do livro, que,óbvio, ainda não lera - eu vinha resistindo, desconfiada do teor da estória.
Pooiss bem! Resolvi-me a ceder e aceitar o empréstimo do tal livro e me pus a lê-lo. Coisa inédita! Jamais nesta minha vida tive dificuldade em terminar a leitura de qualquer livro. E eis-me às voltas com essa porcaria.
A tentação em simplesmente abandoná-lo e me deliciar com as aventuras das Crônicas de Gelo e Fogo, vol. II,   era quase incontrolável. Continuei contudo, bravamente, sempre me dizendo que mais adiante as coisas melhorariam, mas que vã esperança, essa!
Que livro ordinário, esse. Que autor patife e desonesto, esse. Que estória mais oportunista e vil essa. Que porcaria, esse livro.
O autor usa um dos maiores, senão o maior medo de pais e mães, que um filho seu desapareça e depois se venha a saber que ele/ela foi vítima das piores coisas nas mãos de alguém, para tecer o que pretende fazer passar por uma "mensagem" sobre os propósitos divinos. Para isso tipifica a trindade - pai, filho e espírito santo - de uma forma caricata e oportunista. Vide deus, caracterizado como uma mãe preta, daquelas de filme americano, durona mas cheia de amor e sabedoria; o espírito santo mais parece uma riponga assim neo Woodstock; quanto a Jesus, fica a impressão que ele é só um pau-mandado simplório, sujeito aos caprichos da mãe preta.
E o pai da estória, um birrento marrento? Tipicamente, foi vítima de maus tratos na infância, ou é o que se pode supor, pela descrição en passant da relação do cara com seu pai. A mãe da criança vitimada aparece quase como uma sombra sem muita importância. É tudo assim, mal alinhavado, mal escrito. Insultante mesmo.
E o pior nem é isso, esse livro porco e oportunista. É o fato de que arrebanhou multidões de fãs, vendeu horrores e teve continuação. Então eu tenho que me perguntar: as pessoas são tão rasas assim? Estarão tão sem rumo que precisam se deixar enredar por uma falcatrua dessas?
Os devidos créditos a William P. Young, o perpetrador desse livro. Ele tem um bom conhecimento do nível de superficialidade e falta de rumo das pessoas em geral e viu nisso a oportunidade de faturar alto. Ele parece ter partido do princípio de que ninguém perde dinheiro apostando na estupidez alheia. Palmas para ele ou uma prece pela estupidez quase generalizada? Considerando do meu ponto de vista, acerca da eficácia das preces, palmas para ele.
E em tempo:é impressionante como as pessoas têm tão pouco respeito com uma outra, quando essa outra não se enquadra nos seus padrões. Essa pessoa que insistia comigo para ler a 'obra-prima', tem pleno conhecimento da minha condição ateia. Fiquei me perguntando, terminada - às duras penas - a leitura desse livro, o que exatamente ela pretendia? Que eu sofresse uma súbita conversão, tocada profundamente pela mensagem contida na estória? Se foi isso, deu com os burros n'água, a pobre. Também me pergunto o que ela acharia se eu, seguindo seu exemplo, ficasse empurrando literatura ateia, ou fazendo pregação disso.
Ah, bem, ela merece ficar embevecida com esse A Cabana.