RESENHA CRÍTICA

BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fada. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 366 p. Formato: médio. Preço: 49 , 90 reais.

Silvana Karine Costa Francelino ¹


O psicólogo Bruno Bettelheim nasceu na Áustria em 1939. É reconhecido em todo o mundo como um dos maiores psicólogos infantis. Destacando-se principalmente por seu trabalho com crianças autistas. Graduou-se na Universidade de Viena e foi para os Estados Unidos, depois de passar um ano nos campos de concentração de Dacau e Buchenwal. É professor de Educação, Psicologia e de Psiquiatria na Universidade de Chicago e autor de vários livros consagrados, tais como : Amor não é suficiente (1950) e Truants da vida (1954), Crianças of the dream (1967) e Os usos do encantamento (1976).
A obra divide-se em duas partes. A primeira parte: Um Punhado de Mágica, Bettelheim discorre sobre alguns contos de fadas menos conhecidos do público infantil e ao mesmo tempo diferencia tais contos da fábula e do mito. Já a segunda parte: Na Terra das Fadas, o autor analisa mais detalhadamente os contos de fadas tradicionais que se tornaram clássicos na vida e na mente de todas as crianças do mundo. O tema central deste livro são as contribuições e as motivações enriquecedoras que a linguagem simbólica dos contos de fadas tradicionais traz ao desenvolvimento da compreensão intelectual e emocional das crianças. Assim, como também de suas experiências durante a sua infância.
Bettelheim destaca que o conto de fadas é comparado com a fábula por passarem mensagens de otimismo, enquanto o mito é caracterizado pelo pessimismo. O mito tem em comum com os contos de fadas o fato de falarem na linguagem dos símbolos representando conteúdos inconscientes.
O autor faz uma análise acerca de contos de fadas que parecem muito bobinhos, assim como a história dos Três Porquinhos e da Chapeuzinho Vermelho com personagens simplórios. Mas que trazem ensinamentos de uma forma prazerosa e ao mesmo tempo dramática, pois no conto dos Três Porquinhos, este mostra que não se deve ter preguiça na vida se não o resultado será o perecimento. Já ,o conto famoso e popular da Chapeuzinho Vermelho nos ensina que não se deve falar com estranhos e que se deve obedecer aos pais , pois as conseqüências poderão não ser tão boas.
A obra traz valiosas discussões e contribuições inclusive por relatar que há pouco tempo os pais e educadores tinham receio à utilização dos contos de fadas ao acreditarem que são conteúdos irreais, selvagens e falsos. Ora, para as crianças são reais, pois fala da realidade que há dentro dela, não a do mundo externo dos adultos. E a psicanálise ajudou a desmitificar a "inocência e a simplicidade" do mundo infantil
Os contos de fadas procuram passar ensinamentos e soluções para os problemas que as crianças estão vivendo ou que ainda irão vivenciar. Na fase da infância é relevante que as crianças possam crescer com mensagens otimistas na vida, e que compreendam que na vida há momentos felizes e outros não tão felizes, mas que os problemas podem e devem ser superados. E que com muita força e perseverança chegaremos ao êxito. E os contos de fadas entendem bem disso, por isso quando ouvirem o famoso Era uma vez...mergulhe de corpo e alma nesse mundo maravilhoso.
Mas, como na vida há coisas boas e ruins destacarei como negativo o fato de Bettelheim afirmar que os contos de fadas ilustrados inibem o imaginário da criança. É notório que os pequenos necessitam do concreto. E as ilustrações são uma das formas destes entrarem em contato com a própria história.
O autor conclui que os contos de fadas é antes de qualquer coisa uma obra de arte .E que não deve-se aproximar-se dos contos de fadas com intenções didáticas, pois estes contos devem ser contados com o intento de fluir a fantasia infantil contribuindo para enriquecer as experiências das crianças para sempre.
São tantos benefícios que os contos de fadas tradicionais e folclóricos podem trazer para o universo infantil que esta obra acaba se tornando indispensável para todos (as) que lidam com o mundo fantástico e imaginário das crianças como: pais, professores, psicólogos e todos (as) aqueles (as) que desejem conhecer mais profundamente a magia que estes contos milenares provocam no "inconsciente" das crianças.
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¹ Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas- (UFAL)