A prova como instrumento avaliativo mediador

   Historicamente a escola trata a prova como um instrumento de medida de valores sobre o que foi estudado no decorrer de cada etapa em que se subdivide o ano letivo, ou seja, ao final de cada período aplicam-se questões sobre conteúdos que foram trabalhados em sala de aula e amontoados, depositados durante meses nas mentes dos alunos. Em média temos um espaço de dois meses e meio para a aplicação de cada prova, onde o que foi estudado é resumido em um questionário de cinco ou dez perguntas, muitas vezes fora do contexto aplicado que terão que ser respondidas de forma correta e precisa.

   Esses modelos que até hoje são vigentes em nosso processo de ensino são decorrentes de tendências pedagógicas que enfatizaram tais práticas como sendo as mais corretas e necessárias, principalmente quando se fala no tradicionalismo que tratava o aluno, e até hoje trata onde se é aplicado, como um ser passivo e receptor de conhecimentos já determinados por professores e pelo sistema.

   A maneira como se apresenta a aplicação de provas, simulados, arguições e questionários em geral, até seria uma forma positiva de se mensurar a aprendizagem, desde que ela servisse como base para uma análise do que foi aprendido ou não pelo educando e assim dar uma sequência lógica sobre o que poderia ser avançado, com relação aos conteúdos, e o que teria que ser revisado. Más isso não acontece, pois a maneira pela qual esses conteúdos são transmitidos nos leva a crer que eles não estão interligados, não correspondem à uma sequência lógica em cada disciplina, o que é um erro, pois se o processo educativo leva em consideração a preparação para a vida, devemos considerar que tudo deve seguir uma sequência coerente de acontecimentos e a aprendizagem não deve proceder de forma diferente, ou seja, ela precisa seguir, em cada disciplina, um roteiro, onde um conteúdo serve como base para o aprendizado de outro.

   Ao final de cada etapa são aplicadas as provas, determinadas notas e na semana seguinte continua-se o planejamento, com a apresentação de novos conteúdos, sem saber se o aluno adquiriu um aprendizado significativo que sirva como base para a obtenção de um próximo subsequente aquele visto anteriormente.

   Esse tipo de prática serve, atualmente, somente como objeto de aprovação ou de reprovação, onde ao final de cada módulo ou etapa classificam-se os estudantes sem uma análise detalhada do aprendizado obtido por ele. Assemelha-se a mesma situação de quem procura um médico para obter um diagnóstico sobre o que está acontecendo com sua saúde e ao sair da consulta simplesmente só recebe um parecer sobre o que se tem, más não se prescrevem remédios ou possíveis tratamentos que possam sanar tais problemas de saúde, ou seja, relacionado a escola, identifica-se a dificuldade, más não se procuram soluções para resolver o problema. É o que cita Denise Pellegrini quando diz que “Se a escola existe para ensinar, de que vale uma avaliação que só confirma "a doença", sem identifica-la ou mostrar sua cura?”.

   Além de identificar a doença/problema/dificuldade do aluno, o professor deve fazer uma análise de todo o contexto escolar. Suas aulas, o nível dos alunos, a disposição dos conteúdos trabalhados em geral. No que falamos de conteúdos, devemos levar em conta aqueles que são pertinentes ou não para a formação do educando, visto que alguns desses que são trabalhados só devem ser transmitidos a nível de conhecimento e esclarecimento, mas que não serão utilizados pelos mesmos no decorrer de suas vidas, pois se a escola prepara para vida, devemos ter a consciência exata do que servirá ou não e , em que momento será utilizado pelo cidadão no decorrer de sua vida.

   A cultura avaliativa vigente até hoje está atrelada a uma prática examinatoria, onde a preparação para vestibulares e concursos está em primeiro lugar no que se diz respeito ao processo de aprendizagem praticando assim a ideia de classificação em aprovados ou reprovados. Isso é um grande erro, visto que para que se respondam determinados questionamentos é necessário apenas que seja adquirido o conhecimento e o modelo aplicado para a resolução de tal exame não irá comprometer aquele aluno que aprendeu e apreendeu o conhecimento de forma significativa. O modelo será só uma aplicação definida por quem quer avaliar ou classificar.

                                         “O atual processo de aferir a aprendizagem

                              escolar, sob a forma de verificação, além de não

                             obter as mais significativas consequências  para a melhoria do ensino e da aprendizagem, ainda impõe aos educandos consequências negativas, como a de viver sob a égide do medo pela ameaça da reprovação – situação que nenhum de nós, em sã consciência, deve desejar para si ou para outrem..(Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições / Cipriano Carlos Luckesi. - 19 ed. – São Paulo: Cortez, 2008).

   Não procuro propor aqui a extinção do mecanismo prova do processo educativo, mas sim que seja feita uma mudança de olhar, primeiramente da escola e do professor no que diz respeito as finalidades de sua aplicação. Tratar essa prática como forma de punir ou amedrontar o aluno não é o caminho correto para o crescimento e evolução da aprendizagem. Ela deve servir como mensuração do que foi ensinado e consequentemente aprendido, bem como de desvendar se o problema está realmente no educando, no processo de ensino ou na didática utilizada pelo professor e ainda sim direcionar a sequência das próximas ações a serem executadas.

   Propõe-se aqui tornar clara a maneira pela qual devemos utilizar a prova como instrumento avaliativo mediador, como por exemplo uma prova de Língua Portuguesa, onde se trabalha o artigo, o pronome e a produção textual, por exemplo. Ao corrigir as respostas dos alunos, o professor pode montar gráficos que mostrem onde eles acertaram ou erraram mais e assim trabalhar um pouco mais, na sequência, o(os) conteúdo(s) onde a maior porcentagem da turma tenha tido um aproveitamento abaixo do esperado.

   Em síntese, a mudança que tanto esperamos para esses e outros assuntos deve partir, primeiramente, de um repensar do corpo docente de cada escola, bem como das autoridades escolares como um todo, para aí sim pensarmos numa evolução dos nossos alunos à partir de uma aprendizagem significativa.

Referências Bibliográficas

PELLEGRINI, DENISE. Avaliar para ensinar melhor, Revista Nova Escola, 2008.

LUCKESI, CIPRIANO CARLOS. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições / 19. Ed. – São Paulo: Cortez, 2008.

Autoria:

Thiago G. C. Santos (GRADUADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA , ESPECIALIZADO EM PSICOPEDAGOGIA E PESQUISADOR EM AVALIAÇÃO ESCOLAR)

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