A prova como instrumento avaliativo mediador

O professor e a Gestão Escolar

 

  É comum observarmos professores preocupados em atender as exigências impostas pela gestão escolar. Conteúdos, exercícios, cadernos e livros para corrigir, provas, planejamento, essas e outras obrigações direcionadas à eles sem se quer, na maioria das vezes, orientações pertinentes e suficientes para tirar as dúvidas e frequentes questionamentos que surgem sobre o verdadeiro sentido, necessidade e até mesmo o preenchimento de tantas fichas e protocolos exigidos pela coordenação e secretaria escolares.

  Além de toda a preocupação para dar conta dessa situação, nossos educadores ainda se veem no compromisso de manter alunos em suas carteiras, em silêncio, fazer com que todos copiem o conteúdo e que possam sair da escola repletos de letrinhas em seus materiais, mesmo que não tenham aprendido nada significativamente ou quase isso, ou seja, o mais importante é a quantidade, não a qualidade. Essas questões são, em sua grande maioria, determinações provindas da parte gestora que para garantir-se em argumentos em situações futuras, possam provar em gênero, número e grau para quem interessar, que tudo o que foi proposto está devidamente registrado. Um grande engano, pois não adianta estar tudo registrado como aplicado na teoria se na prática não houve aprendizagem significativa.

  O grande erro começa ao se iniciar o ano. Antes que os alunos adentrem o ambiente escolar todo o corpo docente se reúne em uma ou duas semanas para discutir ações, preparar aulas, desenvolver planejamentos e definir vários detalhes sem nem saber, em sua maioria que tipo de aluno os espera. Esses encontros prévios servem somente para dois motivos, o primeiro é para que o educador cumpra sua carga horária, mesmo que não esteja produzindo nada e o segundo é para que o mesmo assita a intermináveis formações continuadas, na maioria das vezes sem nexo, de conteúdos mal elaborados ou que não correspondem à realidade daquele local. É claro que existem escolas e escolas, falo aqui daquelas não comprometidas com a aprendizagem, principalmente àquelas que no papel são propagadoras da aprendizagem significativa, mas que na prática são tradicionalistas ao extremo.

  Após toda a etapa de preparação chegam os alunos e com cada um deles uma infinidade de conhecimentos, experiências, frustrações, desejos e curiosidades, principalmente no que diz respeito à professores, colegas e a Escola como um todo. Acredita-se que hoje, todas as unidades escolares iniciem o ano letivo com professores fazendo em suas aulas um levantamento sobre a vida e os conhecimentos de seus alunos, até aí tudo bem, aliás, muito bem. O problema está na sequência que é dada à isso. Ora se resolvo fazer um levantamento sobre a vida do educando e sei ou deveria saber que para ele adquirir um entendimento que gere uma aprendizagem significativa devo partir dos conhecimentos prévios do mesmo, porque não utilizá-los, fazer uma ponte entre o que já foi vivido e é de seu conhecimento. Isso não ocorre, pelo menos em uma boa parte de nosso sistema educativo, não. Educadores e gestores apesar de terem rompido um pouco a barreira da teoria para a prática, ainda não conseguem ou não querem dar sequência à isso.

  Dando seguimento ao ano letivo, é chegado o momento da tão temida “prova”, que assombra a maioria absoluta dos nossos alunos. Logo após dois meses e meio de conteúdos, trabalhos, exercícios, stress de ambas as partes ocasionados por muitos conflitos, chegou o momento de resumir tudo em cinco ou dez questões. Muitas vezes tais exames apresentam-se mal elaborados e aliado a isso toda a pressão que já vinha sendo exercida não só por professores, más por todo o corpo docente escolar, que sempre ao surgir algum problema que fuja do modelo comportamental correto definido pela escola, faz questão de ligar todos os fatos e a resolução dos mesmos às notas baixas ou a possíveis punições caso os mesmos problemas voltem a aparecer.

  O fato é que se a gestão escolar, seja ela por parte da coordenação ou da direção e até mesmo das duas juntas fazem valer a obrigatoriedade da aplicação da prova como instrumento final de avaliação. O professor deve buscar meios de tornar esse item o mais significativo e proveitoso o suficiente para seus alunos aproveitando todas as informações positivas ou não que o educando deixar nela, como cita Beatriz Santomauro na Revista Nova Escola, em abril de 2010: “ A riqueza de informações obtidas com base nas provas permite ao professor entender em que estágio de desenvolvimento o grupo se encontra”.

  Depois de realizado todo o processo avaliativo, é apurado o aproveitamento obtido pelo aluno em cada disciplina, montado o seu boletim e são convidados os pais para um encontro onde os mesmos serão entregues à eles. Tais encontros de pais e mestres, os chamados Plantões Pedagógicos, deveriam funcionar como um momento em que o educador pudesse dialogar com os responsáveis por cada aluno, ou até em certo ponto defendo a ideia de que tais momentos fossem debatidos sala a sala com todos em conjunto e depois individualmente com os casos mais complexos, pois existem dificuldades que são pertinentes à todos terem conhecimento, mesmo que seu (sua) filho (a) não faça parte de determinadas situações conflituosas, para que assim pais e educadores possam opinar e chegar a um ponto em comum de ajuda mutua, visto que escola e família devem caminhar unidas. Mas isso não acontece, simplesmente pelo fato de, em sua maioria, só comparecerem aqueles pais que, para o corpo docente escolar, não se tem nada à comentar, o que é um grande erro, pois para aqueles ditos “aprovados” ou para os “reprovados”, os caminhos subsequentes á aprendizagem serão traçados de forma conjunta, mesmo que para alguns seja necessário um reforço maior do que para outros, e os pais precisam ter conhecimento disso. Outro fator negativo é o grande número de responsáveis que o professor tem que atender individualmente, o que reforça a ideia de se trabalhar em conjunto sem precisar expor situações individuais em público.

  Ao final de cada etapa, após todo o processo burocrático e cansativo, é dada sequência a uma nova etapa, onde alunos, tenham sido eles avançados ou não, aprovados ou reprovados são submetidos a recuperações, em sua maioria com modelos idênticos aqueles em que os mesmos não obtiveram sucesso, pois o educador não se preocupou em identificar onde está o problema, o motivo pelo qual o educando não assimilou o que foi transmitido à ele. Após aplicá-las ele obtém uma nota e, tendo atingido ou não a média mínima continuam o processo absolvendo novos conteúdos e acumulando dificuldades cada vez maiores, desconcentrando-se facilmente e perdendo o interesse. Para que isso não ocorra é necessário que o professor tome por base o que fala Beatriz Santomauro: “ ... debater estratégias para que o aluno não se desconcentre ou propor situações-problema para reforçar a compreensão”.

  Para nos aprofundarmos mais sobre as questões relacionais entre professores e a gestão escolar, abordemos agora situações legais, no que diz respeito a evolução das Leis de diretrizes e bases da Educação Nacional:

“Concepção de Avaliação na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)

LEI N. 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961

Art. 39. A apuração do rendimento escolar ficará a cargo dos estabelecimentos de ensino, aos quais caberá expedir certificados de conclusão de séries e ciclos e diplomas de conclusão de cursos.
§ 1º Na avaliação do aproveitamento do aluno preponderarão os resultados alcançados, durante o ano letivo, nas atividades escolares, asseguradas ao professor, nos exames e provas, liberdade de formulação de questões e autoridade de julgamento.
§ 2º Os exames serão prestados perante comissão examinadora, formada de professores do próprio estabelecimento, e, se este for particular, sob fiscalização da autoridade competente.


LEI N. 5.692 - DE 11 DE AGOSTO DE 1971

Art. 14. A verificação do rendimento escolar ficará, na forma regimental, a cargo dos estabelecimentos, compreendendo a avaliação do aproveitamento e a apuração da assiduidade.
§ 1º Na avaliação do aproveitamento, a ser expressa em notas ou menções, preponderarão os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida.
§ 2º O aluno de aproveitamento insuficiente poderá obter aprovação mediante estudos de recuperação proporcionados obrigatoriamente pelo estabelecimento.

LEI N.9.394 - DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996

Art.24. Parágrafo V. A verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos”.

Fonte: http://avaliacaodaaprendizagem-shofia.blogspot.com.br/2009/05/concepcao-de-avaliacao-na-ldb-lei-de.html#ld

  O que podemos observar é o grande avanço que tivemos com as modificações realizadas como o acréscimo da assiduidade, da avaliação continua e cumulativa, possibilidade de avanço e ainda da obrigatoriedade das recuperações. Tudo isso aliado a um modelo onde se prevaleçam os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e que preconiza a substituição dos resultados obtidos na prova pelo aproveitamento do desempenho do aluno durante todo o ano. O problema é que o sistema, seja ele a Gestão Escolar ou os órgãos que regem a educação em nosso País, tem como base protocolar a mensuração do que foi aprendido pelo aluno através da nota. Tal modelo, mesmo na época em que nos situamos com tantas tendências as mais sofisticadas e inovadoras possíveis, ainda é resquício de um modelo tradicional e primitivo que prega a classificação do educando, utilizando-se de exames e provas como ponto final da avaliação da aprendizagem. Dessa forma como o professor em sua posição e ocupação e ainda tendo que obedecer a uma hierarquia de poderes irá promover um ensino e ainda uma prática avaliativa mediadora e diagnóstica se ao final tudo se resume em um único nome “prova” e subsequentemente em outros dois “aprovados” ou “reprovados”. Pensando nisso atentamo-nos ao que fala Cipriano Carlos Luckesi em seu comentário no site avaliar9.webnode.com, no que diz respeito a substituição do nome prova: “A meu ver, necessitamos urgentemente adotar a expressão ‘instrumento de coleta de dados para a avaliação’ em substituição ao termo ‘prova’.Ou seja, para que realmente haja uma evolução prática em nossas tendências pedagógicas, bem como de nosso sistema de ensino como um todo, alguns termos devem ser urgentemente abolidos do contexto educacional e substituídos por outros que se adequem mais a realidade do aluno.

“...se a avaliação é uma investigação da qualidade da realidade, o que implica que necessitamos de instrumentos de coleta de dados que nos possibilitem descrever a realidade o mais próximo de como ela é e, então, tendo por base essa descritiva, possamos atribuir-lhe qualidade com base em um critério adequado e justo em compatibilidade os múltiplos fatores intervenientes no planejamento e na execução do ensino”.

avaliar9.webnode.com

Necessitamos de processos que conduzam nossos alunos à uma prática significativa da aprendizagem, mas para isso torna-se necessário que o professor também passe por uma mudança de pensamento e que possa adquirir meios para transformar isso em ação efetiva. Isso só será possível se o mesmo passar por uma qualificação, não só nos cursos de graduação, mas também que as escolas particulares, estados e Municípios ofereçam cursos de atualização e que também os próprios educadores busquem novos horizontes.

“A questão da qualificação dos professores é uma problemática séria a ser enfrentada quando se pensa no futuro da escolaridade básica de nossas crianças e jovens. A maioria dos professores que atuam na educação infantil e no ensino fundamental, séries iniciais, ainda não possui formação em nível superior e faltam professores qualificados para as disciplinas das séries finais e do ensino médio”

 www.jussarahoffmann.com.br - O dilema das contínuas reformas educacionais em nosso país.

  De fato é necessário que seja feita uma grande mudança em todo o sistema educativo, inicialmente de pensamento e logo em seguida de ação. Refazer processos burocráticos defasados e desnecessários. Chegou a hora, nossa educação não pode dar mais espaço aos absurdos que estão acontecendo e àqueles que teimam em continuar com seus conservadorismo, só peço que busquem três caminhos; se atualizar, se aposentar ou mudar de profissão.

Fontes Bibliográficas:

Revista Nova Escola, abril de 2010.

 HTTP://avaliacaodaaprendizagem-shofia.blogspot.com.br/2009/05/concepcao-de-avaliacao-na-ldb-lei-de.html#ld

SITE: avaliar9.webnode.com/pastadevisitas

SITE: www.jussarahoffmann.com.br - O dilema das contínuas reformas educacionais em nosso país.