A proposta da educação integral pública surgiu no Brasil há muito tempo. Ao longo do século XX a discussão sobre o tema já ganhava forças entre os educadores e iniciativas importantes merecem destaques: as Escolas-Parque, idealizadas por Anísio Teixeira, na década de 1940, que tinham por finalidade funcionar os dois turnos, sendo um para frequentar a escola regular, de cunho obrigatório, e no turno sequente o funcionamento de um “parque-escola”, onde seriam desenvolvidas atividades de educação física, musical, social e de leituras em bibliotecas infantis e juvenis. A outra iniciativa desta vertente foi criada por Darcy Ribeiro, na década de 1980, e formalizava a criação dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), que visavam uma educação pública de melhor qualidade para as camadas populares, proporcionando no espaço escolar, o conhecimento obrigatório das áreas afins, e o conhecimento sócio-cultural, fundamentais para o desenvolvimento dos alunos.

Nessa perspectiva de educação, no ano de 2007 o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) implementou um dos programas mais significativos para o avanço e consolidação da educação integral na atualidade: o Programa Mais Educação. Integrando ações entre o Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEB) e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o programa tem por objetivo ampliar a jornada escolar, na perspectiva de uma educação integral, contemplando as escolas com recursos financeiros voltados para a concretização e materialização desta proposta.

O Programa Mais Educação foi implantado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Otílio Ciraulo em março de 2009. Fundada em 1972, a instituição está situada no Centro da cidade de Bayeux, Paraíba. Atualmente tem cerca de 250 alunos matriculados regularmente do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, funcionando em dois turnos, pela manhã e a tarde.

            Aparentemente é uma escola simples, pequena, com pouca estrutura, porém com uma Comunidade Escolar disposta e motivada para trabalhar.

 Nesse contexto o Mais Educação surgiu como um apoio ainda maior a nossos alunos, que, ao invés, de estarem em casa ociosos, correndo riscos sociais como, as drogas, a prostituição ou a exploração do trabalho infantil, trouxe a tona a proposta da educação integral, incentivando os mesmos a participarem de atividades sócio-educativas distintas das que eles têm diariamente em sala de aula.

            Mas como implantar o Programa Mais Educação em uma escola sem estrutura física? Onde comportar os alunos? Havia recursos para isso?

            Estas foram as principais inquietações que tivemos, mas não podíamos desistir do Programa. Os recursos disponibilizados pelo FNDE chegariam através do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), mas ainda não estava disponibilizado para fazermos as adaptações estruturais, só podíamos instrumentalizar com materiais as Oficinas que a escola iria oferecer aos alunos. Tínhamos que esperar mais um pouco. Depois de muito pensar, resolvemos fazer uso dos únicos espaços “disponíveis” da escola: a sala dos professores, o pátio e o beco.

            Tínhamos 06(seis) Oficinas e apenas 03(três) locais - inadequados - para trabalhar, então fizemos a organização das turmas nestes espaços, que resultou na saída dos professores do seu ambiente de descanso entre as aulas (Sala dos Professores), para abrigar duas Oficinas e a distribuição das outras pelo pátio e beco, o que ocasionou uma aglomeração maior de alunos dispersos pela escola. O problema aumentava ainda mais nos dias em que tínhamos Educação Física, que também precisava de espaço para suas atividades. 

Não foi fácil administrar essa situação. Foi aí que sentamos todos juntos e decidimos que, se quiséssemos, realmente, fazer o Mais Educação funcionar em nossa escola, tínhamos que arregaçar as mangas e nos dedicarmos, de fato, a ele. Não podíamos esquecer que os maiores beneficiados – ou prejudicados – seriam nossos alunos, razão de nosso trabalho, de estarmos aqui.

Então resolvemos deixar o passado e as complicações para trás e lutar por nossos objetivos.

Iniciamos o Programa com as adaptações possíveis, enquanto esperávamos a chegada dos recursos para melhorarmos as condições de trabalho. Conversamos longamente com os pais e expomos a importância do Programa para a educação e socialização de seus filhos. Eles compreenderam e, gradativamente, traziam suas crianças para frequentar a escola no turno oposto ao que estudavam.

Aos poucos os resultados foram surgindo: alunos mais atentos e participativos nas aulas regulares, o desempenho escolar aumentando, o respeito e a compreensão com o próximo também.

Toda Comunidade Escolar, desde o vigilante até a direção, estão cada vez mais envolvidos e conscientes da importância do Mais Educação para a Escola. Com a administração consciente dos recursos gerados pelo PDDE estamos melhorando cada vez mais a estrutura para atender nossos alunos. A interação e o diálogo se tornaram constantes e fundamentais na solidificação do Programa na instituição.

Em nossa escola temos a certeza que a Educação Integral funciona. E o Programa Mais Educação é prova concreta disso. Um Programa que começou tímido, com poucas expectativas e aceitação por parte de muitos, hoje pode ser visto como um referencial para a educação brasileira. A junção do Poder Público com a Comunidade Escolar pode dar certo sim. Basta compromisso e dedicação com o maior legado que um povo pode ter: a educação. Não é uma tarefa fácil, mas não podemos desistir. Temos que buscar melhorar e ampliar cada vez mais os horizontes na expectativa de uma educação pública integral inclusiva, de qualidade e que assegure a permanência e o acesso de alunos de todas as camadas sociais.

Referências:

BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Módulo Competências Básicas/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – 3. Ed., atual. – Brasília: MEC, FNDE, 2010.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Século XXI Escolar. 4. ed.- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

GUARÁ, I. É imprescindível educar integralmente. Cadernos CENPEC, n. 2, 2006.