A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE NA PRÁTICA SOCIAL

O estudo da oralidade é uma questão de extrema importância no processo de interação verbal, neste sentido é falso dizer que a oralidade privilegia apenas a espontaneidade, o relaxamento, a falta de planejamento, e até o descuido em relação às normas da língua padrão; muito pelo contrário para uma oralidade eficiente, precisa seguir normas e padrões necessárias para seu uso e verdadeiro entendimento. Neste contexto a uma extrema necessidade de desenvolvermos atividades principalmente nos livros didáticos, pois é um grande instrumento do professor. Com isso vimos a necessidade de uma pesquisa sobre essas atividades.

Partindo do pressuposto de que nas sociedades ocidentais ou ocidentalizadas, usamos a língua, cotidianamente, tanto em sua modalidade oral quanto escrita, operando/passando, da fala à escrita e da escrita à fala, tratar os processos lingüísticos de oralidade e escrita sob a ótica de um trabalho interativo, estabelecendo relações entre suas semelhanças, diferenças e, conseqüentemente, as influências exercidas entre os mesmos, poderá ser muito interessante para o processo de ensino – aprendizagem da língua. Segundo Fávero (2003 , p.115)"É necessário mostrar que há diferentes níveis de fala e escrita, isto é, diferentes níveis de uso da língua, e que a noção de dialeto padrão uniforme é teórica, já que isso não ocorre na prática".

* Graduanda do curso de Letras Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará.

Portanto, é necessária a mediação do professor no sentido de mostrar ao aluno que fala e escrita influenciam-se mutuamente e, também, valorizar a linguagem presente nos textos falados dos alunos como partida para a reflexão sobre a língua materna.

Nesse contexto, torna-se necessário o ensino da oralidade, para mostrar as características que a diferencia ou aproxima da escrita no primeiro momento, veremos o que é oralidade. Segundo Marcuschi (2001, p. 25), oralidade é "uma prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela vai desde uma realização mais informal a mais formal nos mais variados contextos de uso".

Sublinhe-se na definição de Marcuschi que a oralidade se caracteriza pela diversidade de gêneros textuais e acrescente-se que o domínio desses gêneros faz parte da competência comunicativa de cada falante. Competência que vai permitir a esse falante transitar dentro de um espectro de realizações, diante das inúmeras situações de fala que se lhe apresentarão durante a vida. Um dos obstáculos que se colocam contra o desenvolvimento pleno da habilidade oral diz respeito ao fato desabermos que a criança já fala ao chegar à escola, o que leva muitas pessoas a pensarem que ela já tem um domínio da modalidade oral. Daí decorre um problema que é o de se confundir a "oralidade" com a "fala", na medida em que esta, segundo Marcuschi,(2001) "seria uma forma de produção textual discursiva para fins comunicativos na modalidade oral (situa-se no plano da oralidade), portanto, sem uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano".

Possivelmente, por este fato, muitas atividades sugeridas nos Livros Didáticos apresentam um caráter de informalidade, como se pode observar nos trechos a seguir: Converse com os colegas e professor; Troque idéias com seus colegas; Combine com os colegas e professores.

Segundo Soares (1999, p. 22)

Não basta, portanto, que atividades de linguagem oral sejam consideradas apenas como oportunidades de interação oral com o professor e os colegas; elas precisam ser planejadas para o desenvolvimento de habilidades de produção e recepção de textos orais freqüentes em situações mais formais, que exigem preparação e estruturação adequada da fala, textos de diferentes gêneros, com diferentes objetivos e diferentes interlocutores, falados ou ouvidos em função de determinadas condições de produção e determinadas situações de interação.

Os estudiosos, de uns anos para cá, passaram a encarar de um modo diferente o significado da linguagem oral e os contrastes entre este tipo de expressão e a escrita. Ferdinand Saussure, que é chamado o pai da lingüística moderna, insistia na superioridade do discurso oral, e entendia a escrita como um complemento desse discurso. A partir daí, muitos estudos foram desenvolvidos sobre fonêmica, que é a área científica que se ocupa do som das palavras. Henry Sweet, um inglês da época de Saussure, dizia que as palavras não são feitas de letras, mas de sons. Os seres humanos se comunicam de formas diversas, mas nenhuma delas é comparável à linguagem através do som articulado; o próprio pensamento está relacionado, de um modo muito especial, ao som.

A linguagem é tão predominantemente oral, que dentre as milhares de línguas que existiram, apenas cerca de 106 possuíam escrita suficientemente desenvolvida para produzir literatura. Das 3 mil línguas hoje faladas, somente 78, aproximadamente, têm, de fato, uma literatura. É claro que o valor da escrita não pode ser negado. Quem usa uma língua escrita – o inglês, por exemplo – tem à sua disposição um vocabulário de pelo menos um milhão e meio de palavras, enquanto que uma língua exclusivamente oral não oferecerá ao falante mais do que alguns milhares. Entretanto, todos os textos escritos estão direta ou indiretamente relacionados ao universo do som.

Segundo Marcuschi(1997)

A fala é uma atividade muito mais central do que a escrita no dia a dia da maioria das pessoas. Contudo, as instituições escolares dão à fala atenção quase inversa à sua centralidade na relação com a escrita. Crucial neste caso é que não se trata de uma contradição, mas de uma postura.

Postura à qual Marcuschi se refere, com relação à diferença de abordagem de textos orais e escritos em sala de aula, vem sendo questionada ultimamente, principalmente devido à inclusão do tema nos PCNs de língua portuguesa. Muito se discute sobre o assunto, mas o professor continua sem saber o que fazer (e como) para trabalhar oralidade nas aulas. Dizer que o problema ocorre porque os professores são mal preparados é cair num lugar-comum que não leva à discussão e não aponta soluções práticas, eficientes e imediatas. Da mesma forma, criticar os livros didáticos, que não costumam apresentar propostas de atividades nesse sentido, e as faculdades de Letras, que não abordam o tema com os futuros professores, parece não conduzir a um caminho. A dificuldade de limitar a modalidade de um texto só não é maior que o desconhecimento de grande parte dos professores do que vem a ser o trabalho com textos, principalmente os orais, em sala de aula. É comum os professores acharem que debater espontâneo ou dramatizar já são atividades suficientes de oralidade, e muitos se questionam até mesmo se isso é útil, uma vez que os alunos falam - e bastante - no dia a dia. Essa simplificação do trabalho com a oralidade decorre, em grande parte, do despreparo de alguns professores, formados em faculdades que não abordam o tema e por vezes sequer debatem conceitos preliminares a qualquer discussão sobre língua, como variação lingüística, norma culta etc. Se, porém, o problema é de formação, também não deixa de ser de informação. Afinal, somente a partir da segunda metade da década de 90 temos visto livros explicitamente abordando o ensino de língua falada - e nem sempre o professor tem como se atualizar. Com relação aos PCNs, que poderiam servir para levar algumas informações aos professores, no que se refere à oralidade há certa confusão. É o que se constata nos excertos seguinte:

...cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral no planejamento e realização de apresentações públicas: realização de entrevistas, debates, seminários, apresentações teatrais etc. Trata-se de propor situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato, pois é descabido treinar um nível mais formal da fala, tomado como mais apropriado para todas as situações. ( PCNs p. 25)

Percebe-se, nesse trecho, que se espera da escola a preparação do aluno para falar em público, em situações que não são de fato espontaneamente oral, mas previamente planejadas para serem enunciadas oralmente. Os Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental, tanto o que contempla os primeiros e segundos ciclos (BRASIL, 1997) quanto o dos terceiros e quartos ciclos (Brasil, 1998), captaram parte desse ensejo, e não apenas recomendam o ensino da língua oral, como também sugerem uma perspectiva teórica de abordagem a partir do conceito de "gêneros do discurso" formulado por Bakhtin (1992).

No planejamento pedagógico o professor precisa ter um cuidado especial para com o processo da oralidade. Segundo os (PCNs ensino fundamental, Língua Portuguesa, p.8) "Não se trata de ensinar a falar ou a fala dita 'correta' mas sim as falas adequadas ao contexto de uso". Há que se esclarecer que o trabalho do professor para desenvolver a oralidade do aluno não se limita às séries iniciais (1o ciclo). O trabalho primário é apenas um eixo, uma base para os trabalhos futuros. Em todas as séries desde o fundamental até o ensino médio, os professores devem orientar seus alunos para o desenvolvimento da competência oral. No ensino médio o aluno deverá ter capacidade de articulação, elaboração das idéias e maturidade para a exposição oral objetiva e compreensível. "Destaca-se que a linguagem, na escola, passa a ser objeto de reflexão e análise, permitindo ao aluno a superação e/ou a transformação dos significados veiculados" (PCN, ensino médio, Língua Portuguesa, p. 127).

ANÁLISE DE ATIVIDADE ORAL NO LIVRO DIDÁTICO

Nessa perspectiva iremos analisar atividade de um livro didático utilizado por professores no Ensino Fundamental, já que ele ainda é um instrumento pedagógico extremamente difundido e continua sendo o principal portador dos conhecimentos básicos das diversas disciplinas que compuseram e ainda compõem o saber no interior das escolas, é a principal fonte de estudo e consulta para estudantes e professores, utilizado como instrumento de escolarização e letramento, de maneira geral, ainda é a referência de docentes e discentes para inclusão dos últimos no mundo da escrita. Então, continua se configurando como instrumento privilegiado no cenário educacional nacional.

A partir desses pressupostos teóricos, selecionamos um exemplar de um livro didático para o Ensino Fundamental (PRASTE, Marilda. Encontro e reencontro em Língua Portuguesa: Reflexão e ação. São Paulo: Moderna, 1998. 5ª série), com a finalidade de fazer uma análise sobre a presença de atividade oral presente no livro.

O livro selecionada para o desenvolvimento do trabalho foi utilizado durante quatro anos( 2004, 2005, 2006 e 2007) nas escolas públicas no Estado do Pará. A autora do livro é Marilda Praste, professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa, com especialização em Ensino da Língua e Técnicas redacionais. Formada em Letras –Inglês/ Português e em Pedagogia na área de Educação – Supervisão Escolar.

No livro encontramos uma atividade oral que se encontra na p. 33, nela a autora propõem ao professor que utilize uma cena grafada em que se desenvolve um dialogo curto entre duas personagens. A partir da observação do desenho, os alunos deverão fazer de conta que estão assistindo à cena de longe ( como narrador) para em seguida criarem uma narração em 3ª pessoa, lembrando que ele não será personagem da história, ele vai apenas contar o que imagina está acontecendo,finalizando com a apresentação do seu trabalho oralmente.

Nesta parte do trabalho, trabalharemos mostrando os pontos positivos e negativos da atividade proposta pela autora.

Pontos positivos:

Desenvolver uma atividade oral, apesar de que, seja de forma limitada, pois em alguns livros pesquisados não se achou nem uma atividade oral.

Por usar a linguagem do oral para o desenvolvimento de uma narração, já que na maioria das vezes se faz apenas com a escrita. Ou seja, para aprender a narrar, geralmente os alunos produzem apenas textos escritos

Pontos negativos:

A atividade tem por finalidade maior, ensinar à escrita, ou seja, desenvolver narração em terceira ou primeira pessoas, e que o aluno perceba que pode narrar a históriaque acontecerão com alguém ou com ela mesma. E isso geralmente acontece no cotidiano do aluno, no entanto, espera-se que a escola prepare o aluno para falar em público, em situações que não são de fato espontaneamente orais, mas previamente planejadas para serem enunciadas oralmente. (não há o ensino do oral planejado)

A atividade de linguagem oral está sendo considerada apenas como oportunidade de interação oral com o professor e os colegas; enquanto que ela precisaria ser planejada para o desenvolvimento de habilidades de produção e recepção de textos orais freqüentes em situações mais formais, que exigem preparação e estruturação adequada da fala, textos de diferentes gêneros, com diferentes objetivos e diferentes interlocutores, falados ou ouvidos em função de determinadas condições de produção e determinadas situações de interação.

Não temos nesta atividade o oral como objeto de estudo, ou seja, na atividade não se trabalha as características do oral, no momento que pede apenas leitura do texto escrito produzido pelo aluno.

PROPOSTA PARA MELHORAR A ATIVIDADE APRESENTADA

Deveria ser explicado aos alunos a diferença entre narração escrita e narração oral, ou seja, mostrar quais as palavras que deveriam ser empregadas para que o texto passasse a ter coesão e coerência, mostrando a diferença entre a oralidade e a escrita, já que tanto o texto oral como o escrito possuem características especificas, como exemplo o oral (exige do narrador expressões, entonação, ritmo, marcado com o tom de voz do narrador e outros elementos essenciais dependendo da situação).

Para se promover um bom trabalho com a oralidade temos as seguintes propostas:

A autora do livro didático deveria pedir que um aluno começasse a narrar um fato ocorrido na rua em que mora, sendo que ele seria apenas o narrador do fato, por isso narraria em terceira pessoa. E os outros alunos estariam observando seu colega fazendo anotações sobre a apresentação, para depois dá sua opinião se o texto oral foi bem desenvolvido e se o colega conseguiu expressar-se de forma correta em relação ao gênero exposto. Quais as falhas e acertos de seu colega, explicando o por quê?

Após a observação da cena, a mesma idéia de um narrador poderia ser colocada, porém participarão da narração todos os alunos, um de cada vez, continuando a narração no momento em que a professora desse o sinal para que outro aluno continuasse a história de acordo com sua criatividade, mas apenas oralmente. Assim, colocaria seu conhecimento de mundo com suas próprias palavras e idéias espontaneamente. Dessa forma a professora conheceria melhor seu aluno, suas atitudes e vocabulário, sendo assim mais fácil de orientá-lo no que diz respeito, a exprimir-se de maneira correta em público e a escolher um vocabulário adequado à situação.

CONCLUSÃO

Após a realização da pesquisa, percebemos que infelizmente ainda hoje a oralidade é ensinada superficialmente, ou seja, sem objetivo especifico, sem a menor preocupação de um ensino organizado e estruturado, com finalidades para o desenvolvimento da escrita, No entanto, já temos desde 1998 os PCNs que tornam obrigatório o ensino do oral, principalmente os que serão utilizados em lugares formais. Tornar-se necessário uma melhor conscientização por parte do professor em buscar maior conhecimento do ensino da oralidade e praticar esse conhecimento em sala de aula com seus alunos, e isso com certeza ajudará a todos a usar de melhor forma todos os gêneros orais específicos para cada situação.