A presença da religiosidade na pré-história e sua prática como meio legitimação de poder dos monarcas e faraós na antiguidade.

Marcos Fogaça Vieira

 

RESUMO

 

            Neste trabalho irei apresentar o desenvolvimento da religiosidade da pré-história a mesopotâmia e ao Egito antigo, abordando aspectos desta relação até o surgimento da legitimação do poder dos monarcas e dos faraós sobre suas práticas políticas por meio da religião.

 

PALAVRAS CHAVES

Pré-história – religiosidade - poder– Mesopotâmia -  Egito antigo.

INTRODUÇÃO

            Nesse trabalho que me propus desenvolver tem muito haver com meu interesse pessoal pelo assunto, em compreender como a religiosidade é inerente ao ser humano desde a pré-história e que aos poucos foi servindo como legitimação de poder de monarcas e faraó introduzindo uma nova ordem política a partir da religião. De todo modo, esse inicio se torna interessante, pois são comprovados pelos vestígios deixados pelo homem pré-histórico desde o seu processo de evolução, se contrapondo o que muitos imaginaram que o homem da Pré-história não tinha uma religiosidade.

 Autores como Mirceas Elíades, demonstram que a partir das fontes histórica mencionada por ele, que é quase impossível não encontrar uma intencionalidade religiosa nas crenças e nas praticas ritualista do homem pré-histórico, como ao enterrar seus mortos e a sua relação mística com a natureza. No paleolítico a medida que o homem se torna autônomo, se torna ereto, e consegue usar as mão e  cria novos a hábitos alimentares, muda sua relação com a natureza, estabelecendo uma  solidariedade mística dele com a caça , porém, no neolítico essa relação toma um novo sentido, pelo surgimento da agricultura, e passa estabelecer uma solidariedade mística entre homem e o vegetal.

Então, à medida que essa concepção de religiosidade foi se estreitando com a vida do cotidiano essa relação começa a tomar novos significados e surgindo inúmeros deuses ligados a suas ações, seja na caça, no plantio, na colheita. E essas ações os leva a explicações míticas de origem, morte, renascimento e imortalidade da alma, desencadeando em um sistema religioso diante do  desconhecido, o politeísmo, e com o surgimento da agricultura isso se tornou mais pertinente, porque surge a necessidade de se manter em lugar e de se ter a proteção de alguma divindade,  a  vida sedentária estabelece o surgimento de  laços para uma  vida social,  que por si  constrói  uma organização social, que consequentemente desencadeia na religião como base.

Por isso, que as primeiras civilizações carregam essa religiosidade; porém com uma conotação política inexistente no homem primitivo: a de atrela-la ao poder. Por exemplo, na mesopotâmia os monarcas assumem o poder de governar como “representante” dos  deuses e que todos devem entender que sua decisões vem por obediência a eles, assim, como a Faraó no Egito se “personificando” em um deus para centralizar o poder e  controlar a  vida de seus súditos.

“Solidariedade mística” no Paleolítico e no Neolítico

Os paleantropídeos na ordem da evolução, são os primeiros desenvolver uma posição ereta que foi decisiva para toma uma nova configuração “orientatio” de seu espaço, e, por conseguinte, a descoberta do fogo  e a produção de suas ferramentas, assim definitivamente se entendem  diferentes dos outros animais (ELÍADE, 2010,p.17). Começa assim, a desenvolver pequenas técnicas para manter sua sobrevivência, porém sem romper com sua relação com a natureza, o que Mirceas denomina de “solidariedade Mística”.

A solidariedade mística consiste na relação do caçador com sua caça, após adquirir novos hábitos alimentares como de comer carne, ele precisou matar pra sobreviver, porém isso não o fez diferente da natureza, não se via fora dela, pois entendia que se morresse fazia parte desta relação.

Mas a incessante perseguição e morte da presa acabaram por criar um sistema de relação sui generis entre o caçador e os animais abatido. Voltaremos oportunamente a esse problema. Lembremos por enquanto que a ‘solidariedade mistica’ entre o caçador e a caça é revelado pelo próprio ato de matar; o sangue derramado é em todos os aspectos semelhantes ao sangue humana. Em ultima instancia, a ‘solidariedade mística’ com a presa revela parentesco entre as sociedades humanas e o mundo animal. Abater o animal caçado ou, mais tarde, o domesticado equivale a um ‘sacrifício’ em que as vitimas são intermutáveis (ELÍADE, 2010, p.19).

            A partir dessa relação “mística”, este homem começa a obter um universo mítico-religioso, que segundo Mirceas é inerente a qualquer ser humano, e que está presente mesmo no homem primitivo o de expressar são sua religiosidade, se considerados ‘homens completos’, deduz-se que possuíam também certo número de crenças e praticavam determinados ritos. Pois, conforme lembramos, a experiência do sagrado constitui elemento na estrutura da consciência do homem, que nos permite uma ligação com o sagrado e a praticas religiosas, portanto, na afirmação do autor que essa religiosidade é presentes em todas as sociedades (ELÍADE, 2010, p.19).

            O elemento que impulsiona isso é nossa reação diante do desconhecido, o homem primitivo fundamentou sua religiosidade, devido sua crença na imortalidade da alma. Inúmeros achados arqueológicos comprovam isso. A crença da imortalidade é confirmada pelas sepulturas; de outra forma, não se compreenderia o trabalho empregado para enterrar os mortos (ELÍADE, 2010, p.19). No paleolítico as sepulturas simbolizavam o útero materno, por isso muitos cadáveres eram encontrados em posição “fetal”, na esperança de um novo nascimento.

Assim, podemos entender que enterrar seus mortos e a imortalidade da alma está presente em quase todos os ritos e crenças do homem primitivo, claro que isso consequentemente iria ampliar sua visão “espiritual” e fomentar uma narração mítico-religiosa para explicar a sacralidade e respeito  a seus ancestrais.

A figura do Xamã, aparece em diversas  pinturas, e se  apresenta o como um ser religioso, com poderes sobrenaturais, e só ele o xamã tem  à visão sobrenatural que possui, é capaz de “ver seu próprio” esqueleto. Em outras palavras, ele tem a capacidade de penetrar na origem da vida animal, uma visão espiritual profunda a ponto de olhar os ossos de um animal A figura do xamã é interessante, pois com todos esses seu “poderes” acabava por ter uma posição privilegiada na tribo como uma espécie de líder, que mantinha esse contato com mundo espiritual para pedir bênçãos aos deuses para o sucesso da caça (ELÍADE, 2010, p.31).

Assim, começa a se ter a figura de alguém que regula essa religiosidade que se apresenta como alguém especial e com poderes mágicos que não causava dúvida sobre sua relação com as divindades, sendo assim atuava como uma espécie de “sacerdote” no paleolítico. O  xamã começa a modelar a figura do sacerdote, daquele  quem tem acesso ao sagrado, com uma posição bem mais definida na mesopotâmia e no Egito.

À medida que se aperfeiçoava, a linguagem aumentava seus meios mágico-religiosos, porém essa linguagem não era essencial para o desenvolvimento de sua  religiosidade. (ELIADE, 2010, p.38).

No período Neolítico esse fenômeno continua, só que em uma perspectiva diferente, nesse momento o que demarca esse período é a domesticação dos animais e dos primórdios da agricultura (ELIADE, 2010, p.41). E a figura do caçador e da caça tomam outra dimensão, o caçador passa a ser  o guerreiro, o guardião da aldeia o mais tenaz, normalmente se tornavam lideres. Com o surgimento da agricultura passa-se a ter a necessidade de se manter em um lugar fixo para cuidar da plantação e dos seus excedentes. 

[...] tornando-se produtor do seu alimento, o homem teve que modificar seu comportamento ancestral. Ante de mais nada, teve de aperfeiçoar sua técnica de calcular o tempo, descoberta ainda no paleolítico. Já não bastava a assegurar exatidão de certas datas futuras com o auxilio de um calendário lunar rudimentar . Doravante  o cultivador estava obrigado a elaborar os seus projetos vários meses antes de sua aplicação, e também a executar numa ordem precisa, uma série de atividades  complexas tendo em vista um resultante distante e, sobretudo no inicio, sempre incerto: a colheita (ELIADE, 2010, p.49).

            Essa nova visão trouxeram modificações, que serviu de estímulo a criação de novas crenças no universo espiritual. Nesse período essa relação com sagrado se justifica a partir do aparecimento das plantas que lhe serviam de alimento, isso tão significativo que o mito do roubo da cerealidade da entrega do grão assemelhasse ao roubo do fogo por Prometeu para entregar ao homem. Portanto, a origem dos cereais era algo divino ou um drama mítico que implica a união sexual morte e ressurreição, a descoberta do arado, o trabalho agrário e assimilado ao ato sexual (ELIADE, 2010, p.19). Por isso, o papel feminino era sagrado, símbolo da fertilidade, foram elas que descobriram a agricultura e que cuidavam da subsistência da família.

            Sendo assim, a solidariedade mística antes no período paleolítico, era caracterizado pela relação entre o caçador e sua caça, no neolítico essa solidariedade mística é substituída pela relação do homem e o vegetal, se osso  e o sangue representavam a sacralidade da vida no paleolítico, o esperma e o sangue as encarnam  no neolítico (ELIADE, 2010, p.50). Portanto, toda ordem do cosmológico terão como base a vida ciclo dos vegetais, ou seja, como as plantas obedecem a um ciclo, a vida e a religiosidade deve assemelha-se  com eles, algo que  o nasce, morre e renasce. Incutido de um pensamento mítico-religioso desde o paleolítico essa sua busca de resposta ao desconhecido, comecei a entender o universo e a religiosidade de cada cultura ligada e como ela esta ligada sua visão de mundo.

As culturas agrícolas elaboram o que podemos chamar de religião cósmica, uma vez que a atividade religiosa está concentrada em torno do mistério central: a renovação periódica do mundo. Tal como a existência humana, os ritmos cósmico são expresso em termos tirados da vida vegetal. O mistério da sacralidade cósmica está simbolizado na árvore do mundo. O universo é concebido como um organismo que deve renovar-se periodicamente; em outros termos, todos os anos (ELIADE, 2010, p.52).

 Essa nova visão trouxeram mudanças significativas para o comportamento do homem primitivo, porém ainda aqui não temos uma instituição de uma religiosidade organizada às moldes de religião regida por dogmas ou controle social. Mas o mundo para o agricultor  a casa ,a aldeia e os campos cultivados eram seu espaço sagrado, ali ele praticava seus rituais, orações comunicação com os seres sobre humanos.  A habitação é uma imago mundo (ELIADE, 2010, p.53).

Muitos dessas práticas são comprovadas pela arqueologia, por exemplo estatuetas são encontradas, simbolizando principalmente deusas (a mulher de fertilidade) e escavações encontraram nos assoalhos das casas calotas craniana no esforço de conservar a lembrança do individuo vivo, (ELÍADE, 2010, p.55). A propagação da agricultura proporcionou um alargamento nas crenças e no desenvolvimento dos mitos, e no decorrer processo muitos desses cultos foram ganhando espaços apropriados.

No meio do sexto milênio, aproximadamente, multiplicam-se  as aldeias defendidas por fossos ou muros, e capazes de abrigar até mil habitantes. ***Vários altares e santuários, e além de diversos objetos de culto, testemunham uma religião bem organizada. Na estação eneoloitica de Cascioarele, a 60 km sul de Bucareste, descobriu-se um templo cuja as paredes eram pintadas com magníficas espirais vermelho e verde sobre um fundo verde branco-amarelado. Não se encontraram estatuetas, mas uma coluna de 2m e outra, menor, indicam um culto do pilar sagrado, símbolo do axis mundi*** sobre esse templo, havia um outro, mais recente, no qual se achou o modelo em terracota de um santuário. (ELÍADE, 2010, p.58).

 Outra coisa interessante ocorre com a descoberta do Ferro, e como essa relação começa a se estreitar com as profissões exercidas, e como se fosse méritos dados pelos deuses. O metalurgico, por exemplo, é um “senhor do fogo” e que sua ação relacionada ao crescimento do minério, é como se fosse um milagre. Daí surge varias mitologia entorna dessa figura e de sua relação com os deuses, pois apresenta um elo intimo entre a arte do ferreiro, e as técnicas ocultas. Aqui no neolítico surge esse personagem ligado aos deuses com poderes sobrenaturais, assim como o xamã no paleolítico. (ELÍADE, 2010, p.63).

É essa interação do mundo mítico do homem primitivo com o divino, com surgimento dos espaços sagrados, e que aos pouco esse entendimento os remete vontade divina e que sua vida equivale a se comparar com a dos deuses, e que pessoas começam a tomar postos de lideranças na tribo, por se entender que ele possui poderes comunicativos, e que esse privilegio muitas vezes lhe dava o poder de comandar a tribo, assim poderemos entender como as primeiras civilizações organizaram seu espaço social ligada a essa tradição vinda pré-história.

A religiosidade e o Monarca na Mesopotâmia 

            A mesopotâmia surge entre dois rios importantes: Tigre e Eufrates, que nasciam nas montanhas da Armênia e desaguavam no golfo pérsico (FUNARI, 2010, p.28) a fertilização da terra em torno dos rios, favoreceu a prática da agricultura. Isso foi de extrema importância para fixação de povos naquela região. Eram comunidades independentes que viviam no nível de subsistência, até a necessidade de uma organização para cuidar o que se excedia. Não havia unidade política e nem um estado centralizado se organizavam em cidades-estados e tinham seu próprio soberano seus próprios deuses.

 Sendo assim, influenciados pelas suas crenças aos deuses, quem governava estava direcionado segundo a vontade deles, surgem inúmeros deuses, caracterizando a religião mesopotâmica como Politeísta. Portanto, o monarca  se legitima como um escolhido segundo a vontade dos deuses, normalmente eram sacerdotes que entendiam como funcionava essa relação, essa forma de religiosidade toma aspectos mais rígidos, pois a partir de agora essa dinâmica se dará de forma representativa e de escolha de alguém pra reger a vida da cidade.

O rei geralmente atua como agente da divindade e é designado por um título de subordinação. A palavra da divindade tem o poder de comandar as forças que governam a natureza e os assuntos humanos, de interferir no resultado das batalhas e desencadear mudanças na natureza. Consequentemente pode-se  falar de uma revelação através da história, pois os deuses teoricamente auxiliavam o rei integro, leal e justo[...] A grandeza dos deuses geralmente refletia no poder da natureza ou no êxito de uma nação e daqueles associados (SETERS,2008, p.75)

            O que Seters coloca é interessante porque a ação dos deuses interfere diretamente no comportamento das pessoas, a vida social da cidade começa a ser direcionada pela “vontade divina”, porém e  nesse momento que  o rei  legitima seu poder, pois agora consegue meios divinos para justificar suas decisões que nem sempre favorece a todos. A maioria das inscrições reais encontradas em território mesopotâmico demonstra essa preocupação do rei: fortalecer sua identidade política e o papel dos deuses no seu triunfo (SETERS, 2008, p.78).

            O rei se vangloriava por ter estabelecido a lei e a ordem na terra.

Em inscrições reais, lista de datas, cartas e documentos jurídicos do período babilônico antigo encontram-se mencionados atos reais, cuja a finalidade era, sem duvida restaurar a ordem e a justiça social na babilônia. Tais atos descrevem, sempre, uma intervenção  do rei na sociedade e na economia do reino e significam uma suspensão temporária do direito vigente e de direitos adquiridos. (BOUZON, 2002, p.8)

Embora os estilos e padrões variem, mas geralmente elas estão falando da missão do rei seu sucesso na batalha determinada pelos deuses e registram orações, inaugurações de templos e suas fases de construção, na pretensão de os futuros reis descobrissem esses feitos e dessem continuidade. (SETERS, 2008, p.78)

Cada cidade-estado tem um deus que o representa como se fosse um patrono, que se assemelha muito com a religiosidade dada aos santos, com festa e altares e datas específicas para sua celebração, e com certeza era de acordo com a afinidade do monarca com uma determinada divindade. Vejamos que essa religiosidade ainda se faz presente também em meio aos seus súditos, porém a figura do sacerdote se apresenta como importante para organização dessa religião, pois havia deuses tutelares das famílias e uma certa hierarquia.

De acordo com a teologia oficial, essas pequenas divindades permaneciam a serviço dos deuses da cidade, de forma bastante concreta: como poderes primários de bem-estar e, necessariamente como advogado diante dos grandes deuses. Representação desse período mostram como o fiel é conduzido diante dos grandes deuses pela deidade tutelar revelando que a divindade não pode sozinha atender plenamente a todos os desejos solicitantes (FUNARI, 2008, p.33)

            Diferente do pensamento do homem primitivo, na mesopotâmia percebeu a evolução na forma de culto, bem elaborada, porém suas crenças, seu universo mágico-religioso a relação da vida cotidiana ainda é alimentada por uma religiosidade que nos é própria, o que os separa do homem primitivo, é a presença do rei com representante divino, legitimando seu poder pela benção dos deuses. Portanto, por conta disso não há como negar que nesse momento a religião se atrela ao “estado” como forma de controle e centralização de poder (FUNARI, 2008.p.39).

A religiosidade e o Faraó no Egito antigo

            O Egito apresenta muitas semelhanças com o homem primitivo  quando os relacionamos com suas crenças.  A imortalidade da alma e forma ritualística de enterrar seus mortos são uma delas. No Egito, assim como na mesopotâmia a agricultura teve um papel muito importante usufruindo da fertilidade das margens do rio. O Egito fica as margens do Rio Nilo, durante milênios a região Saara eram savanas habitadas por caçadores, pescadores e agricultores que aos poucos com deserticamente dessas áreas foram se aproximando Nilo  O povoamento dessa região foi se dando por vários grupos étnicos, que deu origem a uma miscigenação muito significativa naquela região. Viviam em nomos, que eram pequenas aldeias independentes tinha seus chefes tribais (CARDOSO, 2002, p.4) e que também tinhas seus deuses praticavam a agricultura, a domesticação de animais e a construção  de barragens e sistemas de irrigação que ajudavam em grandes áreas de plantio, e que proporcionou muita riqueza.

Essa riqueza gerou interesses e Por volta do ano de 3.000 a.c esses nomos foram unificados, uma figura vinda do Norte chamado Escorpião Rei agrega os 40 nomos, unificando os Reinos do Sul e do Norte, surgindo a civilização egípcia. Com isso outra figura surge: o Faraó. A figura do faraó se torna importante para a manutenção dos sistemas de irrigação assim como para manutenção do reino. Porém, é necessário a centralização do poder,não se diferencia muito da mesopotâmia, contudo, a pessoa do Faraó se personifica na divindade digno de louvor e adoração, ou seja, governa como um deus.

[...] a estela, de tutmés IV (1406 – 1390 a.c). Como a maioria das inscrições reais, a estela apresenta a enumeração dos títulos do rei e um breve panegírico sobre suas qualidades divinas[...] ele adormeceu aos pés da tal esfinge e sonhou que conversava com ela. Assumindo uma forma divina , ela lhe prometeu a coroa, sob a condição de ele retirar a areia que ameaçava encobrir sua imagem. O príncipe acordou sem revelar a ninguém a visão que tivera, cumpriu a vontade de Deus e construiu a sua estela. (SETERS, 2008, p.177)

 Apesar de temos o rei se vangloriando com sua divindade, percebe-se  práticas recorrentes de uma religiosidade ligada a crenças dos sonhos e visões, praticados desde o período paleolítico. Esse sonho foi fundamental, pois serviu para legitimar Tutmés como faraó e estimular respeito ao deus Harmakhis representado pela esfinge. A Monarquia divina dos faraós legitimavam suas ações através do desejo ou da permissão dos deuses. Por isso, cada Dinastia tinha seu próprio deus. Na IV e VI dinastia o deus Ra era poderosíssimo, que antes disso o deus Hórus era o mais adorado (FUNARI, 2010).  Os egípcios tinham o sol como uma divindade, representada pelo deus Amon ou Amon Ra.

Podemos exemplificar a relação de proximidade entre a divindade e poder. Nas campanhas do faraó Kamés contra os hicsos (reis pastores vindo da palestina), o rei egípicio os  repeliu conforme as ordens do deus Amon, que era considerado ‘famoso’ por seus conselhos. Outro caso interessante  é o da rainha e faraó Hartshepsut  (1473-14580), que imortalizou uma das formas utilizadas para estabelecer a sua legitimidade no trono. Em seu templo mortuário em Deir-el-Bahari, ela ordenou que fosse descrito seu nascimento divino por desejo do deus Amon, segundo a história, o deus toma forma do faraó Tutmés I (pai) e faz amor com a rainha Ahmés (sua mãe), concebendo, assim, Hartshepsut de forma divina (FUNARI, 2010, p.22).

O sepultamento tem em suas práticas ritualísticas que demonstram como aquelas sociedade se comportavam, não foi diferente com os egípcios, como havia citado anteriormente a crença na imortalidade da alma e sua forma de enterrar seus mortos tiveram um lugar especial para se entender sua religiosidade. O que impulsionava suas práticas também  era a sua crença na imortalidade da alma, esse ato envolvia o processo de mumificação, a tumba o enxoval funerário e ritos com abertura da boca. (FUNARI, 2010, p. 18) Morto passa pelo julgamento, seu coração era pesado com uma pena, pelo deus Osíris, seguindo a sentença que poderia ser a morte. Esse tipo de sepultamento era um privilegio dos faraós e das famílias ricas, os pobres eram enterrados por um culto simples (FUNARI, 2010, p. 18).

Portanto, a religiosidade do povo egípcia estava estreitamente ligada a religião dos faraós e sua relação com o sagrado se deu de forma politeísta.  Porém, quando a figura do faraó se atrela ao poder político, se inicia processo de centralização do poder e o controle a vida em sociedade legitimada  pela sua autoridade suprema e divina.

 

Conclusão

            Conclui que a religiosidade é uma prática desde a pré-história, defendida por autores como Mircea Eliade, essa novidade, contrapõe a tendência de acreditar que este período era isento de qualquer religiosidade. No entanto, minha pesquisa se entender além dessa compreensão, ou seja, como essa religiosidade foi se tornando importante para práticas políticas nas primeiras civilizações. Na mesopotâmia e no Egito antigo essa visão mítico-religiosa do homem, toma uma nova configuração quando se atrela ao poder dos monarcas e dos faraós, e várias fontes confirmam isso, que essa religiosidade após a pré-história tinha como pano de fundo, uma finalidade política de legitimação do poder dos governantes, como citei o caso de Hartshepsut. Portanto, pouco se diferencia dos dias hoje, claro em outro contexto, mas fico com a clareza de que religiosidade e poder casam muito bem e que podem agir de acordo com seus interesses.

Referencias Bibliográficas

BOUZON, E. Origem e natureza das Coleções do Direito Cuneiforme. Revista Justiça e  História. Vol. 2, n.3,2002.

CARDOSO, C.F.S., Introdução ao Egito. São Paulo: Editora Brasiliense, 2002.

ELIADE, M., História das crenças e das Ideias Religiosas: Da Idade aos Mistérios de Elêusis. Volume I. Tradução de Roberto Cortes de Lacerda. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

 FUNARI, P.P. A. As religiões que o Mundo Esqueceu: Como os Egípcios, Gregos, Celtas, Astecas e outros povos cultuavam seus deuses. São Paulo: Editora Contexto, 2010.

SETERS, John Von. Em busca da História: Historiografia no Mundo Antigo e as Origens das Histórias Bíblicas. Tradução de Simone Maria de Lopes Mello. São Paulo: Edusp, 2008.