Dentro do trabalho pedagógico é necessário a todo educador uma busca constante de maneiras que facilitem o processo ensino-aprendizagem e aprimore a relação professor-aluno, em que para isso é necessário grandes reflexões e mudanças de posturas que quando bem aplicadas e desenvolvidas dão maior entusiasmo no fazer pedagógico, se tornando um ato de amor.

Sabemos que a sociedade, nos dias atuais, atribui a responsabilidade quase total da educação de crianças, jovens e adultos a instituição denominada Escola, deixando evidente que ela deve desempenhar um papel fundamental para o bem-estar de todos os indivíduos, transformando-os em cidadãos político-sociais.

Neste contexto encontramos a figura do docente, profissional que auxiliado por uma equipe pedagógica formado por pedagogos, tem a função de ensinar, criando meios que propiciem o aprendizado.  Como disse Freire (1996, p.22) “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou a sua construção” (grifo do autor), promovendo assim a existência de indivíduos pensantes, responsáveis e críticos.

Neste meio, ser professor, para muitas pessoas é uma vocação, uma missão, sendo que isso é de extrema importância porque evidencia o papel importante que esta profissão representa para a sociedade, mostrando que lecionar deve ser um ato de amor (JESUS, 2000).

Todo aquele que se destina ao trabalho no espaço pedagógico precisa estar envolvido com o ato educativo, expressando uma dedicação na construção de uma postura ética-política e ___________________________________________________________________________

¹ Graduada em Pedagogia pela Faculdade Venda Nova do Imigrante

 

pedagógica para o desenvolvimento de uma escola precursora da autonomia e da liberdade.

Para que se compreenda melhor esta postura ética-política e pedagógica que os educadores precisam desenvolver para tornar o ato educativo em um caráter de respeito e responsabilidade, discorrerei sobre algumas idéias lançadas por alguns autores a este respeito.

Freire (1996) descreve que a ética deve andar alicerçada na autonomia, justamente porque ela implica a adesão de atitudes e comportamentos que melhorem a vida de todos, através de experiências que exigem tomada de decisões contando com a liberdade de expressão. Mediante a isto se reforça sua tarefa político-pedagógica, pois o educador ao ser democrático

contribui de forma competente e coerente na aplicabilidade de práticas que propiciem mudança de hábitos, uma esperança em um mundo melhor, podendo assim formar cidadãos

que respeitam as diferenças e modifiquem a realidade. Quando o professor assume está postura ele se percebe agente transformador notando que “[...] sua experiência na escola é apenas um momento, mas um momento importante que precisa de ser autenticamente vivido”(FREIRE, 1996, p. 113).

Vasquez (1969) relata que quando um indivíduo assume um posicionamento ético ele se torna legislador da moral dos membros de uma dada comunidade, procurando incutir valores que são por ele praticados. Este dizer é muitas vezes praticado em sala de aula, pois os educadores por acreditarem que são os únicos detentores do saber, direcionam suas atividades para que os alunos aderem a cultura por ele difundida, o que acaba negando a verdadeira identidade dos alunos.

Neste contexto, a função da ética é [...] explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes [...]. (VÁSQUEZ, 1969, p.20), mostrando que o educador precisa analisar e utilizar o conhecimento que possui não para privar o discente dos valores que traz do seio de sua família, mas observar a realidade na qual está desenvolvendo um trabalho pedagógico para esclarecer dúvidas e propor soluções cabíveis e executáveis para a melhoria da vida de todos, sabendo ouvir, permitindo que todos os envolvidos também opinem.

Quando o educador compreende esses conceitos, no decorrer de sua trajetória, desenvolve uma postura ética-política e pedagógica, que vai se pautando em práticas vividas no meio escolar e que vão se aprimorando a cada contato com alunos, pais e demais profissionais do meio educacional.

Um outro autor que precisa ser mencionado é Jean Piaget que em seus estudos sobre o desenvolvimento infantil, citou dois tipos de relacionamentos que existem entre adultos e crianças que estão inteiramente ligados no desenvolvimento da ética nos discentes que são: a moralidade heterônoma e a moralidade autônoma.

A moralidade heterônoma é a capacidade do indivíduo de “[...] seguir regras morais dadas por outros para a obediência a uma autoridade com poder coercivo”. (DEVRIES; ZAN, 1998, p.54), deixando evidente que o aluno segue regras que já existem, não permitindo que ele reflita e crie suas próprias regras.

Em determinados momentos, no contexto de sala de aula é inevitável o desejo de estipular algumas regras para o bem-estar de todos os indivíduos, pois os discentes precisam saber que vivemos em uma sociedade movida por regras que precisamos seguir, mas o que não pode acontecer é o controle contínuo que incuti valores, idéias, crenças de outros, o que provoca a submissão ou a rebeldia, mostrando que enquanto se desejar que os alunos aprendam os valores dos adultos, eles obedecerão regras e não haverá o desenvolvimento da criticidade, questionamento e exame das próprias ações.

Quando o professor assume está postura heterônoma ele contribui para o desenvolvimento de um indivíduo com moralidade, mente e personalidade conformista, que segue a vontade dos outros, sendo facilmente coagido a aceitar tudo o que lhe é imposto, ele não pensa, mas age de acordo com a vontade alheia (DEVRIES; ZAN, 1998).

A moralidade autônoma, por sua vez, é o inverso da descrita acima, pois ela se caracteriza por um respeito e cooperação, possibilitando ao aluno o desenvolvimento “[...] de mentes capazes de pensar independentemente e criativamente e desenvolvam sentimentos morais e convicções que levem em consideração o melhor para todos”. (DEVRIES; ZAN, 1998, p. 57).

O professor que aplica está moralidade tem a consciência que o seu pensar e agir não são iguais ao pensamento e agir dos discentes, mas respeita e permite que os alunos exerçam sua vontade, não colocando-os em total liberdade, mas possibilitando que possam se relacionar bem com todos, participando das decisões.

Na relação professor-aluno o educador não procura usar a obediência para controlar, mas utiliza a cooperação, pois sugere, pede, persuade, permitindo que os alunos reflitam sobre qual serão suas ações e tomem suas próprias decisões, o que evita os conflitos. O professor com está prática, estimula a criança a pensar e agir de forma autônoma. (DEVRIES; ZAN, 1998).

Com a aplicabilidade desta autonomia é observável que os alunos agem com o pensar, opinam e desenvolvem a criticidade, pois os conflitos são minimizados e todos se sentem participantes do processo de construção do conhecimento, se tornando amigos e parceiros no ato educativo, possibilitando uma aprendizagem recíproca.

O professor muitas vezes prefere utilizar a imposição de regras em sala de aula, acreditando que ao exercer sua autoridade de forma autoritária ganhará o respeito dos alunos e conseguirá manter a ordem e a disciplina. Porém ao tentar se impor acaba provocando um distanciamento dos alunos, pois não permite que eles opinem, participem do processo educativo.

Neste meio, o docente assume o papel de transmissor do conhecimento, porque acredita que seu único dever é passar o que está previsto no currículo, cumprindo com sua obrigação. Mediante a isso, incuti uma cultura que é por ele praticada, formando indivíduos que somente devem obedecer sem opinar ou criticar. Os alunos funcionam como meros fantoches que são manipulados de acordo com o desejo do professor.

Muitas vezes quando se assume está postura surgem grandes conflitos no contexto escolar, alunos se tornam agressivos e acabam enxergando a escola como um ambiente que humilha e exclui, por isso assumem atitudes que resultam em vandalismo, pois alunos depredam toda a instituição, ameaçam professores e funcionários e exercem uma influência que resulta em medo. Isso acontece muitas vezes porque o professor não sabe ouvir seus alunos, não se interessa em conhecer a realidade em que seus alunos vivem e não procura mostrar que o diálogo é a melhor forma de resolver os conflitos, o que provoca um desestímulo por parte de alunos, professores e demais funcionários que acabam passando uma imagem a sociedade que a educação é um fracasso e que ela cada vez mais não educa e não consegue resolver os problemas existentes.

As instituições educacionais possuem em suas raízes práticas de segregação que acabam gerando reflexos negativos, pois alguns educadores por não saberem lidar com as diferenças e individualidades dos educandos assumem uma postura excludente e acabam transformando o ato educativo em um fazer que discrimina, deixando marcas profundas que se arrastam por toda a vida daquela criança, jovem ou adulto, que encontra na violência a única forma de ser notado.

A escola deve ser um espaço educativo que possibilite através de práticas pedagógicas um acolhimento de todos os alunos, justamente para não criar espaços de desigualdades e preconceitos, com o intuito de enfatizar as individualidades dos educandos, permitindo que todos possam ser ouvidos. (FREITAS, 2006).

Diante desses desafios da função, o ato de educar não é uma tarefa fácil, pois a sociedade é muito exigente e atribui a maior parte da educação de crianças, jovens e adultos a escola, porém quando se decide ser educador uma das prioridades deve ser a formação continuada, pois através dela se adquire conhecimentos que serão úteis para minimizar as diferenças e promover a adesão de uma postura ética-política e pedagógica.

Ao assumir esta postura, o educador aceita a instituição escolar como um espaço que acolhe a todos os alunos, sem discriminação e permite que todos possam juntos construir um aprendizado significativo.

Quando se decide em sala de aula ser ético, é de extrema importância que o educador possa ter como meta a função de mostrar aos discentes que todos precisam ser respeitados e que valores, atitudes precisam ser construídas em conjunto para que não haja conflitos. A ética não pode ser imposta, mas construída entre professor e aluno, promovendo assim a inserção da política, pois quando se percebe agente participativo, todos os envolvidos no ato educativo opinam, dialogam e criam juntos espaços de ajuda e compreensão, fazendo com que os conflitos se extinguem.

Cury (2003) menciona que os educadores precisam utilizar a sabedoria para resolver os conflitos em sala de aula, pois quando se escolhe punir o aluno imediatamente, o professor acaba criando um clima tenso e propenso a agressões recíprocas, que resultarão no desgaste emocional de ambos os envolvidos. É neste contexto que o autor sugere o silêncio como a melhor forma de solucionar os problemas, mostrando que ao se silenciar, a mente se abre para a imaginação e o educador consegue através de uma história, por exemplo, fazer os alunos repensarem suas atitudes e refletirem sobre suas ações, ganhando assim a admiração e o respeito de todos os alunos, pais e demais colegas de profissão.

Se grande parte dos educadores ao exercer sua função pedagógica, aplicassem a ética aliada a política, a educação ganharia um outro caráter e não haveria mais escolas destruídas, pois os alunos se sentiriam ouvidos, acolhidos e não usariam a violência para serem notados, o professor de fato iria vencer os desafios da função e formaria alunos pensantes, participativos, reflexivos, contribuindo para a formação de cidadãos que não seriam coagidos a aceitar a submissão, mas iriam através do diálogo exigir  participação e acolhimento de idéias, destruindo assim a visão de uma sociedade que quer indivíduos alienados em vez  de pensantes.

Diante dessa responsabilidade o educador deve assumir com garra e determinação a postura ética-política e pedagógica, pois ao lidar com o ser humano, convive com as diferenças e individualidades que precisam ser aproveitadas em sala de aula para a promoção do conhecimento e principalmente respeitadas, daí a importância de ser fiel ao ato de educar sem restrições ou limitações, utilizando sempre a sabedoria e o discernimento para minimizar possíveis atritos que possam existir, mostrando que através da participação de todos, a escola se torna um ambiente sócio-acolhedor, pois não exclui as diferenças, pelo contrário as aproxima e utiliza para a promoção de conhecimento.

Quando a escola se torna um ambiente de acolhimento, os alunos se sentem motivados a estudar e o que é mais importante, transmitem aos familiares suas alegrias, possibilitando assim uma aproximação da família com a instituição, que utiliza o diálogo como forma para sanar os possíveis problemas que possam haver no ambiente educacional, possibilitando que todos expressem seus anseios, criando um espaço que valoriza a verdadeira identidade da comunidade na qual a escola está inserida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:

CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. 16. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p.75-78.

 

DEVRIES, Rheta; ZAN, Betty. A ética na educação infantil: o ambiente sócio-moral na escola. Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p.51-60.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

FREITAS, Soraia Napoleão. Uma escola para todos: reflexões sobre a prática educativa. Inclusão: revista da educação especial, Brasília, ano 2, n. 3, p. 37-40, dez. 2006.

 

JESUS, Regina de Fátima de. Sobre alguns caminhos trilhados... ou mares navegados... Hoje, sou professora. In: VASCONCELOS, Geni A. Nader (Org.). Como me fiz professora. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

 

MURTA, Andréa. Ética: uma lição que se constrói em conjunto. Nova Escola, São Paulo, ano 21, n.195, set. 2006. p. 44-47.

 

VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.