Por Laércio Becker, de Curitiba-PR 

Em 1955, a Ponte Preta fez uma vitoriosa excursão por cidades do Norte e Nordeste: 14 vitórias, 3 empates, 2 derrotas, 61 gols a favor e 22 contra. Segundo Sérgio Rossi, foi “considerada a maior campanha desenvolvida por um clube no Norte-Nordeste e Extremo Norte”. (A título de comparação, o Comercial FC de Ribeirão Preto (SP) é chamado de “Leão do Norte” graças a uma campanha invicta que fez, em 1920, pelos campos de Recife e Salvador: 7 vitórias e 1 empate, 18 gols a favor e 7 contra.)

Nessa excursão, o quinto jogo foi em Castanhal (PA), contra o Castanhal Esporte Clube. A Ponte escalada com Friaça, craque da Copa de 1950. Foi um acontecimento na cidade! Segundo relato do jornalista Sérgio José Salvucci ao historiador José Moraes dos Santos Neto (citado no livro Sempre Ponte Preta), o prefeito local simplesmente “decretou feriado municipal assim que a Ponte Preta entrou na cidade”. Mais: “além de decretar feriado em pleno dia de semana, transformou o jogo no acontecimento do século em Castanhal”.

Gostei da história e resolvi buscar mais detalhes. Não porque duvidasse do jornalista e do historiador, longe disso, mas porque acho muito interessantes essas homenagens que cidades distantes prestam à Ponte Preta. Porque fazer festa para um Flamengo ou um Corinthians deve ser mais fácil e corriqueiro. O que explica as homenagens à Macaca? P.ex., em 24.06.2004, a Prefeitura de Arceburgo (MG), a cerca de 30km de Mococa (SP), convidou quem para a festa de aniversário de emancipação política? A Ponte, que enviou quatro times: Fraldinha, Mirim, Juvenil e Juniores. Outra cidade que fez algo semelhante foi Penápolis, cidade paulista entre Araçatuba e São José do Rio Preto. Segundo o departamento de futebol amador da Ponte, esses convites são freqüentes, o que revela o carinho e o reconhecimento à Veterana.

No caso de Castanhal, o jornalista Amilcar Carneiro, por e-mail, fez o seguinte relato (em 24.05.2004):

“Não queira saber o quanto aquele jogo mexeu com nossa cidade. Eu tinha seis anos mas me lembro do campo lotado. Digo campo, porque não era estádio, mesmo sendo fechado, não tinha arquibancadas nem alambrado. A delegação da Ponte foi homenageada com um almoço (na casa do Tabelião local) e saudada com um discurso proferido por um jornalista vindo de Belém, mandado pelo jornal O Estado do Pará. Foram confeccionados bonés com as cores de nossa equipe (preto e amarelo). Imagine naquele tempo mandar fazer bonés. Acho que eram de brim, feitos por costureiras. Meu pai era dono do cinema (Cine Argus, fundado em 1940) e pouquíssimas coisas o faziam cancelar uma sessão cinematográfica. Pois nesse dia não houve matinê...”

Na coluna “Linha de Fundo”, que publica no jornal local, Amilcar confirmou a grandiosidade do evento: “Foi um grande acontecimento na cidade, o comércio fechou, e à tarde toda a população estava lá no Campo de Castanhal para o grande jogo.”

Mas afinal de contas, foi decretado feriado municipal? Escrevi ao Secretário de Administração da Prefeitura de Castanhal, Sr. Jucivaldo Ferreira do Nascimento. Após minuciosa pesquisa nos arquivos da Prefeitura, ele descobriu que o único feriado da municipal de Castanhal é 19 de março, consagrado a São José Operário, o Padroeiro da cidade, conforme a Lei nº 17, de 14.05.1949 (informação prestada no Ofício nº 10, de 26.02.2004).

Amilcar Carneiro, na citada coluna, tira a conclusão: “O fato é que, com ou sem decreto [de feriado], a cidade realmente parou para receber a equipe paulista. Deve ter sido ponto facultativo decretado sem formalidades, atitude simpática do prefeito Vicente Lima, que inverteria a importância do evento, deixando para os pontepretanos a glória de ter vindo aqui e não aos castanhalenses a de recebê-los. É por essas e por outras que Castanhal tem história.”

Detalhe: o Castanhal, fundado em 07.09.1924, tem por mascote o Japim ou Japiim, um pássaro de penas pretas e amarelas, que são as cores do clube. Segundo Amilcar Carneiro, em e-mail de 31.05.2004, correm boatos de que a escolha de um animal foi influência daquela histórica visita da Macaca.

Esclarecidas as circunstâncias da partida, vamos finalmente à ficha do jogo, registrada na obra de Sérgio Rossi:

            CASTANHAL 1 x 6 PONTE PRETA

            Data: 18.03.1955

            Local: campo do Castanhal

            Castanhal: Pará; Fogão e J. Alves; Melo, Peroba e Zadir; Waldir, Bigode, Brito (1), Carlito e Barbadinho.

            Ponte Preta: Ciasca; Bruninho e Waldir; Albano, Joel e Carlinhos; Oscarlina (1), Paulinho (2), Jansen (1), Bibe e Friaça. Entraram depois: Andu, Derem, Homero, Pitico, Noca, Baltazar (1) e Nininho. Treinador: Moacyr de Moraes.

            Árbitro: José Pinto Coelho.

            Renda: Cr$ 21.000,00 – recorde na cidade

Na Copa do Brasil de 2001, os times voltaram a se encontrar na cidade, em 14.03.2001, vitória da Ponte por 1x0 (gol de Alex Oliveira), que passaria adiante com nova vitória, em Campinas, por 8x1 (4 gols de Washington, 3 de Macedo e 1 de Piá). Só que, dessa vez, segundo Amilcar Carneiro (na citada coluna), nenhum jornal ou rádio local fez menção ao histórico encontro de 1955.           

Fontes:

CARNEIRO, Amilcar. Castanhal x Ponte Preta. Novo Jornal. 12-15.05.2004. Segundo Caderno, p. 1.

RAMOS, Igor. Comercial: uma paixão centenária. Ribeirão Preto: ed. do autor, 2011. p. 43-71

ROSSI, Sérgio. História da Associação Atlética Ponte Preta. Campinas: R. Vieira, 1994. v. 2.

SANTOS NETO, José Moraes dos. História da Associação Atlética Ponte Preta. Campinas: Komedi, 2004. v. 8, p. 45-6.

SANTOS NETO, José Moraes dos. Sempre Ponte Preta: mística, torcida e a cidade de Campinas. Campinas: Komedi, 2004. p. 53.