PAES LOUREIRO, João de Jesus. Cultura Amazônica. Uma Poética do Imaginário. São Paulo: Escrituras, 2000. (Obras reunidas, v. 4)

A Poética do Imaginário Amazônida  

JOSÉ MARIA MACIEL LIMA[1]

João de Jesus Paes Loureiro é poeta, prosador e ensaísta. Mestre em Teoria Literária e Semiologia - PUC-Campinas, Doutor em Sociologia da Cultura pela Sorbonne, Paris - França, com a tese Cultura amazônica: uma poética do imaginário. É professor de Estética, História da Arte e Cultura Amazônica, na Universidade Federal do Pará – UFPA.

A obra Cultura Amazônica: Uma poética do imaginário é composta a partir de signos do universo imaginário da Amazônia. Em uma abordagem riquíssima, ela contempla aspectos da cultura, história e, sobretudo do imaginário do povo amazônida – propiciando uma cosmovisão e particular leitura do mundo contemporâneo. Em um diálogo constante com as principais fontes e correntes literárias da atualidade, Paes Loureiro consegue elaborar uma obra com originalidade e precisão, “quase uma suma poética de compreensão sensível e inteligível do mundo por meio das fontes amazônicas, em que o mito se revela como metáfora do real”[2], este paradoxo é expressamente trabalhado pelo autor, objetivando mostrar os dois mundos: real e imaginário, que se entrecruzam, tornando-se, quase que únicos.

Para iniciar a discussão, Paes Loureiro enfatiza o conceito e às características da poesia, imergido no universo histórico, em uma abordagem cronológica, resgata os tempos gregos, para explanar o surgimento e o preâmbulo da poesia e da poética, até os dias atuais.  Em um enfoque analítico e crítico, enfatiza a linguagem e o imaginário da poética, salientando as multiplicidades de sentidos que a mesma pode sugerir ao leitor ou ao ouvinte, desvelando “a beleza escondida do mundo, a poesia alarga o círculo da imaginação, alimentando o pensamento [...] tornando até mesmo uma época mais memorável do que outra”[3].

 O autor discute também na obra, a dimensão cultura de um modo geral, que abarca o cultivar, o habitar e o cuidar, salientado a relação do homem com meio cultural e social, tornando-o, um doador de sentidos as coisas. Neste enfoque, destaca os três níveis de abrangência da cultura: o individual, o social e o histórico. Neste sentido, a cultura é formada por um conjunto de expressões intelectuais, artísticas e morais de uma determinada civilização, que pode resultar em complexa linha de pensamentos, que desvelam o complexo universo da existência da humana.

Após essa abordagem, o autor dá ênfase à riqueza cultural da Amazônia, revelando as diferenças entre a cultura urbana e a rural. Destaca que, na cultura urbana, as trocas simbólicas ocorrem mais rapidamente, há maior velocidade nas mudanças. Entretanto, no ambiente rural, especialmente ribeirinho, a cultural se mantém tradicional, para preservar os valores locais que decorrem da relação íntima ou, por vezes, desconhecida do homem com a natureza. A cultura rural do amazônida, expressas- se através de mitos, que acentuam o imaginário deste povo, e fornece fontes necessárias a sua sobrevivência. Imergido “na profundidade das coisas por via das aparências, esse é o modo da percepção, do reconhecimento, e da criação pela via do imaginário estético-poetizante da cultura amazônica”[4].

A obra revela a plurissignificação da Amazônia, a começar pelo termo que o nomeia, “que tanto pode significar uma bacia hidrográfica, como uma província botânica, um conjunto político, como um espaço econômico”[5] culturalmente, multifacetado por mitos e lendas, que mesclam a realidade com o imaginário de um povo que, criam e recriam seu espaço social, dependendo do rio e da floresta para quase tudo.

Essa visão plurissignificativa do ambiente amazônico, também pode se mostrar paradoxal e ambíguo, tanto para o viajante, como para o caboclo; dada a sua riqueza e extensão territorial: perto/longe, próximo/distante, tocável/intocável e etc., que por vezes “confunde” a cabeça do próprio homem da Amazônia, considerada por muitos estudiosos e viajantes como um bem único, um espaço mítico, vago e irrepetível, resultado de uma acumulação de signos do imaginário universal. 

A cultura amazônica é, portanto, uma produção humana que vem incorporando na sua subjetividade, no inconsciente coletivo e dentro das peculiaridades próprias da região, motivações simbólicas que resultam em criações que estreitam, humanizam ou dilaceram as relações dos homens entre si e com a natureza. Uma natureza plurivalente para o homem, da qual ele retira não apenas sua subsistência material, como também espiritual[6].            

            A guisa de conclusão, pode-se dizer, com base na obra, que o imaginário amazônico assumiu, desde sempre, o papel dominante na produção cultural da Amazônia. Isso contribuiu com a formação da literatura brasileira, por meio de produtos, que esse imaginário ofereceu, e oferece para os estudos literários, que formam riquíssimos compêndios de literatura, e revelam para o mundo, os costumes, os hábitos e os modos de vidas do caboclo que habita a região. Desse modo, “a Amazônia parece ser um signo modulado pelo tempo” [...], que parece ocupar o lugar do próprio espaço [...]. O homem sente-se situado em um espaço, do qual tem a ideia, mas não a medida”[7].  

Por ser rica em informações sobre vários assuntos, a obra pode ser considerada multidisciplinar. Por isso, pode ser indicada para acadêmicos de letras, história, geografia, antropologia cultural da Amazônia, Literatura da Amazônia, e demais públicos que apreciam uma boa matéria prima para estudos do assunto em questão, riquíssima em informações e conhecimentos sobre a cultura, o imaginário e a literatura da Amazônia, que descreve e analisa criticamente, de forma cultural, histórica e literária o contexto regional, sobretudo, os que se interessam em estudar os aspectos mitológicos da região, o imaginário poético e cultural do caboclo Amazônida.

 

 

 



[1] Professor da rede Estadual e Municipal de Ensino do Município de Curuá-Pará, Licenciado Pleno em Letras/Português - UFPA, Letras/Espanhol-UNIUBE, Graduado em Letras Inglês-UFOPA, Licenciado em Filosofia pela FPA, Especialista em metodologia de Ensino de Filosofia e Sociologia-UNIASSELVI e Ensino de Língua Espanhola-UNICAM. E-mail: [email protected].   

[2] https://paesloureiro.wordpress.com/paesloureiro/

[3] (p. 52)

[4] (p. 60)

[5] (p. 61)

[6] (p. 72)

[7] (p. 94)