Bachelard, Gaston. A poética do devaneio / Gaston Bachelard ; tradução Antonio de Pádua Danesi ; revisão da tradução. Alain Marcel Mouzat, Mário Laranjeira. -3ª ed. – São Paulo : Editora WMF Martins Fontes, 2009. – (Biblioteca do pensamento moderno). Capítulo III – Os devaneios voltados para a infância. P. 93 a 137.

 Gaston Bachelard é de origem humilde, sempre trabalhou enquanto estudava. Pretendia formar-se engenheiro até que a Primeira Guerra Mundial eclodiu e impossibilitou-lhe a conclusão deste projeto. Passa a lecionar no curso secundário as matérias de física e química. Aos 35 anos inicia os estudos de filosofia, a qual também passa a lecionar. Suas primeiras teses foram publicadas em 1928 (Ensaios sobre o conhecimento aproximado e Estudo sobre a evolução de um problema de Física: a propagação térmica dos sólidos). Seu nome passa a se projetar e é convidado, em 1930, a lecionar na Faculdade de Dijon. Mais tarde, em 1940, vai para a Sorbonne, onde passa a lecionar cursos que são muito disputados pelos alunos devido ao espírito livre, original e profundo deste filósofo que, antes de tudo, sempre foi um professor. Bachelard ingressa em 1955 na Academia das Ciências Morais e Políticas da França e, em 1961, é laureado com o Grande Prêmio Nacional de Letras.

A poética do devaneio: os devaneios voltados para a infância nos faz refletir sobre a solidão dos primeiros tempos da vida nos levando a buscar a compreensão do que é devaneio, infância, solidão. Bachelard afirma que devaneio não conta historia ou que o devaneio pode nos levar ao mais profundo de nós mesmos que nos desembaraçam da historia: toda a vida é sensibilizada para o devaneio poético, para um devaneio que sabe o preço da solidão.

Quando Bachelard fala de solidão não está nos sugerindo algo incompreensível, que traz distanciamento, isolamento ou morte, mas a busca de redescobrimento de si mesmo: toda a nossa infância está por ser reimaginada. Ao reimaginá-la, temos a possibilidade de reencontrá-la na própria vida dos nossos devaneios de criança solitária.

A beleza é revelada pela infância e junto com essa beleza vem à liberdade, pois quando estamos na infância sonhamos sem limites dando uma abertura para a vida. Bachelard mostra que o ser do devaneio atravessa sem envelhecer todas as idades do homem, da infância à velhice, não importa a idade em que está o homem quando ele se permite sonhar, imaginar, fantasiar ele volta a sua primeira fase e se dar a liberdade de alçar voo. Afirma que ao sonhar com a infância, regressamos à morada dos devaneios que nos abriram o mundo. Todo sonhador tem uma criança dentro de si, uma criança que devaneia magnificamente.

Para Bachelard somente quando a alma e o espirito estão unidos num devaneio pelo devaneio é que nos beneficiamos da união da imaginação e da memória. É assim que revivemos historias antiga, que as lembranças vêm atona. E elas: memoria e imaginação disputam para devolver ao homem as imagens ligadas a sua vida. O devaneio voltado para a infância nos leva a reproduzir à beleza das imagens da primeira fase da vida. E para ele o fundamental é que o homem volte a sonhar como criança que um dia já foi, e este é um convite feito pelos poetas que procuram trabalhar dentro dessa poética. Assim, memória e imaginação aliadas podem transformar o racional e o imaginário, possibilitando ao adulto voltar a sonhar, devanear alcançando voo nas alturas, na graça e na sedução do fantasia da infância e da produção necessários e complementares.

A lembrança pura só pode ser reencontrada no devaneio, e está não tem data o que é uma estação que constitui a marca fundamental das lembranças que se tornam então grandes imagens engradecidas e engrandecedoras, pois quando o homem já esta na idade do envelhecimento a lembrança devolve os sentimentos mais finos.

A memoria-imaginação faz-nos viver situações não factuais, num existencialismo do poético que se livra dos acidentes, esta memoria consiste na imagem clara, viva de uma lembrança do passado.

A infância tem uma importância fenomenológica própria, pura, pois nos devolve às virtudes dos devaneios primeiros, percebendo que essa poética, a poética do devaneio, matem um sonhador com sua consciência tranquila. E esta fase da vida é um estado de alma.