A educação escolar é um campo bastante analisado nos dias atuais. Muitas vezes causam polêmicas, são objetos de debates nas escolas e fora delas, na política e no meio de propostas feitas por muitos que na maioria das vezes não se concretizam. É um tema bem amplo e que sem dúvida todos participam. Mas será que estamos fazendo nossa parte? Não adianta só criticar os professores que entram em greve por serem desvalorizados pela própria sociedade, ou criticar os alunos agressivos que se revoltam quando o educador exige o estudo nas aulas ou simplesmente respeito e consideração. A educação no Brasil esta sim sofrendo uma “crise” e o papel da sociedade é ajudar a resolver esse problema que todos sabemos porém poucos agem de fato.

Como critico o ato de “criticar muito e pouco agir” não o farei. O que tenho a apresentar-lhes são propostas de como podemos mudar esta triste realidade. Valorizando a pesquisa dentro e fora da escola estamos valorizando o ato de educar, a ação docente e por fim a infância que é a origem de tudo.

A pesquisa que cito não é um “trabalho” feito fora da escola mas sim uma relação entre o pesquisador e o objeto de estudo dentro da escola. Primeiramente é necessário quebrar aquela barreira que se forma ao entrar um pesquisador em uma sala de aula. São tratados com diferença todos pensam muito antes de agir pois sabem que estão sendo observados e analisados e acabam não dando o resultado real do que acontece diariamente. Então o que resta é a pesquisadora saber agir ao mais natural possível e criar vínculos de amizades com funcionários, professores e alunos. Assim logo passará despercebido e entrará no meio escolar real e não em um simples “teatrinho”.

Outro aspecto importante é o pesquisador saber o seu “tema”. Se será a relação entre professores e alunos, ou a situação pedagógica da escola ou ainda o interesse dos pais dos alunos no meio escolar, o que exigiria uma pesquisa mais ampla e também fora da escola. O pesquisador deve saber ouvir as pessoas e registrar tudo que acontece. Lógico que não através de entrevistas onde só preparam perguntas e as respostas saem prontas, mas tentar colher desabafos, registrar as ações o que acontece no cotidiano escolar. Como cita as autoras Nadir Zago, Marília Carvalho e Rita Vilela em sua obra “ Itinerários de Pesquisa- perspectivas qualitativas em Sociologia da Educação”: “(...) uma análise mais densa só foi possível ao considerar como “dado empírico” não apenas palavras dos entrevistados, de forma isolada, mas também suas relações dentro de um processo de interação com a pesquisa e a pesquisadora, interações que busquei compreender em suas articulações sociais mais amplas, no contexto das relações e hierarquias socialmente estabelecidas.” (ZAGO; CARVALHO; VILELA, 2003, p. 212).

A pesquisa e a educação andam juntas: uma precisa da outra e lutam pela mesma causa. A pesquisa existe graças à educação, por buscarmos uma melhoria na educação, debatermos e lutarmos por essa causa e saber tudo que acontece graças às pesquisas. Essa teoria deve ser conhecida por todas para a pesquisa ser mais valorizada nas escolas. Concordo plenamente com o autor Pedro Demo que valoriza a pesquisa como uma prática escolar e ainda compara-as em sua obra “O desafio de educar pela pesquisa na educação básica”, onde cita: “a)ambas se postam contra a ignorância, fator determinante da massa de manobra; enquanto a pesquisa busca o conhecimento, para poder agir na base do saber pensar, a educação busca a consciência crítica, marca essencial de quem se sabe e sabe da realidade; b) ambas valorizam o questionamento, marca inicial do sujeito histórico; enquanto a pesquisa se alimenta da dúvida, de hipóteses alternativas de explicação e da superação constante de paradigmas, a educação alimenta o aprender a aprender, fundamento da alternativa histórica; c) ambas se dedicam ao processoreconstrutivo, base da competência sempre renovada; enquanto a pesquisa pretende, através do conhecimento inovador, manter a inovação como processo permanente, a educação, usando o conhecimento inovador como instrumento, busca alicerçar uma história de sujeitos e para sujeitos; d) ambas incluem a confluência entre teoria e prática, por uma questão de realidade concreta; enquanto a pesquisa busca na prática a renovação da teoria e na teoria a renovação da prática, a educação encontra no conhecimento a alavanca crucial da intervenção inovadora, agregando-lhe sempre o compromisso ético; e) ambas se opõem terminantemente à condição de objeto, por ser a negação da qualidade formal e política; enquanto a pesquisa usa a transmissão de conhecimento como ponto de partida e se realiza em sua reconstrução permanente, a educação exige ultrapassar o mero ensino, instrução, treinamento, domesticação; f) ambas se opõem a procedimentosmanipulativos, porque estes negam o sujeito; enquanto a pesquisa supõe ambiente de liberdade de expressão, crítica e criatividade, a educação exige a relação pedagógica interativa e ética, marcada pela qualidade formativa; g) ambas condenam a cópia, porque esta consagra a subalternidade; enquanto a pesquisa persegue o conhecimento novo, privilegiando como seu método o questionamento sistemático crítico e criativo, a educação reage contra o erro ensino copiado para copiar, privilegiando o saber pensar e o aprender a aprender.” (DEMO, 2007, p. 8 e 9)

Como observamos, há muitos aspectos em comum na pesquisa e na educação. Falaremos agora da prática docente que é a base da identidade dos profissionais da Educação. Conforme as Diretrizes Nacionais do Curso de Pedagogia: “[...] a docência compreende atividades pedagógicas inerentes a processos de ensino e de aprendizagens, além daquelas próprias da gestão dos processos educativos em ambientes escolares e não-escolares, como também na produção e disseminação de conhecimentos da área da educação.” (Parecer CNE/CP n.5/2005,p.8).

A pesquisa é elemento essencial na formação profissional de professor. Sendo assim não podemos nos esquecer que antes da prática docente vem a formação do professor. Essa formação dos educadores é a base de tudo e se estes não forem bem preparados irá influenciar na educação escolar e é assim que aparecem maus resultados nas pesquisas.

Além das pesquisas feitas referente à escola e aos alunos pode-se fazer também pesquisas em relação à formação dos professores. Essa pesquisa é outra maneira de “cortar o mal pela raiz” ajudando a melhorar aspectos negativos na formação dos educadores que irão mais adiante formar os educandos.

Conforme a proposta de Maria da Graça Nicoletti Mizukami na obra “Formação de educadores- Desafios e perspectivas”, para a análise do processo de desenvolvimento/aprendizagem profissional da docência de professores podemos fazer uma pesquisa inicial sobre professores, com professores e finalmente dos professores.

A pesquisa sobre professores é de dois tipos: Processo-produto: que estabelece relações entre as variáveis dos alunos, dos professores, dos contextos e dos resultados da ação educativa; e o Processo-interpretativo: as suposições centrais desse tipo de pesquisa incluem a introdução recíproca entre pessoas e seus ambientes de ensino e de aprendizagem como processo interativo contínuo, há consideração de sala de aula como contexto dentro de outros contextos, há consideração de processos inobserváveis, atitudes, pensamentos e percepções como fontes de dados.

Na pesquisa com professores não objetiva-se apenas gerar novas teorias e conhecimentos, mas sim trazes problemas enfrentados na prática educativa e soluciona-los.

Já na pesquisa dos professores, observamos três tipos principais: professor-pesquisador, pesquisa participativa e pesquisa de auto-estudo. A pesquisa dos professores é o resultado de uma série de ações-reflexões analisadas por professores a partir da prática da sala de aula, ou seja, este tipo de pesquisa é feita por professores atuantes em sala de aula e as suas pesquisas referem-se exclusivamente à prática do dia a dia, a investigação é feita a partir da prática e muitas vezes as pesquisas produzidas por professores não possuem um rigor acadêmico com padrões científicos e dados relevantes.

Conforme as autoras Nilda Alves e Regina Leite Garcia citam na obra “Professora-pesquisadora - uma práxis em construção”, existem ainda certos profissionais com uma desqualificação histórica do trabalho e acreditam que: “quem trabalha não pensa”. Para ser uma professora-pesquisadora não é necessário ficar “roendo páginas de livros”, e nem pesquisar a prática dos outros e sim fazer reflexões diante de nossa prática como educadores, podendo, assim, aperfeiçoa-las e qualifica-las.

Pedro Demo acredita que estar trabalhando com competência é além de executar bem seu trabalho, com análises e estratégias, procura ser atualizada e inovadora. Se todas profissionais da ação docente pensassem desse modo, certamente seriam professoras-pesquisadoras e a educação não estaria esse “caos” que está atualmente.

Em uma entrevista com Pedro Demo ele diz que “ A criança é um grande pesquisador”. Ao falar de ação docente e pesquisa não podemos deixar de lado o assunto motivador de toda essa nossa esperança de melhoria: a infância.

É na infância que fica nossa esperança de que futuramente podemos melhorar nossa realidade. É preciso acreditar no potencial que essas crianças tem, ouvindo-as e respeitando-as.

O autor Walter Benjamin focalizou olhares educacionais relativos à infância, à memória, à produção de conhecimento histórico, conforme nos mostra a obra de Maria Carolina Bovério Galzerani: “Imagens Entrecruzadas de Infância e de Produção de Conhecimento Histórico em Walter Benjemin”. O autor enfrente a modernidade como uma ruína mas ao mesmo tempo uma salvação. Em seu livro “Infância em Berlim por volta de 1900”, Benjamin faz contribuições à pesquisadores da temática da infância e aos educadores. Rememora a sua infância através de seu intelectual adulto.

A autora Maria Galzerani conclui sua obra dizendo sobre a infância: “A minha proposta, inspirada pelo próprio Benjemin, é que questionemos o nosso olhar em relação à criança, que passemos a encará-la na sua inteireza e nas suas singularidades historicamente dadas, que nos aproximemos de fato deste universo infantil; que saibamos romper esses muros, esses hiatos, construídos culturalmente entre o adulto e a criança, entre o mundo do adulto e o mundo da criança, universos tão distintos, tão hierarquizados. Enfatizo, igualmente, que essa possibilidade deve partir de nós adultos, que nós nos relacionemos com a criança através de um momento de construção, da recuperação da tessitura de uma “experiência vivida”, ou da prática da “narrativa”, nos termos benjaminianos; que a constituição desta relação seja plena de sentidos, para todos os envolvidos, que esteja fundada não na posse imobilizadora de uma única verdade, mas na troca de visões de mundo e de sensibilidades.” (GALZERANI, 2000, p. 65 e 66)

A infância é sem dúvida nosso futuro e deve ser valorizada. Fazendo pesquisas na área da educação podemos movimentar esse assunto e fazer debates. Surgirá interesse pela melhora da formação de professores e assim as nossas crianças terão um futuro digno. Se cada um fizer sua parte e agir não apenas criticar, conseguiremos juntos alcançar esse objetivo e melhorar a educação do nosso país.

 

              

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite. Professora-pesquisadora. Uma práxis em construção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

 

 

BARBOSA, Raquel Lazzari Lete. Formação de educadores. Desafios e perspectivas. São Paulo: UNESP, 2003. p.201-232.

 

 

 

CARVALHO, Marília Pinto de; VILELA, Rita Amélia Teixeira; ZAGO, Nadir. Itinerários de pesquisa. Perspectivas qualitativas em Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

 

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 8.ed. São Paulo: Autores Associados, 2007.

 

 

DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri; FARIA, Ana Lúcia Goulart de; PRADO, Patrícia Dias. Por uma cultura da Infância. Metodologias de pesquisa com crianças. São Paulo: Autores Associados, 2002.