A Pedra da Serra

- Mãe! Estamos chegando! Olhe a pedra! Olhe a pedra. (Gritava)

- Deixe de marmota menino! Sou doida não! Já vi! (Retrucava minha  mãe)

Vista ao longe, pela janela do já sofrido ônibus Vale do Jaguaribe, a imponente e majestosa pedra da serra da Mikaela, não tinha nenhum outro significado para mim, senão a referência do ponto de chegada à Fazenda Arara. A mão firme de mãe a me segurar, reforçava ainda mais as minhas certezas.

Pagar a passagem, descer, encostar-se na única casa a beira do antigo asfalto, trocar meia dúzia de palavras, refrescar-se com uma caneca d’água esfriada no pote, e caminhar sei quantas léguas até a sede da fazenda era uma aventura. Mãe com as tralhas na cabeça, embaixo dos braços, fazia parecer que tudo aquilo era tão leve! O meu maior trabalho era catar as pedrinhas que encontrava ao longo do caminho, aquelas bem redondinhas, no tamanho certo para atirar de baladeira.

- Vamos! Estique essas pernas! (Gritava minha  mãe, para apressar-me)

Entre uma tentativa e outra de acertar uma rolinha, um cabeça vermelho, um anum preto, entre outros tantos pássaros que cruzavam nosso caminho, (confesso que não era muito bom de atirar com baladeira), chegamos ao último passador, e finalmente a porteira que dá acesso à casa grande.

- Bom dia! Toma a “bença”  menino!  (Falava mãe)

- Ana Preta chegou! (Anunciavam em alto e bom tom sua chegada)

Alegria, abraços, disse me disse, conversa vai e conversa vem, até que alguém diz:

- Estão com fome? Querem comer alguma coisa?

Nossa que maravilha! Que palavras santas! Finalmente comida, muita fartura, leite, queijo, cuscuz, tapioca, carne seca assada. Não tinha o que reclamar. Depois era só correr, brincar, caçar, subir nas árvores, tomar banho no açude, jogar bila. O máximo de trabalho que sobrava pra mim era debulhar feijão à noite, e olhe lá!

Minha mãe cozinhava, lavava, passava, fazia queijo, varria, parecia não ter fim a sua lida. Mas parecia feliz com tudo aquilo, sempre brincalhona, riso solto, característico da mulher guerreira que sempre foi.

E a pedra lá, parecia proteger a casa grande dos ventos, dos maus agouros!

Na hora de retornar o mesmo caminho, as mesmas travessuras, o mesmo cuidado de mãe.

E a pedra gigantesca, parecia até nos seguir! Parecia que também estava a nos proteger, a garantir que em breve nos veríamos de novo.