ARTIGO:
A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA NO ENSINO SUPERIOR

Josiane do Espírito Santo.
Especialista em Pedagogia Empresarial (Faculdades Simonsen)
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Palavras chaves: Docência, relações interpessoais, Cultura e multiculturalismo.

Resumo: O objetivo deste artigo visa lançar um foco quanto à necessidade de interação entre o docente superior e o aluno e as transformações que os mesmos fazem na sociedade como auxilio das relações interpessoais, passeando pela cultura e o multiculturalismo de nossa sociedade.

Quem é o docente do ensino superior e como as relações interpessoais podem auxiliar no desenvolvimento do seu trabalho?

É aquele profissional que mostra a sua importância ou sua diferença pela forma em que ensina se revelando um verdadeiro artista, ou mesmo se utilizando de todas as técnicas ao seu dispor. Este professor se fundamenta em pesquisas e é um eterno aprendiz em busca de conhecimentos, assumindo total risco para poder dar uma boa ou excelente aula. E para seu auxilio temos as relações interpessoais que quando bem utilizadas podem ser de fundamental importância para se ministrar uma aula e sem sombra de duvida auxilia e muito qualquer professor em seu trabalho.

Este docente é aquele que está totalmente preparado para atuar neste cenário, se diferenciando de outros tipos de professores, afinal o docente do ensino superior tem uma postura que lhe dá presença, e que muito lhe é exigido e então, para melhor entendermos este cenário chamado docência no ensino superior se faz necessário primeiro, um caminhar pelas muitas possibilidades do modo de se ensinar e como se ensina que teremos como referencial a obra do autor Paulo Freire que nos desperta para as seguintes perguntas; será que os esses professores estão ensinando corretamente neste cenário? E será que existe uma construção de uma sociedade melhor?

Analisamos que, para se ensinar corretamente é necessária muita qualificação deste profissional, onde, segundo Gil "A qualificação de um profissional tem a ver com uma série de fatores. As descrições de cargo propostas pelos administradores que envolvem um conjunto de traços classificados como aptidões, conhecimentos específicos e experiência profissional, dentre outros" (2009 p.21). Sendo, essas aptidões uma diretriz para este profissional dando a certeza de um ensino correto neste cenário agora para sabermos se está acontecendo uma transformação na sociedade só será possível mensurar através do uso das relações interpessoais, da cultura o respeito ao multiculturalismo existe nas salas de aulas, já que é por meio destes fatores que a interação entre professor e aluno acontece em sala de aula, por isso o seu estimado valor e a sua forma de criar comunicação e linguagens eficazes nas relações humanas. Teremos a seguir tópicos exclusivos para melhor entendermos sobre este cenário que está inserido o docente do ensino superior, entendendo a importância da cultura e as facetas do multiculturalismo.


1- O Docente superior

Devido ao avanço tecnológico há a necessidade de se formar docentes capazes de ensinar alunos com conhecimentos avançados. Onde, a visão do docente tende a ser futurista, mas com seus conhecimentos pedagógicos somado aos conhecimentos específicos ele pode ser o professor que pensa certo, como diz Freire "Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade" (1996, p.29)

Pois, para Masetto (aput GIL, 2009) existe a necessidade de um profissional acessível para entender o que a sociedade vivencia, mas fora da universidade e também atento para as transformações e mudanças como as novas maneiras de participação, conquistas, valores e descobertos pela mesma.

O docente desenvolve um papel importante na sociedade e ele constrõe a transformação da mesma, já que o professor é um verdadeiro e forte formador de opnião pública. Pois, a figura do docente é imprescindível e é ele quem direciona um caminho para o aluno ou acabar de vez com a vida do mesmo. Ele tem a responsabilidade de criar interesses e influênciar a opniao deste aluno pelos assuntos abordados em sala de aula, e também fazer com que o mesmo não tolere determinados assuntos e tenha a sua propria opnião. Logo, este despertar de interesses dependem da maneira como os assuntos são tratados em sala de aula e a troca que acontece no processo da aprendizagem, por meio da relação interpessoal que analisaremos a seguir:


2- Relação Interpessoal

Para entendermos o que significa a relação interpessoal temos que buscar na prática este significado para que possamos visualizar, mensurar e vivenciar o quanto é importante esta prática na educação e principalmente para o desenvolvimento humano.

Na relação interpessoal entre o docente e aluno acontece a construção de vínculos através da aprendizagem. Onde, as relações interpessoais e a aprendizagem possuem uma característica em comum, os laços de imensa proximidade de afeto que se constrói entre eles, e como exemplo este artigo cita a história do filme "Os Escritores da Liberdade" o laço de amizade e confiança que foi construído no decorrer do filme pela dedicada professora e seus alunos, visível e forte o uso das relações interpessoais para o sucesso de um grupo, ou seja, o professor pode estabelecer um vínculo favorável ou desfavorável com seu aluno.

É neste âmbito que o professor pode interferir na vida do mesmo, ajudando na construção de uma sociedade melhor. Deparamo-nos a todo instante com alunos que demonstram afeto a um determinado professor, porém, não se envolvem com o conteúdo apresentado, tornando-se um problema didático pedagógico e é neste momento que o educador deve usar da sua percepção para envolver o aluno utilizando do afeto depositado por ele para a construção do conhecimento deste educando.

Para Antunes, "mostrando que nas relações interpessoais é possível que os desejos de seu organismo possam entrar em conflito como os desejos de outras pessoas; surgindo assim a necessidade de um acordo;" (2009, p. 22), pois, é através dessas necessidades que acontece o sucesso das relações humanas em sala de aula, que é exatamente a construção do conhecimento.


Como o docente do ensino superior deve analisar está frase? "Mire Veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não são sempre iguais, ainda não foram terminadas ? mas que elas vão sempre mudando" (Guimarães Rosa).

Muitas vezes nós professores olhamos e não conseguimos enxergar as múltiplas culturas em nossas salas de aulas, afinal temos que concordar com Guimarães Rosa quando ele diz esta frase e então, podemos analisar ou constatar que a educação é quem constrói essa mudança e as pessoas não são todas iguais, elas são diferentes exatamente por ser únicas, tendo cada uma sua própria história de vida e sua cultura. Logo, tornar-se visível a falta em muitos de nós profissionais da educação o mirar e o ver além, e necessário deixarmos de ser apenas um mero transmissor de conhecimentos e detentores da verdade, já que ensinar é ir além, dizia Paulo Freire. Para isso citamos Cristina Gomes Machado a seguir: "É preciso perquirir um conceito de cultura que resulte de uma elaboração coletiva e comporte a noção de transformação sucessiva a que se sujeita nossa própria compreensão da ordem real" (2002, p.35)


Este trabalho analisa a frase de Guimarães com a alegria de saber da existência da pluralidade de culturas em nossa sociedade, que vem desde a Grécia antiga construindo um significado completo para entendermos uns aos outros e assim evoluirmos como grupo e um ser individual dotado de capacidades para participarmos das mudanças, não como meros telespectadores e sim atores e coadjuvantes. Vamos então, neste trabalho discorrer sobre assuntos que nos ajudaram a melhor entendermos a beleza das particularidades desse nosso mundo.

3- Cultura

É a junção de conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou tudo aquilo adquirido pelo homem e transpassado pela tradição dentro de uma sociedade e ela existe em todo lugar, aonde quer que formos lá está a cultura intrínseca em cada ser humano, este termo vem desde a Grécia antiga que tinha uma outra conotação bem mais completa para a formação do homem chamada Paidéia, com o tempo tal termo foi mudando para expressões modernas como civilização, tradição, literatura, educação. Onde, segundo Cristina Gomes Machado, "em todas essas acepções de cultura, compreendidas no termo Paidéia, podemos perceber uma idéia básica de desenvolvimento, formação e realização, dentro do pensamento grego" (2002, p.18).

Portanto, cultura não pode ser confundida como; um mero acúmulo de conhecimentos adquiridos por um indivíduo, e sim um longo e contínuo processo de seleção e filtragem de múltiplos conhecimentos e experiências que passa a construir a personalidade humana, fazendo de cada ser humano o personagem principal de sua transformação e construção.

4-Cultura e Multiculturalismo

Como vimos em todo lugar existe um tipo de cultura, segundo a tradição de cada povo e que a diferença é visível então, surge o multiculturalismo que se refere à coexistência de diversas interpretações, ponto de vista, atitudes vindas das diversas culturas tornando-se heranças e transmitidas pela tradição de cada povo, rejeitando assim todo tipo de hierarquia ou preconceito ele é pautado no respeito pela diversidade cultural. É o multiculturalismo que faz do individuo um ator no cenário de transformação da sociedade, dando a ele sentimentos próprios, o tornando capaz de construir sua própria formação cultural. Sendo, assim possível nos fazer entender a beleza da frase de Guimarães Rosa sobre a beleza da diferença entre as pessoas que estão sempre mudando, por meio da cultura e do uso do multiculturalismo. Citamos Cristina Machado Gomes. "Como podemos verificar, a cultura deverá ser a base sobre a qual o ser humano caminhará e se desenvolverá ao longo do processo histórico na busca da realização e do aprimoramento de ser, tendo como mola propulsora a cultura". (2002, p.38) Pois, para tanto, a diversidade cultural representado pelo multiculturalismo fortalece cada indivíduo e o grupo em sua busca e sobrevivência de suas culturas.

A sala de aula não é apenas um lugar para aplicar conteúdos teóricos; é, também, local de aprendizado de valores e comportamentos, e respeito ao multiculturalismo existente. Já dizia Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia "Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (1996, p. 23). O educador deve deixar de lado a idéia de que é através de autoridade e que se adquiri o respeito, o mesmo deve buscar mecanismos e mostrar para o educando a sua importância. O papel do educar na cultura do educando é simplesmente formar é construir seres pensantes capaz de buscar mudanças na sociedade. Ensinar exige entender a realidade de vida. Entender que estamos lidando com uma sociedade deprimida e carente, onde, às vezes muitos dos educandos buscam refúgio em sala de aula. Infelizmente existem muitos educadores que se utiliza da autoridade em sala de aula para mudar pensamentos, e Freire diz que o ser humano é constituído de pensamentos e que ninguém tem o direito de mudar e sim de construir o conhecimento de nossos educandos, que para isto acontecer é necessário que as relações sejam afetivas e desperte no aluno a curiosidade, a necessidade de aprender, se o professor for capaz de fazer isso ele cumpre seu papel com louvor. Pois, o educador deve ser uma carta escrita para influenciar seus educandos. Onde os mesmo se bem orientados, podem transformar a sociedade.



Considerações Finais

Portanto, o Docente do Ensino Superior deve entender que a todo tempo existe a grande necessidade de se aprender constantemente. Já que para se ensinar precisamos nos comprometer (FREIRE, 2001) então, temos que desenvolver nossos mais variados papeis como educador que é a de direcionar, interagir, educar, incentivar, compreender e amar, assim estaremos desempenhado o objetivo chave de um educador que é de fazer com que o aluno alcance o aprendizado. Mas acima de tudo, vivenciar através das relações interpessoais, que podemos transformar o ambiente de nossas salas de aulas a cada dia, a cada nova aula, com compreensão e amizade e não mais com autoritarismo de detentores do conhecimento. Afinal ninguém sabe mais que do ninguém, apenas sabemos coisas diferentes um do outro e a troca de experiência nos faz vivermos em uma sociedade melhor, sem ser necessário mudarmos quem somos e sim agregar valores e culturas em nossa sociedade. "Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensinar ao aprender" (1996 p. 23). Como agente de transformação é possível aprender a ensinar, Paulo Freire viveu sua vida desenvolvendo esta certeza e morreu sabendo que tudo é possível por meio do ensino e todo professor pode formar, reformando-se.







BIBLIOGRAFIAS:

ANTUNES, Celso. Relações Interpessoais e Auto-estima; a sala de aula como um espaço do crescimento integral. Fascículo 16 ? Petrópolis, RJ: Editoras Vozes, 2003.

¬¬¬¬¬¬¬¬?? Como identificar em você e em seus alunos as inteligências múltiplas. Fascículo 4 ? Petrópolis, RJ: Editoras Vozes, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 24ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
?? Educação como prática da liberdade. 22 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

?? Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000.
GIL, Antônio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Editora Atlas, 2009

MACHADO, Cristina Gomes: Multiculturalismo: muito além da riqueza e da diferença/ Rio de Janeiro: DP&A, 2002.