(*) Nelson Valente

 

O Brasil não tem uma Pedagogia. Tem várias, sobrepostas, muitas vezes sem conexão umas com as outras. A história da Pedagogia brasileira é uma espécie de colagem de modelos importados, que resulta em um quadro sem seqüência bem definida.

Não existe uma pedagogia “pura”, ou seja” sem influência de outras pedagogias ou do contexto social em que se desenvolve.

Última moda é o Construtivismo, que nem é método pedagógico, mas sim um conjunto de teorias psicológicas sobre as estratégias utilizadas pelo ser humano para construir o seu conhecimento.

 

O QUE É CONSTRUTIVISMO?

 

Mais do que uma Pedagogia, é uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do indivíduo no decorrer de sua vida.

Surgiu a partir do trabalho do pesquisador suíço Jean Piaget (1896-1980), que mostrou que o ser humano é ativo na construção de seu conhecimento (daí o termo construtivismo) e não uma  “massa disforme”, que é moldada pelo professor.

No Brasil essa teoria é também muito influenciada pela argentina Emília Ferreiro (que estudou como as crianças constróem o conhecimento da leitura e escrita) e do russo L.S.vygotsky (que ressalta a influência dos outros e da cultura no processo de construção do conhecimento). Essas teorias mais recentes costumam ser agrupadas sob a denominação Construtivismo pós-piagetiano.

Derruba a noção clássica do erro, pois demonstra que a criança formula hipóteses sobre o objeto de conhecimento e vai  “ajustando”  essas hipóteses durante a aprendizagem – e portanto, o erro é inerente a esse processo. No Brasil, o termo é muitas vezes usado de forma incorreta.

 

Pedagogia Tradicional

 

 

É uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se define com a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria.

 

Metodologia

Conteúdos expostos de forma oral e, em seqüência pré-determinada e fixa.

Enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos para garantir a memorização dos conteúdos.  (Grande) Aprendizagem de grande quantidade de conteúdos. O qual é chamado de “enciclopedismo”.

 

Professor

Autoridade máxima, o guia do processo educativo, que organiza os conteúdos e as estratégias de ensino. Na sala de aula, tende a ficar de frente, falando para alunos sentados em filas.

 

 

PEDAGOGIA RENOVADA

 

 

Surge no final do século na Europa e nos EUA, em oposição à pedagogia tradicional. No Brasil estabelece-se a partir da década de 1920 e principalmente, de 30. Apesar de envolver várias correntes, a chamada Escola Nova se caracteriza por colocar o Aluno no centro da atividade escolar (e não o professor, nem o conteúdo).

 

Metodologia

Destaca o princípio da aprendizagem por descoberta e estabelece que essa aprendizagem deve partir do interesse e da atividade de experimentação dos alunos. No extremo, pode moldar toda a atividade da escola em torno da vontade do aluno, e perder de vista o papel de transmissão de conhecimento – o que caracterizou as chamadas  “escolas alternativas”  no Brasil, nos anos 70 e 80.

 

 

O professor

É visto como facilitador no processo de busca do conhecimento pelo aluno; organiza e coordena situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características individuais dos alunos. Na sala de aula, tende a ficar circulando entre grupos de alunos que trabalham independentemente.

 

PEDAGOGIA TECNICISTA

 

 

Proliferou no Brasil nos anos 60 e 70, inspirada nas teorias behavioristas de aprendizagem. A idéia é que, a partir do conhecimento da forma como o ser humano aprende, é possível desenvolver técnicas para o ensino de cada conteúdo. É com esse tipo de pensamento que ganha destaque, por exemplo, o uso de Cartilhas na alfabetização.

 

Metodologia

Envolve o que costuma se denominar  “tecnologia programada de ensino”. A aprendizagem de um determinado conteúdo passa por uma seqüência rigidamente pré-programada de atividades oferecidas pelo professor e realizadas mecanicamente pelo aluno.

 

O professor

É um especialista na aplicação de manuais que estabelecem o programa de aprendizagem do aluno. Deve auxiliar os alunos a executarem as tarefas pré-concebidas.

 

 

PEDAGOGIA SOCIAL E POLÍTICA

 

 

É marcada principalmente por preocupações sociais e políticas, de origem marxista. Aparece no Brasil no final da década de 50 e início dos anos 60, relacionada aos movimentos de Educação Popular. Fica suspensa a partir de 1964, pelo regime militar, e é retomada no final dos 70 e início dos 80.

Metodologia

Pode-se dividir essa abordagem em  “pedagogia libertadora”  e  “pedagogia crítico-social dos conteúdos”.  Na primeira, a atividade escolar pauta-se basicamente em discussões de temas sociais e políticos e de ações possíveis sobre a realidade social imediata. Na segunda, retoma-se a importância dos conteúdos, cujo conhecimento é importante para que os alunos possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe.

 

O professor

            É um coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente com os alunos.

 

(*) é professor universitário, jornalista e escritor