A PARTIDA NO CONTO A ÚLTIMA PARTIDA DE ALEILTON FONSECA

RAFAEL MENDES

MARCO ANTÔNIO OLIVEIRA

RESUMO: Este artigo tem como proposta analisar o conto A Última Partida de Aleilton Fonseca, e busca refletir sobre a questão da “partida” evidenciada no conto e que provoca entendimentos diferentes em cada leitor. Utilizaremos outros contos de Fonseca, que trazem em suas temáticas, evidentes relações entre si, como é caso de O sorriso da estrela e O avô e o rio, ambos apresentam a morte como momento de reflexão. Por a morte caracterizar-se como um momento de despedida, acreditamos que seja importante observar a reação que ela provoca em cada pessoa. E o narrador usa de palavras do seu interior para expressar o sentimento de perda que a morte produz.

Palavras – chave: Morte, partida, última, reflexão.

ABSTRACT: This article aims to analyze the short story The Last Match of Aleilton Fonseca, and seeks to reflect on the issue of "race" as evidenced in the story that causes different understandings on each player. We will use other tales of Fonseca, who bring in their thematic, clear links between them, as is the case of the smiling star and Grandfather and the river, both present death as a moment of reflection. For death is characterized as a moment of farewell, we believe it is important to note the reaction she causes in each person. And the narrator uses words to express your inner feeling of loss that produces death.

Key – words: Death, departure, last, reflection.

1.    Introdução

O presente artigo faz uma reflexão sobre o conto “A Última Partida” de Aleilton Fonseca, e tem como objetivo analisar a última partida de Linco, além de discutir os valores culturais existentes no conto.

A leitura do conto “A Última Partida” possibilita que o leitor faça uma reflexão sobre o momento da morte. Assim, procuramos observar a reação que ela provoca em cada pessoa com diferentes linhas de pensamento sobre a mesma. Apoiaremos em alguns contos do próprio Aleilton Fonseca como é o caso de O sorriso da Estrela, O avô e rio, desterro dos mortos, que também abordam a morte como um momento de reflexão. Por ser a morte um momento que causa diferentes reações em cada pessoa de acordo com os seus princípios religiosos, não procuraremos defender nem um tipo de instituição religiosa, mas discutir essa temática de forma neutra.

Ao saber que a morte é a única certeza do futuro, pensamos ser importante que seja discutida no meio acadêmico educacional, pois, provoca a reflexão do leitor sobre as diferentes maneiras de lidar com esse momento. Fonseca no conto A Última Partida vem mostrando as reações que essa ocasião provoca. Traz a lembranças do passado recente do narrador, o qual conta as façanhas que o personagem principal protagonizou.

Utilizaremos também Pólvora (2002), que discorre sobre a estrutura e temática do conto, como podemos observar na afirmação abaixo:

 Mais importante que a extensão será, no meu entender, o insight, aquele mergulho existencial. E naturalmente a visão interior buscada pelo conto há de refletir a personalidade e os conflitos do autor-narrador. O conto seria então um meio de busca e averiguação [...], (PÓLVORA, 2002, p.16).

 Com base no fragmento acima, podemos perceber que o mais importante no conto não é a extensão, mas o mergulho existencial que a narrativa provoca, sendo capaz de relembrar momentos marcantes na vida do narrador ou até mesmo dos personagens caracterizados por ele.

1. 2.    Sobre Aleilton Fonseca

 É importante conhecer um pouco mais sobre o autor do conto A última partida para que possamos trabalhar com melhor precisão a suas obras literárias.

ALEILTON (Santana da) FONSECA nasceu em Itamirim, hoje Firmino Alves - Bahia, em 21/07/1959. É poeta, ficcionista, ensaísta e professor universitário. Começa a escrever ainda no segundo grau, motivado pelas lições e leituras de poemas, crônicas e romances. Em 1977, ingressou na EMARC, escola de Uruçuca - Bahia, onde se formou em Técnico Agrimensor, mas nunca foi buscar o diploma. Nesse ano começa a publicar contos e poemas no Jornal da Bahia, de Salvador, tendo vencido três vezes o seu Concurso Permanente de Contos.

Em 1981 publica o seu primeiro livro, Movimento de Sondagem (Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1981) que recebeu, entre outros, a atenção de Carlos Drummond de Andrade, que lhe escreveu uma carta de incentivo e de Rubem Braga, que publicou dois de seus poemas na coluna “A Poesia é Necessária”, na Revista Nacional, semanário que circulava encartado nos principais jornais das capitais. Concorre aos "Prêmios Culturais de Literatura" da Fundação Cultural do Estado da Bahia, com o livro Jaú dos Bois, que fica entre os vencedores (3^o Lugar) e é publicado pela Relume Dumará, em 1997.

Em 2001 publica o livro de contos O desterro dos mortos. Nesse ano recebeu o Prêmio Nacional Herberto Sales – Contos, da academia de Letras da Bahia, com o livro O canto de Alvorada, publicado em 2003.

Ainda tem o romance Nhô Guimarães, o qual demonstra a forte ligação que o escritor Aleilton Fonseca tem com o estilo narrativo de João Guimarães Rosa.

 3.    Análise do conto

 O conto A última partida demonstra a trajetória de Linco, um jogador diferenciado e cheio de artimanhas. A maior parte da história se passa com o narrador personagem (Pedro), lembrando a partida de futebol em que o time deles estava perdendo para o time dos malhados, por cinco à zero. O time dos malhados aparece na narrativa como um time forte e destemido, além de serem cheios de maldades, por estarem ganhando de cinco a zero do time adversário, os Malhados começam a zombar dos jogadores adversários. Entretanto, eles não contavam com a estrela Linco.

Os jogadores estavam convictos da derrota mais até que num bate rebate na área a bola sobra no pé de Linco que estufa a rede diminuindo o placar. Em um contra ataque o zagueiro toca para Linco de novo e ele mais uma vez marca o gol e assim fez por mais duas vezes deixando os jogadores do seu time animados e pensando numa possível vitória. Até que em um último lance Linco vem a intermediaria de seu time e pega a bola e sai driblando um, dois, três, quatro, e ao invés de fazer o gol, ele presenteia o amigo que nunca tinha feito um gol na carreira.

E após fazer o gol, o tão temível time adversário foi derrotado. Mas, os malhados marcaram a revanche. No entanto, um dia antes do jogo, a cena que se via não era a que desejavam. Mas, o pensamento positivo ainda continuava no interior do Pedro (narrador),

Num mais que de repente, Linco ia se levantar dali de um pulo, com sua risada de mangação. A certeza nos aliviava, por hora, de uma dor mais funda, Pois se ele era tão fingido, nos metendo em cada susto! Era só um esperar, os adultos se preparassem, que nem precisava apinhar a sala de tanta gente para o maior efeito. Ele estava debaixo do lençol, bem quietinho, sobre um banco de madeira rústica. A gente queria ver de perto, era difícil. (FONSECA, 2013, on-line).

 Com base no comportamento de Linco, por mais que ele se encontrasse na situação mencionada acima, ainda existia uma esperança que tudo aquilo não passasse de um susto. Mas, o tempo passava e agonia tomava conta de cada pessoa envolvida naquela cena.

É importante destacar os detalhes em cada palavra do narrador sobre a façanha protagonizada por Linco. Embora ele tenha driblado um, dois, três, ou até quatro jogadores adversários, a morte surge como algo que ele não consegue driblar, por mais habilidoso que seja.

O jogo da revanche tinha sido marcado para o domingo, mas o imprevisto ocorreu no sábado. Aquilo que ninguém esperava, mas que chega sem avisar. Quando o time dos Malhados chegou para a partida, os semblantes dos adversários não demonstravam nenhum interesse em disputar a partida, não fazia sentido algum para eles, como podemos observar abaixo:

 [...] Cadê nosso time? Era hora do jogo. Logo explicamos o fato, eles se concentraram no silêncio, com algumas perguntas esparsas. Depois entraram para ver o nosso amigo, já composto entre flores, perfilam-se com respeito e tristeza. Não havia ânimo para a partida, com tal desfalque em nosso coração. (FONSECA, 2013, on-line).

 Observamos nesse fragmento, que o sentimento e o respeito com a perda, superam qual quer disputa com adversários esportivos e permanece a consideração humana como algo mais importante entre as pessoas.

1. 4.    A partida

 No conto, o próprio título “A última partida” abre possibilidades para diferentes entendimentos. Por representar em seu enredo um torneio de futebol, podemos raciocinar que esta seja a última partida do torneio. Vejamos o trecho abaixo:

 Sem Linco nosso time era pato. Com ele sobravam as diferenças. Sob o seu comando a gente não se intimidava. Ele arranjava sempre uma das suas mais novas artimanhas. De cochicho em cochicho nos dava todas as dicas, nos colocava na função certa em cada parte do campo. A gente perdia por placar apertado, sem fazer feio. Outras vezes íamos vencendo, com sorte e com jeito. Foi assim, de gol em gol, chegamos à decisão do torneio, para surpresa de todos, (FONSECA,2013, on-line).

 De acordo com o fragmento acima e com a leitura do conto, podemos considerar que o narrador utiliza a sua memória para relembrar a decisão do campeonato que o seu time havia vencido há alguns dias. Então, a última partida pode ser considera como o último jogo do campeonato em que a equipe liderada por Linco disputou.

Por outro lado, podemos entender a última partida, como a despedida de Linco da vida, pois, além da partida vencida pelo seu time ser a que deu o título, também marca o momento em que o mesmo se despede. Em suas palavras, após um menino ir chama-lo a pedido de sua mãe, ele parece estar prevendo o que estava por vir, o jogo estava empatado em cinco a cinco e quem fizesse o sexto gol ganharia o campeonato. Naquele momento ele falou:

  − “Vamos ganhar logo, que estou de partida... – ele disse bem animado.” (FONSECA, 0000, p.40).

As palavras de Linco soam como uma despedida, mas naquele momento ninguém imaginaria que fosse pra tal lugar. Pensavam apenas que ele estava de partida para sua casa, o foco central era o último gol do jogo.

Fonseca em algumas de suas obras de ficção aborda a morte como um momento de reflexão e busca interior da memória. As lembranças vêm à tona na medida em que o sofrimento da perda ocorre. Podemos observar em O sorriso da estrela, que o narrador personagem relembra toda a sua infância a partir da morte da sua irmã, e o faz refletir na difícil convivência que tinha com ela. Mas, no momento da morte tudo isso é desfeito, como pode ser observado abaixo:

 Iam fechar o caixão, minha mãe despejou mais lágrimas Deus pela morte da filha. E até madrinha, pela vez primeira, soltou as rédeas do seu pranto. Eu me guardei no silêncio, peguei um ramo de rosas que estava próximo ao rosto de Estela. Não me pareceu que pudesse beijar o seu rosto agora, já que nuca o fizera em vida. Então beijei as flores e pus de volta no caixão, (FONSECA, 2012, p.14).

 Tanto no conto A última partida quanto em O sorriso da estrela o narrador relembra com emoção a morte de um amigo no primeiro e no segundo faz uma reflexão sobre a perda da irmã.

 A par de tanta tristeza, as nossas lágrimas prosperavam, renovando-se nas lembranças daquelas glórias repassadas. De nossa parte, era a vez primeira de enfrentar esse tipo de jogo, totalmente vencidos. E cada um de nós compreendia, a seu modo e tanto, o quanto gostávamos daquele menino. No entra-e-sai da sala, ninguém podia efetuar o total que sofríamos. Sem o nosso amigo, sentíamos o vazio de uma enorme parte de nós mesmos. (FONSECA, 2013, on-line).

 A citação acima mostra o quanto Linco era querido entre os amigos e como as pessoas lidam com a perda de um ente querido. Podemos perceber que algumas pessoas encaram a morte como uma simples passagem, mas outras não querem aceitar, chegando a entrar em desespero. A morte é algo natural, mas acaba provocando inúmeras reações nos seres humanos. Para os jogadores, Linco ficou eternizado na memória, pois, o mesmo era surpreendente.

1. 5.    Considerações finais

 Com base nas obras de ficção de Aleilton Fonseca, principalmente os contos que foram citados acima, podemos observar o universo imaginário que suas narrativas provocam nos leitores. A sua escrita simples e atraente prende a atenção do leitor no desenrolar das narrativas. O conto A última partida, consegue fazer com que o leitor reflita de maneiras diferentes a respeito do próprio título do conto.

Portanto, as reflexões a cerca do conto permitiram um olhar desafiador a respeito da morte, pois, é neste momento que os personagens criados pelo narrador conseguem revelar os seus sentimentos, sejam eles de conformismo ou de desespero.

 Referências:

 FONSECA, Aleilton. O desterro dos mortos: contos. Itabuna: Via Litterarum, 2012.

PÓLVORA, Hélio. Itinerários dos contos: interfaces críticas e teóricas da moderna short story. Ilhéus: Editus, 2002.

Disponível em: http://www.aleilton.blogsppot.com.br/p/contos.html, acessado em 05 de novembro de 2013 às 14h52 mim.