*Jose Antonio Loyola Fogueira                            

Boris era um dos filhos mais novos de uma família de milhares de ostras, e desde pequeno sempre reclamou, pelo fato de ter que viver agarrado a alguma coisa, coral, pedra ou coisa que seja não gostava da sua roupa achava escura, e sem brilho. Gostava sim das cores de seus vizinhos como a estrela do mar, dos corais e dos diversos peixes que em seu balé constante podiam sempre ir e vir, em um frenesi colorido e maluco. Isso sim era a vida que Boris queria uma vida de liberdade.

Todos seus amigos cresciam de forma acelerada e tornavam se adultos e livres e Boris continuava preso a alguma coisa, e com a mesma roupa, suja e sem brilho, de lá do fundo do mar nos dias de poucas nuvens se encantava com os raios do sol e deles se enamorava. E com eles fazia planos de sair da escuridão dos oceanos para viver perto daquele que tanto amava o sol, pois por ele sentia uma atração desde pequeno não sabia dizer se era o brilho ou seu calor que o deixava assim, fascinado.

Sua mãe uma sabia ostra no apogeu da sua maturidade, se perguntava dentre tantos filhos, porque Boris, é assim, só deseja o impossível, o inatingível como irei explicar que o seu sentimento é algo impossível, sem machuca meu filho? O tempo passava e sua mãe ficava aflita a cada pergunta de Boris, pois não sabia como dizeres, que gêneros semelhantes não se amam, não podem formar casais, que o seu desejo era errado?

Assim sofria Boris, na sua inocência de amar o sol, e sua mãe em tentar protegê-lo, do seu amor, chegou a hora de ser informado a cerca das regras do mar, seus mistérios e suas belezas e tudo que ele queria saber era quando poderia estar ao lado do sol, seu tutor falava e falava, em certo momento, notando a sua falta de interesse pelo ensino o seu tutor perguntou em que pensas filho?

E Boris na sua mais singela inocência disse:

- No dia de ficar próximo ao sol, e no amor que sinto por ele.

Isso gerou um alvoroço no fundo do mar, seu tutor fez um escândalo, promovendo o maior disse me disse que até o sono de netuno foi interrompido, sendo convocada uma assembléia para discutir o caso de amor do jovem ostra pelo rei sol, seu pai, pois a amaldiçoar o dia em que Boris nascerá, pois até o momento, isso era um SEGREDO, entre ele e sua mãe.

Agora todos sabiam que Boris era diferente, que não gostava das coisas do fundo do mar, que queria coisas do céu, como o sol, uma ostra menino maluco, com certeza ele tinha defeito ou era doente. Como castigo todas as mães e pais ostras proibiram as crianças ostras de brincarem ou falarem com Boris, pois ele era um desviante da conduta no fundo do mar.

Assim se passaram os anos e Boris, foi crescendo isolado, sem alegrias, só uma coisa não mudava em sua vida, a alegria que tinha quando lá das profundezas, do mar se via iluminado pelos raios do sol, uma coisa linda que lhe aquecia e alegrava como esse gostar podia ser errado, ele não entendia. 

Durante uma forte tempestade, um turbilhão de água conseguiu solta-lo da rocha, estava Boris livre a rolar pelas profundezas do mar, com o mundo todo para conhecer, então decidiu que queria ir para a superfície conhecer o sol, e rolou e rolou, durante dias até que foi parar em uma praia deserta, neste momento ele pode ver como era grande a distância entre ele e o seu objeto de amor, desesperado, pois se a chorar, seu choro tão profundo e triste, também deixou o sol tristonho e as lagrimas do sol caindo sobre Boris, começava a gerar em seu interior algo que até então ele desconhecia o que era, só sabia que algo crescia dentro de si.

O tempo passou e Boris foi encontrado por um pescador, ele já não era mais moço, era um senhor envelhecido e triste, por não conseguir viver ao lado do seu amor, ele pensava nos que no fundo do mar ficaram, será que vivos ainda estavam, e se ele estivesse ainda lá, seria mais feliz?

Quem era este ser que falava uma língua tão estranha e porque insistia em rasgar a sua roupa? O  que ele procurava?

Essa procura estava lhe machucando, e destruindo, seria o seu fim.

Para surpresa do pescador do interior de Boris, surgiu a mais bela e rara PEROLA, que alguém já tinha visto, tamanho foi seu brilho que até o sol, ficou feliz com o feito de Boris, por amor a ele, produzirá a maior e mais bela PEROLA.

Desde este dia o coral das perolas é protegido, por todos os pescadores, por produzir as mais belas e raras perolas do mundo, e seus parentes poderam amar ao sol, a lua e tudo quanto mais quisessem, pois Boris os tinham protegidos, ele não era doente e nem estranho ele amava o diferente. A perola de Boris encontra-se em uma ostra, por ai precisando ser encontrada. 

* Membro do Grupo Humanus, militante ativista do movimento homossexual brasileiro, estudante de Pedagogia UESC-BA., e Cinema e Vídeo- UFRB-BA.