A ORIGEM DO MAL NO UNIVERSO

Vamos iniciar esta exposição metafísica considerando algumas verdades grandiosas, fixas e inquestionáveis:

A primeira delas é que Deus existe. Ele sempre existiu sem qualquer origem. Para sermos exatos, nem podemos afirmar que ele existe, porque tudo o que existe foi criado e ele nunca foi criado. Então ele não existe, ele é. Por causa disto não podemos dizer que ele é um Ser. Ele é um Ente, portanto auto-existente, jamais alo existente.

A segunda verdade é que o universo existe. Ele é incognoscível. Nem mesmo podemos conceituar universo, mas podemos falar em universos, bidimensionais, tridimensionais, polidimensionais. A esfera da criação de Deus é tão imensa que nem podemos nos aventurar a aquilatar tal esfera.

A terceira verdade que vamos considerar é que o mal existe. Este também nos remete a vibrações, relações e dimensões ignotas. O fato final é que ele está presente em nossa visão e percepção.

O bem também existe. Deus não é o bem, nem mesmo o supremo bem, porque ele extrapola o bem.

Entre as grandes verdades universais, entendemos que o universo não é uma criação monista, mas é uma criação dualista. Deus mesmo, em sua Palavra diz que "cria o mal". Is 45.7. Teólogos demasiadamente cautelosos afirmam que Deus não criou o mal ontológico, mas cria o mal epistemológico, circunstancial, terreno.

Mas, para existir o mal epistemológico, tem que haver uma origem ontológica. Alguns afirmam, simplisticamente, que esta origem está em Satanás. Perguntamos: onde Satanás encontrou algum elemento ou elementos para criar o mal? De onde ele minerou tal produto? Se ele mesmo foi criado, como poderia criar "ex nihil" os sistemas maléficos? Como os encontraria?

O quadro é mais grandioso do que sabe a nossa vã filosofia.

Deus sempre existiu e em determinado "aeon" ele resolveu criar algo dele, mas fora dele. Gerou um Filho e através desse Filho a Bíblia diz que ele "fez o mundo". Hb 1.2. Mais adiante o quadro é ampliado, quando Hebreus 11.3 diz que ele "criou os mundos".

Dentro do seu projeto majestoso ele engendrou a criação de tudo e, inserido nessa criação, veio o mal. Partido de onde e originário de quem? Do próprio Deus.

O mais incrível de tudo é que ele gerou um equilíbrio vetorial universal em que tudo funciona na base de oposição-conflito. Existe uma tensão dinâmica em tudo. Toda a matéria, por exemplo, é magnetizada. Em tudo existe o pólo positivo e o negativo, o anodo e o catodo, tese e antítese, bem e mal, claro e escuro, dia e noite, macho e fêmea, ascendente e descendente, luz e trevas, concreto e abstrato.

Dentro da soberania de Deus não sabemos até que ponto ele liberou o mal, até que ponto ele é controlado ou descontrolado.

Quando pensamos em Satanás, sabemos que ele não é um criador, sabemos que não é independente e que seu império é limitado, pequeno e submisso a Deus. Na Bíblia ele é apresentado como um ser sem liberdade, obrigado a obedecer a Deus e a solicitar de Deus alguma ação contra alguém.

Dentro da soberania e da majestade de Deus, uma das expressões que não podemos dirigir a ele, é: Por quê?

Pense na atitude infantil de alguém, perguntando:

- Senhor, por que o Senhor criou o mal?

Pense em outra expressão ainda mais infantil:

- Senhor, porque o Senhor permitiu que o mal entrasse no universo?

Esta última pergunta situa o mal como uma força ou entidade, ou relação, ou um ser existente aparte de Deus.

Alguma coisa louca, descontrolada, à deriva no universo, de origem desconhecida, de finalidade aleatória e com um destino imprevisível, acidental, casual, randômico, irregular?

Isto só pode eclodir em uma mente muito limitada que tem a coragem de reduzir Deus ao campo da simples visão antropocêntrica.

Muitos pensadores e místicos puderam de alguma forma ver o esquema da criação eles colocam o universo em uma balança, em um equilíbrio cósmico, quântico, que classificam como:

 O yang e o ying.
 Os dois pólos universais.
 Positivo e negativo.
 Material e espiritual.
 Matéria e antimatéria.
 Bem e mal.
 Temporal e eterno.
 Real e ilusório.
 Afirmativo e contrário.

Filosofias como o hilozoismo, o platonismo, o gnosticismo, o rosacrucianismo, a cabala, o cientifismo, o racionalismo, o idealismo metafísico, o hermetismo, o esoterismo e outras, procuram justificar a bondade de Deus a despeito da existência do mal no mundo, mas fazem isto separando Deus do mal ou o mal de Deus. A coisa toda fica fácil mas após tal separação como é que o mal permanece?

- Sem origem?
- Independente?
- Auto-existente?
- Soberano?
- Autônomo?

Parece uma solução rápida e fácil. Várias religiões fazem isto com freqüência. Seguem a filosofia dos três macaquinhos que cobrem, um a boca, o outro, os ouvidos e o último, os olhos, em uma rígida posição de

- Não sei!
- Não vi!
- Não interessa!

Ou: Não quero ver, não quero ouvir nada a respeito e não quero falar sobre isto.

Comodidade intelectual e comodidade espiritual.

O diabo é mentiroso e pai da mentira, mas não é o pai do mal. O diabo é apenas uma das nuanças ou aspectos empíricos do mal, mas não é o mal em si.

Quando dissemos que Deus extrapola o bem e o mal, é porque ele comanda legiões de anjos "portadores de males". Sl 78.49. Um dos seus anjos, chamado Absinto, que significa "desgosto", está sempre às suas ordens para efetuar catástrofes.

Foi Deus quem enviou um desses anjos contra o arraial dos assírios o qual, em uma só noite matou 185.000 dos guerreiros de Senaqueribe. Is 37.36.

No episódio de um projeto de guerra dos reis Acabe e Josafá, o profeta Micaías, depois de muita pressão relatou um acontecimento que só faz sentido se entendermos a origem verdadeira do mal no universo. Confira as palavras do profeta Micaías:

"Então o rei de Israel disse a Josafá: Não te disse eu, que nunca profetizará de mim bem, senão só mal? Então disse ele: Ouve, pois, a palavra do Senhor: Vi ao Senhor, assentado sobre o seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua mão direita e à sua esquerda. E disse o Senhor: Quem induzirá Acabe, a que suba, e caia em Ramoth de Gileade? E um dizia desta maneira e outro doutra. Então saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o induzirei. E o Senhor lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai, e faze assim. Agora, pois, eis que o Senhor pôs o espírito de mentira na boca de todos estes teus profetas, e o Senhor falou mal contra ti". 1 Rs 22.19-23.

O espírito que assombrava Saul veio "da parte do Senhor". 1 Sm 16.14,15. Acontece que o relato bíblico contém palavras em itálico. As palavras em itálico são acrescentadas à Bíblia, mas não estão no original. São chamadas pelos tradutores de "recursos de composição". Se retirarmos esses tais recursos e citarmos somente o original, vamos ler o seguinte relato:

"E o espírito do Senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, do Senhor. Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito mau, do Senhor, te assombra".

No livro de Jó lemos que "vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles".

Como já dissemos, sabemos o "o quê", mas não sabemos "o porquê". O fato é que o mal existe, foi criado por Deus, Satanás já foi criado pecador e Deus extrapola o bem e o mal.

A finalidade de tudo isto só Deus sabe, mas o que sabemos é que no final de tudo, se bem que nunca haverá um final, "Deus será tudo em todos" e todo o negativo do universo desaparecerá.

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