A organização planejada do trabalho docente quando desenvolvido em conjunto com os demais membros da comunidade escolar, se incluído aí o papel dos gestores (onde todos participam ativamente), favorece um processo gradual de construção de uma cultura de trabalho em cooperação dentro do ambiente escolar.

Como a produção pedagógica do docente é construída “no” e “para” o coletivo escolar, torna-se essencial que o processo de formação do mesmo, promova situações de trabalho compartilhado, englobando os diversos conhecimentos a serem trabalhados, percebendo as necessidades e dificuldades de cada aluno. Acompanhando então, (juntos com esses outros atores sociais) as transformações dos fatos sociais diários que, certamente (ou totalmente), influenciam nas ações de todos que fazem parte de uma instituição que promove uma educação formal.

Infelizmente, muitos profissionais da educação, em especial os docentes, ainda demonstram estar satisfeitos - ou alienados - “com suas práticas rotineiras”, não sentindo então, a necessidade de se auto formar e, em caso extremo, esquivam-se de comentar, falar quando nos referimos ao trabalho pedagógico desenvolvido por eles. Acomodando-se “com medo de sobrar alguma atividade/tarefa” que possa exigir dos mesmos esforços, senso crítico e poder de decisão.

O planejamento pedagógico do docente deveria ser encarado como um processo contínuo, dialético e de forma necessária, construído coletivamente com fins e objetivos que contemplem os que participam direta e indiretamente deste trabalho. Pois não há nesse processo técnicas ou instrumentos que façam milagre, seja receita pronta ou definitiva. Até porque o trabalho pedagógico deve ser percebido e praticado de forma reflexiva e flexível.

A questão do planejamento é desafiadora, pois projetar é para o mundo e não poucas vezes, estamos reduzidos em nossa humanidade... estamos desanimados, descrentes e cansados. também no meio educacional - entre docentes e outros membros da escola, estão presentes forças que impulsionam crenças e descrenças na educação (VASCONCELLOS, 1999, p. 37).

Com isso, a descrença pode ser definida e influenciada pela alienação das pessoas, contribuindo, em muitos casos, para que nem sempre o que se planeja venha se concretizar nas práticas escolares. Isto porque o planejamento só fará sentido se for colocado numa perspectiva de mudança, “o educador sujeito de transformação num processo dialético de querer (estar resolvido a fazer alguma coisa), e poder (capacidade de fazer algo), para alcançar satisfatoriamente o fazer, podem ser definido como práxis, desse processo” - “o fazer crítico, participativo e consciente” (ibdem).

É no ato de planejar que serão especificados e operacionalizados os procedimentos para concretização das atividades propostas, com o intuito de despertar o interesse, facilitando a compreensão e participação concreta dos alunos, saber seduzir e tornar as aulas significativas e prazerosas, dando sentido às ações cotidianas do docente, dentro de um processo construído coletivamente, considerando também as ações dos alunos que fazem parte do ambiente escolar.

Com base nas afirmações acima, definimos como objeto de pesquisa deste trabalho a organização do planejamento pedagógico realizado pelos educadores atuantes, com intuito de verificar, observar e analisar o planejamento do professor e seus reflexos no ambiente coletivo da gestão educacional, bem como as diversas formas que esse cria para desenvolver sua ação pedagógica no ambiente escolar.

A nossa escolha por esse tema, entre outras variantes, se deu por sentirmos na prática e discurso de muitos professores a ausência da percepção da real importância da ação pedagógica planejada, organizada e sistematizada (o que evitaria práticas improvisadas), ou seja, muitos professores não dão credibilidade a esse ato, não encaram como necessário a sua prática, enfim, não acreditam que o planejamento é um instrumento real e significativo para a prática docente, além do que esse instrumento facilita o processo de ensino e aprendizagem de cada aluno, pois sendo uma ação sistematizada e organizada considera as necessidades dos mesmos, trabalhando no ambiente escolar aquilo que de fato é essencial para o crescimento intelectual, social e político dos educandos, e tudo isso dificulta sobremaneira a gestão escolar.

Como objetivo geral para o desenvolvimento do trabalho, definimos a importância de analisar a atuação dos professores para tentar compreender como é construído e desenvolvido o planejamento pedagógico do educador. sendo os específicos, identificar a importância do planejamento nas ações do educador; entender porque nem sempre a prática do educador, condiz com seu discurso; observar a forma como o educador encara e pratica o planejamento; perceber o relacionamento entre educadores, educandos e a escola de forma em geral e suas consequências na gestão escolar.

Portanto, buscamos ressaltar nesse trabalho aspectos significativos que permeiam o processo de construção do planejamento pedagógico construído e desenvolvido no ambiente escolar e suas consequências na gestão educacional, buscando analisar de forma reflexiva todas as informações, tentando assim, contribuir com os profissionais da educação, ainda que de forma limitada, mas com coragem e esperança nas questões que no dia-a-dia do educador, continuam a instigar o conflito.

Apesar de ter um número considerável de educadores que não percebem o ato de planejar como um instrumento necessário para a efetivação de um bom trabalho pedagógico, percebemos que, ainda assim, podemos acreditar que esse trabalho auxilia à compreensão mais reflexiva das práticas educativas (do professor em especial), apoiado na construção e aplicação dos planos de aulas, seja este individual ou coletivo, sendo essa ação, a materialização das vontades e necessidades dos alunos dando objetividade, direcionamento transparência às ações pedagógicas, pois acreditamos que não se pode conceber qualquer educador sem o planejamento como instrumento do seu trabalho, isto é, sem o ato de planejar.

A GESTÃO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA

A atividade de planejar é tão antiga quanto a humanidade. Assim o planejar foi uma realidade (e continua sendo) que acompanhou a trajetória histórica da humanidade. Mas, a sistematização inicial do planejamento se deu fora do campo educacional, estando vinculado ao mundo da produção (i e ii revolução industrial) e à emergência da ciência da administração, no final do século xix.

Nesse sentido, afirma Vasconcellos (1999, p. 27) que talvez o elemento mais complicador em termos de alienação do trabalho em que se emprega o planejamento, tenha sido a preconização feita por Taylor (americano, 1856-1915) na qual defendia a necessidade de separar a tarefa de planejar da execução, isto é, organizar cientificamente o trabalho, implica a distinção radical entre a concepção (ideias, teorias) e a realização (prática). Esse ponto de vista defendido por Taylor acaba por respaldar e justificar a prática tão antiga (desde os gregos) de uns conceberem (homens livres, isto é, desfrutavam do ócio) e outros executarem (escravos, portanto dominados). Abrindo-se também, a partir desta definição, o campo para o planejamento tecnocrático em que o poder de decisão e controle está nas mãos dos outros (técnicos, políticos e especialistas) e não nas mãos e ações do próprio agente.

Ainda, segundo o mesmo autor o planejamento passa a avançar para todos os setores da sociedade a partir do século xx, provocando um enorme impacto, principalmente, porque foi implantado e usado na união soviética, não como simples organização interna das empresas (como vinha sendo implantado), mas sim como planificação de toda a sua economia.

Restringindo ao contexto brasileiro e, para isso, consideramos algumas colocações de Gandin e Carlos Carrilho, o planejamento, voltado e elaborado no ambiente escolar veio a se consagrar nos meios governamentais e acadêmicos no Brasil a partir da década de 60, passando então, a ser obrigatório fazer “planos” para serem trabalhados nas instituições formais de ensino. no entanto, os únicos modelos de que se dispunham eram os que em pouco tempo de vivência, vigoravam na economia e em algumas empresas e quase sem nenhuma adaptação, passaram a ser empregados no sistema educacional.

Neste contexto, instituiu-se também a figura do supervisor escolar que passa a ter entre outras “funções-tarefas” a de exigir a elaboração de planos por parte dos professores. Onde os conteúdos eram pré-estabelecidos pela “cultura” escolar (portanto não questionável), uma ação dirigida, repetida ano a ano. E como consequência, mas também por outros motivos, o plano passou a ser uma lista de possibilidades e não um plano:

Passou a dizer o que poderia ser feito e não o que de fato se iria fazer. Limitando muitas escolas a listagem de conteúdos a serem trabalhados, muito mais para atender a burocracia exigida na transferência de algum aluno, do que por crença no próprio planejamento (GANDIM ECARRILHO, 1996, p.14).

Então, a organização do trabalho do professor configurou-se, na escola, como algo meramente burocrático, isto é, mais para cumprir as ordens vindas de cima para baixo do que de fato planejar com objetivos reais e possíveis de serem alcançados tanto pelo professor como, principalmente, pelos alunos. Reduziu-se o “plano”, pois “qualquer professor com dois ou três anos de magistério não precisa fazer planos por escrito para repassar um conteúdo sobre o qual ele não toma decisões, que ele conhece bem (ou mal) e, sobretudo o qual já trabalhou”. (VASCONCELOS, 1999).

Analisando a história da educação escolar, pode se perceber diferentes concepções de planejamentos, as quais são influenciadas e determinadas pelo contexto sociopolítico- econômico-cultural de cada período da história.

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