A ORDEM É COMBATER TODOS AQUELES QUE
POSSUEM MUITAS COISAS MATERIAIS
Nazaré, 09-08-1974

Mundo cheio de desgraças
Onde temos que penar para sobreviver,
Onde vivemos uma vida,
Contando a cada segundo
A hora da nova desgraça,
A hora da nova queda,
A hora do novo assassinato.

Mundo cheio de desgraças,
Disfarçado habilmente
Na figura de um deus
Que na verdade não existe.
Porque esse deus que todos amam,
É a mais ridícula forma
Da opressão humana?

Mundo cheio de desgraças,
Onde noventa homens
São os donos de tudo,
Enquanto noventa milhões
Não possuem nada.
Que fazer? Qual a solução?
É matar para não morrer,
Como faz um revolucionário
Em sua hora decisiva.

Mundo cheio de desgraças,
É verdade que você existe?
Para que você serve?
Já que não ouço a resposta,
Eu direi para que.
É só para sustentar
Um pequeno bando de assassinos,
Que não fazem outra coisa
A não ser oprimir o povo.

Mundo cheio de desgraças.
Para que multiplicar
A população terrestre?
É só para que todos morram
Numa guerra feita pela minoria,
Que não vão para a guerra?
Não digo isso porque estou vivo.
Se eu pudesse, não nasceria.
Para que? Por que?

Mundo cheio de desgraças.
É terrivelmente desagradável
Enfrentar a morte,
Mas o jeito é nos conformarmos.
Que fazer? Matar a morte?
Se a minoria não morre?
Deixa sua semente maldita.
O jeito é aceitar,
Como eu aceitaria
Se de repente ela viesse. Mas lutando.
Por que não vem logo, para quem precisa?
E já que ela não vem,
A ordem é fazê-la vir.
A ordem é combater todos aqueles
Que possuem excesso de coisas materiais,
Que foram roubados do povo.
Alem de tudo, quando morrem,
Se eternizam como nome de rua.