Análise histórica

 

A história da humanidade é marcada por um processo de subjugação do individuo as autoridades constituídas seja por forças sociais ou divinas.

 

No período pré-histórico percebe-se uma ausência de dominação do homem sobre o homem, nesta fase o individuo tinha seu olhar voltado para si, ou melhor, para a supressão de três necessidades básicas: reprodução, alimentação e repouso, porém, com o surgimento da sociedade viu-se a necessidade de se criar mecanismos que garantissem uma harmonia entre os seres humanos, devido ao aumento da demanda social. É nesta fase ao se impor as leis morais na qual estavam ligadas a religião (politeísta) que surge a “obediência”.

 

A antiguidade é marcada por alguns governos teocráticos, a exemplo dos povos mesopotâmicos e do Egito no oriente, e de Roma no ocidente.  Essa forma de governo será decisiva para a consolidação da ideia de que alguns nasceram para mandar e outros para obedecer (A politica de Aristóteles), a fundamentação de tal antagonismo, estava na ideia de que o rei ou o imperador era o representante de Deus. Porém tal centralismo não foi decorrência de uma revelação divina, mas de acúmulos de terra por parte de algumas famílias que passaram a mandar e outros que nada tinha se subjugavam a esta autoridade constituída. A lei divina era apenas um pretexto para impor a autoridade.

 

Na idade média surgem os feudos que eram grandes castelos onde abrigavam os senhores e os vassalos.   Havia uma relação de subjugação dos vassalos em relação aos senhores. Estes garantiam proteção aos vassalos que em troca exigiam a realização de determinados trabalhos. Além disto, cobravam dos mesmos, pesados tributos pela utilização de utensílios agrícolas. Tal estratificação social era fundamentada pela teologia católica da época, ou seja, a ideia de que “alguns nasceram pobres e outros ricos por que Deus assim o quis”. Durante todo este período a igreja exerceu forte poder, impôs seus dogmas a fim de garantir a unidade da igreja, porém não conseguiu impedir o cisma em que a igreja foi dividida em duas ramificações.

 

Na modernidade com o advento de algumas correntes como o renascimento e o iluminismo, a ideia de autoridade e obediência sofreram um grande impacto, pois com o aparecimento do racionalismo o homem moderno passou a questionar tudo aquilo que era imposto seja pelas autoridades civis ou religiosas. É neste período intitulado de antropocentrismo que o homem abandona as especulações metafisicas e se lança para o racionalismo radical aponto de questionar tudo ou quase tudo a exemplo da duvida metódica.

 

A contemporaneidade é marcada por revoluções e por quebra de paradigmas. É nesta fase que as autoridades entram em crise, pois com o excesso de liberdade o homem se ver livre para fazer o que quer e o que bem entende, gerando o que se denomina de libertinagem, diante de tal feito a sociedade pós-moderna entra num colapso ao qual não sabemos que fim tomará.

 

Portanto, a história da humanidade é marcada por este processo de subjugação do homem, contudo cada período possuiu sua especificidade.

 

A obediência em si mesma

 

 A obediência é um elemento necessário para que a sociedade caminhe, pois é impossível uma instituição desenvolver-se ou perdura-se num estado de anarquia, porém é necessário compreendemos o que é de fato obedecer.

 

                Obedecer tornou-se sinônimo de subjugação ou de encurvamento, pois se inseriu na consciência das pessoas que no mundo, existem algumas autoridades ou verdades inquestionáveis. Porém aqueles que se opõe são tidos como loucos ou ignorantes, a exemplo de Galileu que teve que desmentir toda a sua doutrina diante do tribunal do santo oficio. Embora o mesmo tivesse a verdade, contudo a autoridade falou mais alto, provando que nem sempre a autoridade tem razão.

 

                Hoje na religião islâmica matam-se pessoas em nome de uma obediência cega a Alá ou ao alcorão, por obediência a uma autoridade constituída que possui o monopólio de interpretar a lei de Maomé. A autoridade e a lei são vistas acima dos direitos humanos.   Em nome de uma obediência cega a determinadas ideologias trucidou-se milhares de pessoas a exemplo do Fascismo (Itália), Nazismo (Alemanha) e Comunismo (China).

 

A obediência é necessária, porém, não pode ser acolhida de maneira passiva por se voltar a um representante de Deus ou do estado, mas deve ser analisada racionalmente, pois o próprio Cristo que foi obediente ao pai, questionou as autoridades judaicas que tinham o monopólio de interpretar as leis mosaicas. Não é raro ver passagens em que Jesus, sendo judeu, se opunha a algumas atitudes dos fariseus aponto de dizer que “o homem não foi feito para o sábado, mas o sábado feito para o homem.” Nas primeiras comunidades cristãs não transparece uma imagem hierárquica, mas uma relação de reciprocidade entre os membros da comunidade.

 

Em vez da imposição é necessário o dialogo, pois esta favorece um desenvolvimento mais harmonioso entre as partes. Ver a imagem de cristo nas autoridades é complicado, pois Cristo se rebaixou diante dos seus discípulos, se esvaziou de sua divindade em vista dos amigos, contudo o que se percebe em algumas autoridades (civis ou religiosas) são abusos de poder.