Desde que o mundo é mundo que os conflitos existem. A Humanidade evoluiu de forma extraordinária no aspecto tecnológico mas, lamentavelmente, continua atrasada no que diz respeito à moralidade. Por isso, apesar dos milênios transcorridos, continuamos conflitando por qualquer coisa, como conseqüência da predominância do orgulho e do egoísmo entre os homens. E hoje, a par do progresso em todos os campos de atividades, são tantos os conflitos nos mais diversos recantos do Globo que surgiu um novo termo, nova conflitualidade, para estabelecer a diferença com os antigos.Mas, afinal, o que vem a ser conflito? A palavra conflito vem do latim conflictu, que significa choque, embate, peleja. E nova conflitualidade? Muitas são as propostas e definições apresentadas por diversos autores, para tentar abarcar esta diversidade.

Na verdade, ao se referir à nova conflitualidade remete-se naturalmente as novas guerras. Nesse sentido, estamos habituados a ver a guerra como algo que acontece entre os Estados. No entanto, as guerras atuais ocorrem principalmente entre grupos no interior do mesmo país, motivadas por fatores étnicos, econômico-sociais e religiosos.

Para se entender a nova conflitualidade é preciso ter em conta o ambiente de segurança internacional do pós-guerra fria, pois o fim da guerra fria desencadeou uma onda de conflitos tribais e étnicosque provocou a desagregação de alguns estados, como a URSS, Jugoslávia e Etiópia, e a dilaceração do tecido social de outros1 .

Com a retirada, em 1986, do apoio das super potencias a regimes autoritários da Europa a América Latina, passando pela Ásia e África, criou-se um ambiente propício para que ambições e rivalidades tribais e étnicas, contidas durante décadas, viessem á tona, na luta pelo poder ou por maior influência. Denominou-se de "tribalismo pós-moderno" a essa onda de conflitos. . Essas lutas tiveram um impacto devastador nos chamados "Falied states" – os estados fracassados ou que não funcionam – que exibem certas características típicas: são estados que têm governos fracos, sociedades com pouca coesão, não conseguem competir na economia mundial e são vulneráveis a desordens internas2.

Além dos conflitos internos, outras são as formas de novas guerras, como o terrorismo transnacional e as estratégias de guerra para combatê-lo, pois percebe-se que quanto mais se endurece a ação no sentido de dissuadi-lo, mais aumenta sua determinação para resistir. Outro tipo de nova guerra está associado ao agressivo unilateralismo dos Estados Unidos e potências regionais, como Índia e Israel, ao permitir que fossem alcançados objetivos estratégicos através da força, durante a rivalidade entre as super potências3

Só para se ter uma idéia das conseqüências desses conflitos, desde o final da guerra fria eles já custavam, aos países envolvidos,5 milhões de vidas civis e o deslocamento de 50 milhões de pessoas4.

CARACTERÍSTICAS DA NOVA CONFLITUALIDADE

As guerras contemporâneas, depois de 1945, tornaram-se cada vez menores entre Estados e passaram a contemplar outros atores, infra-estaduais e supra-estaduais, capazes de executar operações militares, verificando-se uma extrema plasticidade dos seus atuantes, assemelhando-se muitas vezes a uma luta pela sobrevivência, sem regras, sem objetivos claramente definidos, deixando assim o Estado de possuir o monopólio do uso da violência5.

Dentre as características dos novos conflitos encontra-se o recurso das táticas de guerra suja, ocasionando o aumento da morte de civis6. Segundo Nordstrom (apud Pinto, 2007), "as guerras sujas almejam a vitória, não através de táticas militares e no campo de batalha, mas através do horror. Os civis , mais do que os militares, são os alvos táticos e o medo, brutalidade e o assassínio são os alicerces sobre os quaiseste controlo é construído".

Para Herfried Munkler (apud Garcia,2007) passou a haver uma desmilitarização da guerra, no sentido de que os objetivos civis não se distinguem dos militares e a violência extrema é exercida contra não combatentes e sobre todos os domínios da vida social, em que se usam profusamente crianças-soldado, sendo também normal a generalização da violação do direito aplicável aos conflitos armados, bem como do regime de proteção dos direitos humanos.

Outra característica nos conflitos internos do pós-guerra fria é a dificuldade em distinguir combatentes e não combatentes, por ser tênue a linha que os separa, tornando difícil a identificação de quem é a vítima ou o agressor7.

Como os atores deste tipo de conflito são outros, o seu caráter também teve que evoluir: São guerras irregulares, estrutural ou temporariamente assimétricas, sem frentes, sem campanhas, sem bases, sem uniformes, sem respeito pelos limites territoriais, de objetivos fluidos, de combate próximo, estando os combatentes misturados com a população que utilizam como escudo e, se necessário, como moeda de troca. Têm na inovação, na surpresa e na imprevisibilidade, os seus "pontos fortes" onde os fins justificam os meios, empregando por vezes o terror, onde o estatuto de neutralidade e a distinção civil/militar desaparecem8.

O conflito da ex-Jugoslávia é exemplo claro da diversidade e da natureza dos atores envolvidos. As forças que atuavam na Bósnia-Herzegovina eram os sérvios, croatas e mulçumanos. As forças sérvias e croatas eram constituídas, além de parte dos exércitos sérvios e croatas, por grupos paramilitares vindos de toda a ex-Jugoslávia. Ao lado dos sérvios combatiam os russos e mercenários da Dinamarca, Finlândia, Suécia, Grã-Bretanha e Estados Unidos; junto aos croatas lutavam os italianos. Ao lado dos mulçumanos da Bósnia-Herzegovina, lutavam os mercenários estrangeiros, nomeadamente os mujahideen, veteranos mulçumanos da guerra do Afeganistão. Somando-sea essas forças, atuavam as milícias e os grupos de defesa locais, constituídos por policiais e civis armados9.

Nesse cenário as novas guerras acontecem, primeiro em estados pequenos e fracos, ou em desenvolvimento. E depois entre um exército convencional e grupos de guerrilha que querem subverter o poder instalado, ou entre vários bandos armados sem que seja possível perceber a presença do estado ou exército convencional, onde as maiores vítimas são os civis inocentes, com um número considerável de crianças, que representam a maioria das baixas.

PARADIGMA DAS NOVAS GUERRAS

Dentre os vários autores que abordam as novas guerras está Sinisa Malesevic10 , que faz uma análise crítica sociológica do seu paradigma com um foco sobre os efeitos e as causas das guerras recentes.

O autor argumenta que, apesar do desenvolvimento ao elaborar modelos, a sociologia contemporânea da guerra repousa sobre bases precárias e, portanto, não convence. Assevera que ao invés de assistir a uma dramática mudança nas causas e nos objetivos dos violentos conflitos contemporâneos, é importante perceber uma transformação significativa no contexto sócio-histórico em que essas guerras são travadas.

Afirma que uma variedade de influentes acadêmicos de um leque de disciplinas tão diversas como estudos da segurança (Snow 1996; Duffield 2001), da economia política (Collier 2000; Jung 2003), relações internacionais (Gray 1997; Keen 1998) e da teoria política (Munkler 2004) abraçaram o paradigma das novas guerras. Todavia, esses acadêmicos argumentam que todos os conflitos violentos desde o final do século XX são totalmente diferentes dos seus antecessores. O argumento é que estas novas guerras diferem em termos de âmbito (civis e não de conflitos inter-estatais), métodos, modelos de financiamento (externo e não interno), e são caracterizados por uma baixa intensidade associada a altos níveis de brutalidade e com deliberados ataques contra civis.

Além disso, ao contrário das "velhas guerras", estes novos conflitos violentos tem premissas em diferentes táticas (terror e guerrilha, em vez de ações em batalhas convencionais), diferentes estratégias militares (controle populacional em vez de captar novos territórios), utilizam diferentes combatentes (exércitos privados, bandos apenados e chefes militares, em vez de soldados profissionais ou conscritos), e são altamente descentralizados.

As novas guerras são também vistas como caóticas, uma vez que esbata distinções tradicionais (legais versus ilegal, privados e públicos, civis versus militares, interno versus externo, e local versus global). Embora a investigação proveniente do paradigma das novas guerras tenha se revelado altamente benéfica para realçar algumas características distintivas de guerras civis durante a década de 1990, foramseriamente contestadas muitas das suas reivindicações.

Malesevic diz que, em primeiro lugar, embora nos últimos tempos as guerras intra-estatais tenham sido mais freqüente do que inter-estatais , não existe qualquer relação causal entre os dois. Algumas guerras começam como guerras civis e, se bem sucedida para o lado oposto alegando independência, elas são rapidamente transformadas em guerras inter-estaduais, porém muitas guerras têm elementos de ambos, pois a maioria das guerras civis são combatidas com o apoio econômico, político e militar a partir de estados vizinhos e potências mundiais. Em segundo lugar, não existe qualquer fundamento empírico para a alegação de que os recentes conflitos são mais violentos, quer em termos de perdas humanas ou níveis de atrocidade. Como Lacina e Gleditsch (apud Malesevic, 2008) demonstram, tem havido um declínio significativo do número de mortes em combate em guerras recentes.

O autor afirma em seu texto que após a Segunda Guerra Mundial os conflitos atingiram o seu pico no início dos anos 50, com quase 700.000 mortes por ano, enquanto na década de 90 e no início deste século raramente assistimos guerras com mais de 100.000 baixas humanas. Malesevic ressalta a pesquisa feita por Melander, Oberg, e Hall (2007) e Sollenberg (2007) que mostra claramente, que na maioria das guerras recentes, como também tem sido o caso historicamente, a morte rácio de civis e militares raramente excede 50/50. No que diz respeito à intensidade das atrocidades , Melander et al. (apud Melesevi, 2008)calcula que "o pós-Guerra Fria era [é] muito menos cruel do que a Guerra Fria era." Embora tenha havido algum aumento no deslocamento da população durante o início da década de 90, a magnitude da violência contra civis é significativamente menor do que em períodos anteriores. Por exemplo, a guerra da Bósnia (1992-1995) é apontada como uma norma da nova guerra, onde as mortes de civis foram desproporcionais às dos militares. No entanto, como a recolha de dados mais recentes indicam (Tokaca, apud Malesevic, 2008) as perdas humanas não foram muito longe dos padrões rácio 50/50, com uma ligeira maioria das vítimas sobre a vertente militar, (59% vs 41%)

Em terceiro lugar, a singularidade da focalização deliberada de civis e o uso de táticas terroristas e de guerrilha também são questionadas. Newman (apud Malesevic, 2008) salienta que muito antes os conflitos civis, como os da Revolução Mexicana (1910-1920) e Estado Livre do Congo (1886-1908) eram exemplos típicos de guerras civis onde a violência imperava. Com a exceção do genocídio ruandês, as "novas guerras" nunca chegaram à enormidade de sangue de civis derramado como as registradas nos genocídios de Herreros, Nativos Americanos, armênios ou judeus no Holocausto. Do mesmo modo, não há nada de novo e excepcional na dependência de terror e ameaças de guerrilha, já que esta foi e continua a ser uma tática essencial de todas as guerras civis - antigas e novas.

Em resumo, Milasevic afirma que a investigação tem demonstrado deficiências graves no novo paradigma das novas guerras. E que os recentes conflitos não diferem significativamente da guerra convencional, em termos de perdas humanas ou do envolvimento racional de civis. No entanto, o que raramente têm sido contestadas ou exploradas são as causas macro-estruturais e as alegadas transformações do objetivo central das "novas" guerras.

SOCIOLOGIA DAS NOVAS GUERRAS

Uma das constatações feitas por Milasevic é que apesar da Guerra ser um assunto muito negligenciado pela investigação sociológica, surgiram mais teorias, conceitos e análises empíricas do que problematizar a natureza dos conflitos contemporâneos. Apresenta políticos sociólogos, como Martin Shaw (2002, 2003, 2005) e Mary Kaldor (2001, 2007) sociais e teóricos, como Zygmunt Bauman (2001, 2002a,b) que tenham estado na linha de frente do paradigma das novas guerras.

Para Zygmunt Bauman's (apud Milasevic, 2008) as "novas" guerras estão situadas no contexto de transição entre a estável, sólida e regulamentada modernidade, para uma não regulamentada e principalmente caótica "modernidade líquida." Em sua opinião, a modernidade foi construída sobre as idéias do Iluminismo de uma totalidade ordenada, favorecendo a eliminação de aleatoriedade e ambivalência, e privilegiando o compacto territorial da organização administrativa. Em contraste a isto, a modernidade liquida é extraterritorial, com a velocidade e a mobilidade do capital global dissolvendo fronteiras estatais como potência na mudança de estado-nação para corporações globais. Essa alteração estrutural gera duas formas distintas, mas profundamente interligadas de novas guerras: guerras globalizante onde as lutas acontecem à distância através de armas tecnologicamente avançadas, e da globalização, induzida por guerras conduzidas no vazio deixado pelo colapso das antigas estruturas estatais . Para Bauman o objetivo central para globalizar guerras se torna "a abolição da soberania do Estado ou a neutralização do seu potencial de resistência" para acomodar a integração e coordenação do fluxo acelerado dos mercados globais, enquanto que para a globalização, na guerra induzida o que se pretende é reativamente "reafirmar a perda de significado espaço11"

Martin Shaw (apud Milasevic, 2008) compartilha da opinião de que a globalização mudou a natureza da guerra para o bem. Ele também liga as duas formas de guerra, por vê-los, não como tipos separados, mas como produtos assimétricos da mesma tendência globalizante. Ele argumenta que estas novas guerras deixam de exigir exércitos de massas ou massa de mobilização. As novas guerras surgem como a lógica da proliferação nuclear enfraquecida "guerra - induzida" e de liberalização econômica, espalhados por todo o globo. Neste contexto, ele se concentra principalmente sobre a "nova maneira ocidental de guerra", quando a questão central é a transferência de risco. De acordo com Shaw, esta transferência de risco nas novas guerras são travadas pelos estados mais avançados tecnologicamente, como os Estados Unidos e Reino Unido.Da guerra das Falklands, para o Golfo, Kosovo, Afeganistão e no Iraque a dependência em relação a armas tecnologicamente sofisticadas contribui para criar a sistemática de transferência de riscos de políticos eleitos para o pessoal militar a partir deles e aos combatentes inimigos e os seus civis. O militarismo de novas guerras não exige mobilização popular direta, mas destina-se a adquirir indiretamente o apoio passivo através da mídia como um neutralizador da fiscalização eleitoral. Em sua opinião, os objetivos das novas guerras raramente são ideológicas ou políticas nacionalistas, mas são principalmente impulsionado e instrumental, "a guerra é justificada apenas como resposta a uma manifesta ameaça ", isto é, quando existem " percepções plausíveis de risco para os interesses, normas e valores ocidentais".

Para Mary Kaldor (apud Malesevic, 2008) a globalização é uma das principais causas das novas guerras. No seu entendimento a globalização das décadas de 80 e 90 é um fenômeno qualitativamente novo, que surgiu como "uma conseqüência da revolução nas tecnologias da informação e dramáticas melhorias na comunicação e de processamento de dados". Embora Kaldor parta da crença de que existem duas formas dominantes da nova guerra, o ponto focal de sua análise são guerras predatórias e não o que ela chama de "alta tecnologia de guerras americanas". Como pioneira desse paradigma Kaldor articula uma nova versão da tese segundo a qual a guerra em recentes conflitos violentos diferem em todos os aspectos da guerra convencional, a partir de sua estratégia, tática, métodos de combate, o aumento dos níveis de derramamento de sangue, aliada à crescente assimetria na rácio de baixas humanas civis e militares. Ela também enfatiza que as novas guerras são altamente descentralizadas, prosperaram sobre a disponibilidade de armas leves e baratas e são fortemente dependentes dos recursos financeiros externos como a diáspora e remessas internacionais de ajuda humanitária que muitas vezes ajudam a criar o novo reforço da economia da guerra globalizada. No entanto, o que é central para o seu argumento é a opinião de que as novas guerras são lutas por razões muito diferentes do que pérvios conflitos. Ela se coloca da seguinte forma: "As metas das novas guerras são acerca de identidade política, em contraste com a geo-política ou ideológica dos objetivos das guerras anteriormente". De acordo com Kaldor, "identidade política" difere da ideologia, pois faz reivindicações de poder com base em rótulos mutuamente exclusivos de grupos em vez de sistemas coerentes de idéias. Segundo Kaldor as novas guerras tendem em direção a expulsão da população civil: "o objetivo é controlar a população em se livrar de todas as pessoas de uma identidade diferente".

O PAPEL DAS NAÇÕES UNIDAS NA SOLUÇÃO DAS NOVAS GUERRAS

Diante do vácuo deixado pelas superpotências em intervir nos países que eram seus clientes, as Nações Unidas perceberam que aí seria a oportunidade que esperava para demonstrar sua eficácia na solução dos conflitos.

Em meados da década de 90, as forças militares disponibilizadas em operações de peacekeeping aumentaram de 10.000 para mais de 70.000. Assim como o orçamento anual para atividades dos "capacetes azuis", que disparou de 230 milhões de dólares, para 3.6 bilhões de dólares no mesmo período.Todavia, foi a partir de 1999 que se registrou uma grande quantidade de operações de paz, nomeadamente12:

-a UNAMET (UN Mission in East Timor) que monitorizou o referendo sobre a autonomia de Timor-Leste, 199;

-a UNMIK (UN Interim Administration Mission in Kosovo, 1999) missão encarregada de gerir a parte civil do peacebuilding naquela província:

-a UNTAET (UN Transition Autority in Esat Timor) que substituiu a INTERFET ( International Force for East Timor) que era liderada pelos Australianos;

-a MONUC (UN Organization Mission in the Democratic Republico f Congo, 2000) destinada a pacificar o país após a queda de Laurent Kabila e terminar a guerra civil, particularmente complexa, porque envolve grupos internos e a intervenção de vários países da zona;

-a UNAMSIL (UN Mission in Sierra Leone), para implementar o acordo de paz de Lomé, 1999;

-a UNMEE (UN Mission in Ethiopia and Eritrea, 2000) para pôr fim ao conflito fronteiriço entre a Etiópia e a Eritrea, que estalou em maio de 2000;

-a UNMISET (UN Mission of Support in East Timor, 2002) para assegurar a administração do Timor-Leste, exercendo a autoridade legislativa, executiva e da administração da justiça;

-a UN Mission in Côte d Ivoire (MINUCI,2003), para implementar o acordo de paz Linas-Marcoussi de fevereiro desse ano. A operação foi substituída em fevereiro de 2004 pela UM Operation in Côte d'Ivore (UNOCI);

-a UNMIL (UN Mission in Liberia, 2003) que presta assistência ao novo governo da Libéria após a demissão de Charles Taylor em Agosto de 2003;

va MINUSTAH (UN Stabilization Mission in Haiti), lançada em 2004 para manter a estabilidade no país no período entre a demissão do Presidente Jean-Bertrand Aristide e a realização de novas eleições em 2005;

-a ONUB (UN Operation in Burundi, 2004) destinada a ajudar à reconciliação nacional do país, á implementação do Acordo de Arusha de 2000 e a realização das eleições;

-a ONMIS (UN Mission in theSudan, 2005), para implementar o acordo de paz de 2005 entre o governo e o Sudan People's Liberation Army e prestar assistência aos civis em risco;

-a UNIOSIL (UN Integrated Office in Sierra Leone, 2006) seu objetivo foi o de ajudar o governo a reforçar as instituições do estado, consolidar as vertentes do estado de direito, Direitos Humanos, bem como os setores da segurança e desenvolvimento.

-A UNMIT (UN Integrated Mission in Timor-Leste) continua a obra das missões anteriores numa abordagem global que visa criar uma situação de estabilidade global no país, promover a democracia e a reconciliação nacional;

-A UNFIL ( UM Interim Force in Lebanon) a missão foi incumbida de monitorar a cessação das hostilidades, supervisionar o cessar-fogo e assistir a população, na seqüência da guerra em território libanês entre Hizbollah e Israel.

Portanto, não alheia as novas guerras, as Nações Unidas tem atualmente em funcionamento 18 operações de paz, envolvendo quase 98 mil efetivos, entre soldados, polícia e pessoal civil. Todavia, os chefes de estadomembros do Conselho de Segurança apelaram a uma organização mais eficaz das operações de paz13.

EM QUE MEDIDA SE PODE ELIMINAR A GUERRA

Para os Hobbesianos, um Leviatã global, poderia resolver a sobrevivência dos mandatários , através de um contrato social, em que desistissem de poderes, a favor de um governo mundial, em troca de proteção para si e para seus países14.

Este hipotético governo mundial poderia acabar com a rivalidade das grandes potências e com as guerras. Para Anderson, as Nações Unidas, por ser uma organização global, e ter como uma das suas principais responsabilidades a manutenção da paz, poderia agir como um Governo Mundial.Todavia, reconhece que desde a fundação da NU não se registra qualquer avanço em transformá-la em um governo mundial, por uma série de fatores que vão desde o fato de a organização não dispor de forças permanentes, até a dependência de sua eficácia à concordância das grandes potências15. Nesse sentido, Anderson vaticina: "Uma vez que a NU é o único organismo global decisório que as grandes potências conseguiram criar e apoiar, no que se refere à paz a aos assuntos de segurança, não parece existir qualquer prova, do "mundo real", de que um governo global seja praticável".

No entanto, autores como Chris Abbott, Paul Rogers e John Sloboda16 enumeram cinco recomendações de ordem geral que tornariam o mundo diferente e as próximas décadas mais seguras. São elas:

-Luta pelos recursos. Eficiência energética abrangente, com políticas e práticas de reciclagem, poupança e gestão dos recursos, juntamente com alocação de fundos abundantes para a criação de alternativas ao petróleo.

-Alterações climáticas.Criação de um imposto do carbono e rápida substituição das fontes de energia baseadas no carbono por fontes locais e diversificadas como base da futura produção de energia.

-Marginalização do mundo da maioria. Reforma dos sistemas de comercio mundial, auxílio e perdão de débitos para que a redução da pobreza se torne prioridade a nível mundial.

-Terrorismo internacional. Dar atenção às queixas políticas legítimas e às aspirações de grupos marginalizados, juntamente com operações policiais, dirigidas pelos serviços de contra terrorismo, tendo como alvo os grupos revolucionários violentos, além de se estabelecer diálogo, sempre que possível, com os líderes terroristas.

-Militarização global. Juntamente com as medida de prevenir a proliferação, os países que dispõem de armas nucleares devem dar passos ousados , visíveis e sólidos no sentido do desarmamento, ao mesmo tempo em que põem termo a certas iniciativas em curso, como a criaçãode novos sistemas de armas nucleares e biológicas.

Em conjunto, estes constituem os elementos de uma nova abordagem da questão, para aquilo que eles chamam de "segurança sustentável". Finalizam dizendo: "Como os governos têm demonstrado que, por si só, não conseguem enfrentar estes problemas de forma eficiente, é de desejar que a cooperação entre eles seja coordenada por uma Organização das Nações Unidas reformulada".

No dizer de Boniface17, " os atentados de 11 de setembro vieram provar que, nesta época de globalização, a invulnerabilidade já não existe". Que nestes tempos de mundialização, seria utópico esperar pela existência de um oásis de paz no seio de tão numerosos conflitos. Assevera que infelizmente, a guerra não desapareceu do panorama e que não será combatida unicamente com meios militares ou tecnológicos mas, antes, por meios políticos.Conclui dizendo que enquanto os estados existirem- e tiverem, assim interesses a defender e rivalidades a ultrapassar – o espectro da guerra nunca será completamente afastado. Quando os Estados enfraquecem ou são contestados surgem guerras civis inter-étnicas, ainda mais sangrentas. Arremata dizendo que " não há, pois solução senão a de atacar as verdadeiras raízes do mal: injustiça, ausência de democracia, desigualdades,etc."


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Asnovas guerras se notabilizam por uma violência sem igual, onde a barbárie é sua marca. Estas novíssimas guerras ocorrem majoritariamente em Estados colapsados. Os seus objetivos passam pelo controle do território e de recursos estratégicos, onde grupos em constante luta disputam com o Estado o monopólio do uso da força. No presente trabalho pode-se observar que as guerras tem sido palco de investigação, onde tem se buscado identificar as causas das "Novas guerras". Nesse sentido, várias são as formulações estudadas onde os pensadores da atualidade afirmam que uma das causas é a Globalização. Outros que uma das causas é o nacionalismo exacerbado. Existem autores que chegam a afirmar que as "novas guerras" não diferem em nada das antigas.

Particularmente, acredito que as causas da guerra passam por todos os autores na medida em que nenhum está com a verdade absoluta e cada um consegue captar um fragmento. Acredito também, de forma otimista, que enquanto tiver pessoas que compreendam que a vida é o bem maior do planeta e existirem governantes conscientes de que com suas atitudes podem construir um mundo melhor e mais humano, onde não impere as desigualdades, a pobreza, a ganância e hajademocracia, poderemos viver sem guerras, com a paz predominando em plenitude.

REFERÊNCIAS

LIVROS

ABBOTT, Chris; ROGERS, Paul;SLOBODA, John. As Ameaças do Mundo Actual: alterações climáticas, escassez de recursos naturais, marginalização, militarização e terrorismo.Portugal: Editorial Presença, 2007.

ANDERSON, J.Peter. Política Global do Poder, Justiça e Morte. Portugal: Instituto Piaget, 1996

BONIFACE, Pascal. Guerras do Amanhã.Portugal: Editorial Inquérito, 2003.

PINTO, Maria do Céu . As Nações Unidas e a Manutenção da Paz: e as actividades do peacekeeeping doutras organizações internacionais. Coimbra: Almedina, 2007.

MALESEVIC, Sinisa. The Sociology of New Wars? Assessing the Causes and Objectives of Contemporary Violent Conflicts,international political Sociology, 97 -112, 2008.

KALDOR, Mary. New and Old Wars: organized violence in a Global Era. Polity Press, 1999.

DOCUMENTOS DA INTERNET

GARCIA, Francisco Proença, "A Nova Conflitualidade", 30 de maio de 2009(em www.idjc.pt/artigos/A_NOVA_CONFLITUALIDADE.htm)

MURSHED, Mansoob, "Old and New Wars", Buletin nº26, 30 de maio de 2009(em www.bicc.de/uploads/pdf/publications/bulletin/bulletin26.pdf)

NOTAS

1PINTO, Maria do Céu, As Nações Unidas e a Manutenção da Paz: e as actividades do peacekeeeping doutras organizações internacionais. Coimbra: Almedina, 2007, p. 83)

2Ibid

3MURSHED, Mansoob, "Old and New Wars", Buletin nº26, 30 de maio de 2009(em www.bicc.de/uploads/pdf/publications/bulletin/bulletin26.pdf)

4Ibid

5GARCIA, Francisco Proença, "A NOVA CONFLITUALIDADE", 30 de maio de 2009(em www.idjc.pt/artigos/A_NOVA_CONFLITUALIDADE.htm)

6PINTO,op.cit., p.87

7PINTO,op.cit., p.88

8GARCIA,op.cit.

9PINTO,op.cit., p.89

10MALESEVIC,Sinisa, The Sociology of New Wars? Assessing the Causes and Objectives of Contemporary Violent Conflicts

11Ibid

12PINTO,op.cit., p.90-91

13Ibid

14ANDERSON, J.Peter. Política Global do Poder, Justiça e Morte. Portugal: Instituto Piaget, 1996, p. 292

15ANDERSON,op.cit., p.293

16ABBOTT, Chris; ROGERS, Paul;SLOBODA, John. As Ameaças do Mundo Actual:alterações climáticas, escassez de recursos naturais, marginalização, militarização e terrorismo.Portugal: Editorial Presença, 2007, p.88-89

17BONIFACE, Pascal. Guerras do Amanhã.Portugal: Editorial Inquérito, 2003, p.13