ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA PIO DÉCIMO

FACULDADE PIO DÉCIMO

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”

ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

A NATUREZA DA LÍNGUA DE SINAIS

*Mara Rúbia Andrade Carvalho       

                                                 ORIENTADORA: 

                                                  ANA AZEVEDO

ARACAJU/SE

2011

ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA PIO DÉCIMO

FACULDADE PIO DÉCIMO

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”

ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

                                A NATUREZA DA LÍNGUA DE SINAIS

Artigo apresentado à Faculdade Pio Décimo como um dos pré-requisitos para obtenção do título de Especialista em Libras Com Educação Inclusiva  

                                                                  ARACAJU/SE

2011 

A NATUREZA DA LÍNGUA DE SINAIS

*Mara Rúbia Andrade Carvalho

RESUMO

O presente artigo pretende tecer uma discussão sobre a importância da língua de sinais, enfatizando a necessidade da compreensão dos ouvintes quanto a sua natureza, ou seja, por que é importante, de que forma sua compreensão pode ajudar na formação de alunos com surdez.

As pessoas com surdez não podem ser reduzidas ao chamado mundo surdo, com uma identidade e uma cultura surda. É no descentramento identitário que podemos conceber cada pessoa com surdez como um ser biopsicossocial, cognitivo, cultural, não somente na constituição de sua subjetividade, mas também na forma de aquisição e produção de conhecimentos, capazes de adquirirem e desenvolverem não somente os processos visuais-gestuais, mas também a leitura e escrita, e de fala se desejarem.

Diante dessa concepção torna-se urgente repensar a educação escolar dos alunos com surdez, tirando o foco do confronto do uso desta ou daquela língua e buscar redimensionar a discussão acerca do fracasso escolar, situando-o no debate atual acerca da qualidade da educação escolar e das práticas pedagógicas.

 È preciso construir um campo de comunicação e de interação amplos, possibilitando que a língua de sinais e a língua portuguesa, preferencialmente a escrita, tenham lugares de destaque na escolarização dos alunos com surdez, mas que não seja o centro de todo processo escolar.

 

 

Palavras-chave: Língua de Sinais, Inclusão, Educação Escolar, Surdez, Práticas Pedagógicas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Formada em Pedagogia pela Faculdade Vale do Acaraú (UVA)

Instrutora de Libras da Faculdade FAMA no curso de Libras

E-mail:[email protected]

 

 

 

 

THE NATURE OF LANGUAGE OF SIGNS

* Mara Rúbia Andrade Carvalho

 




SUMMARY


This article aims to weave a discussion about the importance of sign language, emphasizing the need for understanding of the listeners as to nature, that is why it is important, how their understanding can help in the education of students with deafness.
People with hearing loss can not be reduced to the call deaf world, with an identity and a deaf culture. It is the decentralization of identity that we can conceive of each person to be deaf as a biopsychosocial, cognitive, cultural, not only in the constitution of their subjectivity, but also in the form of acquisition and production of knowledge, able to purchase and develop not only the visual process-gestures, but also reading and writing, and speech if they wish.
Given this conception becomes urgent to rethink the school education of deaf students, taking the focus of the confrontation of the use of a particular language and look resize the discussion of school failure, placing it in the current debate about the quality of school education and pedagogical practices.
  It is necessary to build a field of extensive communication and interaction, enabling sign language and Portuguese language, preferably written, have prominent places in the education of deaf students, but that is not the center of the whole school process.

 



Keywords: sign language, Inclusion, School Education, Deafness, Pedagogical Practices

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A NATUREZA DA LINGUAGEM DE SINAIS

 

 

 

“Penso que o mundo é um acorde imenso de imensas geografias e diferenças. Nenhum homem é igual a outro homem. E só por esse mistério a vida já vale à pena”. (MURRAY, 1997, p.23) 

 

 

1.0              Introdução

 

       A escolha desta temática fundamenta-se na importância de entender sobre o processo de inclusão do aluno surdo da educação básica na rede regular.Uma vez que a Política Educacional vigente, cujo princípio básico é “Educação para todos”, tem como uma de suas metas principais a inclusão, preferencialmente, no ensino regular, de alunos com necessidades educacionais especiais independentemente de suas especificidades. Sendo assim, as escolas do ensino regular têm recebido estes alunos; contudo, há várias discussões, dúvidas e equívocos no que diz respeito à organização destes espaços, quesito fundamental para que o sujeito nele inserido seja estimulado a desenvolver suas competências, reconhecer suas potencialidades garantindo sua cidadania.

 

       Neste trabalho abordaremos sobre a surdez e a importância da linguagem; discorreremos sobre a educação dos surdos e a legislação referente à inclusão do mesmo.

 

       Historicamente a surdez tem sido considerada como uma enfermidade que deve ser curada. Esta forma inapropriada de se considerar a pessoa surda, levou ao desenvolvimento de métodos educativos que não levam em conta as variáveis decorrentes da surdez.


      De acordo com Fernandes (1990), o significado social da surdez está ligado à ausência da linguagem comum à maioria, mas não se pode negar as características próprias da pessoa surda sob o risco de negá-lo recursos de inclusão educacional e social.

 

       Segundo Finau (apud QUADROS, 2007, p.218 e 219) A linguagem é um dos principais meios pelos quais o homem adquire conhecimento de mundo, fator que tem participação definitiva na organização da própria linguagem. Por isso, hoje, os estudos de aquisição de linguagem por pessoas surdas realçam a idéia de que toda criança surda deveria crescer em um ambiente bilíngüe. Tal concepção sugere o uso tanto da língua de sinais quanto da oral (em sua modalidade escrita e quando possível em sua modalidade falada), pois os estudos indicam que, deste modo, as crianças conseguiriam desenvolver melhor suas capacidades cognitivas, lingüísticas e sociais. 

 

       Devido à constituição de seus cérebros, os seres humanos têm uma capacidade inata de adquirir linguagem, seja a fala, seja o Sinal. A aquisição do Sinal, da fala, ou de ambos depende do intercâmbio com as pessoas à volta, do ouvir a sua fala, ou do assistir ao seu Sinal. Se aos cinco ou seis anos a criança já tiver desenvolvido a fluência em linguagem quer seja a fala ou o sinal - ela pode esperar ter uma vida rica de comunicação e de intercambio comunitário, e desenvolver fluência em leitura e escrita. Mas se ela não tiver tido a oportunidade de desenvolver linguagem a essa altura, ela pode esperar ter uma vida de restrições e empobrecimento cultural, e de incapacidade de ler e escrever.

 

 

Naturalmente, para as pessoas que nascem surdas, é muito mais fácil adquirir uma linguagem visual como sua primeira língua; e, dada uma firme fundação nessa linguagem, elas podem aprender a ler e escrever e, talvez, ou seja, a tornarem-se bilíngües e bi culturais, o que é o ideal para elas. (SACKS IN CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001)

 

 

       Conforme Capovilla e Raphael (2001, p.1479 e 1480) O valor fundamental da linguagem reside na comunicação social, nas quais as pessoas fazem-se entender umas pelas outras, compartilham experiências emocionais e intelectuais, e planejam a condução de suas vidas e de sua comunidade.

 

       A linguagem permite comunicação ilimitada acerca de todos os aspectos da realidade, concretos e abstratos, presentes e ausentes. Possibilitando reinventar o mundo cultural, para além da experiência física direta do aqui e o agora. Devido à linguagem, a criança pode compreender o mundo, beneficiando-se da experiência vicária para além da mera imitação e observação e inferência direta. Podendo se socializar, adquirindo valores, regras e normas sociais e, assim, aprender a viver em comunidade. 

 

       Se o papel da linguagem humana é proporcionar ao indivíduo meios para estruturar seu pensamento transformando a si e seu entorno, deve-se considerar para tal toda e qualquer possibilidade para que a transformação aconteça. 

 

       Vale esclarecer que para o surdo, já que a modalidade oral-auditiva nem sempre suprirá suas necessidades de comunicação, a língua portuguesa será entendida como L2 e a língua gestual-visual como língua materna ou L1.

         Chama-se língua materna a primeira língua aprendida por um sujeito, em contato com o ambiente familiar imediato. No Brasil, a nossa língua materna é o português, língua falada por nossos familiares mais próximos e também pela nossa comunidade em geral. (COSTA 2003)

 

        O desenvolvimento cognitivo, afetivo, sócio cultural e acadêmico das crianças surdas não depende necessariamente da audição, mas sim do desenvolvimento espontâneo da sua língua. A Língua de Sinais propicia o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da criança Surda, facilita o processo de aprendizagem de línguas orais, serve de apoio para a leitura e compreensão de textos escritos e favorece a produção escrita.

 

 

       O objetivo desse trabalho é, portanto, mostrar que a pessoa com surdez precisa desenvolver de forma abrangente a sua língua materna, ou seja, a linguagem de sinais, proporcionando assim maior desenvoltura e capacidade de interagir com outras pessoas dentro do sistema que chamamos de inclusão

 

 

2.0 – O PAPEL DA LEITURA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PELO SURDO

 

 

 

        Atualmente, a leitura é uma estratégia muito utilizada no ensino de segunda língua, pois, conforme Quadros (1997), sua compreensão pode favorecer o aprendizado de uma língua de forma rápida e eficiente. 

 

       As atividades de leitura e de produção de um texto implicam-se mutuamente no ensino de uma língua. Se, na pedagogia de língua materna, o ato de produzir passa necessariamente pelo de receber informações de naturezas diversas (lingüística, sociocultural etc.) por meio da leitura, no ensino de segunda língua tal processo é de fundamental importância.  (SALLES, 2007, p. 18) 

 

       De acordo com Garcez (2001 apud SALLES, 2007), a leitura é um processo complexo e abrangente que permite decodificar signos, compreender o mundo, fazendo um esforço rigoroso ao cérebro, trabalhando a memória e a emoção. Ao ler, o sujeito além de lidar com a capacidade simbólica da palavra, lida também com a habilidade de interação oferecida pela mesma, envolvendo elementos específicos da linguagem e da experiência de vida dos indivíduos, como: signos, frases, sentenças, argumentos, provas formais e informais, objetivos, intenções, ações e motivações.

 

       Para que a leitura seja eficaz, fazem-se necessários alguns critérios: decodificação de signos; seleção e hierarquização de idéias; associação com

informações anteriores; antecipação de informações; elaboração de hipóteses; construção de inferências; construção de pressupostos; controle de velocidade; focalização da atenção; avaliação do processo realizado; reorientação dos próprios procedimentos mentais. Tais critérios serão aprimorados mediante uma ação pedagógica direcionada a este fim, que certamente terá o hábito da leitura inserido neste processo.

 

       Além da leitura, outro instrumento de extrema importância para a aprendizagem da língua portuguesa pelo surdo é a Língua Brasileira de Sinais. Vários autores são harmônicos sem reconhecerem tal importância, bem como em apresentarem argumentos relevantes para esse reconhecimento, como, por exemplo: Quadros (1997), Almeida (2000), Peixoto (2006) e Salles (2007).

 

       O desenvolvimento na aprendizagem de uma segunda língua está intimamente ligado ao nível de proficiência que o aprendiz possui na sua primeira língua. No caso específico do surdo, o desenvolvimento na aprendizagem da língua portuguesa dependerá da performance adquirida em Língua Brasileira de Sinais, pois é por meio desta que será feita primeiramente a leitura do mundo para posteriormente fazer a leitura da palavra em língua portuguesa, promovendo e facilitando o acesso à escrita.

 

       Diferentemente do português do Brasil, em LIBRAS, a categoria das preposições possui número bastante reduzido de elementos. Sabemos que as preposições é uma categoria de palavra que estabelece alterações variadas relações semântica no português, contudo em LS essas relações se estabelecem por meio de mecanismo espaciais. Por isso, um pressuposto metodológico proposto é que se apresente seu trabalho com contextos de concorrência e usada usos das preposições, ou seja, a partir sempre de contextualizações.


       Uma conclusão que podemos extrair diante do que já foi pontuado, é que uma das dificuldades que o surdo tem apresentado na sua produção textual em português é precisamente a de fazer as ligações entre palavras, segmentos, orações, períodos e parágrafos, ou seja, a de organizar seqüencialmente o pensamento em cadeias coesivas na LP. Isso não quer dizer que seus textos são incoerentes, uma vez que a coesão diz respeito à forma e a coerência a característica semântico-lógica.

 

 "Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional". (PCNs. 1997, p. 23)

 


       Pesquisas revelam que textos preparados por surdos usuários das LIBRAS, apesar de que apresentam alguns problemas na forma, não têm violado o principio de coerência: os surdos conseguem expressar de modo inteligível suas idéias.

 

      As línguas de sinais são línguas naturais e complexas que utilizam o canal visual-espacial, articulação das mãos, expressões faciais e do corpo, para estabelecer sua estrutura. Todas as línguas são independentes umas das outras e as línguas de sinais possuem estruturas gramaticais próprias, composta de aspectos lingüístico: fonológico, morfológico, sintático e semântico-pragmático.As línguas de sinais , assim como as línguas orais,possibilitam aos seus usuários discutir, avaliar e relacionar temas relativos a qualquer ramo da ciência ou contexto científico.

 

 

   

 

 

2.1 - OS SURDOS: PRECONCEITO E OBSTÁCULOS

 

 

       As pessoas com deficiência têm, desde sempre, convivido com a confusão entre

o que realmente são, pessoas humanas, e o que se pensa que elas são: “deficientes”. Corrobora para a perpetuação dessa “confusão” a visão social construída historicamente em torno da deficiência como sinônimo de doença, de dependência, de “indivíduos sem valor”, de sofrimento, de objeto de purgação dos males cometidos por seus pais, entre outras. Tais visões estereotipadas sempre marginalizaram as pessoas com deficiência e, por vezes, nutriram nelas a crença descabida de que são incapazes.

 

 

    “Não é a distinção física ou sensorial que determina a humanização ou desumanização do homem. Suas limitações ou ilimitações são determinadas social e historicamente”.  (BIANCHETTI e FREIRE, 2004, p. 66).

 

 

 



       Aqui no Brasil, se no discurso da inclusão, a criança surda somente tiver acesso a língua portuguesa e se, juntamente com crianças ouvintes, esta tiver de se expressar e receber instrução somente em língua portuguesa, seus direitos linguísticos estarão sendo violados, já que estará implicitamente sendo proibido o ensino e o receber instrução da língua com a ser uma exclusão que camufla um preconceito: esta criança tem que fingir que é ouvinte, igual às outras para não ser estigmatizadas de deficiente; mas, na verdade, a sociedade é que esta a tornando deficiente, não dando condições diferenciadas para que ela possa se mostrar igual linguística e intelectualmente.


       Nessa acepção, é oportuna uma reflexão a importância da língua. É claro que a LS estigmatiza como surda, pois se estiver calada passaria despercebida, mas falando é identificada como surda, causando piedade, curiosidade, desrespeito e até constrangimento para os que estão a as volta.

 


       Em algumas décadas passadas, hoje não tão acirradamente, era melhor fingir que a pessoa surda era pouco participativa, não tinha posicionamento crítico, quando na verdade ela não estava assimilada as informações passadas oralmente. Era muito mais fácil para o ouvinte negar a beleza de ver uma pessoa surda brincando, posicionando-se, enfim comunicando-se em língua de sinais, do que aceitar uma língua que utilizava outro canal para a transmissão de idéias, sentimentos e leitura do mundo.

 

 
       Embora a língua de sinais seja alvo de alguns preconceitos, existe um documento aprovado numa Assembleia Geral da Federação Internacional de Professores de Línguas Vivas, onde se registraram princípios fundamentais para uma declaração universal dos direitos linguísticos, os quais enquadram a comunidade surda. Os direitos garantidos são:



1. Toda pessoa tem o direito de aprender uma ou várias línguas.


2. Toda pessoa tem o direito de se identificar com qualquer língua e de ter sua opção linguística respeitada por todas as instituições públicas e privada.


3. Toda pessoa tem o direito de ouvir, falar, ler e escrever em qualquer língua.


4. Toda pessoa tem o direito de se expressar em qualquer língua.


5. Toda pessoa tem o direito de receber educação linguística especial, caso tenha

algum distúrbio de linguagem.


6. O ensino de nenhuma língua pode ser proibido.


7. Toda pessoa tem o direito de receber instrução na língua ou nas línguas com as quais essa pessoa e sua família mais se identifiquem, no ensino público, na comunidade ou em seu contexto familiar.


8. Toda pessoa tem o direito de ser ensinada na língua oficial ou nas línguas oficiais do Estado, da nação ou da região onde essa pessoa reside.


9. Toda pessoa tem o direito de, no contexto educacional público, aprender outra língua a fim de ampliar seus horizontes sociais, culturais, educacionais e promover a compreensão intercultural.


10. Toda e qualquer pessoa poderá gozar destes direitos. Medidas devem ser tomadas para assegurar esses direitos às pessoas que ainda não usufruem dos mesmos, através do ensino de natureza comunitária, supletivo, da educação de adultos ou educação universitária. (SOUZA, 1997, p. 41).



       Quando a pessoa identifica-se e encontra pessoa que compartilha a mesma dificuldade e consequentemente encontra sua língua, esse fingimento e essa resistência da sociedade são vencidos. A partir desse movimento, o surdo vai à busca do tempo perdido mostrando o que é ser surdo e a importância de ter uma língua, com a qual ele passa a aprender e a apreender o mundo porque todo surdo quer saber ler e escrever e expressar-se em uma língua oral-auditiva, mas ser livre para fazer a escolha.


       Durantes anos, houve uma luta pela oficialização da língua de sinais brasileira a nível municipal, estadual e federal por parte dos surdos de todo Brasil. Para eles, essa oficialização significa a conquista de sua cidadania, de seus direitos e o recebimento de um ensino em LIBRAS favorecendo o domínio e a aprendizagem eficaz em língua portuguesa.


        A FENEIS (Federação Nacional de Educação dos Surdos ) tem empenhado seus esforços na divulgação e no respeito da LIBRAS, preocupando-se coma capacitação de recursos humanos para o ensino dessa língua, que representa a identidade e a cultura surda brasileira.

 

       Segundo dado da Federação desde 1991 tramitava no Congresso Nacional um Projeto-Lei para o reconhecimento da LIBRAS, em âmbito Nacional, como língua da comunidade surdas brasileiras e, somente, em abril de 2002, conseguiram que esse projeto fosse aprovado, embora muitos estados e municípios já tivessem tido seus Projetos-Lei para oficialização da LIBRAS aprovados em âmbito estaduais e municípios.

 

       Uma deficiência é, muitas vezes, detectável de imediato. Em decorrência dessa percepção, as pessoas sem deficiência podem apresentar atitudes traduzidas em curiosidade, crença na inferioridade, fragilidade e dependência da pessoa com deficiência ou mesmo de repulsa a essa pessoa.

 

       As barreiras atitudinais, porém, nem sempre são intencionais ou percebidas. Por assim dizer, o maior problema das barreiras atitudinais está em não as removermos, assim que são detectadas. Exemplos de algumas dessas barreiras atitudinais são a utilização de rótulos, de adjetivações, de substantivação da pessoa com deficiência como um todo deficiente, entre outras.

 

 

 

 

      Também constituem barreiras atitudinais na escola (ou em outros espaços sociais) aquelas que se apresentam na forma de:

 

  • Ignorância: desconhecer a potencialidade do aluno com deficiência.

 

 

  • Medo: ter receio de receber a um aluno com deficiência, ou mesmo a outro profissional da Educação que apresente alguma deficiência; temer em “fazer ou dizer a coisa errada” em torno de alguém com uma deficiência.

 

  • Rejeição: recusar-se a interagir com a pessoa com deficiência, um aluno, familiares deste ou outro operador da educação.

 

  • Percepção de menos-valia: avaliação depreciativa da capacidade, sentimento de que o aluno com deficiência não poderá ou só poderá em parte.

 

  • Inferioridade: acreditar que o aluno com deficiência não acompanhará os demais. Isso é incorrer num grave engano, pois todas as pessoas apresentam ritmos de aprendizagem diferentes. Assim sendo, ninguém acompanha ninguém; cada um faz seu percurso singularmente, mesmo à proposta docente sendo coletiva e una.

 

 

 

 

3.0- ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA PESSOAS COM SURDEZ

 

 

 

        A Educação Especial, no contexto da nova Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, é definida como uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades de educação.

 

       Nas diretrizes desta política é possível visualizar o grande enfoque destinado ao

atendimento educacional especializado (AEE) cabendo à educação especial realizá-lo, utilizar serviços e recursos próprios desse atendimento e orientar alunos e professores quanto à utilização destes serviços e recursos em sala de aula (BRASIL, 2008).

 

       O atendimento educacional especializado, no contexto da nova política, acaba por se configurar como espaço privilegiado da educação especial e de responsabilidade da mesma. Destaca-se o caráter complementar e suplementar deste atendimento (e não mais substitutivo), a natureza das atividades que se diferenciam das realizadas em sala de aula e a articulação deste atendimento com a proposta pedagógica do ensino comum.

 

 

 

O atendimento educacional especializado identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela.(...) Ao longo de todo o processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. (BRASIL, 2008, p. 16)

 

 

        Além disso, é importante enfatizar a obrigatoriedade da oferta do AEE pelas redes de ensino, em turno inverso ao que o aluno frequenta a classe comum, preferencialmente na própria escola em que está matriculado ou em centros especializados que realizem o atendimento educacional.

 


       Respaldados pelos novos paradigmas inclusivos, as pessoas com surdez têm conquistado atualmente direitos fundamentais que promovem a sua inclusão social. O reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – Libras, em abril de 2002, e sua recente regulamentação, conforme o decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, legitimam a atuação e a formação profissional de tradutores e intérpretes de Libras e Língua Portuguesa.

 

       Garante ainda a obrigatoriedade do ensino de Libras na educação básica e no ensino superior - cursos de licenciatura e de Fonoaudiologia e regulamenta a formação de professores da Libras, o que abre um amplo espaço, nunca antes alcançado, para a discussão sobre a educação das pessoas com surdez, suas formas de ocorrência e socialização.


       Segundo Damázio (2007), no trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comuns, em um ambiente bilíngue, é indicado um período adicional de horas diárias de estudo para a execução do AEE (Atendimento Educacional Especializado). A autora afirma que neste atendimento destacam-se três momentos didático-pedagógicos:

 


• AEE em Libras, em que todos os conhecimentos dos conteúdos curriculares, são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo.


• AEE de Libras, no qual os alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo);


• AEE para o ensino da Língua Portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez. Este trabalho é realizado todos os dias para os alunos com surdez, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de Língua Portuguesa, graduada nesta área, referencialmente.

 

 

 

 

       Damázio (2007), ainda destaca que o planejamento AEE deve ser elaborado e desenvolvido conjuntamente pelos professores que ministram aulas em Libras, professor de classe comum e professor de Língua Portuguesa para pessoas com surdez.

 

      Os professores envolvidos no planejamento também selecionam e elaboram os recursos didáticos para o AEE em Libras e em Língua Portuguesa, respeitando as diferenças entre os alunos com surdez e os momentos didático-pedagógicos em que serão utilizados. Desta forma, percebe-se a importância da professora da classe comum ter um mínimo de conhecimento sobre as especificidades da pessoa surda e de sua língua.


     Embora a inclusão seja o paradigma mais atual na área da educação das pessoas com deficiência e esta discussão já estar em pauta a mais de 15 anos, muitos profissionais da educação ainda apresentam uma visão distorcida sobre as pessoas com deficiência, especialmente sobre as pessoas com surdez. O principal motivo desta distorção é a falta de preparo e de conhecimento que acaba por promover a segregação das pessoas com deficiência principalmente do âmbito escolar.

 

     O AEE para alunos com surdez, na perspectiva inclusiva, estabelece como ponto de partida a compreensão e o reconhecimento do potencial e das capacidades dessas pessoas, vislumbrando o seu pleno desenvolvimento e aprendizagem. O atendimento as necessidades educacionais específicas desses alunos e reconhecido e assegurado por dispositivos legais, que determinam o direito a uma educação bilíngue, em todo o processo educativo.

 

     Esse programa deve ser visto como uma construção e reconstrução de experiências e vivências conceituais, em que a organização do conteúdo curricular não deve estar pautada numa visão linear, hierarquizada e fragmentada do conhecimento. O conhecimento deve ser compreendido como uma teia de relações, na qual as informações se processam como instrumento de interlocutor e de diálogo.

 

     O AEE em libras fornece a base conceitual dos conteúdos curriculares desenvolvidos na sala de aula. Esse atendimento contribui para que o aluno com surdez participem das aulas, compreendendo o que é tratado pelo professor e interagindo com os colegas.

 

     A escola tem uma contribuição muito importante na inclusão da pessoa com surdez na sociedade e, nesse sentido, o aprendizado do Português escrito tem a sua parte, por ser mais um instrumento que essa pessoa terá para se integrar a sociedade. O ensino do Português escrito não restringe à alfabetização das pessoas com surdez, portanto, todos os níveis de letramento, desde o início do aprendizado até o ensino superior precisam ser desenvolvidos, e, nesse sentido, o AEE para o ensino da língua portuguesa escrita é indispensável.

 

   

 

 

 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

 

O fracasso do processo educativo das pessoas com surdez é um problema resultado das concepções pedagógicas de educação escolar adotada pela escola e de suas práticas. O foco do trabalho deve ser a transformação das suas práticas pedagógicas excludentes em inclusivas,pois se compreende o homem como um ser dialógico, transformacional,incluso, reflexivo, síntese de múltiplas determinações num conjunto de relações sociais, com capacidade de idealizar e de criar.

 

Por isso defendo a reinvenção das práticas pedagógicas na perspectiva de educação escolar inclusiva para pessoas com surdez, visando proporcionar a essas pessoas a oportunidade de aquisição de habilidades para a vida em comunidade, ou seja, como atuar e interagir com seus pares no mundo,considerando o contraditório,o ambíguo, o complexo e o diferente e suas consequências.

 

Tendo vivenciado o problema da exclusão e do preconceito,pois além de ser surda, meus irmãos mais novos também o são, procuro meios de minimizar essa problemática no dia-a-dia dos meus alunos, buscando ser exemplo vivo de superação.

 

Cada vez que mim deparo com dificuldades ou preconceito (e que são muitos) lembro de uma frase dita por Platão e Aristóteles ao observar um surdo: “Não sabe falar, não sabe ouvir: és louco!”. Então penso que eles foram muito infelizes, até porque se o próprio Platão disse  “Eu só sei que nada sei “ reforça a hipótese que a deficiência, seja ela qual for está na cabeça dos incapazes de lutar.

 

Mediante todas as questões apresentadas, é primordial valorizar as diferenças humanas e aprender  com o diferente, não pela diferença que a suas limitações lhes impõem, mas pela singularidade de sermos diferentes enquanto condição humana que é intrínseca a cada um. O respeito e o oferecimento do atendimento educacional especializado para pessoas com surdez é direito do aluno com surdez e como tal deve se questionado, pois é a aceitação de sua diferença que assegurará a sua aprendizagem.

 

 

 


" No mundo há muitas línguas diferentes, mas cada uma tem seu sentido. Porém, se eu não entendo a língua que alguém está falando, então quem fala é estrangeiro para mim e eu sou estrangeiro para ele. ( Primeira carta de São Paulo aos Coríntios)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                            AGRADECIMENTO

 

 

 

       Agradeço primeiro a Deus por sua infinita bondade, por mim fazer entender que nada na vida é castigo e sim que tudo na vida é amor, desde que a gente consiga ver, ouvir e falar com as mãos, os olhos, a face e principalmente com o coração!

       Sou surda, meus dois irmãos são surdos e minha mãe é um anjo enviado por Deus, uma guerreira que nos mostrou a vida toda e apesar de tudo, que nós não éramos diferentes de ninguém, que Deus nos fez especial para que pudéssemos mostrar ao mundo que deficiente é a cabeça e o coração de algumas pessoas.

       Vejo nos meus alunos e amigos surdos pequenas bênçãos e mim empenho em lhes mostrar o quanto são capazes de fazer, e o faço com o instrumento mais importante do meu corpo, “minhas mãos”.

       Algumas pessoas “deficientes” mim acham louca, outras zombam de mim, outras disfarçadamente criticam, e enquanto isso, eu vivo, sou feliz e estou realizada.

       Ver meus irmãos se firmarem como profissionais competentes (ambos são instrutores de libras), mim faz chorar de emoção, pois quando ainda crianças choravam ao serem discriminados lhes prometi que eu iria crescer estudar e ser professora de surdos. Hoje, cumprida a promessa, os vejo fazendo parte do meu sonho, mim ajudando a fazer nossos amigos e alunos com surdez sorrir, viver, crescer e serem felizes.

Faço desse agradecimento um desabafo, mas também deixo aqui uma declaração de amor incondicional a eles que foram e são a minha força maior, o incentivo constante para que eu seguisse adiante apesar de tudo e de todos. As minhas vitórias são dedicadas a vocês: RÚBIO E VÂNIA , meus amores, meus anjos, minha vida!

     A você mãe, agradecer é pouco, por isso essa pequena frase dirá tudo e muito mais: Obrigada minha rainha guerreira, nós te amamos de paixão! 

     Ao meu amor direi somente: obrigado Fernando, por acreditar em mim e por mim fazer a mulher mais feliz do mundo, você é essencial em minha vida.

     Vitória e Verenna, pedacinhos do meu coração, presentes maior de Deus, tudo e mais um pouco da minha vida é somente para vocês e por vocês. Obrigada por fazer de mim a mãe mais feliz do universo.

     Ademais, agradeço a todos e a cada um que fizeram possíveis a minha caminhada e que de uma forma ou de outra contribuíram com mais essa vitória!

     Parafraseando o grande estudioso Platão digo: “ Só sei que nada sei”, mas tenho certeza que estarei sempre buscando aprender mais.

 

Obrigada,                 

 

Mara Rúbia

      

 

 

 

 

 

 

 

 


                                            REFERÊNCIAS



ABREU, A C. Língua Brasileira de Sinais: Uma conquista histórica. Senado Federal - Brasília. 2006, p. 5 – 10.

 

ALVEZ, Carla Barbosa. A educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar:Abordagem bilíngüe na escolarização de pessoas com Surdez. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial: (Fortaleza) universidade Federal do Ceará. 2010

 

BIANCHETTI, Lucidio e FREIRE, Ida Mara (orgs). Um olhar sobre a diferença:

Interação, trabalho e cidadania. 6ª ed. São Paulo: Papirus, 2004

BRASIL. Carta para o terceiro milênio. Obtida via Internet.

BRASIL, Ministério da Educação – Secretaria de Educação Especial (SEESP). Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC, 2008.

http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/carta_milenio.pdf

CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D.; Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira. 2 ed. São Paulo, Edusp. p. 1479 – 1487. Vol. 1. 2001.

COSTA, D.A.F.; Fracasso escolar: diferença ou deficiência?, obtida via internet.

http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrid=84

CHRISTO; C.A.L;[FREI BETO] Ser criança é uma arte. Obtida via internet.
http://br.geocities.com/mcrost10/index.htm.

 

DAMÁZIO, Mirlene F. M. Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com surdez. Curitiba: Cromos, 2007.


FELIPE, T.A.; Libras em contexto. 8 ed. Rio de Janeiro, Wal Print Gráfica e Editora. 2007. p.45 – 82.


FERNANDES, E. Problemas Lingüísticos e Cognitivos do Surdo. Agir. 1990
SANCHES, C. La educacion de los sordos en um modelo bilíngüe. Lakonia. Venezuela. 1991.


LIMA, D.M.C.A; Educação infantil: saberes e praticas da inclusão. 4ª ed. Secretaria de Estado da Educação. Brasília, 2006.

MANTOAN, M.T.E.; Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. Obtida via internet.

MAZZOTA, M. J. S; III Congresso ibero americano de educação especial: Desafio para um novo milênio. Foz do Iguaçu: 1998.
MURRAY, R. Paisagens. Belo Horizonte, Lê, 1997, p 23.

PAULA, L.S.; Leitura escrita letramento: que espaço ocupam na educação infantil. Revista Editorial Espaço Aberto, 2004.


QUADROS, R. M.; SCHMILD, M.L.P.; Idéias para ensinar português para alunos surdos. Brasília, p. 120, 2006.


SÁ, N.R.L.; Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, p. 388, 2002.

SALLES, H. M. M. L.; Ensino de língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. V.1, 2002.

 

SANCHES, C. La educacion de los sordos en um modelo bilíngüe. Lakonia. Venezuela. 1991.

__________. IV CONGRESSO INTERNACIONAL E X SEMINÁRIO NACIONAL DO INES. Surdez e universo educacional. Rio de Janeiro. 2005.

__________. CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA. GUATEMALA, 1999.

__________. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília; CORDE, 1994.

___________.DIRETRIZES NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA. Brasília, 2001.

__________. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos–Caminhos para a Pratica Pedagógica. V. 1, Ministério da educação – Secretaria de Educação especial 2002, p. 67

__________. Língua Brasileira de Sinais: Uma conquista histórica. Senado Federal - Brasília. 2006, p. 5 – 10.


__________. Projeto escola viva. - Garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na Escola – Alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação EspeciaL, p.9

__________. Saberes e práticas da inclusão. Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. 2ª ed., Brasília, 2006, p. 116.

__________. Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial - Área da Deficiência Auditiva - Secretaria de Educação Especial. Brasília. 1995.

http://wwwlibras.blogspot.com