A MUDANÇA NATURAL PELO HOMEM NATURAL
Publicado em 09 de novembro de 2009 por Juliani Ferreira
Ciclones,
dilúvios, epidemias, erosões, erupções vulcânicas, incêndios florestais por
relâmpagos, meteoros, terremotos, etc... Tudo habilmente realizado pela própria
natureza para fins de contenção seja da temperatura, do ajuste de placas
tectônicas ou reformulação do ecossistema de uma localidade. Os especialistas
poderiam explicar melhor do que ninguém as causas e conseqüências dos chamados
desastres naturais, que são interpretados pela maioria segundo a visão
maniqueísta de bem/mal. Entretanto, para a natureza obviamente não há critérios
morais de certo ou errado, tal como Emerson definira, ela simplesmente “é”.
Seria interessante suprimir o termo desastre pelo termo mudança ao se tratar da
natureza.
E
quais os elementos da natureza que aprendemos desde a infância? São eles o reino
mineral, vegetal e animal, sendo este último ao qual pertencemos. Assim nos explicam
de maneira resumida a escola e seus agentes. É indubitável que fazemos parte da
natureza, portanto não seria a postura humana frente ao meio ambiente uma
expressão natural seja ela qual for? O efeito socrático de perguntar pode levar
a um universo de cogitações que não estariam a contento de todos, uma destas
cogitações seria o fato de que a humanidade em seu ajuste ambiental seja pela
poluição, incêndios ou pela singela reciclagem, estaria agindo dentro de um
impulso fatal da natureza, que impele transformar a si mesma de forma
ininterrupta.
O
meio ambiente modifica-se a bilhões de anos, muito antes da fração de segundos
que representa a estada do homem na terra. A natureza calcina-se desde a
implacável era Hadeana (4,5 bilhões de anos), reestruturando-se de formas
brutais inúmeras vezes, tal como a glaciação no período Cretáceo. Em 1883, o
colapso da ilha de Krakatoa foi uma amostra de que a natureza manifesta-se de
forma espontânea e brutal, tanto quanto o homem em modificar o meio ambiente.
Podem
acusar as colônias de fungos ou as saúvas que corroem corpos sadios, que são
“anti-naturais”, decompositores do meio ambiente? São tão dotados de ação e
instinto de sobrevivência quanto o ser humano, tal quando se efetuam queimadas
para plantio, caçadas ou pesca. Ora, diriam novamente os ecologistas, que os
indígenas utilizavam da natureza sabiamente sem “degradá-la”, entretanto, os grupos
mais observados foram tribos de dezenas, centenas no máximo, sem o atributo de
artigos de ferro como o arado, e mesmo assim ainda efetuavam vastas queimadas
para o plantio. Mas que os ecologistas tentem compreender populações autóctones
maciças como os Astecas com suas chinampas,
reduzindo a oxigenação dos peixes com a extensa cobertura agrícola sobre os
lagos. O funcionamento do ecossistema, segundo o discurso ecológico baseia-se em
concepções abstratas de equilíbrio e controle conceitual que jamais existiram,
e que a natureza ignora. Exemplo interessante é a luta encarniçada pela fauna
marinha que será em vão quando eclodirem subitamente erupções vulcânicas
submarinas, tão brutais quanto os pesqueiros japoneses.
Dizem
ainda os ecologistas que o homem distingue-se dos chamados impactos naturais de
destruição por ser provido da razão, e estar ciente ao modificar o
meio-ambiente. Todavia, esquecem que a razão é um conceito atribuído à mente
humana, sendo esta constituída por processos fisiológicos, que por sua vez são
providos pela própria natureza. Por fim, absolutamente nada escapa à natureza,
sequer a retórica humana em dizer o contrário. O homem age por idéias abstratas
ante a natureza ao degradá-la ou preservá-la, sendo isso indiferente na imensa
escala de tempo que a natureza percorre sempre agindo.
São interesses diversos que dirigem a ecologia e a luta pelo meio-ambiente, mas esta instigante luta discursiva que por vezes insurge ações práticas seja pela decomposição ou pela preservação ambiental, torna-se insignificante perante as previsões naturais de mudança de clima e geografia; esta mudança é a natureza agindo inclusive por intermédio de seu elemento humano, e assim ela sempre agirá sob seu aspecto mais incisivo: o acaso.