Ciclones, dilúvios, epidemias, erosões, erupções vulcânicas, incêndios florestais por relâmpagos, meteoros, terremotos, etc... Tudo habilmente realizado pela própria natureza para fins de contenção seja da temperatura, do ajuste de placas tectônicas ou reformulação do ecossistema de uma localidade. Os especialistas poderiam explicar melhor do que ninguém as causas e conseqüências dos chamados desastres naturais, que são interpretados pela maioria segundo a visão maniqueísta de bem/mal. Entretanto, para a natureza obviamente não há critérios morais de certo ou errado, tal como Emerson definira, ela simplesmente “é”. Seria interessante suprimir o termo desastre pelo termo mudança ao se tratar da natureza.

E quais os elementos da natureza que aprendemos desde a infância? São eles o reino mineral, vegetal e animal, sendo este último ao qual pertencemos. Assim nos explicam de maneira resumida a escola e seus agentes. É indubitável que fazemos parte da natureza, portanto não seria a postura humana frente ao meio ambiente uma expressão natural seja ela qual for? O efeito socrático de perguntar pode levar a um universo de cogitações que não estariam a contento de todos, uma destas cogitações seria o fato de que a humanidade em seu ajuste ambiental seja pela poluição, incêndios ou pela singela reciclagem, estaria agindo dentro de um impulso fatal da natureza, que impele transformar a si mesma de forma ininterrupta.

O meio ambiente modifica-se a bilhões de anos, muito antes da fração de segundos que representa a estada do homem na terra. A natureza calcina-se desde a implacável era Hadeana (4,5 bilhões de anos), reestruturando-se de formas brutais inúmeras vezes, tal como a glaciação no período Cretáceo. Em 1883, o colapso da ilha de Krakatoa foi uma amostra de que a natureza manifesta-se de forma espontânea e brutal, tanto quanto o homem em modificar o meio ambiente.

Podem acusar as colônias de fungos ou as saúvas que corroem corpos sadios, que são “anti-naturais”, decompositores do meio ambiente? São tão dotados de ação e instinto de sobrevivência quanto o ser humano, tal quando se efetuam queimadas para plantio, caçadas ou pesca. Ora, diriam novamente os ecologistas, que os indígenas utilizavam da natureza sabiamente sem “degradá-la”, entretanto, os grupos mais observados foram tribos de dezenas, centenas no máximo, sem o atributo de artigos de ferro como o arado, e mesmo assim ainda efetuavam vastas queimadas para o plantio. Mas que os ecologistas tentem compreender populações autóctones maciças como os Astecas com suas chinampas, reduzindo a oxigenação dos peixes com a extensa cobertura agrícola sobre os lagos. O funcionamento do ecossistema, segundo o discurso ecológico baseia-se em concepções abstratas de equilíbrio e controle conceitual que jamais existiram, e que a natureza ignora. Exemplo interessante é a luta encarniçada pela fauna marinha que será em vão quando eclodirem subitamente erupções vulcânicas submarinas, tão brutais quanto os pesqueiros japoneses.

Dizem ainda os ecologistas que o homem distingue-se dos chamados impactos naturais de destruição por ser provido da razão, e estar ciente ao modificar o meio-ambiente. Todavia, esquecem que a razão é um conceito atribuído à mente humana, sendo esta constituída por processos fisiológicos, que por sua vez são providos pela própria natureza. Por fim, absolutamente nada escapa à natureza, sequer a retórica humana em dizer o contrário. O homem age por idéias abstratas ante a natureza ao degradá-la ou preservá-la, sendo isso indiferente na imensa escala de tempo que a natureza percorre sempre agindo.

São interesses diversos que dirigem a ecologia e a luta pelo meio-ambiente, mas esta instigante luta discursiva que por vezes insurge ações práticas seja pela decomposição ou pela preservação ambiental, torna-se insignificante perante as previsões naturais de mudança de clima e geografia; esta mudança é a natureza agindo inclusive por intermédio de seu elemento humano, e assim ela sempre agirá sob seu aspecto mais incisivo: o acaso.