Amor de Perdição é uma novela romântica, levando em conta a forma com que agem seus personagens- os seguem cegamente os impulsos do coração- o final trágico e a pressão dramática que está presente em toda a obra. Levando-se também em conta o fato de a obra estar inserida no contexto do Romantismo, ao qual apresenta-se como excelente exemplo. Na época do Romantismo, uma forma de amar inconseqüente concretizou-se no plano literário e artístico: sentimentos conflituosos e paixões ilimitadas. Se há impedimentos ao amor, igualmente há uma saída para que ela triunfe mesmo no caos, essa saída é a morte, transcendência do amor não possibilitado em vida. O que seria do amor na vida perante a eternidade do amor na morte?

Nesta novela, as intrigas constroem- se em torno de três elementos fundamentais: a família, o casamento e o amor. O casal luta pela concretização de seus sentimentos, passando por todo tipo de provações, mas com a permanente idéia de que sua união através do amor poderá ser conseguida na morte, se esgotados todos os recursos em vida. Esse é o amor ideal, verdadeiro, ilimitado, objeto de trabalho dos românticos.

Chama a atenção a permanente ligação do amor á idéia da morte, chegando-se mesmo a concluir por sua necessidade em determinado momento, quando os caminhos se estreitam de tal forma que outra escolha não se faz possível.

Inicialmente temos o triângulo amoroso formado por Teresa, Simão e Baltasar. Depois, a formação de outro triângulo amoroso: Teresa, Simão e com a presença de Mariana como elemento de ligação entre o amor de Simão e Teresa. Mesmo amando Simão, Mariana não rivaliza com Teresa, muitas vezes até auxiliando o casal apaixonado, intermediando a correspondência entre eles. Adianta- se que todos eles terão o meso final trágico: a morte. No entanto, há problemas para a concretização do amor de Simão e Teresa: a rivalidade entre as famílias e o comprometimento de Teresa em casar-se com seu primo Baltasar: No capítulo II, pág 35 há a primeira menção à morte como solução, num bilhete escrito por Teresa a Simão:

"Não me esqueças tu e achar-me-ás no convento ou no céu, sempre tua de coração e sempre leal"

Até mesmo o pai de Teresa, no capítulo IV pág 44, prefere a, morte como solução ao impasse de sua recusa ao casamento com o primo Baltasar:

"_ Hás de casar! Quero que cases! Quero... quando não, serás amaldiçoada para sempre, Teresa! Morrerás num convento!"

No capítulo VIII, pág 73, Mariana delineia a morte como solução para outro tipo de conflito, num diálogo com Simão ela assim diz, referindo á possibilidade de seu pai ser condenado por um crime:

" Teria treze anos; mas estava resolvida a atirar-me ao poço, se ele fosse condenado à morte. Se o degredassem, então ia com ele; ia morrer onde ele fosse morrer"

Simão ama Teresa, que cada vez lhe parece mais distante. Provavelmente essa distância que existe para a concretização de seu amor só faz aumentar ainda mais seu sentimento. Percebe-se a insistência sobre a inseparabilidade do prazer e da dor, como se para amar tivesse também que sofrer, pois o amor seria elevado por esse sofrimento. Segundo Walter Benjamin "a vida trágica é mais imanente de todas as vidas, por isso seus limites sempre se fundem com os da morte... para a tragédia, a morte – o limite em si – é uma realidade sempre indissoluvelmente ligada a cada um dos acontecimentos trágicos"

Seres apaixonados em luta contra uma sociedade injusta, preconceituosa e materialista, que não desistem de sua luta maior, pelo seu amor. Sabem que não deveriam ter se apaixonado pelo outro, mas não conseguem abdicar da paixão que fatalmente os uniu. Enfrentam todas as variações que lhes impõem o destino, buscando loucamente uma felicidade que se apresenta cada vez mais distante.

Assim, quando se torna impossível a resistência, quando os interesses familiares e sociais mostram-se mais fortes, a união dos apaixonados só será possível por uma via: a morte.O amor romântico encontra na morte a sua mais pura forma de realização, o papel da morte é apresentar-se como solução ao amor terrenamente impossível. Nesta visão trágica do mundo encontram-se fundidas vida e morte, ascensão e decadência da pretensa realização de desejos. Aceitar um sentimento com tantas forças contrárias é, também, aceitar a infelicidade e a aceitação trágica da morte decorre da impossibilidade de concretização do amor, ou seja, a transcendência deste sentimento.

A personagem Mariana amo sem sercorrespondida, e parece encontrar forças mesmo neste amor unilateral, ela consegue encontrarprazer em seu sofrimento, pois acompanha Simão por todo o seu calvário, sequer vacilando uma única vez. Nas palavras de Nietzche:

"A nossa natureza mais íntima, o fundo comum do nosso ser, encontra um prazer indispensável e uma alegria profunda na imensa paixão de sonhar"

No capítulo XIX na pág 139, já caminhando para o final da narrativa, a morte vai se tornando idéia fixa tanto para Simão quanto para Teresa, ambos cada vez mais se convencem de sua iminente necessidade. Simão assim escreve em sua carta:

"não temos nada neste mundo. Caminhemos ao encontro da morte... há um segredo que só no sepulcro se sabe. Ver-nos-emos? (...) E, se não, morre, Teresa, que a felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes"

Teresa lhe responde: "Morrerei Simão, morrerei (...) e morro, porque não posso, nem poderei jamaisresgatar-te."

O pensamento romântico em Amor de perdição trabalha a união de dois seres pela morte, a verdadeira união, indestrutível, infinita, elevação à unidade suprema que só será concretizada através de muitos sofrimentos e privações encontrando no amor romântico, a morte como a mais pura forma de realização.