A morte: a visão da Igreja Evangélica Assembléia de Deus sobre a passagem da vida para a morte*

Leonilson Bitencourt Botelho**

 Resumo: Esse artigo visa estudar o processo de passagem da vida para a morte entre os evangélicos da Igreja Pentecostal Assembléia de Deus do Ministério de Belém, como os membros da evangélica pentecostal se relacionam com o fenômeno chamando de morte no meio familiar e entre pessoas próximas que tem algum tipo de afinidade. Foi utilizado na pesquisa entrevista e observação dos ritos praticados pelos membros da família e da igreja durante o ritual fúnebre.

1. Introdução

A morte é um fenômeno natural, assim como nasceram um dia todos os seres vivos conheceram a morte uma forma ou de outra. Normalmente não escolhemos a hora de partir, com exceção o caso do suicídio, a maioria das pessoas tem medo de morrer. Mas os evangélicos esse medo não é tão presente e observei previamente que os evangélicos possuem uma forma diferente de realizar o ritual fúnebre, notei que há uma grande diferença de relação vida e morte. Isso nos instigou a estudar o rito de passagem dentro da Igreja Evangélica Assembléia de Deus (I.E.A.D.).

Esse estudo é de suma importância para que possamos entender um pouco do mundo dos Evangélicos[1] pentecostais que ajudaram a formar e ainda formam um percentual elevado da sociedade Candeiense. Temos aproximadamente no município de Candeias do Jamari mais de 45 diferentes denominações de igrejas evangélicas, entre todas as igrejas escolhi a mais antiga em atividade no município e a que mais tem adeptos para fazer o estudo.

O objetivo geral dessa pesquisa é estudar o ritual fúnebre na Igreja Evangélica Assembléia de Deus ministério de Belém. Esta pesquisa de campo possui dois objetivos específicos: Observar a relação dos membros da Igreja evangélica com a passagem da vida para a morte e pesquisar a reação da família quando falece um ente e membro da I.E.A.D[2].

A pesquisa de campo foi realizada por meio de observação ( dentro e fora da igreja), conversas (em grupo e individual) e entrevistas com os evangélicos pentecostais da Igreja Evangélica Assembléia de Deus que residem em Candeias do Jamari. Não foram pesquisados os setores da zona rural. A pesquisa de campo foi realizada no templo central. As conversas como as autoridades da igreja (pastor, presbíteros e obreiros) e com membros da igreja foram realizadas na sede e em visitas previamente agendadas as casas dos evangélicos. Foi realizada a pesquisa bibliográfica nos meses de outubro de2011 ajaneiro de 2012.

Todos os dados da pesquisa de campo foram coletados entre novembro de2011 ajaneiro de 2012 e foram analisados no ainda no mês de janeiro com a confecção do artigo em fevereiro.

 

2. DESENVOLVIMENTO

A morte é algo natural, mas o sentimento de perca (dor e sofrimento) que a família e os amigos sentem é algo social, mas como lidar com esses sentimentos? Isso é uma coisa que é diferente em cada cultura, a morte está ligada ao místico, devido não ter uma resposta clara sobre a origem da vida ou para onde vamos, não será aqui explicado essa eterna dúvida.  Segundo OIGMAN (2007):

Compreender as representações sociais da morte fazendo um exame amplo das práticas e crenças funerárias realizadas por outras culturas. Embora haja uma incrível diversidade, os pontos de contato saltam aos olhos, segundo o autor: "inferno ou céu para os cristãos e os muçulmanos, Campos Elísios para os gregos antigos, reencarnação e metempsicose na filosofia oriental, passagem para o reino dos ancestrais na África. Por toda a parte a morte é entendida como um deslocamento do princípio vital".

O sentimento de posse está presente nos familiares ou pessoas que possuem um vinculo sentimental com a próxima gera um sentimento de perca, um espaço é deixado pela pessoa que faleceu, pois o finado ocupava uma função (namorado, marido, filho, avô, tio, amigo etc.). Muitas indagações são feitas em relação à ausência do ente querido por parte dos familiares e pessoas próximas: “o que eu vou fazer sem fulano?” “e agora o que vai ser da minha vida sem fulano”?! Houve uma ruptura em que os familiares ficam desorientados por um determinado tempo. 

De acordo com TURNER (2008, p. 33):

Após a ruptura de relações sociais formais, rígidas pela norma, vem uma fase de crise crescente, durante o qual – a não ser que a ruptura possa ser rapidamente isolada dentro de uma área limitada de interação social – há tendência de que a ruptura se alargue, ampliando-se até se tornar tão coextensiva quanto uma clivagem dominante no quadro mais amplo de relações sociais relevantes ao qual as partes conflitantes ou antagônicas pertencem.

Esse sentimento de tristeza é confirmado de geração a geração, o sentimento de dor é tão presente que o individuo não consegui se desvincular facilmente dessa forma de pensar e de agir muitas vezes é utilizado à emoção no lugar da razão.

2.1. MORTE PARA O MUNDO

 

Para entender o ritual fúnebre do mundo evangélico é necessário compreender como uma pessoa decide viver essa filosofia de vida. Quando uma pessoa aceita ser cristão nesse determinado momento inicia um ritual de separação do mundo do pecado[3], o individuo aceita a sua condição de pecador. Inicia aqui uma ritual de passagem, ele fica a margem da sociedade, o mundo não mais o pertence e começa a ser discipulado[4] para alcançar o reino dos céus.

Esse é o dialogo entre o pastor e o pecador arrependido[5]:

 

O pastor:

 - Você aceita a Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador?

O pecador “Fulano” responde:

 - Sim.

Os dois juntos oram:

 - Senhor Jesus escrever o nome de “Fulano” no livro da vida, salva e o guarda de todo mal, amém!

 

A partir desse momento o pecador aceita Jesus, entra numa condição linear mundo profano, e começa o processo de conversão ao cristianismo, pois o mesmo deixara a condição de pecador, ele se afasta dar atividades que são consideradas pecado e passa por um período e ensinamento bíblico para que um dia o novo convertido seja membro do corpo de Cristo. De acordo com GOMES ( 2006)

As relações de sociabilidade e os novos modos de lidar com o corpo transformaram-se: a maneira de se vestir, cortar os cabelos, andar sempre com a Bíblia, imprimir nas conversas cotidianas temáticas religiosas, assumindo características de pregações e evangelização. Ter a "obrigação" de levar a "Palavra" para que todos tenham acesso à salvação faz que sejam necessários diálogos e mediações nesse processo de comunicação, que envolve auto-identificação e reconhecimento mútuo entre as diferentes identidades religiosas. É reconhecida a influência de convertidos no processo de conversão de membros de familiares, amigos e vizinhos.

 

O aceitar a Cristo é cheio de simbolismo, não é somente aceitar uma pessoa ou uma “entidade superior”, mas é obedecer a um conjunto de regras e mandamentos. Segundo GENNEP (1978, p. 26):

 

Toda alteração na situação de um indivíduo implica ai ações e reações entre o profano e o sagrado, ações e reação que devem ser regulamentadas e vigiadas, a fim de a sociedade geral não sofrer nenhum constrangimento ou dano. É o próprio fato de viver que exige as passagens sucessivas de uma sociedade especial a outra e de outra a uma situação social a outra, de tal modo que a vida individual consiste em uma sucessão de etapas, tendo por término e começo conjuntos da mesma natureza.

 

As igrejas por um longo tempo quiseram se separar das coisas que não eram de Deus, Alguns doutrinadores das igrejas pentecostais aderiram essa posição, o seguidor  de Cristo deixa de ser um cidadão terreno e começa a lutar para alcançar a cidadania celestial[6]. Toda a desigualdade social não é mais um problema, isso não mais pertence às preocupações dos evangélicos pentecostais.

O primeiro passo, para entender o valor da morte para o protestante pentecostal, é voltar no tempo para compreender quem foi Jesus Cristo enquanto homem, um Deus encarnado. O calvário de Cristo, ou seja, o seu sofrimento foi para vencer a morte, mas para tal feito necessitou ser sacrificado, foi um “cordeiro” imaculado.

O homem foi expulso do paraíso por causa da desobediência, A mulher comeu a maça e o homem também compartilhando com o pecado, aconteceu o pecado inicial e com isso a humanidade perdeu a imortalidade em todas as gerações. Segundo o livro de Gênesis 3: 1-7 diz que:

 

1 ORA, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?

2  E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,

3  Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.

4  Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.

5  Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.

6  E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.

7  Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.

 

O sentimento de culpa habitava no coração de Adão e Eva. Não se transformaram em deuses, mas mortais, sofredores e sem esperança de retornar ao paraíso. No livro de romanos 6: 23, diz "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”. Conforme os evangélicos pentecostais, Adão e a Eva estavam destinados à morte, assim inicia a saga de sofrimento humano.

Segundo os evangélicos pentecostais, Cristo veio a terra para fazer com os homens uma nova aliança. Quando uma pessoa aceita a Cristo tornasse uma nova criatura, se caso ela viver na terra reto perante a Deus e os homens terá como herança após a morte o paraíso celestial. De acordo com o livro de hebreus 8: 6- 13:

6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas.

7 Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda.

8 Porque, repreendendo-os, lhes diz: eis que virão dias, diz o Senhor, Em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança,

9 Não segundo a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquela minha aliança, eu para eles não atentei, diz o Senhor.

10 Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo;

11 E não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.

12 Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais.

13 Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.

Nas igrejas atuais estão na segunda aliança e pouquíssimas ainda adotam a primeira aliança. Na primeira aliança não se tinha esperança de salvação (o retorno ao paraíso), "E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra." (II Crônicas 7: 14), Deus não desamparava os seus servos, mas não havia possibilidade de salvação direta.  Na segunda aliança com a vinda e sacrifício de Cristo é pregado à salvação direta, Jesus centraliza Nele a salvação quando diz "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (João 14: 6). Ele é o interlocutor entre os homens e Deus.

Para os evangélicos pentecostais quando uma pessoa crê, se arrepende dos seus pecados, aceita a Jesus e vive com honestidade e justiça alcançará a salvação. Em Atos 16: 27-31 Paulo explica ao carcereiro como se alcança a salvação:

 

27 E, acordando o carcereiro, e vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada, e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham fugido.

28 Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos.

29 E, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas.

30 E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?

31 E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.

Cristo fala no livro Mateus 16: 15-18 acerca da salvação:

 

15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.

16 Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.

17 E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas;

18 Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.

 

Quando o individuo evangélico morrer é feito um ritual fúnebre, diferente dos rituais fúnebres católicos que são mais complexos, há uma simplicidade no ritual  e é sem imagens de santos, velas e crucifixo. Segundo ROLDOFHO (2004, p. 142):

 

Os autores exemplificam estas transformações simbólicas, culturalmente determinadas segundo os diferentes grupos sociais: assim como um bebê não é propriamente “vivo”, até passar pelos ritos de nascimento, um cadáver não é propriamente “morto”, até passar pelos ritos de sepultamento.

 

 Para os evangélicos os mortos não precisam de velas para serem guiados aos céus ou ao inferno, não há meio termo, há somente dois destinos para os mortos que é os céus para quem morre em Cristo e inferno para quem morre no pecado. Quando um evangélico morre a igreja e a família já sabem para onde ele vai de acordo como as suas obras. Então há um conforto da família em saber que o falecido irá ao encontro com Cristo no Paraíso.

Conforme RODOLPHO (2004, p. 142):

 

Do mesmo modo, a morte não se relaciona simplesmente com um cadáver, com o fim de uma vida, mas trata-se igualmente de uma nova condição, uma nova iniciação à vida eterna, ao reino dos mortos (dependendo das crenças de cada grupo sobre o destino dos homens). Os rituais de sepultamento igualmente simbolizam a separação do mundo dos vivos; estes devem zelar pelo bom encaminhamento dos ritos segundo os costumes do grupo. O não-cumprimento destas prescrições pode ocasionar resultados, como o destino da alma que pode errar sobre a terra, ou ocasionar outros riscos para o mundo dos vivos.

 

A duração do ritual fúnebre é de aproximadamente um dia e meio e pelo que temos observado na maioria das vezes é por morte natural. Não há um choque como é a morte por acidente de trânsito ou por morte matada (assassinato).  A família aceita a morte com mais facilidade quando o indivíduo “morre em Cristo”[7]. Mas quando a família é de os evangélicos pentecostais mesmo sabe que por algum motivo o ente querido desviou-se do caminho da salvação, é dado a ele o mesmo tipo de ritual fúnebre mesmo que a morte seja por suicídio[8].

. De acordo com ALVAREZ (2001):

 

O coveiro, conversou com a mãe da morta. A mulher estava muito triste pela baixa freqüência ao funeral e perguntava-se o porquê. Guillermo disse-lhe que as pessoas não gostavam do que sua filha tinha feito. Comentou, então, comigo que cometer suicídio era uma ação terrível e que não podia entender como alguém podia fazer isso diante da beleza da vida. Segundo ele, "antes dos concílios" (fazendo provável referência ao Concílio Vaticano II), os suicidas não estavam autorizados a ser enterrados em campo-santo, isto é, na terra consagrada do cemitério, nem a ter nenhum tipo de "honra fúnebre".

 

Observamos que a morte por suicídio é muito remota devido no meio dos evangélicos das igrejas pentecostais, pois há um temor muito grande a Deus. Na bíblia não que diz que os suicidas não herdarem o reino dos céus. Mas o ato de tirar a própria vida está ligado ao livro de Êxodo 20:13 que diz "Não matarás."

 

2.2. O RITUAL FÚNEBRE

 

 A presença da igreja no ritual inicia com o pastor e o círculo de oração que estão sempre presente para confortar e orar juntamente com a família. Nem todos os rituais são realizados na igreja, isso é decidido pela família ou é uma decisão do falecido. Os pastores costumam não negar a ultima passagem do querido irmão pela igreja terrena.

VAN GENNEP (1978), ele estuda vários ritos de passagem e entre eles está o fúnebre e nos estudos do autor na maioria dos povos pesquisados há uma crença de outra morada para os mortos. Para os evangélicos pentecostais morre somente a carne (o corpo), mas a aula (o sopro de Deus) é imortal, e cabe a ela dois destinos:  o paraíso ou o inferno. Conforme  VAN GENNEP (1978, p. 135):

 

Todos estes ritos impediam o morto de morrer novamente cada dia, fato que muitos povos consideravam possível e que se combina às vezes com idéia que de que em cada vez o morto passa de uma morada para outra, conforme vimos com relação aos Haida. Da mesma maneiram, o tcheremiss acreditam ou que o morto pode morrer ou (tcheremiss de viatka) que o homem pode morrer sete vezes passando de mundo a outro, sendo finalmente transformado em peixe.

 

O enterro acontece nos cemitérios de acordo com o poder aquisitivo da família do falecido, é realizado o cortejo até o cemitério em que o falecido será enterrado e essa marcha fúnebre é semelhante ao que a Igreja Católica Apostólica Romana faz, mas há muita diferença nos hinos cantados, nas orações e na ministração do pastor que é sempre uma palavra de conforto a família e de salvação para o falecido.

De acordo com MENDES (2008, p. 106):

 

Uma das marcas do protestantismo brasileiro, de forma geral, é a sua proposta de diferenciar-se do catolicismo romano. “O crente tem que ser diferente” é uma máxima freqüente enunciada nos meio evangélico.

 

No meio evangélico não há missão de corpo presente, nem de sétimo dia, nem de um mês, nem semestral e nem anual. A palavra ministrada pelo pastor é curta e direta para que a família continue a sua marcha para alcançar a salvação e o descanso eterno em Cristo.

 

2.3. A PASSAGEM

 

Para a maioria das pessoas que não são evangélicos pentecostais a visão de morte é diferente, às vezes só de pensar no tema morte já gera um medo e até pode gerar uma situação de pânico. Segundo CAPUTO ( 2008, p. 73):

 

A morte é caracterizada pelo mistério, pela incerteza e, consequentemente, pelo medo daquilo de não se conhece, pois os que a experimentaram não tiveram chances de relatá-la aos que aqui ficaram. Todos esses atributos da morte desafiaram e desafiam as mais distintas culturas, as quais buscaram respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas religiões. Buscando assim pontes que tornassem compreensível o desconhecido a fim de remediar a angústia gerada pela morte.

 

A morte é um evento que marca em todas as sociedades, há sempre uma busca pela verdade sobre a nossa origem e sobre o nosso destino final. Para os evangélicos pentecostais isso não é um problema, pois os mesmos já são municiados de ensinamentos que visão responder à luz da bíblia sagrada todas as coisas.

Segundo VAN GENNEP, “nestas sociedades onde o individuo é central, onde todo o ‘sistema’ é concebido como estando a serviço do individuo” (1978, p. 21). Vivemos numa sociedade individualista e a salvação é individual também, pois os membros precisam dar bons frutos. A salvação não é conquistada de qualquer jeito, há uma aniquilação dos próprios desejos.

Quando acontece o falecimento de um dos membros da Assembléia de Deus não vai deixa de ser uma ruptura, uma separação. A família acaba sentindo mais a perca do ente, há uma separação que de acordo com VAN GENNEP, “os ritos de separação compreendem em geral todos aqueles nos quais se corta alguma coisa” (1978, p. 62). A família fica na expectativa de reencontrar o parente que faleceu nos céus com Cristo. O que seria segundo ainda VAN GENNEP (1978, p. 62):

 

Os ritos de agregação, têm por finalidade, conforme a expressão dos Wayao da África Oriental, ‘introduzir a criança no mundo’ ou, como um barco na água, são ritos da denominação, de amamentação ritual, do nascimento do primeiro dente, de batismo, etc.

 

Para os evangélicos pentecostais Jesus Cristo estará recebendo a todos que venceram as lutas terrenas e Ele mesmo irá fazer um passeio com todos, mostrando a nova Jerusalém Celestial. Por isso que para os evangélicos a morte não é um adeus e sim um até logo.

O processo de passagem terminará quando o individuo após a sua conversão consegui viver em santidade e morre em Cristo, ele receberá o seu galardão nos céus, de acordo com o livro de Apocalipse 22: 12 “E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra”. 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Observamos que a Igreja Evangélica Assembléia de Deus deixa bem claro que há uma separação entre o cristianismo da Igreja Católica Apostólica Romana e o cristianismo que é pregado na igreja evangélica. È diferenciado desde a conversão dos membros, pois logo de início é pregada a salvação e praticas boas obras (dar testemunho).

O ritual fúnebre é o grande momento que o membro da igreja estava esperando que Deus o tomasse para viver na glória, vai haver uma ruptura social entre a família[9] (parentes, membros da igreja e amigos). A dor dar perca é menor no meio evangélico devido aos ensinamentos e as palavras de conforto que massageiam o coração angustiado.

O individuo dentro da igreja já convertido estará sempre vivenciando os ritos de passagens, é o batismo nas águas, a incorporação aos grupos de louvor ou de oração, o batismo com o Espírito Santo, são os cargos eclesiásticos e o falecimento. Sempre haverá a separação e a agregação.

Nesse trabalho vimos que o mundo evangélico é diferenciado, é os evangélicos pentecostais preferem ser assim, para que as pessoas não-evangélicas notem que são diferentes. Isso tem reflexo em todas as suas atividades. Isso inclui o ritual fúnebre. há uma busca por identidade.

 

REFERENCIAL

ALVAREZ, Santiago. ENTERRANDO HERÓIS, PATRIARCAS, SUICIDAS E TRAIDORES: SOLIDARIEDADE E OSTRACISMO NOS ANDES COLOMBIANOS. Mana,  Rio de Janeiro,  v. 7,  n. 2, Ago.  2001.  Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010493132001000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em  06 de Fev.  2012.

BÍBLIA de referência Thompson. Bíblia sagrada. Ed. Vida. São Paulo. 2002.

CAPUTO. Rodrigo Feliciano. O homem e as suas representações sobre a morte e o morrer: um percurso Histórico. Revista Saber Acadêmico, n° 06, Dez. 2008. Disponível <www.uniesp.edu.br/revista/revista6/pdf>. Acesso em 12 de Jan. 2012.

DURKHIEM, Émile. O suicídio. Ed. Martins Fontes, 2000.

VAN GENNEP, Arnold .  Os ritos de passagem. Petrópolis: Vozes, 1978.        

HORTA, W. A. Processo de Enfermagem. Ribeirão Preto: Pedagógica, 1979.

GOMES, Edlaine de Campos. Morte em família: ritos funerários em tempo de pluralismo religioso. Rev. Antropol.,  São Paulo,  v. 49,  n. 2, Dec.  2006 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012006000200008&lng=en&nrm=iso>. access on  23  Mar.  2012.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012006000200008.

LAKATOS, Eva Maria; Marconi, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico: Procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006

MENDES. Napoleão Marcos de Moura. Ritual, communitas e espetáculo religioso na marcha para Jesus em Fortaleza-CE. Fortaleza, Revista de Ciências Sociais, v. 39, n. 2, 2008. Disponível < http://www.rcs.ufc.br/edicoes/v39n2/rcs_v39n2a8.pdf >. Acessa em 06 de jan. 2012.

OIGMAN, Gabriela. Tabu da morte. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro,  v. 23,  n. 9 de Set.  2007. Disponível <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0102311X2007000900034&lng=en&nrm=iso>. Acesso em  06 de fev.  2012. 

RODOLPHO, Adriane Luisa. Rituais, ritos de passagem e de iniciação: uma revisão da bibliografia antropológica. Estudos Teológicos, v. 44, n. 2, p. 138-146, 2004. Disponível <http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/vol4402_2004/ et2004-2arodolpho.pdf>.  Acesso em 02 de fev. 2012.

TURNER, Victor. Dramas, campos e metáforas: ação simbólica na sociedade humana. Rio de Janeiro, Universidade Federal fluminense. 2008.



* Artigo apresentado para avaliação na disciplina de Ritos de Passagem. Oferecido pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR, ministrado: prof°. Ms Ninno Amorim e apreciado em fev/2012.

** Acadêmico do 4° período do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

[1] Eram denominados anteriormente como protestantes, mas hoje os membros das igrejas evangélicas pentecostais  não aceitam mais serem chamados assim, se denominam evangélicos.

[2] Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério de Belém.

[3] É tudo aquilo que não pertence ao mundo evangélico.

[4] È o ensinamento que todos os novos convertidos passam até serem batizados nas águas e se tornarem membros do corpo de Cristo.

[5] 0É uma oração padrão dentro das Igrejas pentecostais e é sempre realizada quando uma pessoa aceita a cristo.

[6] Referente a ir morar nos céus de acordo com a promessa de Jesus Cristo no livro de Hebreus 11: 13 – 16.

[7] É quando um indivíduo morre em comunhão com a igreja de Cristo, com bom testemunho, com obras realizadas e em santidade.

[8] É o ato intencional de matar a si mesmo, pecado mortal que não há perdão e o suicida vai direto para o inferno.

[9] Os membros das igrejas evangélicas pentecostais vivem uma espécie de irmandade, é comum ouvir evangélico cumprimentar outro dizendo “a paz do Senhor, Irmão”.