RESUMO

Muitas observações podem ser consideradas ao estudar a moda como forma de reprodução da sociedade. A indumentária é universalmente usada para diferenciar os sexos, mas já serviu também para distinguir diversidades de classe. Enquanto a moda masculina e a feminina entre as classes mais altas se tornam mais distintas, assim também acontece com suas identidades de gênero. As mulheres continuam a ser mais ou menos decorativas como eram antes, mas os homens estão se tornando cada vez menos decorativos e adquirindo menor visibilidade. Não significa que a sociedade não aceite antigas formas de se vestir, afinal a moda se recicla, mas expressa na realidade a adequação do indivíduo ao que a sociedade julga adequado ou inadequado. Devemos lembrar sempre que moda é também comportamento.

Palavras-chave: Moda. Reprodução. Sociedade. Comportamento.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo estudar a moda e a indumentária como um modo de reprodução da sociedade, uma forma de representar os papéis que cada indivíduo desempenha no seu cotidiano, de acordo com seus diversos ambientes de convívio social.

É importante verificar que durante todo o período histórico de existência dos seres humanos, a indumentária sempre esteve presente, sinalizando a reprodução das relações de classe, sexo e gênero.

Nesse estudo, caracterizado como exploratório e baseado em pesquisa bibliográfica fundamentada no método dedutivo qualitativo, poderão ser visualizados diversos aspectos pelos quais a moda se faz comunicar aos diferentes públicos a quem se destina.


2 MODA E INDUMENTÁRIA

Moda e indumentária são explicadas como fenômenos culturais e comunicativos. Não seria possível, por meio da moda e da indumentária, apontar que alguém seja membro de uma classe específica se não houvesse classes diferentes a que pertencer.

As relações sociais de produção são, essencialmente, as de empregador e empregado, burguesia e proletariado, como disse Marx. No feudalismo, lado a lado com a tecnologia e o conhecimento, a principal força ou meio de produção era a terra. No marxismo, só o trabalho produz riqueza e no capitalismo a riqueza é produzida pelo trabalho da classe trabalhadora. Poderia se dizer então que moda e indumentária seriam simplesmente as formas pelas quais a identidade de classe foi expressa ou refletida.

"Assim, as pessoas formam sociedade porque têm de fazê-lo; para um indivíduo sozinho é improvável que consiga obter comida, abrigo e indumentária contando apenas consigo mesmo e assim, para sobreviver, necessita de relações sociais", diz Barnard (2003, p. 150). Portanto, interação social por meio da moda e da indumentária é uma forma pela qual a identidade inclusive de classe é constituída.


3 REPRODUÇÃO DA MODA E DA INDUMENTÁRIA NAS RELAÇÕES DE SEXO E GÊNERO

A palavra reprodução está sendo usada para referir-se às maneiras pelas quais a existência continuada de instituições, práticas e produtos é assegurada, assim como as posições sociais relativas das pessoas e as idéias e crenças que defendem.

De acordo com Barnard (2003), idéias e crenças duram mais do que as pessoas que acreditam nelas ou a elas se agarram. E exemplifica dizendo que algumas práticas, como vestir meninos de azul e meninas de rosa e até mesmo o uso de alvejantes e corantes duram até hoje, contrariando até mesmo o apelo ecológico que tanto se discute na atualidade.

Como ressaltou Tickner (1977, p. 56): "Apesar de algum tipo de distinção sexual no traje ser virtualmente universal, os atributos particulares enfatizados como masculinos e femininos têm variado grandemente, segundo o tempo e o espaço". Nessa perspectiva que Tickner sugere, o problema surge quando se quer saber exatamente quando o sexo acaba e o gênero começa. E a discussão apenas aumenta.

A esse respeito, Wilson (1992) se refere:
Quando diversos tipos de moda sublinham a sexualidade, ou quando se interessam por inclinações de gênero, muitos dentre nós podemos nos sentir ameaçados ou inseguros. Para a mulher, especialmente, os padrões exagerados ou frequentemente arbitrários de beleza podem rebaixá-la e serem até mesmo ofensivos.

Rudofsky (apud ROUSE, 1989, p. 11) traz a idéia que "vestimentas de homem e de animal servem muito ao mesmo propósito ? a seleção sexual". Para este autor, a mulher deve manter o seu parceiro "permanentemente excitado, mudando sua forma e cores". Traduzindo para o ramo da moda, seria o mesmo que dizer para a mulher variar formas, modelos, decotes e estampas para estar sempre chamando a atenção.

Mais antigamente, as mulheres eram consideradas propriedades dos maridos e eram subservientes aos homens. Nessa época, feminilidade era uma questão de ser frágil e incapacitada para quase todo tipo de esforço. "Moda e indumentária, a maneira como uma mulher aparece, serão ainda o principal modo pelo qual aquela feminilidade é construída, assinalada e reproduzida" afirma Barnard (2003).

Para sobreviver nos mundos do comércio e da indústria, um homem tinha de trabalhar arduamente e comprometer-se com o próprio progresso econômico. Isso engessava qualquer possibilidade de os homens usarem outro tipo de roupa que não fosse aquela própria para trabalhar e prover seu sustento e da sua família.

De acordo com Rouse (1989, p. 109), até o fim do século XVIII, tanto homens quanto mulheres elegantes vestiam "golas bem franzidas, trajes talhados, peles, jóias, perucas, rendas", etc. Hoje essas vestes só estariam adequadas, sob o ponto de vista e o conceito de uma determinada população, se um homem estivesse vestido dessa forma para apresentar uma peça de teatro ou para aproveitar o carnaval. Não significa que a sociedade não aceite, mas expressa a adequação do indivíduo ao que a sociedade julga adequado e inadequado. Moda é também comportamento.


5 CONCLUSÃO

Muitas observações podem ser consideradas ao estudar a moda como forma de reprodução da sociedade. A indumentária é universalmente usada para diferenciar os sexos, mas nem sempre foi assim. Na Europa do século XIV a moda era usada pelas classes mais altas para distinguir diversidades de classe, mas não diferenças de sexo ou gênero.

Enquanto a moda masculina e a feminina entre as classes mais altas se tornam mais distintas, assim também acontece com suas identidades de gênero. Do mesmo modo, enquanto as mulheres continuam a ser mais ou menos decorativas como eram antes, os homens estão se tornando cada vez menos decorativos e adquirindo menor visibilidade.

Resumindo, antes as mulheres eram mais discretas e pomposas ao vestir, ao revés de hoje, onde a exposição de algumas partes do corpo se tornou um sinal de sensualidade. Já os homens, há tempos atrás eram mais extravagantes, ao passo que hoje são muito mais contidos e buscam um ar mais cool, puxando para um apelo mais básico e/ou sofisticado. Basicamente, são essas as considerações mais relevantes a se fazer quanto ao uso da indumentária como forma de reprodução da sociedade.


6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARNARD, M. Moda e Comunicação. Tradução de Lucia Olinto. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
BERGER, J. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco. 1972.
DAVIS, F. Fashion, culture and identity. Chicago: Universidade de Chicago, 1992.
MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1970.
MULVEY, L. Visual and Other Pleasures. Hampshire e New York: Palgrave, 1989.
ROUSE, R. Mexican Migration to the United States: Family Relations in the Development of a Transnational Migration Circuit. Ph.D. Dissertação de Antropologia: Stanford University, 1989.
TICKNER. In: BARNARD, M. Moda e Comunicação. Tradução de Lucia Olinto. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
VEBLEN, T. O vestuário como expressão da cultura pecuniária. São Paulo: Abril Cultural, 1992.
WILSON, E. Enfeitada de sonhos. Lisboa: Edições 70, 1992.