A moda da economia compartilhada

             Vivemos em um sistema e sociedade onde comprar é um dos atos humano mais importante da nossa era. O consumo é a medida de poder e de prestígio entre vários tipos de grupo e ir de encontro a esse comportamento é quase cometer uma “heresia”. Não é possível negar que é prazeroso adquirir bens e serviços. O algo novo encanta crianças, adultos e idosos. O problema é que esse tem sido o direcionamento dado as pessoas como fim de tudo aquilo que se faz e não meio de se obter experiências que é a vida de fato. Ter, ter e ter mais tem sido a preocupação de muitos. Basta observar os excessos em nossa vida e na dos que estão ao nosso redor. São garagens cheias, casas hiper mobiliadas e repletas de equipamentos que são usados poucas vezes no ano, espaços subutilizados, roupas esquecidas. Enfim, milhões de objetos que tiveram custo enorme para o planeta para serem produzidos provocando a enfraquecimento da camada de ozônio, a redução de recursos naturais, poluição e imobilização de capital que poderia ser usado para mais conforto no dia a dia.

             O resultado desse consumo desenfreado são os sinais de esgotamento de certos tipos de materiais e o grande volume de lixo em todas as cidades. Não estamos preparados para esse estilo de vida e nem o planeta Terra, agredido diariamente com poluição resultante do processo de fabricação de bens e seu descarte final. Algumas medidas tomadas por diversas organizações públicas e privadas visam atenuar a degradação ambiental. A reciclagem e o tratamento do lixo de forma adequada são as mais populares. O problema é que essas são práticas ainda reduzidas para a velocidade da produção e do consumo atual, apesar de muito ter avançado nas últimas décadas.

              Além das medidas de otimização da produção e da reciclagem, um movimento recente tem ganhado força em vários países. É a Economia Compartilhada. Com a tecnologia diversas plataformas estão consegundo resgatar o hábito de compartilhar entre as pessoas que possuem algo com aqueles que desejam certo bem. Algumas dessas formas de compartilhamento são simplesmente trocas ou empréstimos que não movimento dinheiro. Outras permitem que pessoas possam retornar o valor investido nos itens compartilhados oferecendo eles por valores menores aos praticados no mercado.

             Um bom exemplo desse movimento são empresas como AirBnb e Uber por serem as mais conhecidas e bem sucedidas. Essas empresas criaram um modelo de negócio que permite o encontro de pessoas que dispõem de espaços ou veículos ociosos e fazendo com que de um lado pessoas possam ganhar um dinheiro a mais e de outro possam economizar pagando menos. Há críticas e elogios ao modelo, contudo cresce o número de adeptos diariamente. O modelo tem servido de inspiração para outros tipos de compartilhamento. A proposta mais recente é o www.wardrobe.com.br, um site que permite pessoas compartilhar e outras alugar diversos tipos roupa de forma direta, segura e descomplicada. No site é possível encontrar do vestido ao terno, da roupa de fria a fantasia, da moda gestante a infantil. É um mundo de oportunidades para pessoas melhorarem seu rendimento e também utilizarem o traje que necessitam naquele momento pagando menos que a compra ou a locação tradicional.

            Só para se ter idéia do impacto positivo do Wardrobe, só nos EUA calcula-se que esteja armazenado nos guarda-roupas femininos cerca de um trilhão de dólares de vestuário. Peças que foram usadas poucas vezes que oneram os espaços em que se vive com seu estoque e que são resultados de um processo de fabricação poluente e caro para a sociedade. Além da possibilidade de reduzir o impacto negativo do chamado fast fashion e o consumo irracional. Compartilhar roupa proporciona mais interatividade entre as pessoas, experiências de comunidade já perdida nos grandes centros pelo individualismo do capitalismo.

             A economia compartilhada traz a idéia de comunidade e uma vivência mais próxima e menos egocêntrica. Talvez por isso tantos estejam aderindo a esse tipo de prática e de forma tão rápida. Obviamente a grande indústria não compartilha do mesmo entusiasmo já que para ela o consumo em massa é questão de sobrevivência. O problema é que o mundo não é sustentável com a prática do consumo excessivo e as pessoas estão descobrindo que compartilhar além de ser lucrativo é prazeroso. Percebe-se que todos querem agir de forma conjunta, correta e menos burocrática para relacionar-se com o outro.

             Se a economia colaborativa é apenas uma moda ou uma prática que veio para ficar só o tempo dirá. Mas se ela passar como tantas outras novidades que pelo menos deixe mais solidariedade e consciência de grupo para uma sociedade fragmentada e isolada pelo ter independente de necessitar.

 Links das empresas citados no artigo:

 www.airbnb.com.br

 www.uber.com

 www.wardrobe.com.br

Leandro Belizario Vieira, MS.

Professor titular da disciplina de Marketing