A miséria dos ricos

Há muito tempo é discutido no Brasil o caso da desigualdade social, da divisão desigual dos bens o dos capitais entre ricos e pobres. É tomado normalmente como foco de análise os problemas dos menos favorecidos e a exploração dessas camadas por camadas maiores. Sabe-se também que a miséria está relacionada diretamente com o aumento da criminalidade nas grandes cidades do nosso país. Tomando por base esses dois pontos, é visível que a exploração das classes dominantes para com as mais pobres faz que o aumento da criminalidade se acentue mais e mais. Mas como isso funciona, e como isso se deu?

Uma das principais origens dadas a esse "fenômeno" é a lei de terras. Tal lei foi aprovada no Brasil na época imediata a que foi proclamada a escravidão, e dizia que , a partir daquele momento, as terras do país só poderiam ser apropriadas através de compra ou doação, suspendendo assim o regime das sesmarias, no qual a terra era de livre acesso a quem a quisesses cultivar.

O intuito era simples e cruel: barrar os negros recém-libertos de adquirirem terras, visto que eles não tinham dinheiro para comprá-las (por causa do trabalho escravo), e fazê-los continuarem atrelados ao latifúndio, nos mesmos moldes anteriores à abolição da escravatura. Muitos dos libertos que não tinham terras e nem queriam voltar a trabalhar como antigamente, fugiram para as cidades e se instalaram em habitações precárias perto das cidades. Surgiam assim as favelas.

Muitas dessas pessoas, com o crescimento das cidades e, por conseqüência, das favelas, passaram a ser marginalizadas cada vez mais e daquele tempo para cá, poucas portas se abriram para elas. Muitas vezes, a fuga para a miséria tem sido a marginalidade e o tráfico, que só crescem nas grandes cidades.

Os ricos por sua vez, do tempo daquela lei involuntariamente(ou não[!]) discriminatória para cá, só fizeram ampliar os seu direitos sobre a sociedade e sobre os meios de produção, fazendo com que o país crescesse a seu bel-prazer. Tal crescimento em favor de uma só classe , faz com que o povo , esmagado, recorra a meios inconstitucionais para tentar sair de uma situação de miséria, tão acentuada para eles.

Porém, os ricos no Brasil não são iguais aos ricos do resto do mundo. Isso se dá, principalmente, por causa de dois aspectos. O primeiro, é o fato deles viverem num país, sujo, de terceiro mundo, com uma das piores distribuições de renda do mundo, um IDH baixíssimo e com uma violência acentuada. O segundo é, sem dúvida, o que mais incomoda essa classe: os ricos brasileiros não podem ostentar a própria riqueza. Eles moram em belíssimas mansões, com jardins e piscinas. Porém, se escondem atrás de muralhas para não sofrerem do mal que elas mesmas criaram. Andam com seguranças particulares, temendo assaltos; blindam seus carros temendo o mesmo.

Se a ostentação da riqueza é um dos principais aspectos das classes privilegiadas, seriam elas realmente ricas? Não. Uma classe que se esconde das diferenças ao invés de combatê-las, que prefere agir com violência para combater a própria violência, que só quer crescer e se isolar do que de fato é o Brasil, não é uma classe rica, nunca será.

O reconhecimento da culpa pela violência que eles mesmos sofrem é o primeiro e grande passo a ser dado rumo a perfeita harmonia entre todas as classes. Para eles serem ricos de fato, precisam romper as muralhas que os separam do resto do país, e fazer de seus escombros meios para que se edifique uma nova nação. Para esses que se dizem ricos, serem ricos de fato, devem acabar com o nojo e o medo dos pobres e da violência, que, como já foi dito, são culpas únicas e exclusivamente deles. O Brasil é inteiramente pobre, e pobre ficará até que os ricos acabem com o seu egoísmo característico.