Atualmente estamos inseridos em um processo de consumo visual, capital e até mesmo cultural advindos da grande influência que a mídia traz à nossa vida, acarretando em uma busca desenfreada pelo prazer através de produtos vendidos em propagandas em todos os meios midiáticos. São mundos virtuais criados pela internet, por games que retratam atividades e situações cotianas, novelas que retratam situações diárias, programas de tevê com conteúdos inúmeros (muitas vezes sem uma restrição necessária) para crianças e adultos, que acabam por segurar a atenção das pessoas que já não sabem como é viver sem esses meios que, estão formando, de forma desaparcebida uma espécie de "cultura-midiática".
Essa cultura está cada dia mais influênciando a visão de mundo das pessoas, com imagens de felicidade, de prazer instantâneo, que são produzidas em meio ao capitalismo desenfreado onde a procura é pelo poder e capital.
Para Moreira, (2003)
"Num âmbito mais amplo e necessariamente genérico, cultura midiática é a cultura do mercado pensada e produzida para ser transmitida e consumida segundo a gramática, a lógica própria, a estética e a forma de incidência e recepção peculiares ao sistema midiático cultural." (pág. 1208)

Pensando por esse âmbito, questiono-me em como entrar em uma discussão sobre a infância sem considerar as influências que a mídia possui sobre os pequenos? É fato que cada dia mais as crianças estão sendo embutidas em uma cultura consumista que busca o bem estar social através do consumo de marcas e logons vendidas pela mídia. São personagens que vendem tênis, camisetas, brinquedos, etc. cada dia mais desenfreadamente buscando a criança como alvo fácil.
Os próprios desenhos animados são meios por onde tanto as empresas produtoras de tal como as emissoras de tevê (nesse caso falo da tevê aberta) que transmitem os progamas, trabalham o consumismo na mente das crianças. O telespectador que, com um olhar crítico e mais atento, poderá perceber que entre os programas infântis, nos momentos em que são transmitidos os intervalos comerciais, as propagandas exploradas são em sua grande maioria de vendas de roupas e brinquedos para as crianças. Esse trabalho da mídia através do marketing e da propaganda fascinam as crianças, pois as atinge "em seu ponto mais sensível: o olhar." (Pontes, 2009 : 2)

Para Moreira (2003)
A propaganda e o marketing tornaram-se na verdade um environment, um "ambiente cultural" dentro do qual as pessoas nascem e crescem, como se fosse essa uma "cultura", sua "própria" cultura, o ar que respiram. Este ambiente cultural sui generis, povoado por entidades às quais se agregam qualidades, as marcas, impregnado de relações de compra e venda, cujo interesse maior não é vender produtos, mas formar para o consumo, tornou-se uma presença pervasiva também no universo infantil. (pág. 1217 e 1218)

Dessa forma, pode-se afirmar que a mídia tem grande poder sobre as crianças (e sobre nós adultos também). Diante desse fator, a escola acaba perdendo forças e torna-se monótona e sem meios para buscar o interesse das crianças.
Por outro lado, as instituições de educação precisam e devem sair da estagnação em que pausaram e tentar, de alguma forma, trabalhar com a mídia na escola. Se por um lado a mídia educa para o consumo, ela também fala da vida, das situações, trabalha com a imagem, com a audição, torna toda e qualquer situação impactante, interessante, fazendo com que a escola se torne distante.
Se a mídia, em busca da audiência fiel dos telespectadores busca cada dia mais aperfeiçoar seus meios tornando-os mais atraentes, porque não a escola, em seu papel não apenas transmissor de conhecimentos, mas de socializador não busca meios diferentes e instigantes de atrair a atenção de suas crianças para si?
Para Moran (2008),

A criança, ao chegar à escola, já sabe ler histórias complexas, como uma telenovela, com mais de trinta personagens e cenários diferentes. Essas habilidades são praticamente ignoradas pela escola, que, no máximo, utiliza a imagem e a música como suporte para facilitar a compreensão da linguagem falada e escrita, mas não pelo seu intrínseco valor. (pág. 5)
A família é também um meio social que sofreu grandes mudanças em consequência dessa desenfreada cultura midática que vivenciamos atualmente. Se antes as informações eram totalmente dominadas e controladas pelos pais, hoje elas já são de conhecimento das crianças, "agora, a criança vê o mundo como ele é" (Maisonave e Protásio, 2008, pág. 3).
A influência cultural, que anteriormente provinha da família e da escola, hoje recebe esse novo membro (a mídia) que também contribui nesse acervo que é transmitido às crianças. Entretanto, é importante que, possamos enchergar a mídia não como inimigo, mas como aliado no trabalho de sociabilização e educação das crianças. Tanto escola quanto família devem ter senso crítico e observador para trabalhar com os meios televisivos, com os games, propagandas, etc. de forma a proporcionar à criança um trabalho selecionado sem perder o fator primordial que a mídia permite, o impacto da imagem como meio principal de trabalho.
Para Setton,
"A proposta é considerar a família, a escola e a mídia no mundo contemporâneo, como instâncias socializadoras que coexistem numa relação de interdependência.(...) São instituições constituídas por sujeitos em intensa e contínua interdependência entre si e, portanto, não podem ser vistas como estruturas que pressionam umas às outras, mas instân-cias constituídas por agentes que se pressionam mutuamente no jogo simbólico da socialização. (pág. 110)

Dessa forma, não podemos descartar que tanto a família quanto a escola tem papel imprescindível no favorecimento à visão crítica da criança diante da mídia. As crianças precisam de uma maior atenção dos pais ao que estão assitindo, que jogos e que sites estão visitando, os pais precisam dar maior atenção às crianças para que ao invés do que muito acorre atualmente, ela tenha menos tempo para viver diariamente frente televisão, computador ou vídeo-game.
A escola tem papel muito importante dentro desse processo, e é importante enchergar a educação para mídia desde a educação infantil , e pensar que a alfabetização não é apenas apropiar-se do código simbólico das letras, mas sim apropriar-se de varias linguagens que incluem as linguagens do homem atual. Ao fugir da realidade midiática em que estamos inseridos atualmente, a escola acaba transformando sua prática em um local monótono e sem graça.
"Primeiro deve-se valorizar o que é valorizado pelas crianças, depois procurar entendê-lo (os professores e os pais) do ponto de vista delas, crianças, para só mais tarde propor interações novas com os produtos conhecidos." (Moran, 2009, pág. 50)

É preciso que a educação tanto escolar quanto familiar possa compreender e incorporar as novas linguagens, possibilitando às crianças um processo de formação crítica, atenta e democrática. Dando espaço para as tecnologias e fazendo com que a escola não seja um "desmancha prazeres", mas sim um construtor de novas possibilidades de aprendizagens.

REFERÊNCIAS

MAISONAVE, Michelle Costa; PROTÁSIO, Michelle Reinaldo; ALBUQUERQUE, Simone dos Santos. AS INFÂNCIAS E A PEDAGOGIA CULTURAL. 2009. Disponível no site www.uab.furg.br, ultimo acesso em 8 de outubro de 2009.
MORAN, José Manuel. As mídias na educação, 2007. Disponível em http://mariocz.files.wordpress.com/2008/08/midias_educacao.pdf Ultimo acesso em 9 de outubro d e2009.
MOREIRA, Alberto da Silva. CULTURA MIDIÁTICA E EDUCAÇÃO INFANTIL. 2003. Disponível no site www.uab.furg.br, ultimo acesso em 8 de outubro de 2009.
PONTES, Aldo. A educação das crianças na sociedade midiática: desafios para formação e prática docente. 2009. Disponível no site www.uab.furg.br, ultimo acesso em 8 de outubro de 2009.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. Família, escola e mídia: um campo com novas configurações. 2009. Disponível no site http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11659.pdf, último acesso em 9 de outubro de 2009.