Na ciência psicológica, nos princípios da aprendizagem de adultos consideram-se três grandes domínios: Habilidade Psicomotora, Habilidade Afetiva, e Habilidade Cognitiva.O processo da aprendizagem envolve dois aspectos do indivíduo; o neurológico (órgãos dos sentidos, e o aparelho locomotor), e o psicológico (emoção e cognição). Nessa reflexão nos deteremos em uma das habilidades cognitivas, mais precisamente na memória. A tese de Goldstein de que o cérebro não funciona em partes separadas mas sim como um todo complexo corresponde a teoria da escola Gestáltica de Max Wertheimeir (1880-1941), Wolfgang Kohler (1887-1967) e Kurt Kofka (1886-1967), onde o todo é formado pelas partes, num processo constante de figura e fundo. Na teoria neurológica considera-se duas grandes tendências : a localizacionista, onde as funções mentais ocupam uma área delimitada no cérebro; e a holística, em que as funçoes do cérebro são resultantes de uma atividade indivisível, onde o SNC funciona como um todo, garantindo a integridade do organismo. Dessa forma concluimos que o método introspectivo está ligado ao SNC, onde o pensamento verbal ou o comportamento motor é uma cadeia de processos simples que estimulam as conexões cerebrais, indo buscar o significado numa sede mecânica ? a memória. Todos os sistemas de memória, inclusive os de computadores, dependem de uma área de armazenamento. A percepção e a consciência muitas vezes dependem da comparação entre o passado e o presente, isto é, a evocaçao das experiências vivênciadas e significativas, bem como das informações arquivadas. O processo da memorização inclui:

1-) Codificação----- colocar na memória
2-) Armazenamento- manter na memória
3-) Recuperação-----recuperar da memória

De acordo com uma estimativa, atualmente encontram-se em estudos 50 modêlos de memória, muitos dos quais semelhantes entre si. (memórias diferentes para situações diferentes). Para nossa reflexão nos interessam dois tipos de memória para entendermos o comportamento do condutor de veículos. A memória de curto prazo (MCP) e a memória de longo prazo (MLP). As informações que impressionam nossos órgãos dos sentidos parecem ficar retidas momentâneamente num sistema de armazenamento denominado memória sensorial (MS) e posteriormente essa informação é transferida para um segundo sistema, a MCP. Para que a informação seja retida na MLP existem dois processos 1-) pela repetição 2-) passar por um processo profundo onde utilizamos a estratégia da repetição elaborativa, isto é, prestamos muita atenção, pensamos sobre o significado e relacionamos com os dados de outras informações já colocadas na MCP. A MCP e a MLP comunicam-se contínuamente entre si. Quando a informação é inserida na MLP passa a fazer parte do repertótio comportamental da pessoa sem necessidade de elaboração cognitiva, a ação passa a ser inconsciente, automatizada. A condução do veículo é feita através do ato autônomo, onde os movimentos são involuntários. Supomos então que o caos instalado no trânsito deve-se ao aprendizado rápido, onde o aspirante a condutor utilizou sómente a MCP, não atribuindo nenhum significado (repetição eleborativa) as condições de uma direção segura.
Consideramos que, na medida em que as informações sobre a segurança e as normas de
trânsito são introjetadas e aceitas sem relutância, com tempo hábil para serem interpretadas, apreendidas e aprendidas como um preceito comum a todos, nossa MLP estará à serviço do aprimoramento do nosso comportamento levando-nos ao sentimento de cidadania para composição de uma sociedade e um trânsito mais humano.

A MEMÓRIA E O AUTOMATISMO NA DIREÇÃO VEICULAR: UMA REFLEXÃO PSICOLÓGICA

Observando o trânsito e pensando na situação caótica em que se encontra atualmente,começamos a refletir: Que motorista temos ? Que trânsito temos? Que motorista e que trânsito queremos?
Segundo estatísticas de acidentes de trânsito ocorridos nas rodovias federais do país, nos anos de 1998/2000, os dados obtidos foram os seguintes:


Causas presumíveis dos acidentes nas rodovias federais

variação variação
1988 1999 98/99 2000 99/00
Falta de Atenção........................... 42.833...........42.200.........- 1,48%.........39.233.........-7,03%
Velocidade Incompatível.............. 15.514..........14.285..........- 7,92%.........14.066.........-1,60%
Desobediência à Sinalização........ 7.013............ 6.628..........- 5,49%.......... 6.357.........-4,09%
Ultrapassagem Indevida................ 6.201.............5.407..........-12,80%.......... 4.867......... -9,99%
Defeito Mecânico em Veículo....... 4.682.............4.506..........- 3,78%...........4.150.......... -7,88%
Defeito na Via................................1.539............2.028.............31,77%...........2.273..........12,08%
Defeito na Sinalização..................... 413...............344............-16,71%..............403..........17,15%
Outras Causas...............................42.399..........41.863.............-1,29%.........39.048..........- 6,70%
Total.......................................... 120.594........117.250.............-2,77%........110.387.........- 5,85%




Infrações de Trânsito
variação variação
1988 1999 98/99 2000 99/00
Dirigir sem Habilitação.........................38.113........ 45.699.............19,90%.........39.179.......... -14,27%
Falta/Defeito Equipa/os Obrigatórios..237.096.......294.274............24,12%........230.763...........-21,58%
Sem Licenciamento..............................146.113.......176.219............20,60%........125.281...........-28,91%
Excesso de Velocidade.......................239.009........384.976............61,07%........200.581...........-47,90%
Ultrapassagem Indevida......................150.988........207.993............37,75%........160.723...........-22,73%
Excesso de Peso....................................11.830.........14.620.............23,58%............6.882...........-52,93%
Avanço de Sinal......................................5.832...........6.317...............8,32%............4.921............-22,10%
Não Usar Cinto de Segurança................50.955.........71.341.............40,01%..........48.748...........-31,67%
Estacionar em Local Proibido.................9.908.........11.064.............11,67%............6.119...........-44,69%
Dirigir sob efeito alcool/tóxico...............3.398..........3.640...............7,12%.............1.441...........-60,41%
Outras Infrações...................................544.361......739.055............36,77%..........528.701...........-28,46%
Total..................................................1.437.602...1.955.198............36,00%......1.363.339...........-30,78%

Fonte: Polícia Rodoviária Federal

Então o que acontece com tudo que foi ( ou deveria ter sido) aprendido no processo de formação do condutor?
Na ciência psicológica, nos princípios da aparendizagem de adultos, consideram-se três grandes domínios: Habilidade Psicomotora, Habilidade Afetiva, e Habilidade Cognitiva.
Nessa reflexão nos deteremos numa das habilidades cognitivas, e mais precisamente, na memória.
No processo de formação do condutor, somam-se 133 placas de trânsito, a serem conhecidas, sendo estas: 46 de Regulamentação, 63 de Advertência e 24 de Serviços Auxiliares, para que o aluno se inteire da legislação e das normas contidas no CTB para uma direção segura. Falar de instrução ou formação de condutores, é o mesmo que colocar o candidato à motorista como centro de suas realizações pessoais, onde sua capacidade e seus conhecimentos serão construídos a partir de sua motivação.
O que estará errado ou faltando para que a experiência de dirigir se torne global na medida em que abrange o plano cognitivo(saber fazer), o plano prático (habilidade motora), o indivíduo ( aspecto emocional) e ao mesmo tempo todos esses fatores envolvendo a pessoa como membro de uma sociedade?
Consideramos que o processo da aprendizagem envolve dois aspectos do indivíduo. O neurológico (órgãos dos sentidos, e aparelho motor) e o Psicológico Cognitivo (emoção e inteligência).
Na teoria neurológica consideram-se duas grandes tendências: a localizacionista onde as funções mentais ocupam uma área delimitada no cérebro e a holística onde as funções biológicas do cérebro são resultantes de uma atividade indivisível, onde o SNC funciona como um todo garantindo a integridade do organismo.
O interesse pelo estudo das afasias (FREUD,S - A Interpretação das afasias Um estudo crítico 1891-1977), e sua localização no H.C salientou a interferência em outras funções cognitivas, como por exemplo a memória.
Entende-se por afasia o estado psicológico em que o indivíduo sem perturbação da inteligência tem de alguma forma sua capacidade cognitiva afetada.
Junto à teoria localizacionista,encontramos o paralelismo psicofísico da escola de Psicologia de Wilhem Wundt, o Estruturalismo (1832-1926) adotando como base o método do introspeccionismo, onde a finalidade é conhecer o mecanismo da associação passiva e aditiva, para explicar a percepção, as sensações as idéias e os juízos, considerando-se o estado de consciência da pessoa.
Dessa forma, podemos concluir que o método introspectivo está ligado ao SNC, onde o pensamento verbal é uma cadeia de processos simples que estimulam as conexões cerebrais, indo buscar o significado numa sede mecânica - a memória. Essa conclusão vai de encontro a uma outra escola de psicologia, o Associacionismo (1874-1949) de Edward l. Thorndike que formulou a primeira teoria da aprendizagem . O têrmo teve origem na concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação de idéias,da mais simples à mais complexa.
A tese de Goldstein de que o cérebro não funciona em partes isoladas mas sim como um todo complexo corresponde a teoria da escola Gestáltica de Max Wertheimeir (1880-1941), Wolfgang Kohler (1887-1967) e Kurt Kofka (1886-1967) onde o todo é formado pelas partes num processo constante de figura e fundo Aprendizagem mecânica se processa por associação e condicionamento.
Assim as funções psicológicas fora correlacionadas à estrutura do SNC, onde o tecido
cerebral é uma rede contínua de impulsos nervosos(captação de estímulos tanto do meio externo como do meio interno)e o cérebro uma massa homogênea funcionando como um todo.
Para a execussão de um ato, são requeridas uma série de excitações e conexões simultâneas e sucessivas, onde a perda de um elo do sistema, afeta o resultado final. Entendemos então que o SNC é uma rede de sinapses com estímulos aferentes e eferentes, e que o mesmo estímulo desencadeia uma série de circuitos para obter a resposta correta. Uma vez estabelecido o paralelo entre o SNC e os aspectos emocionais e cognitivos, voltemos à memória.
Todos os sistemas de memória, inclusive os de computador, dependem de uma área de armazenamento.A percepção e a consciência muitas vezes dependem da comparação entre o passado eo presente, isto é, a evocação das experiências vivênciadas e significativas bem como das informações que foram arquivadas. O processo de memorização inclui:


CODIFICAÇÃO-----------------ARMAZENAMENTO-----------------RECUPERAÇÃO
colocar na memória........................manter na memória........................recuperar da memória

A MCP e a MLP comunicam-se contínuamente entre si. Quando a informação é inserida na MLP passa a fazer parte do repertótio comportamental da pessoa sem necessidade de elaboração cognitiva, a ação passa a ser inconsciente, ou seja, automatizada.
A memória talvez seja explicada em parte por esse armazenamento de estímulos e impulsos em circuitos corticais reverberantes, auto-excitadores.Embora os psicólogos estejam de acordo com as explicações do processo de memorização, a natureza precisa das estruturas de armazenagem da memória e dos processos de input-output ainda não estão determinadas. De acordo com uma estimativa, atualmente estão em estudo cerca de 50 modêlos de memória, muitos dos quais semelhantes entre si. (memórias diferentes para situações diferentes).
Nessa análise, nos ateremos a dois tipos de memória específicas que nos interessam para entendermos o comportamento do condutor de veículos. A memória de curto prazo (MCP) e a memória de longo prazo (MLP). Examinaremos o modêlo de memória de Atkinson-Shiffrin: "as informações que impressionam nossos órgãos dos sentidos parecem ficar retidas momentâneamente por um sistema de armazenamento denominado memória sensorial (MS) e depois essa informação é transferida para um segundo sistema a MCP.

Informação..................MS..........................MCP............................MLP
estímulo órgãos dos sentidos atenção seletiva elaboração cognitiva

Segundo Atkinson e Shinffrin esse sistema abriga um volume limitado de material temporáriamente (sete informações). Nos adultos normais essa capacidade de retenção foi baseada num estudo experimental da memória realizado por Hermann Ebbinghaus (1885). Setenta anos depois George Miller (1956) ficou impressionado com essa constância, tanto que denominou-a "o mágico número sete". A informação poderá ser mantida na MCP que só reterá o que selecionamos, envolvendo a atenção seletiva que é uma capacidade altamente adaptável. A todo momento somos expostos a uma gama infinita de estímulos, através dos nossos órgãos dos sentidos. Ocorreria o caos no comportamento caso a pessoa não apresente capacidade para selecionar esses estímulos e atender ao impulso, num só tempo (Berlyne 1970). A informação poderá ser guardada por um tempo maior se houver repetição da mesma. A MCP funciona também como orgão executivo central que insere ou retira dados de um terceiro sistema, a MLP. Para que a informação seja retida pela MLP é preciso passar um porprocesso profundo onde utilizamos a estratégia da repetição elaborativa, isto é, prestamos muita atenção, pensamos sobre o significado e relacionamos com os dados de outras informações já colocadas na MLP. A MCP e a MLP comunicam-se contínuamente entre si. Quando a informação é inserida na MLP e passa a fazer parte do repertório comportamental do indivíduo sem necessidade de elaboração cognitiva, a ação passa a ser inconsciente, o comportamento é automático.
O contraste entre a MCP e a MLP é similar ao contraste entre o conhecimento consciente e pré-consciente. A informação, o conhecimento estão guardados, não estamos pensando nele no momento, mas assim que necessitamos, recuperamos da memória e ele vem à tona, tornando-se consciente.

Automação.............................Experimentação.................................Conscientização
falta de vontade própria vivenciar o trânsito e a malícia da direção avaliação da situação para
movimento maquinal uma direção segura

Em nosso processo de desenvolvimento e aprendizagem, vários de nossos comportamentos tornam-se automatizados, como por exemplo o ato de dirigir, onde a ação é mecanizada, não precisando de elaboração cognitiva. Quando estamos dirigindo o veículo não precisamos pensar se vamos ou não trocar a marcha, se vamos ou não frear, o ato em si e por si é maquinal (pré-consciente).
A condução do veículo é feita através do ato autômato onde os movimentos são involuntários. Por essa razão devemos considerar a necessidade de reformular o processo de aprendizagem, pois é nessa fase onde o candidato recebe as informações sobre o trânsito,que os comportamentos serão instalados, de forma adequada e consistente, quando bem orientado.
Decorar as placas de trânsito (MCP), passar por uma avaliação onde o único objetivo é ser aprovado, não importa em que situação,conduzir o veículo por 15 minutos com o examinador de trânsito num local ermo... Seria essa a melhor forma de orientar o jovem futuro motorista?
Não seria mais conveniente que, além do significado das placas, na educação do condutor fosse introduzido conceitos para conscientizar o candidato da importância de obedecer as normas e a legislação para uma direção mais segura? Imagine se cada condutor resolver fazer sua própria lei e definir suas próprias regras e aplicá-las, na hora e do jeito que deseja de acôrdo com suas necessidades não levando em consideração os demais motoristas ao seu redor...seria um verdadeiro caos! Por outro lado, se dermos a oportunidade para o indivíduo manifestar sua opinião sobre o trânsito e debater seu ponto de vista, ele não estaria introjetando de uma forma mais sólida o seu conhecimento? (MLP- estratégia da repetição elaborativa).
Devemos então supor, que uma das causas do trânsito turbulento e tumultuado,é que a formação dos motoristas que tiveram seu aprendizado rápido utilizando sómente sua MCP faz com que o significado das placas, normas e leis que tornam o trânsito seguro, deixem de ser significativos e importantes e consequentemente esses motoristas passam a ser uma ameaça nas ruas e rodovias.
CONCLUSÃO

Consideramos que, na medida que as informações sobre a direção veicular e as normas de trânsito são introjetadas e aceitas sem relutância, interpretadas e apreendidas como um preceito comum a todos, nossa MLP colaborará para o aprimoramaento do nosso comportamento podendo levar ao sentimento de cidadania, que define sua relação com a verdadeira autonomia, onde o bem comum passa a depender do comportamento de cada um individualmente, compondo uma sociedade, um grupo equilibrado.





BIBLIOGRAFIA

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