Interessante observarmos como um peixe no aquário não enxerga a água em que está mergulhado. O fato de estarmos mergulhados em constantes conflitos faz-nos deixar, muitas vezes, de perceber sua freqüência e o quanto muitos deles nos afetam direta ou indiretamente. Portanto, tratamos com este novo procedimento chamado mediação transformativa de conflitos, de um material bastante farto e universal.

Quem de nós não passa a maioria do tempo desejando novas formas de resolver conflitos? Ou melhor ainda: desejando aprender novas formas de evitá-los? Será que isto é possível?

Graças a pesquisas e estudos de conhecimentos advindos de diferentes áreas e ciências, como também de diferentes momentos da história humana, estamos a cada dia com mais êxito na realização destes dois desejos.

Apesar desta característica dos conflitos serem comuns, freqüentes e muitas vezes até positivos e necessários para alguns crescimentos, o que se observa é que a maioria das pessoas preferiria, se possível, não entrar em alguns conflitos, mas se inevitáveis, encontrar uma forma de administrá-los ou interrompê-los, vez que todos reconhecem o desgaste e as perdas tão profundas a que estas situações podem levar.

Mas a pergunta feita por todos aqueles que estão em discórdia, quase sem esperança de uma resposta positiva, é sempre: “Parece que já fiz de tudo e nada deu certo. Que outras formas existem?”

A mediação apresenta-se como uma oportunidade para o desenvolvimento de uma postura diferenciada na solução de conflitos, baseada na “cultura da paz” e que vem de encontro a antigos anseios da sociedade pela valorização de direitos pessoais e de justiça, não no sentido institucional, mas como o melhor resultado possível a partir da tomada das melhores decisões pelas próprias partes envolvidas no conflito. Ninguém melhor do que elas mesmas se bem conduzidas à reflexão e à transformação em conceitos humanos básicos, para construírem acordos e nessas condições poderem cumpri-los com mais facilidade, pondo fim por muitas vezes a situações que continuariam eternamente instaladas.

Isso não ocorre num passe de mágica, mas sim após encontros, preferencialmente com dois mediadores experientes tanto no domínio das leis quando da situação em disputa. Assim, exige-se o uso de técnicas transformativas, especialmente as de comunicação e atitudes, que retiram as pessoas em conflito do lugar da competição e destruição, conduzindo-as ao lugar da cooperação e construção.

Este novo procedimento que chegou há pouco ao Brasil, já existe em muitos países, mesmo que com inúmeras variações de apresentação, que demanda uma série contínua de estudos para expandi-lo e aprimorá-lo. Atende aos mais diversos tipos de conflitos (familiares, empresariais, de vizinhança e até criminais de pequeno porte). Pode acontecer em diversos contextos de atendimento, e se diferencia da conciliação ao passo que os mediadores têm o firme propósito de, antes do acordo, enfatizar transformações pessoais de extrema importância tanto para a resolução desses conflitos como para a prevenção de futuras desavenças, quando isto depender de posturas pessoais.

O trabalho deve ser conduzido por mediadores capacitados em cursos específicos, que apesar da exigência de nível universitário, não requer graduação em um determinado curso. Ou seja, apesar de terem os advogados especial importância na condução dos encontros, principalmente os que envolvem questões ligadas ao Judiciário, encontramos mediadores com formação em outras áreas, tais como administradores, assistentes sociais, engenheiros, psicólogos, etc, que oferecem enorme contribuição nesta parceria quanto a apresentação e adesão da conscientização das novas formas de condução de conflitos.

Tem-se muito a contar sobre a mediação, mas a tarefa deste artigo é de fazer as pessoas se interessarem e se familiarizarem com a idéia, e que fiquem curiosas em conhecer mais, propagarem-na a quem estiver necessitando deste recurso e ainda que estejam mais tranqüilas, se em alguma instância forem encaminhados ao trabalho de mediação, vez que ele já vem se inserindo em diferentes instituições de maneira até bastante rápida nos últimos tempos.

Saibam que a mediação transformativa de conflitos, como o próprio o nome indica, parte de um pedaço sempre difícil da história de cada pessoa envolvida, mas tem a intenção de mostrar que além de serem situações absolutamente humanas, sem julgá-las nem condená-las, e dar a chance de ouvi-las e se deixarem ouvir, por vezes após longos períodos de silêncio somente preenchido por gritos e brigas.

Deixá-las reconhecer que após se acalmarem, elas recuperam o poder das idéias sensatas e palavras mais apropriadas em busca de suas reais necessidades. Enfim, aprenderem que cada um tem o poder do bem e o dever de utilizar sua sabedoria, não na hora da calma, que é mais fácil, mas na hora da briga.

“Aprender a fazer Brigas Boas”.

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