A MASTECTOMIA INFLUENCIA NA SEXUALIDADE E NA IMAGEM CORPORAL DA MULHER?

 

 

Lorena de Andrade Santana

Acadêmica de enfermagem da Faculdade AGES

 

O câncer de mama ou carcinoma mamário é o resultado de multiplicações desordenadas de determinadas células que se reproduzem em grande velocidade, desencadeando o aparecimento de tumores ou neoplasias malignas que podem vir a afetar os tecidos vizinhos e provocar metástases. Este tipo de câncer aparece sob forma de nódulos e, na maioria das vezes, podem ser identificados pelas próprias mulheres, por meio da prática do auto-exame (Duarte, 2003).

O diagnóstico de câncer tem, geralmente, um efeito devastador na vida da pessoa que o recebe, seja pelo temor às mutilações e desfigurações que os tratamentos podem provocar, seja pelo medo da morte ou pelas muitas perdas, nas esferas emocional, social e material, que quase sempre ocorrem. Portanto, a atenção ao impacto emocional causado pela doença é imprescindível na assistência ao paciente oncológico (Silva, 2008). Por isso de acordo com Silva, 2010, a tarefa do profissional de saúde é decodificar, decifrar e perceber o significado da mensagem que o paciente envia, para só então estabelecer um plano de cuidados adequado e coerente com suas necessidades. E para tanto, é preciso estar atento aos sinais de comunicação verbal e não-verbal do paciente.

Quanto ao câncer de mama, desde a década de 70 a medicina tem se dedicado mais ao impacto psicossocial da doença. Estudos dessa época delinearam que as mulheres sofrem desconforto psicológico, como ansiedade, depressão e raiva; mudanças no padrão de vida, relacionadas ao casamento, vida sexual e atividades no trabalho, e, ainda, medos e preocupações concernentes à mastectomia, recorrência da doença e morte (Silva, 2008).

O tratamento primário é a mastectomia, intervenção cirúrgica que pode ser restrita ao tumor, atingir tecidos circundantes ou até a retirada da mama, dos linfonodos da região axilar e de ambos os músculos peitorais. A mais freqüente, em torno de 57% das intervenções realizadas, é a mastectomia radical modificada, aquela que remove toda a mama juntamente com os linfonodos axilares. Tratamentos complementares geralmente são necessários, como a radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. O prognóstico e a escolha do tratamento são embasados na idade da paciente, estágio da doença, características do tumor primário, níveis de receptores de estrógeno e de progesterona, medidas de capacidade proliferativa do tumor, situação da menopausa e saúde geral da mulher (Silva, 2008).

Por suas características, o tratamento traz repercussões importantes no que se refere à identidade feminina. Além da perda da mama ou de parte dela, os tratamentos complementares podem impor a perda dos cabelos, a parada ou irregularidade da menstruação e a infertilidade, fragilizando ainda mais o sentimento de identidade da mulher. Além disso, as representações de dor insuportável, de mutilações desfigurantes e de ameaça de morte não desaparecem com a retirada do tumor, pois há sempre o fantasma da metástase e da recorrência (Silva, 2008).

O câncer de mama provoca alterações no universo biopsicossocial da mulher acometida e a retirada da mama pode ocasionar vários danos. Após a mastectomia, a mulher pode vir a apresentar uma série de dificuldades ao reassumir a sua vida profissional, social, familiar e sexual. Dessa forma, para o universo pesquisado pela autora, esta fase (pós-cirurgia) é considerada extremamente difícil, longa e limitante para o exercício da sexualidade (Duarte, 2003).

Após a retirada do seio atingido pela doença, a mulher poderá se sentir em desvantagem com a imagem que possui agora, se considerar menos feminina e pouco a vontade com seu novo corpo. Há mulheres que podem se sentir sexualmente repulsivas, chegando a evitar contatos sexuais. Das reclamações mais freqüentes observadas nas pacientes mastectomizadas, o medo de não ser mais atraente sexualmente e a sensação de diminuição da feminilidade ocupam posição de destaque (Souto, 2004).

As mamas além de desempenharem um importante papel fisiológico em todas as fases do desenvolvimento feminino que vão desde a puberdade à idade adulta, também representam em nossa cultura um símbolo de identificação da mulher e sua feminilidade expressas pelo erotismo, sensualidade e sexualidade. Ao considerar essas questões, o câncer de mama, ainda hoje, apesar dos progressos da medicina em relação aos métodos de diagnóstico e tratamento, é visto como uma "sentença de morte" pela maior parte das mulheres acometidas por essa doença. De acordo com pesquisadores e estudiosos da área, é um acontecimento marcante com implicações sociais, psicológicas e sexuais (Duarte, 2003).

Outra questão discutida por autores da área é que as cirurgias mutiladoras, também podem afetar a percepção do próprio corpo, implicando em mudanças na imagem corporal que podem vir a afetar a sexualidade da paciente submetida a essas cirurgias. Esta pode ser compreendida como a representação mental que temos do próprio corpo, estando diretamente vinculada à percepção e compondo-se dos aspectos fisiológicos, psico-afetivos, cognitivos e relacionais. Sob este ponto de vista, a imagem que fazemos do nosso corpo é construída e desconstruída ao longo de nossa vivência, a partir de experiências com o mundo exterior (Duarte, 2003).

Estudos têm apontado que a primeira preocupação da mulher e sua família após receberem o diagnóstico do câncer de mama é a sobrevivência. Em seguida surge a preocupação com o tratamento e condições econômicas para realizá-lo; e quando o tratamento está em andamento, às inquietações se voltam para a mutilação, à desfiguração e suas conseqüências para a vida sexual da mulher. Estudos prospectivos que avaliaram a qualidade de vida de mulheres submetidas à mastectomia demonstraram que elas sentiram piora não só na imagem corporal, mas também na vida sexual, limitações no trabalho e até mesmo mudanças nos hábitos e atividades de vida diária (Silva, 2008).  

          Quando a mama, símbolo corpóreo carregado de sexualidade, é danificada pela cirurgia, pode existir uma alteração na auto-imagem com sentimentos de inferioridade e auto-rejeição. Quanto maior a representação da mama para mulher, maior é o impacto do sentimento de perda após a cirurgia. Pacientes referem sentimentos de vergonha, constrangimento, sensação de mutilação e se sentem sexualmente repulsivas quando são submetidas à mastectomia (Gonçalves, 2009).  

Quando a mulher necessita retirar a mama devido ao câncer (mastectomia), sentimentos de angústia e dor estão sempre presentes. É de se prever que a mulher se sinta atingida em sua própria identidade, em sua imagem pessoal, com conseqüências na auto-estima e valor próprio, além da presença de morbidade aumentada pelos transtornos psiquiátricos (Leite, Schimidt & Andrade, 1996).

          Existem conseqüências emocionais adversas causadas pela retirada da mama que necessitam de assistência adequada visando à reintegração familiar e social, com o objetivo de facilitar a adaptação da paciente a sua nova condição. A mastectomia é de difícil aceitação, podendo ocasionar atraso e até mesmo o abandono do tratamento; entretanto, a atuação conjunta dos membros da equipe de saúde e demais profissionais envolvidos é o grande passo para a reabilitação (Covich, 2000). Por isso, de acordo com Silva, 2006, o profissional de saúde não pode, de maneira alguma, negar o núcleo no qual o paciente vive.

 

O profissional da saúde tem que saber interpretar determinadas situações, para que possa estabelecer planos de cuidados adequados e coerentes de acordo com as necessidades do paciente. Somente uma boa comunicação, efetuada pelo profissional da enfermagem ajudará a conceituar seus problemas, facilitando assim um planejamento adequado baseado nas necessidades de cada pessoa (SILVA, 2006).

 

 

 

A importância de tal tema para a enfermagem é abissal, pois os cuidados prestados no pós-operatório por esta classe de profissionais farão grande diferença na sua readaptação à vida social, pois quanto maior o entrosamento entre o enfermeiro e a mulher mastectomizada melhor poderá ser a aceitação da paciente à sua nova imagem. A Enfermagem deve ser entendida como um processo interpessoal entre dois seres humano, no qual um deles precisa de ajuda e o outro fornece ajuda, sendo motivados a procurar compreender todas as experiências de vida de ambos (Leite et al, 2007)

A reabilitação de mulheres mastectomizadas é um processo indispensável à adaptação ao exercício de seus diferentes papéis, com o objetivo de contribuir para o seu bem-estar e equilíbrio emocional. Dessa maneira o cuidado a essas mulheres deve ser realizado por uma equipe multiprofissional, com o objetivo de uma assistência globalizada, ou seja, de uma assistência que contemple o ser mulher em suas dimensões biológica, psicológica, social e espiritual. Também, promover e estimular a participação do parceiro e da família neste processo do cuidar ajudará a mulher a aceitar sua condição e compreender a necessidade do tratamento (Madeira, 2002).

A partir das leituras para construção do ensaio, fica claro a proporção do impacto que a cirurgia de retirada da mama (mastectomia) em conseqüência do tratamento de câncer, trás para a vida da mulher. Principalmente por se sentirem inferiorizadas diante da sociedade, de seus parceiros e de suas famílias, uma vez que se consideram “incompletas” após a cirurgia. Dessa maneira sentimentos de impotência, insegurança, preconceito, vergonha dos seus parceiros e medo de encarar o espelho. Surgem talvez por se sentirem psicologicamente desestruturadas após a mastectomia, o que influenciará diretamente em sua imagem corporal e sexualidade.

Em conseqüência disto, é necessário suporte emocional por meio da família, amigos, companheiros, e de profissionais de saúde qualificados para compreender as necessidades da mulher mastectomizada, além da necessidade do envolvimento de uma equipe multidisciplinar compreendendo a mulher como um ser holístico. O que contribuirá para uma melhor aceitação e reestruturação da sua nova condição de vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

SILVA, Paes. Maria Júlia. O amor é o caminho. 4. Ed. São Paulo: Loyola, 2006.

 

SILVA, Paes. Maria Júlia. Comunicação tem remédio. 7. Ed. São Paulo: Loyola, 2010.

 

KLUBER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. 1926, Martins Fontes.

 

VIANNA, Ana Márcia Sanches de Almeida. Avaliação psicológica de pacientes em reconstrução de mama: um estudo piloto. Estud. psicol. (Campinas),  Campinas,  v. 21,  n. 3, Dec.  2004 .

 

SILVA, Lucia Cecilia da. Câncer de mama e sofrimento psicológico: aspectos relacionados ao feminino. Psicol. estud.,  Maringá,  v. 13,  n. 2, June.  2008.

 

DUARTE, Tânia Pires; ANDRADE, Ângela Nobre de. Enfrentando a mastectomia: análise dos relatos de mulheres mastectomizadas sobre questões ligadas à sexualidade. Estud. psicol. (Natal),  Natal,  v. 8,  n. 1, Apr.  2003 .

 

SOUTO, Marise Dutra; SOUZA, Ivis Emília de Oliveira. Sexualidade da mulher após a mastectomia. Esc. Anna Nery Rev. Enferm, dez. 2004.

 

LEITE et al, Keily Cristiny. Mastectomia e auto-imagem: A relação com a sexualidade sob a ótica da mulher atendida no programa unacon do Hospital Regional de Araguaína, 2007.

 

MADEIRA, Anésia Moreira Faria; ALMEIDA, Geovana Brandão Santana. Câncer de mama: Desvelando os sentimentos de mulheres mastectomizadas – uma contribuição para enfermagem. Dissertação de Mestrado, apresentada à Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.

 

GONÇALVES et al. Alterações da sexualidade e sintomas depressivos em pacientes com neoplasia mamária. Psychiatre on line Brasil. Vol. 14, 2009.