A MARGINALIZAÇÃO DA CULTURA AFRICANA NO ROMANCE A ESCRAVA ISAURA


Flávio Santos
Curso de Letras

Orientador: Prof. Esp. Roberto Carlos Bastos da Paixão


RESUMO

O Brasil, mesmo com sua heterogeneidade cultural, nos obriga a reconhecer a cultura dominante européia como a padrão e, de maneira etnocentrista, excluir outras. Neste caso, podemos destacar a dos povos africanos que, mesmo sob o regime escravocrata, disseminaram suas raízes culturais sobre esta pátria e estas marcas podem ser vistas através da culinária, músicas, danças, religiosidade, linguagem, jeito de ser etc. Em pleno século XIX, na efervescência das campanhas abolicionistas, surge a prosa "A escrava Isaura", uma tentativa frustrada de se falar da escravidão marginalizando a cultura africana criando um estereótipo de escravo que não condiz com a realidade histórica e neste enredo nos dar a impressão de que a cultura dos povos africanos nunca existiu. Pois é inconcebível pensar em cultura brasileira sem a participação dos negros, que escravizados contribuíram maciçamente para a evolução e prosperidade econômica do nosso país e, ao marginalizar os negros, dando-lhes ares europeus, também silencia a contribuição cultural destes em detrimento de valores burgueses de uma sociedade europeizada. Esta que, por quase 4 séculos, abusar dos povos africanos escravizados neste país, pelo trabalho servil sem nenhuma remuneração, para satisfazer suas frustrações sexuais, cozinhar, cuidar dos filhos dos senhores incondicionalmente e serem comparados a animais de tração. Logo, não há uma justificativa plausível que conspire contra a nossa heterogeneidade cultural, que é formada por diversas culturas distintas, e que estas podem estar coexistindo sob fusões originando outras. É lógico que os escravos que aqui aportaram tiveram que se adaptar à cultura, mas suas raízes étnico-culturais não poderiam ser totalmente dizimadas, porque assim não se explicaria atualmente a origem do candomblé, quimbanda, umbanda e outras manifestações culturais com raízes africanas, porque tudo isto não surgiria ficcional ou autodidatamente. Este artigo consiste em uma pesquisa bibliográfica, entrevistas com alguns especialistas e buscou, através de um estudo empírico, identificar os entraves que existiam em relação à cultura africana e buscar explicações plausíveis para se marginalizar a cultura dos negros.

PALAVRAS-CHAVE: Negro. Cultura Africana. Marginalização.



ABSTRACT

Brazil itself with its cultural heterogeneity forces us to recognize the dominant European culture as the standard and rule out other ethnocentric way, in this case may highlight the peoples of Africa, under the same regime of slavery spread its cultural roots in this country and may be trademarks be seen through the cuisine, music, dance, religion, language, way of being and so on. In the nineteenth century in the heat of the abolitionist campaign, comes to prose "The Slave Isaura", a failed attempt to speak of slavery, marginalizing
the African culture creates a stereotype of the slave who does not fit the historical reality and in this plot give us the impression that the culture of African people never existed, and it is inconceivable to think of Brazilian culture without the participation of black slaves who contributed massively to economic development and prosperity of our country and to marginalize blacks, giving them a European feel, as also mutes the cultural contribution at the expense of the bourgeois values of a Europeanized society, who has for nearly 4 centuries to abuse of the African people enslaved in this country, by slave labor without compensation and to satisfy their sexual frustrations, cooking, caring for children of you unconditionally and be compared to animal traction, so there is no plausible justification that conspire against our cultural diversity and the same and comprised of several distinct cultures and that this can coexist in mergers leading to other logical that the slaves here arrived had to adapt to the culture which dominated, but their ethnic and cultural roots could not be totally wiped out, because as we now explain the origin of Candomblé, quimbanda, ubuntu and other cultural events with African roots, because all this does not arise fictional or self-taught. This paper is a literature review, interviews with some experts and through an empirical study to identify the barriers that existed in relation to African culture and to seek plausible explanations to marginalize the culture of blacks.

KEYWORDS: Black. African culture. Marginalization.



1. INTRODUÇÃO

A discriminação sofrida pelos negros não é algo recente na sociedade contemporânea. Durante quase quatrocentos anos, esses foram desprovidos de quaisquer direitos, bem como tiveram de seguir um sistema cultural diferente do seu. Diante disso, a exclusão da cultura africana no século XIX foi refletida pela literatura. Entre muitos defensores da libertação dos escravos, temos o baiano Castro Alves e o sergipano Tobias Barreto, que em seus poemas, apesar de retratarem o sofrimento do negro e defender a sua liberdade, a questão da cultura africana não existia. Na prosa, temos o embranquecimento do negro e afro-descendentes, estereotipando-os a sucumbir costumes e ideologias cujo acesso era limitado.
Com base no que foi exposto anteriormente e para concatenar as idéias ali expostas, temos na prosa literária brasileira o nosso Bernardo Guimarães com sua obra "A escrava Isaura", cuja personagem, título do mesmo, é uma mulata com traços totalmente europeus (brancos) e, apesar de sua genitora ser negra, não tem nenhum elo cultural com os escravos, bem como possuía privilégios inconcebíveis a uma escrava: educação refinada, saber coser, tocar piano, ler, escrever e bordar, predicados estes destinados às moças casadoiras e burguesas da época.

Logo, personagens como Isaura, apesar de escravizada e com algumas vantagens sobre os demais escravos, não representa a cultura africana, que se manifesta na religiosidade, culinária, vocábulos, danças, cantigas etc. Estes escritores acabam retratando a cultura africana com o esquema: CULTURA AFRICANA= ESCRAVIDÃO + SOFRIMENTO + LIBERDADE.
Baseando-se no que foi explanado, através de uma pesquisa bibliográfica, o atual trabalho abordou de maneira consciente a marginalização da cultura africana na obra "A escrava Isaura", tentou identificar resquícios desta cultura, analisou o papel do negro ou afro descendente nesta obra e descobriu possíveis explicações sobre a exclusão da cultura dos negros, num romance que se diz escravagista. Também verificou de que forma o negro é inserido nesta obra e identificou se há traços da cultura africana neste romance.


2. A DESCARACTERIZAÇÃO DO NEGRO DIANTE DA SOCIEDADE COLONIALISTA DO SÉCULO XIX.

A ditadura social foi imposta pelos que compunham as classes dominantes brasileiras do século XIX, através dos seus dogmas, isto é, regras e costumes, as quais os prestigiados devem seguir e os desprivilegiados respeitar sem contestar. Mas ao pensarmos em classe com privilégios, logicamente estamos falando do branco europeu, o nosso colonizador, e ao pensar em classe sem nenhum prestígio, fala-se sobre o negro, mão-de-obra barata e escravizada, responsável pela sustentabilidade dos grandes latifúndios. De acordo com Maria Aparecida Bento:


Em seus estudos sobre "Branquitude e branqueamento no Brasil". No campo da escravidão apenas os brancos saíram vitoriosos e com vantagens jamais conquistadas pelos negros escravizados, estes obrigados a trabalhar forçadamente sem privilégios e sem uma reparação após a sua liberdade, como também, tendência-se a defender um grupo em detrimento a outro que não esteja de acordo ou simplesmente haja afinidades e semelhanças com o que é dito pela sociedade. (2003, p. 27)



Ao valorizar um determinado grupo dando-lhes vantagens em detrimento de outro, sem perspectiva ou quaisquer garantias de uma vida digna, esquecemos que a formação do povo brasileiro é composta de três culturas distintas: branca, negra e indígena. Logo, nossa cultura não pode ser vista como homogênea, muito menos poderemos traçar um típico representante do nosso povo, pois a miscigenação originou tipos como: o mulato (mistura do negro com o branco), cafuzo (mistura do negro com o índio) e caboclo (mistura do branco com o índio). Segundo Lilian k. Moritz:

As teorias sociais darwinistas condenavam a mistura de raças que era um processo em pleno avanço em nosso país e tentar aplicar essas ideologias através de instituições de pesquisa e ensino seria negar uma realidade ali por mais que as heranças portuguesas estivessem impregnadas na nossa sociedade, os negros faziam parte daquela nação, mesmo com direitos e as suas liberdades culturais limitadas a estereótipos como a servidão. (2001, p. 21).


O etnocentrismo criado na exaltação de pessoas com a cútis branca e cabelos lisos, acaba não fazendo muito sentido, a tentativa de delimitar um perfil físico padrão do brasileiro, partindo do pressuposto de que a mistura de raças deixava marcas que identificavam em quais raízes étnicas e genéticas alguém possui através dos seus traços físicos.


2.1 O Abolicionismo e as leis (processo de libertação dos escravos)

Na segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira foi marcada por campanhas abolicionistas que visavam à libertação dos escravos. Durante este período foram criadas leis que se propunham a minimizar a situação dos cativos da escravidão. Vejamos algumas destas citadas por Wlamyra R. de Alburqueque e Walter Filho (2006, p.173):


Lei Eusébio de Queiroz (1850): determinava a partir daquele ano o fim do tráfico negreiro, em suma, nosso país obrigado e com medo da ruptura das relações comerciais com a Inglaterra, acabou adotando esta lei após episódio do "Bill Abirden". (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006)



Lei Saraiva Cotegipe ou dos Sexagenários (1885): que objetivava libertar os escravos a partir dos 65 anos, só que a maioria destes não atingia esta idade e aqueles que estivessem nessa faixa etária não teria direito a uma aposentadoria pelos anos de prestações de serviços, bem como, o governo não lhe garantia quaisquer vantagens para um final de vida digno. (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006)

Em 1855 o Conselheiro Saraiva propôs que a escravidão seria extinta em 14 anos e que o estado pagaria pequenas quantias por faixas etárias de escravos libertos, por exemplo, escravos entre 20 e 30 anos valiam 600 mil réis, já aqueles com menos de vinte anos valeriam 1 conto de réis (1 milhão) por cada um. Esta certamente era uma forma do governo querer amenizar o prejuízo que os grandes latifundiários teriam ao dispensar a mão-de-obra barata, em outras palavras interessante indenização. (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006).

Lei do Ventre livre (1871): idealizada pelo visconde do Rio Branco, ela propunha que todo filho de escrava nascido a partir daquela data era considerado livre, apesar de muitos latifundiários alterarem a data de nascimentos de seus escravos, bem como colocá-los em instituições de caridade e estes serem vendidos ou simplesmente as mães destes cuidariam deles até os oito anos e os seus senhores optavam em devolvê-lo em troca de uma indenização ou utilizar o trabalho destes até os vinte um ano de idade. (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006)

Lei Áurea (1888): abolia definitivamente a escravidão no Brasil e os seus ex-donos não teriam direito as quaisquer indenizações e todos os negros que estivessem sob regime da escravatura, teriam que impreterivelmente estarem livres a partir daquela data, bem como ,estes não eram mais obrigados a compactuar com a situação de cativo a qual vivenciou por quase quatro séculos eram. (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006).



Todas estas leis e outras que não foram citadas por terem uma relevância bem menor tinham um caráter mercantilista. Manter as relações comerciais era mais importante do que libertar seres humanos e dar a eles a oportunidade de ter uma vida digna, mesmo diante de sua diferença racial e cultural. Conforme Malheiro:


O processo de libertação doa escravos foram bastante lentas, as leis e ações jurídicas favoreciam os negros em parte, porque seus senhores não estavam dispostos a ficar com prejuízos financeiros, logo essas medidas jurídicas que visavam amenizar a vida dos cativos, em suas interpretações deixavam algumas ambigüidades, que davam certas vantagens aos donos dos escravos, limitando a liberdade dos negros. (1976, p.25):

2.2 O Surgimento de uma obra escravagista.

Durante toda esta agitação abolicionista, no campo da literatura, surge em 1875, Bernardo Guimarães, com sua polêmica obra escravagista "A escrava Isaura", que tem em sua temática a situação vivenciada pelo negro e afro descendente no período escravocrata. O autor acaba polemizando seu romance, quando cria um estereótipo de escrava completamente diferente do que se origina da mistura de uma escrava negra com um branco português, pois fisicamente a protagonista não tinha traços que evidenciassem sua ligação com o povo africano. Segundo Rosangela Boyd de Carvalho:

Em seu artigo intitulado "O negro na literatura brasileira: a necessidade de um novo paradigma de crítica social e literária" (Revista espaço Acadêmico Nº 76 - setembro de 2007 -mensal). A literatura brasileira durante o período abolicionista forjou uma maneira irreal da participação do negro na literatura dando-lhes estereótipos de branquitude européia de maneira positivista sem que o afro-brasileiro pudesse ser retratado culturalmente e fisicamente, podendo o mesmo de maneira justapor em prática a cultura dos seus antepassados. (REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO, 2007,Setembro/mensal,Ano: VII nº: 76)


Embora foram as classes ditas dominantes, buscando resguardar seus interesses que disseminaram as idealizações de origem e raça, criando empecilhos e limitações àqueles que não se assemelham ou tivesse algum conectivo e igualitariedade, fica bem nítido na personagem Isaura, cuja composição é de uma moça da corte, porque se a mesma não tivesse algo que a ligasse com seu publico leitor, a classe dominante portuguesa, este não teria a repercussão e sucesso que obteve. De acordo com Moura:


A assimilação da cultura afro-brasileira esteve enraizada sob a dominação católica que procurava conter os avanços de outras culturas dentro da nossa sociedade, logo as religiões fetichistas africanas tiveram que se incorporar aos moldes católicos, desempenhando um papel folclorizado sem algum cunho religioso, a qual mesma não possa está inclusa na cultura nacional, bem como, o negro reproduzido na literatura durante a fase de escravidão era o reflexo dos anseias e ideologias disseminadas pela nossa sociedade, como também manter este maniqueísmo social e racial, reativava os ideais do colonialismo, cujo estabelecia relações bem distintas entre os latifundiários e os escravos, em analogia assemelhando-se a idéia de Portugal- metrópole- dominador e Brasil - colônia- dominado. (1988, p.42).



2.3 A Inexistência de resquícios da cultura africana na obra de Bernardo Guimarães.

O espaço deste romance desenvolve-se por completo na casa grande, salvo quando a heroína, em parceria de seu pai, foge para Recife e vão morar numa modesta chácara. Quando tentamos identificar nesta obra traços, resquícios ou algo que nos remeta à cultura africana, mesmo em uma leitura minuciosa e aprofundada, não há referências à religiosidade africana como candomblé e as divindades africanas como "Orixás", muito menos vocábulos ou expressões originas da cultura africana.


- Virgem senhora da Piedade, Santíssima Mãe de Deus!... vós sabeis se eu sou inocente, e se mereço tão cruel tratamento. Socorrei-meneste transe aflitivo, porque neste mundo ninguém pode valer-me. Livrai-me das garras de um algoz, que ameaça não só a minha vida, como a minha inocência e honestidade. Iluminai-lhe o espírito e infundi-lhe no coração brandura e misericórdia para que se compadeça de sua infeliz cativa. É uma humilde escrava que com as lágrimas nos olhos e a dor no coração vos roga pelas vossas dores sacrossantas, pelas chagas de vosso Divino Filho: valei-me por piedade. (GUIMARÃES,2008, p. 68)



Em contrapartida, termos como "escrava" e "cativa" são utilizados com bastante freqüência, para que identifiquemos que a personagem principal, Isaura, vivencia a escravidão tanto quanto os outros escravos, porém de forma mais branda, porque se não fossem aqueles termos utilizados anteriormente, se criaria uma ambigüidade sobre o porquê da submissão da privilegiada escrava.


Subamos os degraus, que conduzem ao alpendre, todo engrinaldado de viçosos festões e lindas flores, que serve de vestíbulo ao edifício. Entremos sem cerimônia. Logo à direita do corredor encontramos aberta uma larga porta, que dá entrada à sala de recepção, vasta e luxuosamente mobiliada. Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. O colo donoso e do mais puro lavor sustenta com graça inefável o busto maravilhoso. Os cabelos soltos e fortemente ondulados se despenham caracolando pelos ombros em espessos e luzidios rolos, e como franjas negras escondiam quase completamente o dorso da cadeira, a que se achava recostada. Na fronte calma e lisa como mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração. Tinha a face.2 O Surgimento de uma obra escravagista.

Durante toda esta agitação abolicionista, no campo da literatura, surge em 1875, Bernardo Guimarães, com sua polêmica obra escravagista "A escrava Isaura", que tem em sua temática a situação vivenciada pelo negro e afro descendente no período escravocrata. O autor acaba polemizando seu romance, quando cria um estereótipo de escrava completamente diferente do que se origina da mistura de uma escrava negra com um branco português, pois fisicamente a protagonista não tinha traços que evidenciassem sua ligação com o povo africano. Segundo Rosangela Boyd de Carvalho:


Em seu artigo intitulado "O negro na literatura brasileira: a necessidade de um novo paradigma de crítica social e literária" (Revista espaço Acadêmico Nº 76 - setembro de 2007 -mensal). A literatura brasileira durante o período abolicionista forjou uma maneira irreal da participação do negro na literatura dando-lhes estereótipos de branquitude européia de maneira positivista sem que o afro-brasileiro pudesse ser retratado culturalmente e fisicamente, podendo o mesmo de maneira justapor em prática a cultura dos seus antepassados. (REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO, 2007,Setembro/mensal,Ano: VII nº: 76)



Embora foram as classes ditas dominantes, buscando resguardar seus interesses que disseminaram as idealizações de origem e raça, criando empecilhos e limitações àqueles que não se assemelham ou tivesse algum conectivo e igualitariedade, fica bem nítido na personagem Isaura, cuja composição é de uma moça da corte, porque se a mesma não tivesse algo que a ligasse com seu publico leitor, a classe dominante portuguesa, este não teria a repercussão e sucesso que obteve. De acordo com Moura:


A assimilação da cultura afro-brasileira esteve enraizada sob a dominação católica que procurava conter os avanços de outras culturas dentro da nossa sociedade, logo as religiões fetichistas africanas tiveram que se incorporar aos moldes católicos, desempenhando um papel folclorizado sem algum cunho religioso, a qual mesma não possa está inclusa na cultura nacional, bem como, o negro reproduzido na literatura durante a fase de escravidão era o reflexo dos anseias e ideologias disseminadas pela nossa sociedade, como também manter este maniqueísmo social e racial, reativava os ideais do colonialismo, cujo estabelecia relações bem distintas entre os latifundiários e os escravos, em analogia assemelhando-se a idéia de Portugal- metrópole- dominador e Brasil - colônia- dominado. (1988, p. 42).




2.3 A Inexistência de resquícios da cultura africana na obra de Bernardo Guimarães.

O espaço deste romance desenvolve-se por completo na casa grande, salvo quando a heroína, em parceria de seu pai, foge para Recife e vão morar numa modesta chácara. Quando tentamos identificar nesta obra traços, resquícios ou algo que nos remeta à cultura africana, mesmo em uma leitura minuciosa e aprofundada, não há referências à religiosidade africana como candomblé e as divindades africanas como "Orixás", muito menos vocábulos ou expressões originas da cultura africana.


- Virgem senhora da Piedade, Santíssima Mãe de Deus!... vós sabeis se eu sou inocente, e se mereço tão cruel tratamento. Socorrei-meneste transe aflitivo, porque neste mundo ninguém pode valer-me. Livrai-me das garras de um algoz, que ameaça não só a minha vida, como a minha inocência e honestidade. Iluminai-lhe o espírito e infundi-lhe no coração brandura e misericórdia para que se compadeça de sua infeliz cativa. É uma humilde escrava que com as lágrimas nos olhos e a dor no coração vos roga pelas vossas dores sacrossantas, pelas chagas de vosso Divino Filho: valei-me por piedade. (GUIMARÃES,2008, p. 68)



Em contrapartida, termos como "escrava" e "cativa" são utilizados com bastante freqüência, para que identifiquemos que a personagem principal, Isaura, vivencia a escravidão tanto quanto os outros escravos, porém de forma mais branda, porque se não fossem aqueles termos utilizados anteriormente, se criaria uma ambigüidade sobre o porquê da submissão da privilegiada escrava.


Subamos os degraus, que conduzem ao alpendre, todo engrinaldado de viçosos festões e lindas flores, que serve de vestíbulo ao edifício. Entremos sem cerimônia. Logo à direita do corredor encontramos aberta uma larga porta, que dá entrada à sala de recepção, vasta e luxuosamente mobiliada. Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. O colo donoso e do mais puro lavor sustenta com graça inefável o busto maravilhoso. Os cabelos soltos e fortemente ondulados se despenham caracolando pelos ombros em espessos e luzidios rolos, e como franjas negras escondiam quase completamente o dorso da cadeira, a que se achava recostada. Na fronte calma e lisa como mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração. Tinha a face
voltada para as janelas, e o olhar vago pairava-lhe pelo espaço. Os encantos da gentil cantora eram ainda realçados pela singeleza, e diremos quase pobreza do modesto trajar. Um vestido de chita ordinária azul-clara desenhava-lhe perfeitamente com encantadora simplicidade o porte esbelto e a cintura delicada, e desdobrando-se-lhe em roda amplas ondulações parecia uma nuvem, do seio da qual se erguia a cantora como Vênus nascendo da espuma do mar, ou como um anjo surgindo dentre brumas vaporosas. Uma pequena cruz de azeviche presa ao pescoço por uma fita preta constituía o seu único ornamento. (GUIMARÃES, 2008, p. 11)

O culto aos orixás, aos Voduns e Inquices divindades africanas trazidas pelos escravos existiu desde que eles aportaram no Brasil, sob a denominação genérica de batuque. Nas matas, nos rios, no interior das senzalas, o batuque se fazia ouvir, mas sempre longe dos olhos dos senhores, no esconso, fugitivo, nômade, como fé e memória, sob o peso da proibição oficial. Logo após a permissão ao batuque as religiões africanas começam a mostrar sua cara. Porém, os registros historiográficos surgem somente a partir das relações dos seus fiéis estabelecem com a religião do colonizador português. (LIGIÉRO, 1993, p. 23)


Diante do que foi exposto acima, a nossa cativa poderia certamente vivenciar a cultura africana, através da religiosidade, como muitos negros faziam ao associarem os santos católicos aos orixás. Isaura, por ter privilégios em analogia aos outros cativos, certamente poderia vivenciar um pouco da cultura de sua mãe sem tantos entraves. No entanto, aceitar a cultura afro seria para nossa escrava afastar-se dos privilégios e vantagens, por não possuir algo marcante que a remeta ao povo africano, neste caso especificamente a cultura.


- Podes dizer o que quiseres Rosa; mas eu bem sei, que na sala ou na cozinha eu não sou mais do que uma escrava como tu. Também deves-te lembrar, que se hoje te achas aqui, amanhã sabe Deus onde estarás. Trabalhemos que é nossa obrigação. Deixemos dessas conversas que não têm graça nenhuma. Neste momento ouvem-se as badaladas de uma sineta; eram três para quatro horas da tarde; a sineta chamava os escravos a jantar. As escravas suspendem seus trabalhos e levantam-se; Isaura, porém não se move, e continua a fiar.
- Então? - diz-lhe Rosa com o seu ar escarninho, - você não ouve Isaura? são horas; vamos ao feijão.
- Não, Rosa; deixem-me ficar aqui; não tenho fome nenhuma. Fico adiantando minha tarefa, que principiei muito tarde. (GUIMARÃES, 2008, p.53)



2.4 Personificações de escravos literariamente.

Neste romance, temos como personagens negros e afro-descendentes, a princípio Isaura e com participações menores Rosa e André. Isaura, filha do ex-feitor português Miguel e da escrava Juliana. A mãe da nossa cativa era objeto de cobiça do comendador, acabou pagando com a vida por não ceder aos caprichos deste. No romance pode se comprovar isto:


O Comendador (pai de Leôncio) nutria desejos libidinosos por suas escravas e os realizava a qualquer custo, entre as cativas havia uma que era a sua preferida, Juliana (mãe de Isaura), ela resistiu o quanto pode as investidas do seu Sinhô (senhor) e por não ceder de maneira voluntária, sofreu diversos castigos tão violentos que culminou em sua morte, deixando uma filha "Isaura", que despertou a compaixão e a sensibilidade maternal da mulher do comendador que criara a pequena escrava órfã como uma filha. (GUIMARÃES, 2008. p. 18)



A nossa escrava fora criada como uma sinhá, educada e cheia de predicados comum às mocinhas casadoiras da sociedade da época, não passava de um bibelô de sinhá, animal humano domesticado ou, como esbravejou o cunhado de Leôncio, "traste de luxo", fisicamente muito bonita despertava sentimentos sobre todos que a cercavam como:

? A inveja de Rosa
? A insegurança de Malvina
? Desejos libidinosos de Henrique
? O Ódio de Leôncio
? O antídoto psicológico O Belchior
? A paixão de André
? A ganância de Martinho
? A compaixão do seu pai
? O amor de Álvaro

Isaura mesmo submetida a este aprisionamento sabia usar uma dialética persuasiva, esquivando-se das investidas principalmente do seu algoz Leôncio. Conforme Bernstein este traço comportamental aplica-se em alguém:


Que possui um comportamento passivo-agressivo, isto é pessoas que sãos obedientes, entusiasmadas, corajosos, frugais, são agressivamente bondosos, possuem a necessidade de está sempre agradando, mantendo esta postura de maneira compulsiva sem que a mesma possa sofrer rachaduras. Portanto a Isaura se encaixa perfeitamente no perfil descrito acima, a mesma tem consciência da sua beleza e de suas diversas virtudes, compondo um caráter polido e este não poderia ser manchado no favorecimento carnal aos sinhozinhos ou aqueles que hierarquicamente exerciam um cargo com certo poder, com esta ideologia ela pretendia conquistar sua liberdade de maneira justa.(2001, p. 132).



Já Souza nos diz que este comportamento da personagem título do romance era típico e aplicável a escravos ladinos, que muitas vezes fingiam estar doentes, quebravam os instrumentos de trabalhos, bem como, mostravam-se dóceis e obedientes e servis, almejando algumas vantagens e regalias diante disto e usar o conhecimento que tinha sobre a dinâmica da sociedade escravista em seu proveito.(2009)


Outro personagem que também desperta a curiosidade do leitor é a Rosa, mulata assanhada, amante carnal do Leôncio, apaixonada pelo escravo André e com uma inveja desmedida de Isaura. Embora com uma participação irrisória na obra, a diversão desta invejosa escrava era tentar de alguma forma humilhar Isaura, na tentativa de diminuir o ar de sinhazinha que a escrava branca tinha e ao mesmo tempo fazer esta compreender que, mesmo com tantos privilégios, na hora da punição ela era tratada como qualquer escravo, sejam estes da casa grande ou da senzala, porque o castigo era aplicado sem vantagem alguma.Conforme o romance , há uma nítida percepção do caráter da personagem Rosa e o desdém que tem em relação à Isaura, porque a cativa branca mesmo numa situação de escravidão era hierarquicamente acima dos demais escravos, uma espécie de "Escrava-sinhá". Como Rosa não tinha estas vantagens e a inveja lhe corroia em seu íntimo, o meio que utilizava para afetar a escrava de alto nível era as intrigas, insinuações e até algumas provocações ditas diretamente a Isaura.
Conforme o romance , há uma nítida percepção do caráter da personagem Rosa e o desdém que tem em relação à Isaura, porque a cativa branca mesmo numa situação de escravidão era hierarquicamente acima dos demais escravos, uma espécie de "Escrava-sinhá". Como Rosa não tinha estas vantagens e a inveja lhe corroia em seu íntimo, o meio que utilizava para afetar a escrava de alto nível era as intrigas, insinuações e até algumas provocações ditas diretamente a Isaura:


- Tenho bastante pena de você, Isaura. disse Rosa para dar começo
às operações.
- Deveras! - respondeu Isaura, disposta a opor às provocações
de Rosa toda a sua natural brandura e paciência. Pois por quê, Rosa?...
- Pois não é duro mudar-se da sala para a senzala, trocar o sofá
de damasco por esse cepo, o piano e a almofada de cetim por essa
roda? Por que te enxotaram de lá, Isaura?
- Ninguém me enxotou, Rosa; você bem sabe. Sinhá Malvina
foi-se embora em companhia de seu irmão para a casa do pai dela.
Portanto nada tenho que fazer na sala, e é por isso que venho aqui
trabalhar com vocês.
- E por que é que ela não te levou, você, que era o ai-jesus
dela?... Ah! Isaura, você cuida que me embaça, mas está muito
enganada; eu sei de tudo. Você estava ficando muito aperaltada, e
por isso veio aqui para conhecer o seu lugar
- Como és maliciosa! - replicou Isaura sorrindo tristemente, mas
sem se alterar; pensas então que eu andava muito contente e cheia de
mim por estar lá na sala no meio dos brancos?... como te enganas!... se
me não perseguires com a tua má língua, como principias a fazer, creio
que hei de ficar mais satisfeita e sossegada aqui.
- Nessa não creio eu; como é que você pode ficar satisfeita aqui,
se não acha moços para namorar?
- Rosa, que mal te fiz eu, para estares assim a amofinar-me com
essas falas?...
- Olhe a sinhá, não se zangue!... perdão, dona Isaura; eu pensei
que a senhora tinha esquecido os seus melindres lá no salão.
- Podes dizer o que quiseres, Rosa; mas eu bem sei, que na sala
ou na cozinha eu não sou mais do que uma escrava como tu. Também
deves-te lembrar, que se hoje te achas aqui, amanhã sabe Deus onde
estarás. Trabalhemos, que é nossa obrigação. deixemos dessas
conversas que não têm graça nenhuma.( GUIMARÃES, 2009, p.53)






Outra personagem peculiar do romance é o escravo André, serviçal da casa grande, paixão de Rosa e apaixonado por Isaura. Sua participação consistia em ser submisso e solícito, bem como, com as investidas cada vez mais ousadas em conquistar a Isaura. Em um dado momento, sua baixa intelectualidade elucida que está fora dos padrões românticos idealizados pela aquela "escrava de luxo", após ter sido preterido por ela mais uma vez.

- Também tu, André, vens por tua vez aproveitar-te da ocasião para me atirar lama na cara?...
- Não, não, Isaura; Deus me livre de te ofender; pelo contrário, dói-me deveras dentro do coração ver aqui misturada com esta corja de negras beiçudas e catinguentas uma rapariga como tu, que só merece pisar em tapetes e deitar em colchões de damasco. Esse senhor Leôncio tem mesmo um coração de fera.
- E que te importa isso? eu estou bem satisfeita aqui.
- Qual!... não acredito; não é aqui teu lugar. Mas também por outra banda estimo bem isso.
- Por quê?
- Porque, enfim, Isaura, a falar-te a verdade, gosto muito de você, e aqui ao menos podemos conversar mais em liberdade...
- Deveras!... declaro-te desde já que não estou disposta a ouvir tuas liberdades.
- Ah! é assim! - exclamou André todo enfunado com este brusco desengano. - Então a senhora quer só ouvir as finezas dos moços bonitos lá na sala!... pois olha, minha camarada, isso nem sempre pode ser, e cá da nossa laia não és capaz de encontrar rapaz de melhor figura do que este seu criado. Ando sempre engravatado, enluvado, calçado, engomado, agaloado, perfumado, e o que mais e, - acrescentou batendo com a mão na algibeira, - com as algibeiras sempre a tinir. A Rosa, que também é uma rapariguinha bem bonita, bebe os ares por mim; mas coitada!... o que é ela ao pé de você?...
Enfim, Isaura, se você soubesse quanto bem te quero, não havias de fazer tão pouco caso de mim. (GUIMARÃES, 2008, p. 54)


Neste ponto, há a minimização das personagens Rosa e André, os quais não possuem em nenhum momento o desejo de liberdade ou pensam em fugir dando-lhes um ar de conformismo e passividade na trajetória desta obra.


É importante considerar que diante dos limites impostos aos africanos escravizados e seus descendentes, os esforços desses sujeitos na luta pela sua libertação representam um sentimento de coragem e indignação diante da escravidão e não apatia e passividade. (MUNANGA, 2004, p. 69)


De acordo com Souza:


Nem sempre os escravos, africanos ou crioulos, aceitavam integrar a sociedade escravista brasileira, enquandrando-se em algum tipo de relação com os seus senhores. Também foram varias formas de resistir a escravidão, que encontraram, seja negando-a totalmente pela fuga, seja negociando melhores condições de trabalhos.(2009. p. 97)



Eles se assemelham à protagonista também quando não há nada que os liguem ou possa evidenciar envolvimento com a cultura africana, tanto no campo da religiosidade como também, em suas dialéticas diárias, pois mesmo possuindo um grau de instrução inferior ao da nossa heroína, na linguagem desses não há nenhum termo yorubá ou algo semelhante às línguas e dialetos africanos.
Logo, podemos inferir que os negros ou afro-descendentes inclusos nesta obra, mesmo com personalidades díspares, são construídos sobre a mesma perspectiva, com total desnudação ou afastamento por completo de quaisquer resquícios que os liguem aos seus antepassados, bem como eles estão submissos em caráter de obediência e respeito à cultura dominante católica ariana, que os vê como uma raça inferior.


2.5 Justificáveis explicações sobre o autor e sua obra escravagista.

Quando questionamos a respeito da negligência destinada a cultura dos africanos no romance escravagista A escrava Isaura, podemos delimitar alguns pontos, tais como:

Bernardo Guimarães, ao publicar em 1875 sua mais famosa e polêmica obra, tinha consciência sobre as leis falidas que haviam sido criadas para minimizar a situação escravocrata, as teorias raciais as quais explicavam porque o negro era uma raça inferior, como também, as revoltas e fugas dos escravos para os quilombos. Conforme citado na pequena bibliografia de Guimarães:


O autor tinha como admirador o imperador D Pedro II. Portanto, para Guimarães, comprometer-se com a causa abolicionista abertamente prejudicaria o seu prestigio como escritor, já que seus leitores faziam parte das classes dominantes. Então, para manter-se numa zona neutra de maneira diplomática decidiu que os acontecimentos do seu romance fossem vivenciados em meados de 1840. (2008, p.102)


Bernardo Guimarães preferiu ficar fiel ao seu leitor, limitando-se a discernir apenas o que a sociedade burguesa daquela época aceitasse como normal, a por em risco sua brilhante carreira literária.

Um romance cuja temática não se restringisse a falar apenas da escravidão, mas sobre cultura dos negros, interessaria bem mais aos negros, que contraditoriamente não tinham instrução e condições financeiras para adquirir livros, qualquer que fosse o gênero textual. Nem mesmo os abolicionistas seriam adeptos de uma literatura assim, pois estes, defendendo a libertação dos escravos, nesta liberdade, não estavam incluso a liberdade cultural africana.

A escola literária "O Romantismo". (BUENO, 1968), na qual o autor estava inserido, não tinha como uma de suas características retratarem a realidade sem máscaras e de forma menos fantasiosa, como também, o escritor possui liberdade intelectual de enxergar o mundo conforme suas convicções físicas, psicológicas e criativas etc. E dentro desta estética literária perderam sua essência cultural.


O espaço destinado aos negros na literatura brasileira, principalmente durante o romantismo era as limitações que a sociedade era as limitações que a sociedade burguesa impunha aqueles descendentes dos povos africanos, sob o regime da escravidão, literariamente o negro era retratado como alguém submisso aos valores dos seus senhores e com desejo de liberdade, bem como, europeizado em seus e enraizado em uma cultura que difere da dos seus antepassados. (MOURA, 1988, p.56)

Malgrado, para que não houvesse a negligência da cultura africana na obra A escrava Isaura, seria necessário que o nosso país fosse livre politicamente, financeiramente e culturalmente, tornando- se auto-suficiente sem precisar que outras nações ditassem as rãs formas adequadas de conviver ,relacionar-se, trabalhar e etc., criando um "apartheid" cultural ao dividir os seres humanos por seus arquétipos físicos, tornando alguns como superiores e uma grande maioria com o inferiores, as quais criam empecilhos que limitam os seres humanos a ter uma vida digna, praticar livremente sua religião ou seita religiosa, ter o direito de escolher como deverá conduzir sua vida conforme suas convicções. A conscientização, que a marginalização. Exclusão e discriminação a cultura africana que faz parte da nossa cultura, seja na religiosidade, nas danças e músicas, no vocabulário e na culinária, não como negar que a cultura africana pode está presente até em coisas simples co mo um prato tipicamente brasileiro que é a feijoada idealizada pelos restos de comidas que sinhozinhos serviam aos escravos. (FONSECA, 2001, p. 87)



Segundo o artigo de Lilia Moritz (1997) Schwarz, professora livre docente no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), autora do livro "Raça e diversidade" em parceria com Renato Queiroz (EDUSP, 1997), a descoberta das diferenças raciais irá se formalizar nos finais do séc. XIX, quando a característica miscigenada ficará bastante enfatizada com o crescimento da população.

Agassiz (1865), por exemplo, um suíço que esteve no Brasil em 1865, concluía um de seus relatos assim "que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal entendida filantropia, a botar abaixo todas as barreiras que a separam, venha ao Brasil. Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças mais geral aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagando as melhores qualidades do branco, do negro e do índio, deixando um tipo indefinido, híbrido. Deficiente em energia mental" (1868-1871).
Gilberto Freyre na sua obra Casa grande & senzala (1930) criou o mito da democracia racial brasileira, a qual o cruzamento biológico, resulta em religiões mistas, praticas alimentares miscigenadas, de costumes cruzados que mal sabemos definir. A idéia de cor é algo bem diferenciado diante do carrossel de termos e definições para da conta da nossa definição nesta área, principalmente em nosso país que as pessoas se apresentam e se identificam através das raças.

Segundo Dalmir Francisco (2001) professor de Jornalismo e Radialismo da FAFICH-MG, Doutor em comunicação e cultura pela ECO/UFMG. Membro fundador do Instituto caldeamentos racial entre o branco europeu, o ameríndio e o negro africano, logo este modo de ver e desaparecer o negro, já que as elites brasileiras são herdeiras da tradição política européia assimilando o mito da pureza racial, criando barreiras para que aqueles não estivessem inseridos na chamada classe dominante, teriam empecilhos na chamada mobilidade social.


Esta pesquisa tem como finalidade analisar a marginalização da cultura africana no romance "A escrava Isaura" de Bernardo Guimarães, através de uma abordagem hipotético-dedutivo, na tentativa de descobrir novos aspectos e idéias, por meio de uma pesquisa bibliográfica e entrevistas com pessoas especializadas na temática abordada, bem como, estas servirão de base para o enriquecimento contextual deste trabalho, mesmo que empírico, o conhecimento aqui construído, surgirá logicamente com hipóteses e deduções coerentes do que não foi estudado o suficiente em trabalhos anteriores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma a exclusão da cultura africana na literatura brasileira foi a maneira que as elites latifundiárias tiveram de manter sua cultura européia portuguesa homogênea e um dos meios de difusão das ideologias da sociedade era a literatura, que apesar de querer quebrar paradigmas continuava a reproduzir o que as classes dominantes ditavam e queriam. Até o movimento abolicionista defendia a libertação dos escravos, falava sobre a cultura dos povos africanos que aqui aportaram e ajudaram também a construir a nossa identidade cultural, renegar esta contribuição seria por exemplo no campo da culinária trocar o nosso prato típico feijoada por pastéis de belém ou melhor ainda trocar nosso samba pelo "vira" dos portugueses. Logo todos aqueles que aqui adotaram esta terra como sua seja de maneira voluntária ou não contribui para o enriquecimento cultural desta nação, por isso é preciso fazer jus aos povos africanos que mesmo com culturas diferentes entre eles seja os Jejes ou de Angola escravizados pelo Brasil não criaram "apartheid" culturais de maneira positivista, respeitando as diferenças mesmo sendo oriundos da mesma nação e que mais adiante possamos ver realmente romances que resgatem a cultura africana enfatizando desde a religiosidade com também a parte gramatical, porque um dos vários lapsos do romance "a escrava Isaura" é retratar o sistemas escravagista de forma individualista no qual a personagem título é desprovida de quaisquer amarras com a cultura africana, denunciada apenas pela sua origem e de personagens como Rosa e André que se conforma em ser cativos sem almejar a liberdade. Logo estes escravos representados literariamente não estabelecem um vínculo justo com a cultura dos povos africanos, que não pode apenas ser vista sob a perspectiva da escravidão e dos sofrimentos, desejo de liberdade que as pessoas na situação de cativos eram sujeitados.Apesar que já se passaram 121 anos da extinção da escravatura, mas o negro e afro-descendentes continuam a ser retratados de maneira marginalizada e serviçal, submissos a cultura que ainda os vê como animal de tração remetendo-nos a época colonial e a religiosidade africana retratada é vista de maneira folclorizada, porque aceitar o candomblé , umbanda e etc. como religião para aqueles que dominam e ditam as regras sociais, seitas e cultos religiosos africanos estabelecem pactos macabros e desrespeitam as leis divinas, que pode ser visto na literatura atual ,cinema e televisão,. Um dia num futuro próximo esperamos que as pessoas se diferenciem apenas pelo caráter e que as outras diferenças não sejam subsídios para uma classificação de superioridade e inferioridade nos seres humanos e por fim todas as culturas dos povos que aqui se estabeleceram, inclusive os africanos estão entrelaçadas na cultura brasileira, porque o contato a convivência pacífica ou não, originou o que somos hoje uma nação multi- cultural da América do sul , logo seria irreal ao estabelecer um típico brasileiro e estaríamos marginalizando um passado e misturas de raças ,credos e etc. originando a heterogeneidade cultural, física, regional ,social ,e psicológica do povo brasileiro.Em termos culturais nosso país empobreceria muito sua cultura sem raízes africanas que deixaram marcas que prevalecem até os dias atuais, como seria nosso país sem o samba e outros batuques que originaram diversos ritmos , os afoxés, sem as tranças rastafári, os canicalons, acarajés, samba ? de- coco, maracatus, sem Yemanjá e Ogum que em nossos país estas divindades possuem o mesmo status que os santos católicos, então para finalizar os negros e afro descendentes não pediram para vim para esta terra tropical da América do sul e foram obrigados adotá-la como sua , no entanto ,da mesma forma como os europeus vieram para cá de outra forma e aqui disseminaram seus valores e tradições culturais e são reconhecidos como brasileiros, logo aqueles povos africanos pertencentes a tribos com culturas diversas e submetidos a um sistema escravocrata que os denominava como raça inferior e sobreviver as humilhações e castigos, enriquecendo a indústria latifundiária açucareira por quase quatrocentos anos, não podem ser vistos como mamulengos ou figuras decorativas da história do nosso país , mas participantes que ajudaram a construir a identidade cultural do Brasil.



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