Índice

0.      Introdução. 3

0.1.       Problema. 3

0.2.       Justificativa. 3

0.3.       Metodologia de trabalho. 4

1.      Referencial teórico sobre Coesão e Coerência textuais. 5

1.1.       Coesão textual 6

1.2.       Coerência textual 7

2.      A Manifestação da Coesão Textual na Música de Azagaia “Povo no Poder”. 8

2.1.       Coesão Referencial 8

2.1.1.        Coesão Referencial Exofórica. 8

2.1.2.        Coesão Referencial Endofórica – Anafórica. 8

2.1.3.        Coesão Referencial Endofórica – Catafórica. 8

2.1.4.        Coesão Referencial Temporal 8

2.2.       Elipse. 9

2.3.       Conjunção. 9

2.4.       Substituição. 9

2.5.       Coesão Lexical 9

2.5.1.        Reiteração. 9

2.5.2.        Colocação. 10

2.6.       Incompatibilidades coesivas. 10

3.      Coerência textual na música de Azagaia “Povo no Poder”. 10

3.1.       Breve Comentário sobre o Discurso de Azagaia e do Actual Presidente da República, Filipe Nyusi 11

4.      Conclusão. 12

5.      Referências Bibliográficas. 13

6.      Referências Electrónicas. 13

7.      Anexo. 14

 

 

 

 

 

  1. 0.      Introdução

Para que uma determinada sequência seja considerada uma verdadeira sequência textual subjazem-se vários aspectos, isto é, não basta que esteja estruturalmente organizada, precisam-se seguir certos mecanismos que ditam a sua textualidade. Dentre os vários mecanismos de textualidade que os teóricos da linguística propõem, destacam-se a Coesão e a Coerência, vistos como cruciais para a aceitabilidade de um texto. Portanto, com o trabalho que segue pretende-se fazer uma breve abordagem sobre os aspectos linguísticos de Coesão e Coerência textual, focalizando uma análise descritiva da música de Azagaia, “Povo no Poder”.

O presente trabalho tem como objectivos:

Geral:

  • Demonstrar a manifestação dos mecanismos de coesão e coerência textuais na música de Azagaia; e

Específicos:

      Discutir, de forma breve, sobre a abordagem teórica concernente aos mecanismos Coesão e Coerência textuais;

      Identificar os mecanismos de coesão e coerência textuais na música supramencionada;

      Analisar os mecanismos de coesão e coerência textuais na música de Azagaia.

0.1.Problema

A construção de um texto tem sido, por varias vezes, vista como uma actividade linguística não tão complexa quanto ela é, pois os usuários da língua, na sua maioria, ao produzirem uma determinada sequencia textual, não se têm preocupado rigorosamente com a manutenção fiel e condigna da coesão e coerência textuais em suas sequências. Porém, outros não têm deixado de fora este aspecto crucial na linguística textual. Considerando que um texto pode também ser um filme, uma música, um poema, etc. segundo a visão de Fávero e Koch (1983:25), neste trabalho fizemos a análise linguística da musica de azagaia, não só pra demonstrar até que ponto esta pode ser um texto, coeso e coerente, mas também para justificar a nossa aliança à concepção de Fávero & Koch, no concernente ao conceito de texto.

0.2. Justificativa

A nossa pesquisa esta centrada na análise linguística dos mecanismos de coesão e coerência na música de azagaia. Entretanto, a opção pela música de azagaia, como sendo o objecto de estudo, justifica-se pelo facto de a partir desta, não só podermos perceber até que ponto esta pode ser um texto coeso e coerente, mas também podermos reter a sua utilidade em análises textuais e como um texto passível de ser aplicado no Processo de Ensino e Aprendizagem, tendo em conta o nível ideológico dos alunos com os quais trabalhamos no Ensino Geral, tendo por isso uma relativa e indispensável contribuição.

0.3.Metodologia de trabalho

O trabalho científico, na sua generalidade, socorre-se de certos caminhos para a sua efectivação, aos caminhos usados neste contexto designam-se de metodologia de trabalho. Para tanto, neste trabalho importa-nos, em primeiro, identificar o tipo de estudo que pretendemos fazer, pelo que o nosso é de natureza Qualitativa, visto que faz uma abordagem profunda de um caso especificado, sem, no entanto, se importar com termos estatísticos. Neste caso, a nossa pesquisa seguiu um método Descritivo, na medida em que o seu ponto crucial é demonstrar de forma descritiva a manifestação da coesão e da coerência na música de Azagaia.

Quanto ao método de abordagem, usamos, justificada a natureza do trabalho, o Método Indutivo, para o qual Markoni & Lakatos (1992:81) dizem que é o método: “cuja aproximação dos fenómenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias, isto é, uma conexão ascendente”. Neste caso, para concretizar o objectivo do nosso trabalho, optaremos pela análise de aspecto mais particulares de coesão e coerência do texto de Azagaia “Povo No Poder” que subsequentemente nos vão levar à construção de uma conclusão generalizada.

No concernente ao Método de Procedimento, destacaremos a análise dos mecanismos de coesão e coerência do texto de Azagaia “Povo No Poder” baseando-se na Revisão Bibliográfica sobre os aspectos de textualidade, considerando a concepção de Gil (1991) apud Silva & Menezes (2001:21) sobre a Revisão Bibliográfica.

  1. 1.      Referencial teórico sobre Coesão e Coerência textuais

Para uma abordagem mais objectiva e clara, e que nos permita fazer uma análise concisa da textualidade da Música de Azagaia, como propomo-nos neste artigo, convém, em primeira instância, compreender a concepção que se tem, na área da linguística, no que respeita a textualidade, ora, a coesão e a coerência em si.

Neste ponto de vista, parece-nos apreciável discutir ou compreender o conceito de Linguística Textual, que por sua vez nos possibilitará a compreensão do subconceito de Texto ou Discurso, na concepção por nós assumida.

Entretanto, Lopes, Ana (2005:2) refere-se à Linguística Textual como sendo a área de investigação que privilegia o estudo do texto e, mais concretamente, dos aspectos linguísticos da organização textual, como objecto de conhecimento.

Contudo, a articulista acima mencionada, assumindo o texto/ discurso como fragmento verbal intencionalmente produzido por um sujeito ancorado num tempo e num espaço específicos, e dirigido a uma instância de alteridade que de raiz desempenha um papel decisivamente interventor na sua génese e configuração, refere que este não se define pela sua extensão, mas antes pela sua unidade semântica e pela sua relevância pragmática, sendo que, por isso, pode considerar-se o caso de uma “simples palavra” constituir uma unidade textual ou discursiva significativa. Ora vejamos, quando um usuário da língua produz uma das sequências linguísticas “olá”, “adeus” ou “parabéns” pode funcionar como texto/discurso, visto materializar e cumprir uma função comunicativa precisa, no caso, “uma saudação”, “uma despedida” ou “uma felicitação”, respectivamente.

Não obstante, o termo “texto”, na concepção de Fávero e Koch (1983:25) apud Fávero (2014:7), pode conceber duas acepções: primeiro, “texto” em sentido amplo, designando toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (uma música, um filme, uma escultura, um poema etc.), e, em se tratando de linguagem verbal, temos o discurso, actividade comunicativa de um sujeito, numa situação de comunicação dada, englobando o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor (ou pelo locutor e interlocutor, no caso dos diálogos) e o evento de sua enunciação.

Na mesma esteira conceptual, é aludido que o discurso é manifestado, linguisticamente, por meio de textos (em sentido estrito), neste caso, o texto consistiria em qualquer passagem falada ou escrita que forma um todo significativo independente de sua extensão. Trata-se, pois, de um contínuo comunicativo contextual caracterizado pelos factores de textualidade: contextualização, coesão, coerência, intencionalidade, informatividade, situacionalidade, intertextualidade e aceitabilidade. Porém, neste artigo, iremos interessar-nos com a compreensão dos aspectos que dizem respeito à Coesão e Coerência, assumindo a primeira acepção proposta por Fávero e Koch, pois o nosso objecto de estudo é uma música que assumimo-la como uma unidade textual, que merece uma análise. Segundo essa ideia, saliente-se que na perspectiva de Beaugrande e Dressier (1981) apud Fávero, a coesão e a coerência constituem níveis diferentes de análise.

Segundo estes, a coesão, manifestada no nível micro – textual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma sequência, sendo que, a coerência, por sua vez, manifestada em grande parte macro – textualmente, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim, eles assumem a coerência como sendo o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários e não mero traço dos textos.

1.1.Coesão textual

No que se refere à coesão, podemos dizer que, várias são as propostas de classificação das relações coesivas que se podem estabelecer formalmente num texto, porém, vale-nos apostar na de Halliday & Hasan que distinguem Referência, Substituição, Elipse e Conjunção e Coesão Lexical. Neste caso, vejam-se como estas se manifestam nas sequências textuais.

Referência — função pela qual um signo linguístico se relaciona a um objecto extra-linguístico. Ela pode ser situacional ou exofórica (isto é, extra-textual) e textual ou endofórica.

A textual ou endofórica pode ser:

  • Anafórica: quando o item de referência retoma um signo já expresso no texto.
  • Catafórica: quando o item de referência antecipa um signo ainda não expresso no texto.

Há três tipos de referência: pessoal (pronomes pessoais e possessivos), demonstrativa (pronomes demonstrativos e advérbios indicativos de lugar) e comparativa (por via indirecta, através de identidades ou similaridades).

Substituição — colocação de um item no lugar de outro(s) ou até de uma oração inteira. Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais, numerais, indefinidos, nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo “fazer” é substituto dos causativos, “ser” é o substituto existencial). Entretanto, Mateus et all (2003: 115) referem que a substituição pode se efectuar por sinonímia – selecção de expressões linguísticas que partilham a generalidade dos traços semânticos – por antonímia – selecção de expressões linguísticas com traços semânticos opostos – por hiperonímia – a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de classe – elemento – por hiponímia – a primeira expressão mantém com a segunda uma relação de elemento – classe – por holonímia – relação de todo – parte – por meronímia – uma relação de parte – todo.

Elipse — omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a substituição por zero (0). Pode ocorrer elipse de elementos nominais, verbais e oracionais.

Conjunção — tem natureza diferente das outras relações coesivas por não se tratar simplesmente de uma relação anafórica. Os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indirectamente, em virtude das relações específicas que se estabelecem entre as orações, períodos e parágrafos.

Coesão lexical — é obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o mesmo referente. Inclui-se aí, também, o uso de nomes genéricos cuja função coesiva está no limite entre as coesões lexical e gramatical, nomes estes que estão a meio caminho do item lexical, membro de um conjunto aberto e do item gramatical, membro de um conjunto fechado. Gramaticalmente, os nomes como a gente, a pessoa, a coisa, o negócio etc. (determinante + nome geral) funcionam como itens de referência anafórica; lexicalmente, são membros super-ordenados (hiperónimos) agindo como sinónimos dos itens a eles subordinados (hipónimos).

Outro factor de coesão lexical é a colocação, resultante da associação de itens lexicais que regularmente ocorrem. Virtualmente não há colocações impossíveis, mas algumas são melhores do que outras, tendendo para o padrão que, quando fortes, constituem os clichés.

1.2.Coerência textual

A coerência textual pode, assim, tornar-se como fundada sobre a adequação do conteúdo designativo vazado em cada enunciado simultaneamente à intenção comunicativa global que preside o texto e o “ domina”, segundo FONSECA (1992:35-36), mas para que o sentido global do texto seja preservado torna-se necessário observar as normas de coerência textual que tem a ver com a não tautologia, não contradição, e de recíproca relevância entre o comunicado nos sucessivos enunciados. Decorreriam da contradição e da tautologia, uma ruptura e uma redundância excessiva, que justamente viriam contrariar o desenvolvimento consequente da mensagem, a sua continuidade.

A totalidade de significação intendida pelo locutor representa o grande princípio de construção do texto que é dominado pela configuração global da intenção comunicativa. Entretanto, seguindo a concepção de Fávero e Koch (1983:25) apud Fávero no que se refere ao texto, seguimos com a análise textual da letra da Música de Azagaia “Povo no Poder”.

  1. 2.      A Manifestação da Coesão Textual na Música de Azagaia “Povo no Poder”

2.1.Coesão Referencial

2.1.1.      Coesão Referencial Exofórica

“Já não caímos na velha história”

(…)

Na sequência linguística em análise, pudemos perceber que, logo no primeiro verso, que vamos aqui designar de período, “já não caímos na velha historia”, é visível o recurso a uma das formas de estabelecimento de coesão num texto, neste caso, trata-se de coesão referencial, focalizada na exoforia, isto é, “a velha história” referida na sequência linguística supracitada, embora possa ser interpretada contextualmente, não foi objectivamente explícita no texto/discurso, sendo que o receptor da mensagem descodifica essa interpretação a partir de um enquadramento contextual da mesma sequência, sendo por isso, um caso de coesão referencial exofórica.

“Saímos pra combater a escória”

(…)

A referência exofórica a que nos referimos, patente no primeiro período, é também, visível no segundo período, quando encontramos a “escória” a que o sujeito enunciador se refere, pelo que, não está anteriormente referida no texto, isto é, trata-se de uma referência extra-textual.

2.1.2.      Coesão Referencial Endofórica – Anafórica

Mais adiante, os signos que estão no terceiro e quarto períodos, “Ladrões” & “Corruptos” são referencialmente retomados a posterior pela expressão “…essa gente”, pelo que se justifica a coesão referencial endofórica – anafórica. Porém, no período a seguir revê-se a retomada exofórica, visto que “o povo” que “já não chora” referido no texto é uma referência extra-textual.

2.1.3.      Coesão Referencial Endofórica – Catafórica

O primeiro período da segunda estrofe inicia-se com um mecanismo de coesão designado por Halliday & Hasan como sendo Coesão referencial endofórica – catafórica, pois quando olhamos para o elemento referente “isto”, percebemos que se refere a “Maputo”, isto é, a referência é anteriormente antecipada pelo referente “isto”.

2.1.4.      Coesão Referencial Temporal

No segundo período desta estrofe, verifica-se uma dupla referência temporal, quando se recorre aos segmentos indicadores do tempo “ontem” & “hoje”, porém, verifica-se também uma espécie de antonímia, que iremos abordar mais adiante. Contudo, são vários os mecanismos, quanto à coesão referencial, aos quais o sujeito enunciador se socorre para estabelecer a coesão na sua produção linguística, sendo que as referências desses mecanismos são os que já nos referimos.

2.2.Elipse

“[-] Já não caímos na velha história”

(…) “O povo que ontem(…) hoje…[-] perdeu o sono”(…)

Encontramos também o recurso à Elipse, como nos referimos anteriormente, esta é mais uma das formas de estabelecer a coesão textual, segundo a visão de Haliday & Hasan. Este recurso está no primeiro período, como se pode ver: “[-] Já não caímos…” verifica-se a omissão do pronome pessoal “Nós”, justificado o seu subentendimento nesse contexto.

Na segunda sequência, das acima descritas, encontramos a elipse quando se verifica a omissão da entidade com função denominal “ O povo”. Os casos de elipse mais notáveis no texto em análise centram-se na omissão de pronomes pessoais, isto é, é predominante a elipse nominal.

2.3. Conjunção

(…) “Baixa a tarifa do transporte ou sobe o salário mínimo.”(…)

Outro mecanismo do qual um usuário pode se socorrer para estabelecer a coesão entre os segmentos linguísticos designa-se de Conjunção. Neste caso, o sujeito enunciador não se absteve deste, pelo que podemos encontrar este mecanismo em sequências como a que se apresenta a seguir: “Baixa a tarifa do transporte ou sobe o salário mínimo. Nesta sequência linguística, verifica-se a coesão através da relação conjuncional alternativa ou disjuntiva que se estabelece entre a primeira e a segunda oração com recorrência à partícula conjuncional coordenada “ou”.

2.4. Substituição

O Norte – Presente/ O Centro – Presente/ O Sul – Presente”

Na sequência acima descrita podemos encontrar um mecanismo de estabelecimento de coesão textual, também denominado Substituição, visto que se verifica a colocação de um item, em cada segmento a seguir, no lugar de um outro, sendo que os itens colocados em substituição estabelecem uma relação de Meronímia, porque os elementos “Norte”, “Centro” e “Sul” são Merónimos do Holónimo “Povo”.

2.5.Coesão Lexical

2.5.1.       Reiteração

(…)Deixam o meu povo sem norte/Deixam o povo sem chão” (…)

Segundo Fávero (2014: 23), a reiteração é a repetição de expressões no texto, sendo que os elementos repetidos têm a mesma referência. Nesta vertente, demonstrar-se-á a ocorrência desta estratégia na seguinte sequência: “Deixam o meu povo sem norte/Deixam o povo sem chão”. Nesta sequência linguística, verifica-se a repetição do segmento linguístico “deixam”, nas duas orações acima apresentadas, que têm ambas como referente “o povo”, trata-se, portanto, de um mecanismo de coesão denominado Reiteração. Entretanto, há que salientar que, o “…sem norte/…sem chão” referidos na passagem textual supracitada, referem-se ao facto de o povo encontrar-se em desespero, vendo-se numa situação de “desnorteio”, em que a solução do problema só é possível a partir de uma intervenção imediata cujos meios serão justificados pelo fim a alcançar, neste caso, o reconhecimento do seu “poder”.

2.5.2.      Colocação

Fora a reiteração, encontramos a colocação como mais um elemento da coesão lexical. Esta é resultante da associação de itens lexicais que regularmente ocorrem no segmento textual. No caso da sequência em análise, a colocação verifica-se na expressão/termo “povo” que se sobrepõe em todo caso como Cliché[1] da toda a semântica textual.

2.6.Incompatibilidades coesivas

Senhor presidente, largaste…”

Na sequência linguística acima descrita, é visível uma incompatibilidade coesiva, pelo que, o sujeito enunciador tem como referência uma entidade a que se dirige com uma forma de tratamento cortês, porém, a forma verbal alocada ao segmento linguístico em causa mostra-se incompatível com a entidade referencial, isto é, há uma coesão referencial frásica.

  1. 3.      Coerência textual na música de Azagaia “Povo no Poder”

Basicamente, a coerência textual duma sequência linguística justifica-se pela sua não contradição, não tautologia e pela presença de uma elevada interligação semântica ou significativa dos segmentos linguísticos que perfazem o texto. No caso em estudo, não se apresentam contradições nem tautologias, entretanto, é visível a interligação semântica dos conteúdos que perfazem os períodos dos texto, partindo do princípio do texto até aos últimos segmentos linguísticos, pelo que o sujeito enunciador “denuncia” os maus tratos que o povo tem passado e “exalta” em outra instância o poder que este tem para com os seus malfeitores. Em linhas gerais, poder-se-ia dizer que o “texto” em análise tem como temática ou significado geral e único, que perfaz todo o texto a “exaltação do poder do povo”.

 

3.1. Breve Comentário sobre o Discurso de Azagaia e do Actual Presidente da República, Filipe Nyusi

O discurso do actual presidente, focalizado na expressão “o povo é meu patrão”, parece estar em sintonia com a música do Azagaia “Povo no Poder” pois, o Presidente da República coloca acima de tudo o autoridade do povo, se não vejamos:

Quando Azagaia diz que o povo já não aceita ser enganado nem pode ser coagido e por isso, sairá para combater os gestores políticos que extorquem o povo, nota-se na actual governação um esforço de pautar por uma governação transparente e política de prestação de contas. Num outro trecho, Azagaia diz que o povo que num passado recente anuía a muitas injustiças, talvez pela falta de consciência sobre seus direitos, hoje já está ciente dos mesmos, mercê do aumento da sua capacidade intelectual e crítica.

Azagaia sugere que as políticas passem do discurso para a acção e o actual Presidente da República diz que “este não é mais tempo de traçar políticas, é tempo de executá-las”

Azagaia aconselha ao governo, noutro trecho, a ponderar antes de tomar decisões cruciais sobre a vida do povo e o actual Presidente da República diz que o povo é “O Seu Único Patrão”, isto é, ele está ao serviço do povo pelo que suas decisões devem estar em sintonia com a vontade do povo.

Ao dizer ainda, “Se a Polícia é violenta, respondemos com Violência” pretende mostrar que a resposta do povo é directamente proporcional à acção do governo; se o governo optar pelo diálogo, o povo aceitará dialogar e o diálogo, a todos os níveis da sociedade, é a tónica do actual Presidente da República. Em outra escala, com a sequência, “aviso-vos meus senhores que terão pela próxima o Norte, o Centro e o Sul presentes” pretende alertar ao governo que caso não haja um diálogo profícuo entre os governantes e os governados, os tumultos serão à escala nacional porque o povo está ciente que tem poder de decisão.

      

  1. 4.      Conclusão

Após as nossa variada revisão bibliográfica sobre os aspectos linguísticos que marcam a coesão e a coerência textual, e que atribuem a textualidade a uma determinada sequência linguística, quer ela escrita ou oral, representada em diálogo ou em dialogismo, pudemos perceber que estes mecanismos são propostos de diferentes maneiras por diferentes teóricos. Entretanto, face à sequência linguística que propusemo-nos a analisar, uma música neste caso, compreendemos que, abraçando a perspectiva dos mecanismos propostos por Halliday & Hasan apud Fonseca (1992), esta Música, de Azagaia, intitulada “Povo no Poder” apresenta-se interligada através de vários mecanismos coesivos, dentre os quais podemos destacar a Referência, Elipse, Reiteração e Conjunção, como demonstramos a sua ocorrência no texto acima.

Concluímos também, que a sequência linguística em análise apresenta certas incompatibilidades coesivas, como é o caso da discordância das formas de tratamento usadas em algumas partes da mesma, como se pode ver também nas demonstrações feitas ao longo do nosso texto.

Por fim, no que se refere à Coerência, concluímos que na Música de Azagaia a Coerência textual é marcada pela ausência de contradições e tautologias dentro dos segmentos que perfazem o texto, contudo, focalizando o elevado nível de interligação semântica ou do significado entre os segmentos em toda a sequência textual, mantendo fidelidade à unidade semântica vista como o tema macro de todo o texto.

  1. 5.      Referências Bibliográficas

Fonseca, J. Linguística e Texto/Discurso: Teoria, Descrição e Aplicação. ICLP – Ministério da Educação. Lisboa.1992.

Mateus et all. Gramática da Língua Portuguesa. 5a Edição. Lisboa. Caminho Editorial. 2003.

SILVA, Edna Lúcia da & MENEZES, Estera Muszkat; Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação; 3a edição revisada e ampliada; Laboratório de Ensino a Distância da UFSC; Florianópolis, 2001.

  1. 6.      Referências Electrónicas

FÁVERO, L.. Coesão e Coerência Textuais. Editora Ática. 2014. Artigo disponível em http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/123829/mod_resource/content/1/LIVRO%20OK%20Coesão%20e%20coerência%20textuais%20Leonor%20Fávero.pdf, sítio electrónico consultado a 17 de Agosto de 2015, às 14h e 20 min.

Lopes, A. Texto e Coerência. CELGA/Faculdade de Letras de Coimbra. 2005. Artigo disponível em http://www1.ci.uc.pt/celga/membros/docs/Ana_Cristina/Texto_e_coerencia.pdf,sítio electrónico consultado a 17 de Agosto de 2015, às 12h e 05 min.

Letra de Música de Azagaia “Povo no Poder” disponível em http://www.vagalume.com.br/azagaia/povo-no-poder.html, sítio electrónico consultado a 20 de Agosto de 2015, às 15h e 34 min.

  1. 7.      Anexo[2]


[1] O termo “cliché” é geralmente usado para se referir à imagem ou ideia muito repetida, ora, estereotipada; neste caso, “Povo”, é referente à expressão ou palavra do texto concebida como “Chave”, segundo o dicionário da Língua Portuguesa Houassis3.

[2] Letra de Música de Azagaia “Povo no Poder” disponível em http://www.vagalume.com.br/azagaia/povo-no-poder.html, sítio electrónico consultado a 20 de Agosto de 2015, às 15h e 34 min.