A MAGNITUDE DA IGREJA NA IDADE MÉDIA:

Domínio Feudal Domínio Intelectual.

 

Aluno: Rivanildo da Silva Lino.

Professora Tutora: Cássia Marly Moreira Vilanova.

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.

Licenciatura em História (PED 0234) – História da Educação.

06/12/2010.

 

RESUMO.

Com a expansão do Feudalismo por a Europa Medieval, observamos a ascensão de uma das mais importantes e poderosas instituições desse mesmo período a Igreja Católica. Aproveitando-se da expansão do cristianismo, observada durante o fim do Império Romano, a Igreja alcançou a condição de principal instituição a disseminar e refletir os valores da doutrina cristã. Estabelecida em uma sociedade marcada pelo pensamento religioso, a Igreja este nos mais diferentes estratos da sociedade medieval. A própria organização da sociedade medieval (dividida em Clero, Nobreza e Servos) era um reflexo da Santíssima Trindade. Além de se destacar pela sua presença no campo da idéias, a Igreja também alcançou grande poder material como também o poder intelectual da escrita, das artes e da literatura. Durante a Idade Média, ela passou a controlar parte dos territórios feudais, transformando-se em importante chave na manutenção e nas decisões do poder. A própria exigência do celibato foi um importante mecanismo para que a Igreja conservasse o seu patrimônio, e o crescimento poder material e do conhecimento da cultura e dos costumes de uma época. Desse modo a Igreja chegou a causar reações contrárias dentro da própria instituição.

 

Palavras-chave: Igreja; Sociedade Medieval: Poder.

 

1 INTRODUÇÃO.

 

     A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida política, econômica e social do oriente. Depois vieram as guerras, a forme e as grandes epidemias. Nesse período, o cristianismo propaga-se por diversos povos, a diminuição da atividade cultural transforma o homem num ser dominado por crenças e superstições.

     Assim, apoiada em sua crescente influência religiosa, percebe-se que igreja passou a exercer importante papel na sociedade medieval. Desempenhando um papel de conciliadora das elites dominantes e procurando contornar os problemas provocados pela fragmentação da política e das rivalidades internas da nobreza feudal. Passando a conquistar dessa forma uma vasta riqueza material, tornando-se assim, dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa Ocidental, numa época em que a terra era a principal base da riqueza, Desse modo, a igreja, pode estender seu poder “universalista” sobre as diferentes regiões européias.

     Entretanto, percebemos que o poder da Igreja, não se restringe apenas ao domínio feudal. Pois, no plano cultural, a Igreja exerceu amplo domínio, trançando um quadro intelectualizado, baseado no ponto de que a fé em Cristo era o pressuposto fundamental de toda soberania humana.

     Dento do contexto de que apenas os clérigos é que fazia parte dos poucos que dominava o conhecimento da leitura e da escrita, assim sendo, tudo que se dizia ou pensava devia ter a permissão da Igreja. Caso contrário, a pessoa era considerada um herege inimigo da fé cristã, e dessa forma passava a sofrer várias punições entre elas: a fogueira e a masmorra.

     Utilizando da sua importância na política, a Igreja procurou difundir a idéia de conformidade da sua situação, principalmente em relação aos servos e deste modo tentar controlar os camponeses revoltosos. Assim, a Igreja considerou muitas revoltas camponesas como heresias.

     Desse modo, dá-se a entender que durante a Idade Média, a Igreja estabeleceu um império de proporções mundiais, tendo a tradição oral e a palavra do papa como únicas autoridades sobre as áreas da vida humana. Onde um só idioma deveria ser falado, de forma que a liturgia do culto fosse idêntico em todas as Igrejas. O historiador David Schaff define esse período da seguinte concepção: “nesta época, exaltava-se o sacerdócio e desprezava os direitos dos homens comuns. Pois, enquanto, o papa possuía poderes de Imperador, seus sacerdotes e outros clérigos recebiam status de reis e nobres. Onde qualquer reação que ameaçasse a diminuir essa autoridade era combatido com a excomunhão e censuras”.

     Dessa forma para combater as religiões consideradas pagãs, os padres fundamentam os seus argumentos no conhecimento da filosofia grega, extraindo dela, argumentos que viesse justificar as atitudes tomadas pela Igreja para impor o seu poder de dominação

     Percebemos que as discussões neste período, giravam em torno da fé, onde a Igreja se apoiava nesse contexto para justificar a sua crença, e dessa forma converter os não-crentes e ainda combater os não-crentes e os infiéis.

     Nesse sentido, cabe ressaltar que a educação, nesta época, esta vinculada ao ideário divino. A esse respeito, escreveu São Tomas de Aquino: “Parece que só Deus deve ser chamado de Mestre. Para Santo Tomás, a educação é uma atividade que torna realidade aquilo que é potencial. Assim, nada mais é do que a atualização das potencialidades da criança , no processo que o próprio educando desenvolve com o auxílio do mestre” (ARANHA,2006,p.116).

     E segundo Piletti (2006): “ A Igreja Cristã primitiva, tinha como missão realizar uma reforma moral do mundo, iniciando com a educação de seus próprios membros”.

     I igreja concluía que Deus tinha determinado o lugar de cada pessoa na sociedade humana. Alguns homens deveriam se dedicar a servir a Deus diretamente e louvá-lo e a pregar as palavras de Cristo pelo mundo. Esses homens eram os padres, monges, o clero em geral. Outros homens se dedicaram a defender a cristandade com armas na mão, combatendo os infiéis e praticando boas ações de justiça, defendendo os fracos.

     Dessa forma, podemos destacar que nesse período, toda ação pedagógica da Igreja, estava centrada em Deus, e tinha como finalidade principal combater as heresias e ser instrumento de salvação da alma.

 2 A IGREJA NA IDADE MÉDIA.

      A idade Média é o período situado entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Conceito estipulado no período do Renascimento Cultural (século XVI) voltado somente para a região da Europa Ocidental.

     Tem como marco inicial o ano de 476 a.C; (Com o fim do Império Romano no Ocidente tomada de Roma pelo Imperador germânico) e tem seu término no ano de 1453 d.C (com o fim do Império Romano no Oriente com a tomada de Constantinopla pelos Turcos).

     Esse período está dividido em Alta Idade Média (séc.VI –X); Idade Média Central (séc. XI – XIII) e Baixa idade Média (séc. XIV e XV). Com a queda do Império Romano (séc.V), deu-se a formação de inúmeros reinos bárbaros cujos os chefes pouco a pouco foram sendo convertidos ao cristianismo, surgindo assim uma soberania, influência da Igreja a educação no mundo ocidental.

     Em um período, em que o Império Romano começa a esfalecer devido a várias invasões germânicas, a Igreja Católica consegue manter-se como instituição social mais organizada. Assim, ela consegue definir a estrutura religiosa além de difundir o cristianismo entre os povos bárbaros, preservando muito elementos da cultura pagã-geco-romana.

     A fé nesse período, consistia na crena irrestrita ou na adesão incondicional às verdades reveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras (Bíblia) e devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja.

     De acordo com a doutrina católica, a fé representava a fonte mais elevada das verdades, especialmente aquelas verdades essenciais ao homem e que dizem respeito à sua salvação. Neste sentido, afirmava Santo Ambrosio: “Toda verdade, dita por quem quer que seja, é do Espírito Santo”.

     Assim, toda investigação filosófica ou científico não poderia, de modo algum, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Segundo essa orientação, os filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois, ela já havia sido revelada por Deus aos homens. Restava-lhes, apenas demonstrar racionalmente as verdades da fé.

     Não foram poucos, porém, aqueles que dispensaram até mesmo essa comprovação racional da fé. Eram os religiosos que desprezavam a filosofia grega, sobretudo, porque viam nessa forma pagã de pensamento uma porta aberta para o pecado, a dúvida  o descaminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela Igreja, em detrimento da fé).

     Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que defendiam o conhecimento da filosofia grega, na medida em que sentiam a possibilidade de utilizá-lo como instrumento a serviço do cristianismo, conciliado com a fé cristã, o estudo da filosofia grega permitiria a Igreja enfrentar os descrentes e demolir os hereges com as armas racionais da argumentação lógica. O objetivo era convencer os descrentes , tanto quanto possível , pela razão, para depois fazê-los aceitar a imensidão dos mistérios divinos, somente acessíveis pela fé.

     Entre os grandes nomes da filosofia católica medieval destacam-se Santo Agostinho e Tomás de Aquino, sendo os responsáveis pelo resgate cristão das filosofias de Platão e de Aristóteles respectivamente.

     A supremacia da igreja nesse período pode ser vista em duas tendências fundamentais: a Educação Patrística, que auxilia a exposição racional da doutrina religiosa e a Escolástica, dominante nas escolas durante o Renascimento Carolíngio, onde se pretende promover uma especulação filosófico-teológica.

     Percebemos que a Patrística definiu o pensamento cristão e consolidou a doutrina da Igreja em seus aspectos fundamentais. Seu caráter apologético no combate ao paganismo e às heresias que circulavam nos primeiros séculos do cristianismo, fez amadurecer nos conceitos fundamentais da teologia católica.

     Enquanto que a Escolástica, foi uma profunda modificação na estrutura cultural da Idade Média, pois permitiu o aprofundamento das discussões teológicas baseadas na razão.  As discussões neste período, giravam em torno da fé e da razão. “ Os escolásticos procuravam apoiar a fé na razão, a fim de melhor justificar as crenças, converter os não-crentes e ainda combater os não-crentes e os infiéis.” (ARANHA, 2006).

 3 DOMINÍO DA IGREJA.

      A Igreja Medieval, teve seu domínio sobre os povos bárbaros, devido a confusão causada pelas grandes invasões como também devido a descentralização no Império Romano, assim a Igreja teve forças para manter e conservar sua identidade institucional. Ela preservou elementos da cultura greco-romana, mas com um ponto de vista cristão e espalhando tudo isso entre os povos bárbaros.

     Nesse período, diversas interpretações da doutrina cristã e outras religiões pagãs se faziam presentes no contexto europeu. Foi através do Concílio de Nicéia, em 325, que se assentaram as bases religiosas e ideológicas da |Igreja Católica Apostólica Romana. Através da centralização de seus princípios e a formulação de uma estrutura hierárquica, a Igreja teve condições suficientes para alargar o seu domínio durante a Idade Média.

     Desde os tempos do Império Romano, a Igreja possuía uma hierarquia que, no decorrer da Idade Média, foi sendo pouco a pouco aperfeiçoada. A força da Igreja estava também na sua riqueza. Onde nos primeiros séculos da Idade Média, a igreja foi enriquecendo rapidamente por causa das doações de terras e dinheiro que recebia dos fiéis.Eram comum os bispos terem a posse de vários feudos com centenas de servos.

     Estabelecida em uma sociedade marcada pelo pensamento religioso, a Igreja esteve nos mais diferentes estratos da sociedade medieval. A própria organização da sociedade medieval (dividida em Clero, Nobreza e Servos), era um reflexo da Santíssima Trindade. Além disso, a vida terrena era desprezada em relação aos benefícios a serem alcançados. Dessa maneira, muitos dos costumes dessa época estavam influenciados pelo dilema da vida após a morte.

     O sistema sacramental era outra grande estratégia da Igreja daquele tempo. Através desse sistema, os sacerdotes recebiam poderes incríveis como, por exemplo, perdoar os pecados do povo e também de conceber ou retirar a vida eterna. Dessa forma, a Igreja Católica Romana caiu em grande erro.

     Usando de sua autoridade, a Igreja também abusou de perseguições a seres humanos sem direitos, sem liberdade e sendo terrivelmente explorados e censurados quanto à sua liberdade de consciência. A Igreja se afastava da sua doutrina e colocava em seu lugar falso poder, uma autoridade onde passava longe dos princípios eternos da Sagrada Escritura.

     Percebe que esse poder ia de encontro dos ensinamentos bíblicos, onde o poder da Igreja vem de Cristo e é subordinado à sua autoridade. Este poder, de modo algum, pode ser exercido com tirania, mas sim de acordo com a Palavra de Deus e sob a direção do Espírito Santo.

     Entretanto, alguns cristãos que viam na influência político-econômica da Igreja uma ameaça aos princípios religiosos começaram a se concentrar em ordens religiosas que se abstinham de qualquer tipo de regalia ou conforto material. Eles se retiravam e iam viver em grutas ou  se juntavam a religiosos insatisfeitos e iam morar em mosteiros ou abadias que eles próprios fundavam. Essas comunidades eram formadas por monges ou monjas. A diferença entre uma e outra é que as abadias eram governadas por um superior, o abade. Os monges trabalhavam como agricultores e pastores e eram ajudados pelos servos nas tarefas mais pesadas.

     O trabalho desses religiosos foi de grande importância no período medieval: instruíram os camponeses na prática da agricultura, mantiveram orfanatos, leprosários, escolas, hospitais e asilos. Um outro trabalho feito pelos monges e monjas no Ocidente medieval foi estudar e copiar textos greco-romanos nas enormes bibliotecas de seus mosteiros e abadias.

     Essa cisão nas práticas da Igreja veio subdividir o clero em duas vertentes: o clero secular, que administrava os bens da Igreja e a representava nas questões políticas; e o clero regular, composto pelas ordens religiosas mais voltadas às práticas espirituais e a pregação de valores cristãos.

     Sob outro aspecto, a Igreja também teve grande monopólio sob o mundo letrado desse período. Exceto os membros da Igreja, pouquíssimas pessoas eram alfabetizadas ou tinham acesso as obras escritas. Por isso, muitos mosteiros medievais preservavam bibliotecas inteiras onde grandes obras do Mundo Clássico e Oriental eram preservadas. São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, por exemplo, foram dois membros da Igreja que produziram tratados filosóficos que dialogavam com os pensadores da Antiguidade.

     Desse modo percebemos que a Igreja no período da Idade Média manteve o domínio feudal, devido a sua grande extensão de terras , como também o domínio cultural que está relacionado ao poder de nominação que envolve as questões da escrita, da leitura, além da expansão no campo da literatura, das artes, da política e na organização das camadas sociais na Idade Média.

      4 DOMÍNIO FEUDAL

      No inicio do Feudalismo, a Igreja apresentou-se como vanguarda, fundou escolas, ajudou os pobres desamparados, prestou auxílio material e espiritual, com o tempo, tornou-se poderosa e estava mais ligada à nobreza que ao povo. As pessoas idosas deixavam os bens em testamentos, havia o medo do inferno, além disso, a Igreja não dividia as terras como os senhores feudais; cobrava o dízimo e outros tributos; recebia grandes doações, etc. Com o tempo, tornou-se uma grande proprietária de terras e, era em muitos casos o clero e a nobreza ao mesmo tempo.

     Assim, um dos motivos que a Igreja Católica, se tornou tão poderosa e dominadora, se deve ao grande número de adeptos, além de ser dona de muitos feudos, sendo que esses bens vinha muitas vezes por doações deixadas por nobres em seus testamentos, a nobreza e a cúpula da igreja pertencia a mesma classe, a dos senhores feudais. Dessa forma, a Igreja se transformou na maior proprietária de terras da Europa Ocidental em um período em que a terra era a principal fonte de poder e de riqueza.

     Devido a seu domínio, a Igreja Católica, se tornou a única instituição centralizada que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com a as leis obedecessem aos costumes e a “vontade de Deus”. Dessa forma a vida quase não possuía variações de um feudo para outro.

     Dessa forma, na sociedade feudal, o clero e os nobres constituíam-se no setor dominante, onde a Igreja garantia sua autonomia, inclusive em relação aos reis e aos senhores feudais. A igreja Católica era, portanto, à instituição mais rica da sociedade feudal, onde o texto da época justifica essa situação. “ Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e os outros servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar Deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor.” (Freitas, 900 textos e documentos de História, pag.145).

 5 DOMÍNIO CULTURAL.

      Sob esse aspecto, a Igreja também teve grande monopólio sob o mundo letrado desse período. Exceto os membros da Igreja, pouquíssimas pessoas eram alfabetizadas ou tinham acesso às obras escritas. Por isso, muitos mosteiros medievais preservavam bibliotecas inteiras onde grandes obras do Mundo Clássico e Oriental eram preservadas. São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, por exemplo, foram dos membros da Igreja que produziram tratados filosóficos que dialogavam com os pensadores da Antiguidade.

     Por isso, a cultura da Idade Média foi muito influenciada pela religião católica. As pinturas, esculturas e livros eram marcados pela temática religiosa. Os vitrais das Igrejas traziam cenas bíblicas, pois, era uma forma didática e visual de transmitir o evangelho para uma população quase toda formada por analfabetos. Nesse contexto, o papa São Gregório (papa entre os anos de 590 e 604), criou o canto gregoriano. Era um outra forma de transmitir informações e conhecimentos religiosos através de um instrumento simples e interessante: a música.

     A influência da Igreja alastrou-se aos poucos entre os povos romanos e germânicos, transformando-a no principal elo de toda a população e garantindo certa uniformidade cultural à Europa Ocidental. Observa-se que no século IX, não existia na Europa quem não acreditassem em Deus, controlando a fé, a Igreja normatizava os costumes, a produção cultural,o comportamento e, sobretudo a ordem social.Aqueles que se desviavam de suas normas eram rigorosamente punidos. Sua influência também se fazia sentir na política.

     Percebemos que a cultura feudal foi caracterizada por uma visão do homem voltada para Deus e para a vida após a morte na Terra. Esse tipo de visão de mundo, em que Deus é considerado o centro do Universo, chama-se Teocentrismo.

     A moral religiosa condenava o comércio, o lucro e a usura ( empréstimo com cobrança de juros). As artes, as letras, as ciências e a filosofia eram determinadas pela visão religiosa divulgada pela Igreja.

     Nas artes, predominavam temas de inspiração religiosa. Nas letras, os sábios e eruditos só escreviam e falavam no idioma oficial da Igreja, o latim. A ciência reproduzia em suas explicações sobre a natureza interpretações feitas sobre os escritos bíblicos. Na filosofia, as últimas palavras cabia aos doutores da Igreja.

     Observa-se que em uma sociedade onde a ignorância era generalizada, a Igreja detinha dois instrumentos indispensáveis: a leitura e a escrita. Os reis nobres, recrutavam, forçosamente, no clero, os seus chanceleres, secretários, funcionários burocráticos, enfim, todo pessoa letrado imprescindível. Assim, o monopólio da Igreja só começaria a desaparecer no século XIV, com o fortalecimento do Humanismo e com o Renascimento Cultural.

     O desenvolvimento do conhecimento durante a Idade Média conta com particularidades diversas que se afasta daquela errônea perspectiva que a define como a “idade das trevas”. Contudo, a predominância dos vários religiosos e as demais condições específicas fazem do período medieval apenas singular em relação aos demais períodos históricos. Nesse sentido, o expressivo monopólio intelectual exercido pela Igreja vai estabelecer uma cultura de traço fortemente teocêntrico.

     Não por acaso, os mais proeminentes filósofos que surgem nessa época tiveram grande preocupação em discutir assuntos diretamente ligados ao desenvolvimento e a compreensão das doutrinas cristãs. Já durante o século III, Tertuliano apontava que o conhecimento não poderia ser válido se não estivesse atrelado aos valores cristãos. Logo em seguida, outros clérigos defenderiam que as verdades do pensamento dogmático cristão não poderiam estar subordinados à razão.

     Em contrapartida, existiam outros pensadores medievais que não advogavam a favor dessa completa oposição entre a fé e a razão. Um dos mais expressivos representantes dessa conciliação foi Santo Agostinho, que entre os séculos IV e V defenderia a busca de explicações racionais que justificassem as crenças. Em suas obras “Confissões” e “Cidade de Deus”, inspiradas em Platão, aponta para o valor onipresente da ação divina. Para ele, o homem não teria autonomia para alcançar a própria salvação espiritual.

     A idéia de subordinação do homem em relação a Deus e da razão à fé acabou tendo grande predominância durante vários séculos no pensamento filosófico medieval. Mais do que refletir interesses que legitimaram o poder religioso da época, o negativismo impregnado no ideário de Santo Agostinho deve ser visto como uma conseqüência próxima às conturbações guerras e invasões que viriam a marcar a formação do mundo medieval.

     Contudo as transformações experimentadas com a Baixa Idade Média viriam a promover uma interessante revisão da teologia agostiniana. A Chamada filosofia escolástica aparecia com o intuito de promover a harmonização entre os campos da fé e da razão. Entre seus principais representantes estava São Tomas de Aquino, que durante o século XIII lecionou na universidade de Paris e publicou “Suma Teológica”, obra onde dialoga com diversos pontos do pensamento aristotélico.

     São Tomás, talvez influenciado pelos rigores que organizavam a Igreja, preocupou-se em criar formas de conhecimento que não se apequenassem em relação a nenhum tipo de questionamento. Paralelamente, sua obra terá um composição mais otimista em relação a figura do homem. Isso porque acreditava que nem todas as coisas a serem desvendadas no mundo dependiam única e exclusivamente da ação divina. Dessa maneira, o homem teria papel ativo na produção de conhecimento.

     Apesar dessa nova concepção, a filosofia escolástica não será promotora de um distanciamento das questões religiosas e, muito menos, se afastou das mesmas. Mesmo reconhecendo o valor positivo do livre-arbítrio do homem, a escolástica defende o papel central que a Igreja teria na definição dos caminhos e atitudes que poderiam levar o homem à salvação. Com isso, os escolásticos promoveram o combate às heresias e preservaram as funções primordiais da Igreja.

      6 CONSIDERAÇÕES FINAIS;

      Concluí-se que durante a Idade Média, a Igreja Católica conquistou e manteve um grande poder: tinha muitos terrenos, influenciavam na decisões políticas dos reinos, interferia nas elaborações das leis e estabelecia padrões de comportamento moral para a sociedade.

     Como religião única e oficial, a Igreja Católica não permitia opiniões e posições contrárias as suas, aqueles que desrespeitavam ou questionavam as decisões da igreja, eram perseguidos e punidos. Na Idade Média, a Igreja Católica criou o Tribunal do Santo Ofício, para combater as pessoas que eram católicos. A Inquisição prendeu, torturou e mandou para a fogueira milhares de pessoas que não seguiam as ordens da Igreja.

     Por outro lado, alguns integrantes da Igreja Católica foram extremamente importantes para a preservação da cultura. Os monges copistas dedicaram-se a copiar e guardar os conhecimentos das civilizações antigas, principalmente os sábios gregos. Graças aos monges, esta cultura se preservou. Enquanto parte do alto clero (bispos, arcebispos e cardeais), preocupavam-se com as questões políticas e educacionais, Muitos integrantes da Igreja Católica colocavam em pratica os fundamentos do cristianismo. Os monges franciscanos, por exemplo, deixaram de lado a vida material para dedicarem-se aos pobres.

     Percebe-se que nos dois últimos séculos antes da Reforma formaram um verdadeiro período de trevas, onde Deus, então preparou homens e mulheres para uma grande transformação de proporções mundiais, cujos efeitos chegam até nós tanta imoralidade e perversão acabando assim por propiciar a entrada deste novo movimento. O mundo necessitava de Deus, da sua Palavra e de uma transformação que abrangesse não só a sua vida espiritual, mas também a restauração da dignidade humana. Tudo isso veio com a Reforma do século XVI.

     Hoje homem continua necessitando de Deus. É o momento de avaliarmos a missão da Igreja de Cristo e começarmos a produzir frutos que promovam a glória de Deus e resgatem a dignidade humana que está mergulhada no pecado, na corrupção e na violência do mundo atual.

     Entretanto, não queremos e nem podemos criminalizar ou repudiar a Igreja nos dias de hoje, com base nas suas ações passadas. As questões e práticas dessa instituição não são exatamente iguais àquelas encontradas entre os séculos V e XV. Dessa maneira, ao darmos conta do papel desempenhado por essa instituição religiosa, durante a Idade Média, obtemos uma grande fonte de reflexão sob tal período histórico.

                Comumente reconhecido como a “idade da fé”, o período medieval estabelece a consolidação do cristianismo no interior de toda a Europa. Para que compreendamos esse processo, é necessário que tenhamos primeiramente conhecimento sobre a notória organização que estabeleceu uma funcionalidade impar a essa instituição. Por volta de 325, membros da Igreja Cristã se reuniram na cidade de Niceia para discutir um amplo leque de questões organizacionais e espirituais.

     A partir desse momento a igreja passou a ser portadora de uma doutrina oficial que deveria ser disseminada por um corpo de representantes espalhados em toda a Europa. No século V, a hierarquia clerical seria sustentada pelos padres, que, por sua vez, seriam subordinados à autoridades dos bispos. Acima destes estavam os arcebispos e, logo em seguida, os patriarcas das mais importantes cidades européias. No ano de 455, o bispo de Roma se tornou papa, passando a controlar a cristandade ocidental.

     Historicamente, vários documentos e obras de membros do clero prestigiavam valores de caráter passivo e subordinativo. Desvalorizando a vida terrena, reforçavam que as penúrias e condições da existência material deveriam servir de alento para a espera de uma vida espiritual abundante. Com isso, a Igreja defendeu a ordem social estabelecida argumentando que o mundo feudal refletia, de fato, os desígnios de Deus para com os seus devotos.

     Paralelamente, podemos assinalar que outros dogmas, como o medo da morte, a pecaminosidade do sexo e o medo do inferno, eram de grande importância para o comportamento do homem medieval. A utilização de imagens sagradas também serviu como um importante instrumento didático para inculcar os valores de subserviência e temor ligados ao pensamento cristão. Tais ações sistemáticas foram importantes para que o número de fiéis abnegados atingisse números expressivos.

     A disseminação dos valores cristãos não só interferindo no pensamento religioso medieval, mas também ampliou o papel da Igreja no momento em que esta passou a controlar terras e influenciar determinadas ações políticas. Não por acaso, observamos que vários membros da nobreza e outros monarcas dessa época entregaram parte de suas propriedades para a Igreja, como prova de abnegação. Com isso, o papel desempenhado pelo clero na Europa Feudal atingiu os campos político e econômico.

     Sem dúvida, toda essa série de práticas, valores e ações foram determinantes na transformação da Igreja em uma instituição com amplos poderes. Desde sua gênese, percebemos que o cristianismo teve que negociar com os vários hábitos e crenças das civilizações pagãs, caso quisesse ampliar o seu número de convertidos.

     Além disso, devemos mostrar que a hegemonia da Igreja esteve diversas vezes ameaçada pela organização de seitas e heresias que buscavam valores não abraçados pela doutrina oficial. No século XI as dissidências com os lideres da Igreja Oriental culminaram no Cisma do Oriente, fato que deu origem à igreja Católica e à Igreja Bizantina. Nos fins da Idade Média, movimentos heréticos fixaram as bases de outras tensões que marcaram a Reforma Protestante, no século XVI.

 7. REFERÊNCIAS:

     ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. HSITÓRIA DA EDUCAÇÃO E DA PEDAGOGIA.São Paulo: Moderna, 2006.

     COTRIM, Gilberto. HISTÓRIA GLOBAL: Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 1999.

     GADOTTI, Moacir. HSITÓRIA DAS IDÉIAS PEDAGÓGICAS: Teorias Religiosas. São Paulo: Ática, 1996.

     MARROU, Henri Irenée. HSITÓRIA DA EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE. São Paulo: EPU,1990.

     MOREIRA, Daniel A. DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR: Técnicas e Tendências. São Paulo: Pioneira, 1997.

     PILETTI, Nelson. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. São Paulo: Ática, 1996.