Como uma civilização pode dizer ao mundo: eu fui maravilhosa! Talvez pelos resquícios que encontramos  no corpo de nossa cultura atual . A Grécia está presente no ocidente como uma estrutura de inspiração ao conhecimento: a do pensamento filosófico. Podemos nos inspirar no povo Grego na forma de fazer conjecturas, de nos espantarmos fortemente com a vida e, ao passo que nos espantamos, fazemos ciência e filosofia : “ Só na Grécia têm sábios, nos outros povos têm santos”, assim exprime Nietzsche a uma precisa análise deste povo do mar Egeu.

O mundo e o divino antes dos filósofos

Da organização política á arte encontramos resquícios de uma cultura que navegou tantos mares como  Odisseu ( Ulisses ); na literatura e na poesia onde os aedos contavam suas histórias servem de base estrutural – até hoje - para todas as construções de arte literária manifestada no ocidente. As praças para encontros, as discussões políticas em assembleias, as caravanas religiosas e as imagens aos deuses vivos. Mesmo na tradição das crenças atuais encontramos os passos das formatações dos Helenos na plasticidade de cultos e outras manifestações.

Mas, não podemos confundir...

“Há, portanto, algo de divino no mundo e algo de mundano nas divindades”, expressa Jean-Pierre Vernant, estudioso dos Helenos e, defensor de uma visão descristianizada da religião grega com vistas a uma honesta análise histórica sem cometermos os velhos vícios de vermos uma realidade com as visões da nossa. Por tudo se fizeram anexando o pensamento grego á religião cristã  reformulada no decorrer da história; não se abstiveram ( nem poderiam ) de usar Sócrates, Platão, Aristóteles para a formação do berço do sagrado no ocidente. O estudante desatento, poderá inferir este erro só porque se encontrará na cultura mítica grega características semelhantes na área do sagrado, mas, mesmo o tendo,não se mostrará esta religião cívica grega com os mesmos comportamentos  com a de hoje. Vernant nos fala que “num cosmos repletos de deuses, o homem Grego não separa, como se fossem dois domínios opostos, o natural e o sobrenatural. Estes permanecem intrinsecamente ligados um ao outro”.

  E dentro da estruturação de uma religião cívica onde as potências divinas interagiam com o social, tanto na formação das cidades estados, como, também, nas discussões para a melhoria e desenvolvimento das mesmas, é que vemos a divergência do cidadão grego antigo para um cidadão ocidental aos tempos de hoje. O culto da religião cristã é meramente pessoal, de pedidos pessoais, de interesses pessoais do que uma atividade abrangente como era na Grécia antiga. Mas esta força das potências dos deuses como Zeus, Apolo, Dionísio... Não impede o desenvolvimento da forma de pensar, pensamento mítico e o filosófico científico que trouxe para o nosso tempo a expansão do intelecto e da tecnologia, ambas dependentes uma da outra. Ruptura e desenvolvimento no mundo com o pensamento filosófico cientifico.

O mundo e os filósofos

Dos deuses era o mundo, dos Gregos vinham a confirmação de suas existências, logo, era um mundo repleto deles. Mas, eis a energia deste povo, a saúde e a alegria que tinha na imagética todos os seus pilares erguidos. E foi nesta saúde plena, e não, na doença do ressentimento que eles ousaram romper e filosofaram: “Os Gregos souberam começar na altura própria a filosofar”, a colocação está no livro, A FILOSOFIA NA ÉPOCA TRÁGICA DOS GREGOS de Friedrich Nietzsche. Um povo ardente e saudável poderia se acomodar e fenecer nesta felicidade e se refestelar dela, mas não aquele povo de origem Dórica que a tudo se posicionara com a curiosidade que resultara  das maiores descobertas náuticas e geográficas; Falo de um de seus filho mais ilustres de Mileto, Tales.

O século VI A.C. marcaria o ponto de partida para aquilo que na unanimidade da história da filosofia se afirma: o século que se iniciou o pensamento filosófico científico. Estes homens maravilhosos como Tales, Anaximandro, Empédocles, Pitágoras, Heráclito, Parmênides, Demócrito e, porque não, Sócrates ( Nietzsche aí o classifica entre os filósofos puros ) possuíam uma “unidade de estilo e uma origem única, talhados de uma só pedra, estes grandes homens , solitários e maravilhosos” tinham a força impetuosa de suas afirmações e argumentações que traziam um jeito novo de interpretar o mundo. Não mais as potências divinais, no entanto, as forças físicas da natureza num complexo encadeamento de causalidades onde a empiria negava as estruturas da fábula e da magia. Um passo extraordinário para a humanidade em que o povo Grego no respeito aos seus filósofos dava  á necessidade única de conhecer, eis a maior das contribuições da Hélade á posteridade.

Ao pensamento moderno uma atividade dos velhos mestres

O conhecido jamais será verdadeiramente conhecido. Assim repousa uma das mais longínquas proposições dos antigos mestres ás coisas. Não daríamos a esta noção tanta importância, senão, pela percepção do devir ao qual Anaximandro e Heráclito se debruçaram ( tema para outros comentários) com a máxima atenção. A percepção do devir autônomo e dinâmico faz-nos abstermos ás continuas peripécias de nossas vontades em fixarmos todas as coisas: “ Um rio jamais será o mesmo quando entrares nele”; “ O tudo é um” e tudo se transforma; “ Um ser que possui propriedades determinadas jamais poderá ser a origem” e sim, o vir-a-ser. Teríamos que rever tudo para longe superarmos as nossas reais noções de estarmos presentes no planeta, hoje. A contemporaneidade tem muito a descobrir com os velhos mestres e com esta civilização que grita aos quatros cantos: EU SOU MARAVILHOSA!!!

BIBLIOGRAFIA:

- A FILOSOFIA NA ÉPOCA TRÁGICA DOS GREGOS, Friedrich Nietzsche;

- OS PENSADORES – PRÉ-SOCRÁTICOS , vida e obra ( Consultoria José Américo Motta Pessanha);

- MITO E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA, Jean-Pierre Vernant;

- INICIAÇÃO Á HISTÓRIA DA FILOSOFIA, Danilo Marcondes;

- Artigo: PRÉ-PLATÔNICOS ou PRÉ-SOCRÁTICOS, Fernanda Bulhões ( Revista trágica: estudos sobre Nietzsche – 1º semestre de 2013- Vol.6 – Nº 1.