A luz que ilumina através dos tempos

Rebuscando no passado a memória viva para redescobrir a inútil capacidade de viver iludido.
Como todo começo felizmente tem um fim. Eis que chegou o ciclo final de todo o encadeamento de reflexões.
Ir a frente às vezes significa ir a pé outras rastejando, ou falando suavemente, outras berrando aos setes ventos...
Muitas vezes apoiadas pelas misteriosas circunstâncias, encontrou ferramentas oferendadas pelo caminho.
Na maioria das vezes nada viu a não ser as trevas nas entranhas profundas da razão humana.
Refletindo sentiu que a cegueira que vem de fora é a mesma cegueira interna que estava tentando curar.
Procurando na imensa vastidão dos livros, bebendo na fonte sagrada dos sábios mestres, descobriu que as palavras são facilmente pronunciáveis, enriquecem, sensibilizam e desaparecem dentro de nós tão logo o livro é fechado.
Abre assim gretas em nosso casulo fechado, traz ar fresco, cheiro de primaveras celestiais, mas também trás as conseqüências do conhecimento e a responsabilidade da escolha.
Como num sonho perfeito voamos de nossos pesadelos egoícos para alcançarmos mesmo que momentaneamente a vastidão onde o inusitado simplesmente repousa.
É o que basta? Somente olhar a vastidão inexplorada onde sabemos de que alguma forma ela também nos pertence?
Aos poucos um vazio profundo é preenchido pelo medo.
O medo do separado, o medo do fracasso, o medo de ter ido muito além e ter agora que viver como uma sombra de um passado congelado?

O medo de não ter forças suficientes para derrubar o muro que o separa do vasto e inexplorado jardim, da escura e fétida jaula.
O medo da responsabilidade de manter a chama viva e única no coração.
Pois agora que ela se acendeu e os olhos passearam pelas profundezas oculta da caverna que construiu para si próprio. um tremor inconfundível varre tudo.
E ali naquele canto onde refugias a alma, há bilhões de olhos a indagar. E agora?
Bilhões de sentimentos a implorar, não nos deixem.
Bilhões de orgulhosos discursos, discursando sobre si mesmo.
Não acredite! isto é apenas mais uma das grandiosas ilusões.
Não esqueças: Tu és o mestre das ilusões!
Diga chega! Diga que não quer mais.

A chama é fraca, mas ilumina o suficiente para mirar frente a frente a face da farsa.
A chama ainda é fraca, mas ilumina o suficiente o meu coração e ele há de despertar.
A chama ainda é fraca, mas já é uma centelha que descobriu que arde dentro e fora dos limites de seu propio domínio.
A chama ainda é fraca, mas o calor da esperança aquece, degela o espírito embrutecido pelo tempo.

E assim aos poucos se junta às chuvas, aos rios, ruma para o oceano onde encontra cada gota de cada canto, de cada lugar e ali na unidade repousa.
Queira ou não queira já não queremos passar despercebidos como que esquecidos de nós mesmos.
Não queremos nos enganar eternamente nos iludindo com os nossos prediletos jogos intelectuais.
Cansamos de nossas próprias loucuras, enjoamos de nossas caras de palhaços sérios, de cínicos omissos.
Alguns já sabem que não será fácil, mas ao menos tentarão queimar as cartas debaixo da manga, os blefes agora vazios e sem significados.
Olhar mais dentro dos olhos de nossos irmãos e fazer a pergunta. Não sente você a mesma coisa?
O emparedamento? O muro? A divisão? Os opostos?
Os pedaços, pedaços de nós mesmos que deixamos para trás?
Cada pedaço é como se estivéssemos morrendo aos poucos.
Sei que é assim! Mas não escuta também a voz que sussurra a verdade através dos tempos?
Sei que sim! Agarra-se a ela eis que o momento chegou.
A chama é fraca, mas ilumina suficiente uma greta por onde outra luz há de chegar