A LUDOTERAPIA NA ESCOLA DA FAMÍLIA

 ANELISA FREIRE GOMES*¹

HELENA DE CASTRO DUARTE*¹

LAÍS OLIVEIRA DE MORAIS*¹

MARCELA PARZEWSKI MARTINS*¹

NAYARA CRISTINA FERNANDES*¹

ANA PAULA BARBOSA*²

 

RESUMO: O Programa Escola da Família abre as portas das escolas aos finais de semana para toda comunidade, promovendo atividades culturais, esportes, prevenção de saúde e geração de renda (SÃO PAULO, 2009). O objetivo do trabalho foi pesquisar sobre a importância da ludoterapia na Escola da Família. A ludoterapia pode ser uma ferramenta muito importante para o programa, pois grande parte do seu público são crianças em situações vulneráveis. A ludoterapia é uma atividade terapêutica cujo o brinquedo é a ferramenta principal, ajudando as crianças a manifestarem seus sentimentos e lidarem com eles (AXLINE, 1972). A pesquisa para a realização do trabalho baseou-se em um levantamento bibliográfico de materiais já publicados, como livros, artigos e periódicos relacionados ao tema. Com isto podemos concluir que a ludoterapia é uma ferramenta muito importante, auxiliando as crianças a expressarem seus sentimentos, enfrentando-os, fazendo com elas se desenvolvam, melhorando o meio em que vivem.

Palavras chaves: Brinquedo, ludoterapia, Escola da Família

ABSTRACT: The Family School Program opens the doors of schools on weekends for the whole community, promoting cultural activities, sports, health prevention and income generation (SÃO PAULO, 2009). The objective was to research about the importance of play therapy in the Family School. Play therapy can be a very important tool for the program, because much of its audience are children in vulnerable situations. Play therapy is a therapeutic activity whose toy is the main tool, helping children to express their feelings and deal with them (Axline, 1972). The search for the making of the work was based on a literature review of materials that have been published as books, articles and journals related to the topic. With this we can conclude that play therapy is a very important tool, helping children to express their feelings, facing them, causing them to develop, improving the environment in which they live.

Key words: toy, play therapy, Family School

I. INTRODUÇÃO

O Programa Escola da Família foi desenvolvido em 2003, pela Secretaria da Educação, com o objetivo de as escolas abrirem aos finais de semana, promovendo atividades culturais, esportes, prevenção de saúde e geração de renda, contando com o auxílio de educadores, estagiários e voluntários. (SÃO PAULO, 2009)

As pessoas que frequentam o programa são vulneráveis e buscam na escola um espaço de lazer, acesso a serviços públicos e experiência de convívio e solidariedade, além disso muitas pessoas veem na instituição, um ambiente de acolhimento e segurança.

A ludoterapia pode ser uma ferramenta muito importante no Programa Escola da Família. Segundo Axline (1972, p. 9) “ A ludoterapia é baseado no fato de que o jogo é um meio natural de auto expressão da criança. É uma oportunidade dada a criança de se libertar de seus sentimentos e problemas através do brinquedo”.  Através do brincar, a criança manifesta seus sentimentos, sem se preocupar com os julgamentos do outro.

De acordo com Homem (2009, p. 21)

“Podemos definir a ludoterapia como “… uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta treinado em ludoterapia que providencia a esta um conjunto variado de brinquedos e uma relação terapêutica segura de forma que possa expressar e explorar plenamente o seu self (sentimentos, pensamentos, experiências, comportamentos) através do seu meio natural de comunicação: o brincar. ”

A sala lúdica é um local de descoberta, onde a criança está no comando da situação, se permitindo, expressando suas ideias, suas emoções, podendo odiar e amar, rir e chorar, estar com medo ou se arriscar, independente da forma que ela aja é aceita completamente.

O presente trabalho teve como objeto levantar dados através de uma pesquisa bibliográfica, sobre o uso da ludoterapia no Programa Escola da Família, contribuindo na aprendizagem do grupo, auxiliando na compreensão das técnicas metodológicas para o levantamento bibliográfico visando alcançar o objetivo supracitado.

II. REFERENCIAL TEÓRICO

O brincar é uma das principais atividades na infância. Segundo Papalia e Feldman (2010) brincar auxilia no desenvolvimento da criança, usando sua imaginação, descobrindo formas de solucionar problemas e a preparando para a vida adulta.

“O brincar está muito presente no dia-a-dia duma educadora de infância. É o instrumento principal pelo qual as crianças aprendem coisas novas e crescem a cada dia, a todos os níveis: cognitivo, emocional, linguístico, social e motor. É imprescindível haver este espaço para que as crianças se possam desenvolver. (HOMEM, 2009, p.21)

Brincando a criança é capaz de criar um mundo fictício, usando sua imaginação para criar cenários e representar personagens a partir de suas experiências. Piaget usa o termo Função Simbólica para se referir as representações mentais, onde a partir das palavras, números ou imagens, as pessoas são capazes de atribuir significados, e ajudando as crianças a evocar algo que não está presente, como o brincar de faz de conta. (PAPALIA; FELDMAN, 2010).

Segundo Schmidt e Nunes (2014)

“... o brinquedo é um elemento importante no desenvolvimento da criança, pois funciona como forma de expressão de seu mundo interno. Através do brincar, é possível que a criança evidencie sua imaginação e seu mundo “faz de conta”, e nesse processo elabore aspectos frustrantes da realidade, transforme algo passivo em ativo, aprenda a compartilhar e a experimentar um contato social, além de exercer a sua criatividade e o treinamento da plasticidade psíquica que lhe será útil por toda a vida. ”   

De acordo com Branco (2002) “O ato de brincar, o jogo, a história, ou o “faz-de-conta” ajuda a criança a compreender o mundo, a vida e a si mesma. Através dele ela ensaia compreensões, pondo em prática o que se passa internamente a ela, o que percebe, o que sente, o que pensa; é uma via de elaborações. O ato de brincar é a linguagem típica da criança, é a sua fala. O brincar implica em movimento. ”

Winnicott aponta a importância do brincar para o homem. Através das brincadeiras sentimentais, do mundo ilusório, o homem é capaz de enfrentar suas angustias. É brincando que a criança se prepara para a vida adulta e o brincar é substituído pelo trabalho. (STRAGLIOTTO, 2008)

O universo lúdico pode ser um instrumento terapêutico, onde através dos jogos e das brincadeiras a criança expressa o que sente naturalmente. Melanie Klein comparou o brincar com a associação livre, o jogo faz emergir questões do mundo interno sem pressionar a criança. “Ela observou que o brincar é o meio natural da criança dramatizar e elaborar seus conflitos e fantasias inconscientes. ” (STRAGLIOTTO, 2008, p.183)

Segundo Morais (2011, p. 14) “a ludoterapia consiste em uma atividade terapêutica que usa recursos lúdicos como mediadores do processo psicoterápico. ” A ludoterapia é aplicada nas crianças e o brinquedo é a ferramenta principal na intervenção, cuja finalidade é auxilia-las a resolver suas dificuldades. Brincando elas descarregam seus sentimentos e aprendem lidar com eles. Este processo terapêutico é para as crianças um direcionamento, fazendo-as reconhecer suas potencialidades. Segundo Axline (1972, p. 14)

“A ludoterapia... pode ser descrita como uma oportunidade que se oferece à criança de poder crescer sob melhores condições. Sendo o brinquedo seu meio natural de auto expressão lhe é dada a oportunidade de, brincando, expandir seus sentimentos acumulados de tensão, frustação, insegurança, agressividade, medo espanto e confusão”.

            O diálogo entre o terapeuta e a criança, se dá quando este brinca com ela, e assim a criança “se fala”, vivendo algo importante com o outro, o terapeuta, aprendendo uma nova forma de ser. (BRANCO, 2001)

A sala de ludoterapia transmite segurança ao paciente, com isto ele se sente livre e é capaz de se desbloquear e enfrentar seus sentimentos e dificuldades, evoluindo a cada sessão.

“Este papel de brincar permite à criança se “remover” de uma situação atual e adquirir uma nova perspectiva. Simulando através da brincadeira uma experiência ou situação assustadora ou traumática, e talvez mudando ou invertendo o resultado na atividade de brincar, as crianças são capazes de ir em direção a uma resolução, e assim, serão mais capazes de enfrentar ou se ajustarem aos problemas”. (LANDRETH apud BRANCO, 2002)

A aplicação, seja ela individual ou em grupo, possui princípios que norteiam o psicólogo, para que a sessão se desenvolva e a criança se sinta à vontade. Axline (1972) indica alguns princípios básicos, sendo o primeiro o estabelecimento de um bom rapport para que haja um relacionamento amigável e a criança sinta confiança no terapeuta. Para estabelecer o rapport em grupo, o psicólogo deve buscar a integração de todos e concentrar-se todos os participantes.  Para Axiline (1972, p. 79)

“As crianças estão mais dispostas a aceitar mais rapidamente o terapeuta quando em grupo. Possivelmente elas sentem maior segurança na aglomeração. De qualquer maneira, a criança em grupo parece desenvolver um sentimento de confiança no terapeuta bem mais cedo do que quando o faz em contatos individuais. Isto, é claro, varia com o indivíduo, mas há evidencias de que o grupo desenvolve melhor relacionamento desejável entre terapeuta e a criança”.

O segundo princípio diz respeito a aceitação da criança como ela realmente é. O terapeuta deve mostrar-se paciente e evitar críticas e elogios, para que a criança se sinta confortável e exprima seus sentimentos. Na aplicação em grupo, o psicólogo deve controlar suas repostas, para que a criança não se sinta comparada com a outra (AXLINE, 1972).

A aceitação da criança é fundamental para que ela possa se sentir livre para expressar seus sentimentos, sendo este o terceiro princípio, o sentimento de permissividade. Em grupo essa liberdade de expressão é contagiante. Segundo Axline (1972, p. 89) “A experiência em grupo parece acelerar o sentimento de permissividade da criança. Cada criança obtém do grupo um sentimento de segurança. À medida que cada uma delas dá um passo à frente, as outras ganham coragem necessária para prosseguir em suas atividades [...]”

O quarto princípio é o reconhecimento e reflexão dos sentimentos, onde o terapeuta reconhece os sentimentos e ajuda a criança a refletir sobre eles. Em grupo ele deve dividir sua atenção a todos os indivíduos, para que não haja sentimento de abandono (AXLINE, 1972).

Segundo Axline (1972), durante as sessões quem indica o caminho é a criança, o terapeuta a acompanha e a ajuda caso seja solicitado. Desta mesma forma é feita a aplicação em grupo. A terapia não pode ser apressada, pois cada criança tem o momento certo para revelar seus sentimentos e é extremamente importante o estabelecimento de limites, para que o indivíduo reconheça suas responsabilidades durante o relacionamento.

A ludoterapia poderá auxiliar o Programa Escola da Família, contribuindo para a expressão dos sentimentos das crianças que frequentam o programa, fazendo com que elas reconheçam que são capazes de melhorarem e mudar meio em que vivem. “O Programa Escola da Família trabalha no jovem suas potencialidades e conscientizando de seu poder de gerar ações capazes de melhorar a si mesmo e o meio em que vive. ” (SOUZA, 2010)

            Podemos perceber as grandes contribuições do brincar, como instrumento terapêutico, para o Programa Escola da Família, ajudando as crianças a se aceitarem, refletindo e expressando seus sentimentos e assim, reconhecendo suas capacidades.

III. METODOLOGIA

Na presente pesquisa discorremos sobre o Método Dedutivo, que se trata de um caminho, uma forma ou modo de pensamento para orientar uma pesquisa acadêmica. Existem vários métodos de pesquisa usados em trabalhos acadêmicos como, por exemplo, os métodos dedutivo, indutivo, hipotético dedutivo, dialético e fenomenológico. Cada método é vinculado a uma corrente filosófica que interpreta de jeitos diferentes a forma de ver a realidade. O método dedutivo é relacionado ao Racionalismo (PRODANOV e FREITAS, 2013).

“O método dedutivo, de acordo com o entendimento clássico, é o método que parte do geral e, a seguir, desce ao particular” (PRODANOV e FREITAS, 2013, p. 25), ou seja, é classificado como raciocínio dedutivo porque parte de uma lei geral e de dentro dela é ditado um caso particular.

Uma pesquisa pode ser feita de várias formas, por exemplo, pesquisa experimental, estudo de caso, pesquisa quantitativa, qualitativa, pesquisa de campo e bibliográfica. A pesquisa realizada foi feita a partir de materiais já publicados, como livros, artigos e periódicos relacionados ao nosso tema, sendo assim uma pesquisa bibliográfica.

Para a realização do trabalho o procedimento de coleta de dados foi a observação assistemática não participante. De acordo com Kaurark, Manhães e Medeiros (2010, p.62) “Na observação, são aplicados atentamente os sentidos a um objeto, a fim de que se possa, a partir dele, adquirir um conhecimento claro e preciso. A observação deve ser exata, completa, imparcial, sucessiva e metódica. ”

Na observação assistemática não há o controle das variáveis, sendo realizada de forma simples e sem planejamento. “A observação assistemática, também chamada observação não\\ estruturada, é aquela sem controle elaborado anteriormente e desprovida de instrumental apropriado. Nas ciências humanas, muitas vezes, torna-se a única oportunidade para o estudo de certos fenômenos. ” (KAURARK; MANHÃES; MEDEIROS, 2010, p. 62)

Segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 105) na observação não participante “ o pesquisador toma contato com a comunidade, o grupo ou a realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora. [...]. Isso, porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim determinado. ” Na observação não participante, o observador é visto como espectador, não interferindo e se envolvendo na realidade estudada, afim de atingir o seu objetivo.

IV. CONCLUSÃO

A partir do levantamento bibliográfico pode-se concluir que o brincar é essencial na infância, auxiliando no desenvolvimento da criança, fazendo com que ela represente um mundo irreal baseado em suas experiências. Sendo assim, o brincar pode ser uma ferramenta terapêutica, onde a criança expressa naturalmente o que sente, auxiliando-a a lidar com seus sentimentos.

A ludoterapia possui princípios que direcionam o terapeuta, para que este tenha um bom relacionamento com a criança, e ela se aceite como é, se sentindo livre para expressar seus sentimentos e refletindo sobre eles, encontrando o caminho a ser seguido no momento certo.

No Programa Escola da Família, a ludoterapia, pode ser uma ferramenta muito importante. O programa conta com a participação da comunidade, sendo grande parte do público crianças em situações vulneráveis. Desta forma, a ludoterapia pode ajudar os participantes do programa a lidarem com seus sentimentos, enfrentando-os, fazendo com que eles se desenvolvam e melhorem o meio em que vive.

V. REFERÊNCIAS

AXLINE, Virginia Mae. Ludoterapia: A Dinâmica Interior da Infância. Belo Horizinte: Interlivros, 1972.

BRANCO, Taciane Marques Castelo. A COMUNICAÇÃO ENTRE O TERAPEUTA E A CRIANÇA NA LUDOTERAPIA CENTRADA NA CRIANÇA. 2002. Disponível em: <http://www.apacp.org.br/wp-content/uploads/2012/03/art091.html>. Acesso em: 08 maio 2016.

HOMEM, Catarina. A LUDOTERAPIA E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR: REFLEXÕES DE UMA EDUCADORA DE INFÂNCIA. Cadernos de Educação de Infância, Lisboa, v. 88, p.21-24, set. 2009. Disponível em: http://apei.pt/upload/ficheiros/edicoes/CEI_88_Artigo2.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2016.

KAURARK, Fabiana da Silva; MANHÃES, Fernanda Castro; MEDEIROS, Carlos Henrique. Metodologia da Pesquisa: Um guia prático. Bahia: Via Litterarum, 2010. 88 p. Disponível em: <http://www.pgcl.uenf.br/2013/download/livrodemetodologiadapesquisa2010.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2016.

PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Dukin. Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto Alegre: Mcgraw Hill, 2010. 799 p.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013. 276 p.

QUEIROZ, Danielle Teixeira et al. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE NA PESQUISA QUALITATIVA: CONCEITOS E APLICAÇÕES NA ÁREA DA SAÚDE. Bvs: Pesquisa em Base de Dados, Rio de Janeiro, v. 15, p.276-283, abr. 2007. Disponível em: <http://www.facenf.uerj.br/v15n2/v15n2a19.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2016.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação. O Programa Escola da Família. 2009. Disponível em: <http://escoladafamilia.fde.sp.gov.br/v2/Subpages/sobre.html>. Acesso em: 04 abr. 2016.

SCHMIDT, Marília Bordin; NUNES, Maria Lúcia Tiellet. O Brincar como Método Terapêutico na Prática Psicanalítica: Uma Revisão Teórica. Revista de Psicologia da Imed, Rio Grande do Sul, v. 6, p.18-24, jun. 2014. Disponível em: <file:///C:/Users/Nayara/Downloads/Dialnet-PlayingAsATherapeuticMethod-5154961.pdf>. Acesso em: 08 maio 2016.

SOUZA, Carmen Ligia Alves de; CARVALHO, Terezinha dos Santos. PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA UM CAMINHO PARA EMANCIPAÇÃO. Etic: ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, São Paulo, v. 6, p.1-10, jun. 2010. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/view/2291/1885>. Acesso em: 04 abr. 2016.

STRAGLIOTTO, Cristina E. Boll. Pensando sobre o Brincar. Revista Contemporânea: Psicanalise e Transdiciplinidade, Porto Alegre, v. 5, p.180-187, jan. 2008. Disponível em: http://www.revistacontemporanea.org.br/site/wp-content/artigos/artigo174.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2016.