*Juliana Dorneles

A ludicidade é um tema que tem tomado um espaço no cenário nacional, principalmente na educação infantil, por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso permitir um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento em diferentes situações e uma variedade de experiências na aprendizagem.
As crianças fazem das brincadeiras uma ponte para o imaginário. Através delas expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias e desenvolvem características importantes para sua vida adulta, e o brincar em situações educativas, proporciona não só um meio real de aprendizagem, mas também que os adultos perceptivos aprendam sobre as crianças e suas necessidades. No contexto escolar isso significa professores capazes de compreender em que nível a criança está na sua aprendizagem, o que por sua vez, dá aos educadores a oportunidade, de gerar novas aprendizagens, tanto no campo cognitivo como no afetivo. Vygotsky (1984) atribui relevante papel ao ato de brincar na constituição do pensamento infantil. É brincando, jogando que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos, ou seja, brincando a criança consegue desenvolver-se em todos os sentidos.
E ainda para o mesmo autor a brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e a regra. E elas estão presentes em todos os tipos de brincadeiras infantis tanto nas tradicionais, naquelas de faz-de-conta, como ainda nas que exigem regras.
Diante disso este trabalho visa mostrar uma entrevista sobre ludicidade realizada com crianças da faixa etária dos 3 aos 8 anos e com adultos.
Na entrevista acima citada a criança x foi questionada sobre o que é brincar e a mesma respondeu, no momento em que estava brincando em sua casa de cavalinho com um cabo de vassoura, pelo cabo de vassoura, e atribuiu a isto um significado muito grande, pois desejava aprender que "brincar é jogar bola, brincar de carrinho e aprender", pois não sabia andar de cavalo e estava aprendendo naquele momento, ou seja, ela criou com sua imaginação um cavalo e representou a andar a cavalo, com isso (OLIVEIRA, 1989, P.42), diz que "A cada brinquedo sempre se esconde uma relação educativa. Ao fazer seu próprio brinquedo, a criança aprende a trabalhar e a transformar elementos fornecidos pela natureza ou materiais já elaborados, constituindo um novo objeto seu instrumento para brincar outras vezes, ela se aproveita de artigos nem de longe concebidos como brinquedos, adaptando-os as suas experiências lúdicas. O cabo de vassoura, por exemplo, ora é o cavalinho de pau, ora é aquilo que a fantasia infantil quiser".
Já na entrevista realizada com o adulto x foi feita a mesma pergunta da criança x,porém a resposta foi bem diferente,pois o adulto x afirmou que "brincar é uma maneira de passar o tempo e da criança se distrair". No entanto a importância do ato de brincar fica clara nos escritos de Nicolau (1988), quando afirma que:


Brincar não constitui perda de tempo, nem é simplesmente uma forma de
preencher o tempo (...) O brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança,
já que ela se envolve afetivamente e opera mentalmente, tudo isso de maneira
envolvente, em que a criança imagina, constrói conhecimento e cria alternativas para
resolver os imprevistos que surgem no ato de brincar (p.78).
Ou seja, podemos observar que brincar não significa apenas recrear, é muito mais, pois é uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo. A ação de brincar assim evoluciona, altera-se de acordo com os interesses próprios da faixa etária, conforme as necessidades de cada criança e também interesses com os valores da sociedade a qual pertence
E ainda a tradicionalidade com que as brincadeiras se mantêm em nossa sociedade atestam sua importância no processo histórico-cultural. O significado da atividade lúdica para a criança está ligado a vários aspectos: o primeiro deles, é o prazer brincar livremente; seguem-se o desenvolvimento físico que exige um gasto de energia para a manutenção diária do equilíbrio, do controle da agressividade, a experimentação pessoal em habilidades e papéis diversificados, a compreensão e incorporação de conceitos, a realização simbólica dos desejos, a repetição das brincadeiras que permitem superar as dificuldades individuais, a interação e a adaptação ao grupo social, entre outros.
Outro aspecto a relevante a ser considerado quando falamos em ludicidade é a idéia de jogo, o que ele traz de positivo para a criança, e para explicar isso Piaget (1976,p.160) diz que
"O jogo é portanto,sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo uma assimilação do real á atividade própria,fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça ás crianças um material conveniente,a fim de que jogando,elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores á inteligência infantil"
Ou seja,ao jogar, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende negocia e, sobretudo, estimula a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia. Aprende a conviver em grupo e a lidar com frustrações quando não ganha o jogo, apura a concentração e a atenção sobre tudo o que se está a passar à sua volta. Brincar (jogar) é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança.
E ainda sobre o jogo Kishimoto,salienta que "a utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a motivação interna do lúdico"(kishimoto,1994, p.36), sendo assim ao motivação de querer saber mais, que o lúdico dá a criança através do jogo,fortalece o aprendizado da criança e as vezes ela aprende sem se dar conta,de que está aprendendo e brincando ao mesmo tempo.
Em resumo,O Jogo e a brincadeira traduzem o real para o que se passa no mundo infantil. Quando brinca, a criança apura o intelecto e a sensibilidade além de muitas vezes demonstrarem através desses algumas necessidades. Além de ser uma forma de contextualizar, construir e ampliar novos conhecimentos e, desta forma, valorizar o tempo / espaço de cada criança . os adultos Podem ser agentes facilitadores, fundamentais na evolução das crianças e na sua própria evolução com aprendentes. É muito importante que os mesmos respeitem a ludicidade, pois é o espaço para a expressão mais genuína do ser. É o espaço e o direito que a criança tem para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos que a rodeiam.

REFERÊNCIAS
://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?ENTRID=39. Acesso no dia 20 de abril de 2011
OLIVEIRA, Sâmela Soraya Gomes de, DIAS, Maria da Graça B. B. e ROAZZI, Antonio. O lúdico e suas implicações nas estratégias de regulação das emoções em crianças hospitalizadas. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2003, vol.16, no.1 [cited 22 abril 2011], p.1-13. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722003000100003&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102-7972.

PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central do desenvolvimento. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

KISHIMOTO, T.M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 6. ed. São Paulo: CORTEZ, 1994.

*Graduanda do VIII nível de Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Campus Uruguaiana.