A LOGÍSTICA E O BANCO DE ALIMENTOS

 RESUMO 

       No presente trabalho busca-se mostrar como está a Logística e o Banco de Alimentos, levando em conta a quantidade de alimentos desperdiçada no mundo, o que equivale a mais da metade de toda a colheita de grãos no mundo. Tanto os países industrializados como os países em desenvolvimento, desperdiçam quase a mesma quantidade de alimentos, o equivalente a 670 e 630 milhões de toneladas respectivamente. Porém eles seguem um padrão diferente de desperdício. Nos países mais pobres ou em desenvolvimento, 40% das perdas ocorrem durante o processo de produção e transporte. Nos países industrializados mais de 40% das perdas ocorrem nas vendas no varejo e com o próprio consumidor. O desperdício ocorre também quando a empresa não consegue vender o excesso de mercadoria, cujo prazo de validade se esgota, ou quando novas entregas programadas com os fornecedores são feitas por força de contrato, sem que os produtos entregues anteriormente tenham sido comercializados em sua totalidade. 

 

Palavras-Chave: Banco de Alimentos, Desperdício, cadeia alimentar, Logística.

 

 INTRODUÇÃO 

 Com o avanço da tecnologia o acesso aos produtos e bens aumentou, deste modo também aumentou a necessidade de ter mais meios de transportes para suprir tanta demanda, pois o transporte é o principal componente da atual realidade da globalização.

Hoje uma boa logística de transporte está cada vez mais competitiva, pois há custos envolvidos no processo e o melhor gerenciamento dessas despesas faz com a empresa esteja à frente de outras. Estar em competitividade e ter benefícios que auxiliem tanto a empresa quanto o cliente para o crescimento e satisfação de ambos, pois um sempre dependerá do outro.  

Os bancos de alimentos propiciam a distribuição e aproveitamento dos alimentos, doados por empresas parceiras. Esses alimentos doados  estão fora dos padrões de comercialização, mas próprios para o consumo humano. Dessa forma o banco estabelece uma importante ferramenta de      combate à fome e ao desperdício de alimentos, destinando-se à população que se encontra em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar.

A logística dos bancos de alimentos se caracteriza por ser uma logística humanitária, termo que é muito novo no Brasil, mas já vem sendo estudado e aplicado nos EUA e na Europa (NOGUEIRA, 2008).

Além de ser essencial para aumentar a competitividade das empresas, a logística também é imprescindível na ajuda de comunidades vulneráveis afetadas por desastres naturais ou ocasionadas pelo homem, se caracterizando assim como uma logística humanitária, uma vez  que ela busca a pronta entrega visando atender o maior número de pessoas e organizando as diversas doações que são recebidas. Constata-se que a qualidade e a rapidez do atendimento são totalmente dependentes da forma como a cadeia de suprimento está sendo planejada.

A principal diferença entre a logística humanitária e a empresarial se encontra nos objetivos de cada uma. A última se caracteriza por ter como objetivo maximizar os lucros empresariais, já a logística humanitária objetiva salvar vidas e ajudar pessoas em situações vulneráveis.

Diante desse contexto, analisar a logística de um Banco de Alimentos será o foco desse trabalho, de modo a enfatizar a importância dela para viabilizar o aproveitamento da enorme quantidade de alimentos que são desperdiçados diariamente e atender da melhor forma possível às necessidades das associações beneficiadas.

1 LOGISTICA CONCEITOS E EVOLUÇÃO

 Na análise da logística uma das principais ferramentas é o ciclo de atividades, pois ele fornece uma perspectiva básica da dinâmica, das interfaces e das decisões que devem ser executadas para a criação de um sistema operacional.

As atividades da logística vão muito além do que simplesmente armazenar e transportar, pois, como ferramenta de gestão, a logística é a responsável pelo processo que vai desde a aquisição de material até a entrega ao consumidor.

Segundo Viana (2009) a logística é quem faz uma intervenção integrada que busca cuidar de suprimentos e distribuição de produtos de forma racionalizada, sendo que isso significa planejar, coordenar e executar todo o processo, visando à redução de custos e o aumento da competitividade da empresa.

A inclusão dos termos como cadeia de suprimento na definição da logística se refere a mudanças decorrentes do avanço tecnológico e de novas maneiras de organização do mercado e da sociedade que vem ocorrendo nos últimos anos. 

No que se refere aos fluxos para frente, reversos e bidiredionais, são  contemplados pela logística reversa, sendo que cada vez mais esses fluxos têm se tornado importantes para aumentar a competitividade das empresas, principalmente no que se refere ao setor de serviços. GIANOTTI (2010).

Viana (2009) descreve a logística, da seguinte forma: 

 Ao contrário do que muitos pensam, não é apenas a armazenagem, nem é sinônimo de distribuição, transporte ou movimentação de cargas. É um processo estratégico que gerencia o fluxo de materiais e informações, ocorridas entre o fornecedor e seu cliente, começando desde a aquisição da matéria-prima até a entrega do produto para venda, uso ou até consumo. 

 Segundo Christopher (2007), a logística é fundamental na orientação e na estrutura de planejamento que procuram criar um plano único para o fluxo de produtos e deformação ao longo de um negócio, ou seja, a Logística busca o melhor caminho com um menor custo e maior rapidez. 

 Logística é o processo de gerenciamento estratégico da compra, do transporte e da armazenagem de matérias-primas, partes e produtos acabados (além dos fluxos de informação relacionados) por parte da organização e de seus canais de marketing, de tal modo que a lucratividade atual e futura sejam maximizadas mediante a entrega de encomendas com o menor custo associado. (CHRISTOPHER, 2007, p. 03).

 Assim, a logística é usada como uma das vantagens que a organização tem no que se refere à competitividade, sendo que ela trata de um planejamento indispensável para que se tenha uma armazenagem adequada e transporte seguro na entrega de um determinado produto. 

Segundo Fernandes (1993, p. 191):

 A logística faz com que todo o planejamento desenvolvido pela empresa seja alcançado de maneira eficaz até que chegue ao consumidor final. É cada vez mais comum às organizações utilizarem esta ferramenta, como forma segura e bem planejada de fornecer seus produtos e serviços para seus destinatários, com isto, melhorando o acesso dos fornecedores com os clientes, de maneira que ele venha receber seu produto/serviço com maior comodidade em menor tempo, com a mesma qualidade, atendendo as expectativas destes, ou melhor, superando-as para que venham sentir-se satisfeitos em relação aos prazos e condições em que o mesmo foi solicitado.

 Sobre a logística Ballou (2006) esclarece que ela é associada a estudos e administração dos fluxos de bens e serviços, como também da informação associada que os coloca em movimento.  Ela precisa vencer o tempo e a distância na movimentação de bens ou na entrega de serviços, de forma rápida e eficiente. 

Fernandes  (1993, p. 191) relata que:

 Apesar, da logística ser responsável pelas grandes alavancadas do sucesso de muitas organizações, é cada vez mais comum estas empresas passarem por imensos problemas, já que reduzir custos com estocagens e o tempo de entrega nem sempre é tarefa fácil, cabe aos gestores desenvolverem estratégias para diminuir esses problemas.

 Já Bowersox e Closs (2007), a logística, no conjunto da  cadeia de suprimentos, existe para transportar e posicionar estoques com o objetivo de, cada vez mais, conquistar benefícios relacionados ao tempo, local e propriedade desejados pelo menor custo total. E, ainda deixa claro que tem como objetivo apoiar as necessidades operacionais nas compras, produção e no atendimento que correspondam com as expectativas do cliente. 

Se uma empresa não satisfaz constantemente as exigências relacionadas ao tempo e ao local, ela não tem nada para vender.  (BOWERSOX e CLOSS, 2007).

Ballou (2006) complementa essa afirmação quando diz que a logística trata da criação de valor para os clientes, fornecedores da empresa e todos aqueles que têm nela interesses diretos e que esse valor é manifestado primariamente em termos de tempo e lugar, ou seja, produtos e serviços não têm valor a menos que estejam em poder dos clientes quando (tempo) e onde (lugar) eles pretenderem consumi-los.

Como sabemos, se uma empresa não fica satisfeita constantemente com suas exigências relacionadas ao tempo e ao local, ela não terá nada para ser vendido. 

Se trata então, de uma inter-relação de funções que tem que ser bem sucedida dentro da gestão da logística integrada, ou seja, é preciso saber coordenar a competência funcional em uma operação a qual está voltada para os serviços aos clientes.

Sendo assim, todo trabalho funcional dentro de uma empresa precisa estar integrado nas diferentes áreas, sendo que as decisões em uma área funcional terão impacto sobre, por exemplo, o custo de outras áreas da empresa. 

Segundo Bowersox e Closs (2007) o trabalho logístico envolve cinco áreas importantes, sendo elas: 

 o processamento de pedidos, 

 estoques, 

 transportes, 

 armazenamento, 

 manuseio de materiais e embalagens. 

Sendo que a integração dessas áreas funcionais produz habilidades importantes para obter valor logístico. 

As três primeiras áreas funcionais da logística (processamento de pedidos, estoques e transportes) podem ser arrumadas em uma variedade de arranjos operacionais diferentes e cada arranjo é capaz de contribuir para um nível específico de serviço ao cliente com um custo total associado. Já a quarta e a quinta funcionalidade da logística (armazenamento, manuseio de materiais e embalagem) não têm o status independente das outras áreas. O armazenamento, manuseio de materiais e a embalagem são partes integrantes de outras áreas logísticas.

Já Ballou (2006) explica que as atividades que compõem a logística empresarial podem ser divididas em principais e de suporte. As atividades principais são estas: 

 serviços ao cliente, 

 transporte, 

 gerência de estoques,

 fluxos de informação e 

 processamento de pedidos.

Já as atividades de suporte são as seguintes: 

 armazenagem, 

 manuseio de materiais, 

 compras, 

 embalagem, 

 cooperação com produção/operações e 

 manutenção de informações. 

Os padrões dos serviços aos clientes estabelecem a qualidade dos serviços e o índice de agilidade com os quais o sistema logístico deve reagir. O transporte e a manutenção dos estoques são as atividades logísticas primárias na absorção de custos e cada uma delas representa entre metade e dois terços dos custos logísticos totais. 

O transporte agrega valor de local aos produtos e serviços, enquanto a manutenção dos estoques agrega-lhes valor de tempo. O processamento dos pedidos têm custos menores se for comparado com os custos do transporte ou de manutenção de estoques. Mesmo assim, é um elemento importante, já que determina o tempo total da entrega de mercadorias ou serviços a um cliente. (BALLOU, 2006)

 As atividades de suporte são consideradas como contribuintes para a realização da missão logística. Além disso, uma ou mais atividades de suporte podem não fazer parte do composto de ações logísticas de todas as empresas. (BALLOU, 2006)

 

1.1 LOGISTICA EMPRESARIAL

 Logística é a junção de quatro atividades básicas: 

 as de aquisição, 

 movimentação, 

 armazenagem e 

 entrega de produtos. 

A integração de todas as atividades envolvidas na logística constitui a logística integrada e embora essa integração das operações seja um passo para o alcance do bom desempenho é necessário que a logística seja bem administrada. Para que essas atividades funcionem, é imperativo que as atividades de planejamento logístico, quer sejam de materiais quer sejam  de processos, estejam intimamente relacionadas com as funções de manufatura e marketing.

A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo do produto final, assim como dos fluxos de informações que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável. (BALLOU, 2006, p. 24).

 Pode-se dizer que a logística empresarial é o gerenciamento da integração de todas as etapas do processo logístico que facilitam o fluxo dos produtos desde quando está se adquirindo a matéria prima até o ponto de consumo final. Abrange processos que vão desde o recebimento de pedidos até a entrega do pedido e só termina quando o cliente é atendido. A maior parte de suas operações ocorre sem a supervisão direta do gerente, por possuir uma característica geográfica dispersa.

Deve existir comprometimento de todas as pessoas ligadas ao trabalho de logística, independente da especialidade. Os funcionários devem ter conhecimento básico da importância que a sua tarefa tem para o bom desempenho do processo no contexto geral. Existem diversos desafios em gerenciamento logístico, mas um desafio que deve ser encarado com maior atenção é fazer essa integração com os funcionários, mostrando como funções específicas estão ligadas entre si e que a atividade não acaba em si mesma.  Neste sentido, Lima (2000, p.35) afirma que:

 Para que possa ser gerenciada de forma integrada, a logística deve ser tratada como um sistema, ou seja, um conjunto de componentes interligados, trabalhando de forma coordenada, com o objetivo de atingir um objetivo comum. Um movimento em qualquer um dos componentes de um sistema tem, em princípio, efeito sobre os outros componentes do mesmo sistema.

 Para o autor, a logística empresarial tem como meta garantir a disponibilidade de produtos e materiais nos mercados e pontos de consumo com a máxima eficiência, rapidez e qualidade, com custos controlados.

 1.2 LOGISTICA SOLIDÁRIA

 A logística solidária tem como principal fundamento a Economia Solidária que busca a inclusão socioeconômica, a geração de trabalho, renda e riquezas, a valorização das relações humanas e o respeito ao meio ambiente.

Com o desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, à medida que aumenta consideravelmente a produtividade do trabalho conduz sintomaticamente para uma concentração cada vez maior da riqueza. Como produto disto, têm surgido iniciativas associativas espontâneas no movimento social, as quais são denominadas como Economia Solidária, que busca outras formas de garantir aos homens se sustentarem e produzirem suas vidas, com base na solidariedade e na autogestão. Essas iniciativas, à medida que submetem a produção da riqueza ao controle consciente e planejado, como obra de homens associados, evidenciam um caráter transitório para outro modo de produção.

Dessa forma a alternativa econômica de colaboração solidária e coletiva tem a função de contribuir com cadeias de produção de maneira ecológica e socialmente sustentável. 

A economia solidária surge como modo de produção e distribuição alternativo ao capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram (ou temem ficar) excluídos do mercado de trabalho. A economia solidária harmoniza o princípio da unidade entre posse e uso dos meios de produção e distribuição (SINGER e SOUZA, 2000).

Já Martins e Gasparin (2006) relatam que existe um mundo em que os consumidores não são atendidos em suas necessidades básicas, fisiológicas e também alimentares. Assim os autores conceituam a logística solidária como:

 [...] o desenho, testagem e implementação de fluxos racionais que permitam o acondicionamento, transferência, armazenagem e distribuição de produtos e serviços realizados por pessoas com dificuldades no atendimento às suas necessidades mínimas, que executem essa atividade por conta própria ou assistidas por organizações. (MARTINS e GASPARIN, 2006, p. 28).

Cada um de nós, de alguma forma, estamos capacitados a fazer parte de uma rede solidária. Portanto, cada um de nós igualmente pode ser um agente dentro de uma Cadeia de Logística Solidária.

A rede solidária tem abrangência ampla, levando em conta as diversas formas de colaboração possíveis entre diferentes organizações no âmbito da  economia, política e cultura, enfatizando a relação colaborativa como central à constituição dessas redes.

Há necessidade de desenvolver uma cultura de solidariedade como sinônimo de parceria e de comprometimento mútuo na construção do bem estar comum.

Para o controle do desperdício e a luta contra a fome, especificamente, é certo que ainda são necessárias mudanças de valores para a criação de uma verdadeira consciência de solidariedade já que requer a participação de todos os atores sociais.

A prática da mudança de comportamento deve ser sistemática. Um exemplo disto reside no fato de que empresários e empreendedores nas indústrias, mercados e estabelecimentos como os restaurantes estejam dispostos a doar seu excedente aproveitável e os produtos próximos de ultrapassar a data de validade. Porém, poucas empresas doam comida, elas preferem jogar o excedente no lixo. Sobre esse assunto Velloso (2002), mostra que elas são empresas que apenas querem evitar problemas legais, como por exemplo, arcar com responsabilidade criminal, se acontecer de a comida doada causar uma intoxicação ou até a morte de alguém. 

Mas já existe um projeto lei que está em trâmite na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara desde 1997, o qual tem como finalidade isentar a responsabilidade civil e criminal por dano ou morte àquele que doa alimentos, desde é claro, que tenha sido de boa fé. 

2 BANCO DE ALIMENTOS

 De acordo com Ethos (2005), a história do Banco de Alimentos começou nos Estados Unidos, na década de 1960, onde nasceu o primeiro Banco de Alimentos do mundo, na cidade de Fênix, no Arizona. Lá, o aposentado John Van Hengel, que era voluntário de uma instituição social, teve a iniciativa de recolher doações de produtos alimentares que embora estivessem em boas condições, seriam destinados ao lixo. Com o aumento do volume das doações, teve a ideia de criar um armazém para estocar os alimentos coletados e depois distribuí-los para as instituições carentes. Surgiu assim o St. Mary’s Food Bank.

 Em 1979, foi criada a Second Harvest (Segunda Colheita), organização nacional, com o objetivo de combater o desperdício, por meio de doações, eles selecionavam e encaminhavam os alimentos para o consumo.   Mas ainda estava mais voltada para alimentos não-perecíveis, tanto que permitia a estocagem. 

Segundo Ethos (2005) posteriormente surgiu uma iniciativa comunitária preocupada em aproveitar alimentos preparados e perecíveis. Assim, em 1999 a Second Harvest passou a denominar-se America’s Second Harvest e em 2000 deu-se a unificação dos dois modelos. Hoje, este programa está presente nas principais cidades americanas, possuindo a sede em Chicago.

Nos EUA os doadores de alimentos são protegidos e incentivados por uma lei sancionada pelo presidente Bill Clinton em 1996 regulamentando a doação de alimentos a organizações sem fins lucrativos. (ETHOS, 2005)

Ainda de acordo com Ethos (2005) os Bancos de Alimentos foram aos poucos sendo reproduzidos em outros países, sempre operacionalizados pela iniciativa privada. Em 1984, a França foi o primeiro país europeu a desenvolver essa inciativa e em 1986 foi criada a Federação Europeia de Bancos de Alimentos. No Brasil a inciativa de implantar Bancos de Alimentos surgiu pelo SESC, entidade fundada, mantida e administrada pelas empresas do comércio e de serviços.

Conforme consta TCU, 2005, no Brasil, desde 2003, o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) apoia a implantação ou a modernização de Bancos de Alimentos. O Projeto Banco de Alimentos do MDS tem abrangência em todo o Território Nacional, sendo considerados beneficiários do Projeto, os Municípios com população acima de 100.000 (cem   mil) habitantes. A estratégia baseia-se no entendimento de que esses municípios detêm redes maiores de abastecimento e, portanto, maiores índices de desperdício.

Ethos (2005) relata que todo o trabalho dos Bancos de Alimentos é direcionado a instituições sociais, que são cadastradas, visitadas e permanentemente monitoradas. Estas devem ser legalmente constituídas (ou estar em processo de legalização), devendo realizar um trabalho de caráter social, cultural ou educativo e possuir espaço apropriado para o preparo das refeições. São priorizadas as entidades com menos recursos. A instituição preenche inicialmente uma ficha de cadastro e só é incluída no programa após a avaliação técnica de suas instalações. A inclusão depende ainda da disponibilidade de alimentos; o volume de gêneros alimentícios doados determina a quantidade a ser entregue e a frequência do atendimento a cada instituição.

De acordo com Gianotti (2010) enquanto a cadeia de suprimento tem como atores consumidores, acionistas e organizações que visam o lucro, a cadeia de suprimentos humanitária lida com beneficiários, doadores e organizações sem fins lucrativos. No caso dos bancos de alimentos, as organizações sem fins lucrativos são os próprios bancos de alimentos. Os doadores aparecem como doador financeiro e doador de produtos alimentares. Na cadeia de suprimentos humanitária, os beneficiários não recebem diretamente as doações financeiras porque são transformados em produtos, sendo que a relação dos doadores financeiros se limita aos bancos de alimentos.

Percebe-se que para incentivar e aumentar a participação de novas empresas parceiras é fundamental a aprovação de legislação específica que proteja as doações de boa fé feitas por elas e que as motive por meio de incentivos fiscais.

Um fator que aumenta o desperdício de alimentos no Brasil, é que existe uma lei  que não permite que restaurantes distribuam as sobras de alimentos, ou seja, os alimentos que não foram consumidos. Se isso fosse permitido, algumas toneladas de alimentos de boa qualidade e já preparados poderiam ser distribuídas entre as camadas mais pobres da sociedade.

A logística humanitária torna-se um instrumento importante para combater a fome e diminuir o desperdício de alimentos à medida que ajuda a distribuir da melhor forma, para pessoas em situação de vulnerabilidade social e nutricional, os alimentos que seriam desperdiçados ou jogados fora pelos supermercados ou pelas CEASA. Desta forma, existe a possibilidade de diminuir a distância entre esses dois extremos, que é a vulnerabilidade social e nutricional,  que são tão contraditórios.

Os Bancos de Alimentos e as associações beneficentes fazem o papel de intermediação, sendo que as associações são responsáveis diretamente pelo repasse dos alimentos para o público que atendem.

Observa-se que a logística de um Banco de Alimento é um grande desafio, principalmente pela impossibilidade de prever as doações e também a quantidade e a qualidades dos alimentos doados pelas empresas parceiras.

Os Bancos de Alimentos não possuem um único cliente, mas diversos públicos interessados, como as empresas doadoras, os funcionários, os voluntários e as associações cadastradas. Assim, deve procurar satisfazer a todos eles. Os diferentes interessados possuem expectativas e percepções distintas com relação ao Banco de Alimentos, o que os leva a diferentes avaliações da qualidade de serviços. As associações cadastradas tem uma expectativa baixa em relação à qualidade do serviço, pelo fato de receberem um serviço gratuito, ou seja, muitas vezes os beneficiários veem os serviços prestados pelos Bancos de Alimentos como ações de caridade e, portanto, não se sentem no direito de reivindicar nada além do que lhes é oferecido. Contudo, embora suas expectativas sejam baixas, suas necessidades são muito grandes. 

Assim, os Bancos de Alimentos devem procurar atender as necessidades de determinados clientes, ao invés das expectativas. Levando sempre em conta as dificuldades enfrentadas pelas associações, pois como já citamos, se trata de um serviço gratuito. 

Desta forma, a logística é fundamental para o desenvolvimento do banco de alimentos, sendo um dos seus principais pilares. Os alimentos são transportados da empresa doadora até o banco de alimentos, sendo feito tais procedimentos através da logística, em que são analisados, classificados, armazenados e posteriormente distribuídos para as entidades beneficentes. 

Porém, apesar da logística ajudar muito o banco de alimentos, é preciso lembrar que existem as dificuldades para que estes alimentos sejam doados pelas empresas pois,  elas sofrem com as leis que são rigorosas e também não tem nenhum incentivo do governo em fazer tais doações. 

CONCLUSÃO

 O presente trabalho teve como foco, estudar a Logística e o Banco de alimentos. Esse cenário atesta uma triste realidade de nosso país: a da fartura de produção de alimentos versus a fome e a desnutrição. O desperdício proveniente do esbanjamento sinaliza falta de conscientização de toda a sociedade e ausência de gestão de perdas por parte das empresas de produção e abastecimento.

O Banco de Alimentos, como agente atuante no combate ao desperdício Alimentar, vem causando impacto duplamente positivo. Sua iniciativa ameniza a degradação social garantindo segurança alimentar a pessoas necessitadas e, concomitantemente, contribui com a preservação ambiental.

Emprega-se a Logística como ferramenta de racionalização e eficiência nas operações de coleta de doações, armazenamento e distribuição, construindo um elo de solidariedade entre todas as organizações envolvidas.

A empresa, como promotora de qualidade de vida da comunidade, também pode incluir em sua rotina ações de solidariedade voltadas para a construção de uma sociedade sem fome. Porém o empresariado brasileiro do ramo alimentício é desestimulado à prática da doação pela existência de leis rigorosas em caso de danos por intoxicação.

O acesso de toda a população a alimentos de qualidade e em quantidade suficientes para uma vida produtiva e saudável é um direito básico para a segurança alimentar, e o esforço permanente de uma ação conjunta e coordenada entre Governo, organizações civis, e empresariados é fundamental para que isso aconteça.

 

 

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