IRISMAR BATISTA DA SILVA AQUINO

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA

LETRAS/LIBRAS

INTRODUÇÃO

A literatura contribui para o desenvolvimento cognitivo do ser humano, facilitando a interação social e cultural, além de modificar a realidade através da imaginação. Para o leitor surdo, a Literatura visual/surda é importante em sua formação, uma vez que fortalece sua identidade cultural e permite a construção e o desenvolvimento de uma tradição literária surda. Assim, fazer uma pesquisa bibliográfica relacionada à literatura visual/surda no Ensino Fundamental desperta o desejo de nos aprofundarmos na busca de métodos que estimulem a discussão sobre a produção e o ensino da literatura surda nas escolas.
A Literatura possibilita contar, narrar e criar histórias. Através da literatura, as pessoas transmitem sua cultura às gerações seguintes. Com os surdos, o acesso ao mundo literário é feito por meio da leitura visual em sua língua de sinais que, para os surdos brasileiros, é a LIBRAS.
É nesse sentido que a literatura visual/surda entra para servir como um apoio que faz o surdoposicionar-se, consciente da sua existência como pessoa inteligente, capaz de viver no mundo ouvinte. Através do ensino da literatura surda, que se vincula à discussão sobre cultura e identidade, a criança surda passa a conhecer de forma críticasua herança cultural, percebendo porque precisa compartilhar a língua de sinais, seusvalores, suas ações e características próprias de suacomunidade no universo literário.
5 Diante desse reconhecimento, elaboramos este artigo com o objetivo de abordar o ensino da Literatura visual/surda no ensino fundamental. Para tanto, são objetivos específicos:
? Verificar o valor da imagem no texto literário adaptado para a literatura surda.
? Conhecer as contribuições da literatura visual para as crianças surdas do ensino fundamental.
? Demonstrar a importância da literatura para alunos surdos e ouvintes.
? Adquirir conhecimentos básicos sobre o desenvolvimento da literatura na vida dos surdos.
Para a consecução dos objetivos, partimos da investigação de alguns estudos desenvolvidos por pesquisadores, a exemplo de Morgado(2011) Possebon; Peixoto (2013), Karnopp(2010), Goodman (1995), entre outros. Nesse sentido, discutimos algumas questões relacionadas ao assunto estudado, como os conceitos de literatura surda e visual. Por fim, apresentamos um breve relato de uma experiência que desenvolvemos em nossa experiência enquanto professora numa sala de AEE (Atendimento Educacional Especializado).
2 -LITERATURA SURDA: CONCEITOS A expressão "literatura surda"refere-se às "histórias que têm a língua de sinais, a identidade e a cultura surda na narrativa" (KARNOPP, 2010, p. 161).
Trata-se da produção de textos literários em sinais, que expressa a experiência visual. Nessa concepção, a surdez é entendida como presença de algo e não como falta, permitindo outras representações de surdos e considerando as pessoas surdas como um grupo lingüístico e cultural diferente.
A autora portuguesa Marta Morgado define literatura surda como "aquelas que são contadas em língua de sinais, sejam frutos de tradução ou não, podendo ter um tema relacionado com surdos ou não". Ela não precisa ser contada exclusivamente em língua de sinais, ou seja, ela também pode ser escrita, porém, o tema deve ser relacionado aos surdos (MORGADO, 2011, p. 21, apud BARBOSA, 2013).
6 O surgimento da literatura surda ocorreu de maneira natural de maneira simultânea ao uso da língua de sinais,inicialmente onde havia escolas de surdos, local em que crianças e jovens surdos se comunicavam com maior frequência.
 Os significados são modificados dentro do círculo da cultura e partilhados em forma de discursos. Trazem histórias, modelos, valores históricos através de gerações de surdos. Na maioria das vezes, essa comunicação acontecia às escondidas, já que o uso da língua de sinais foi proibido durante muitos anos (MORGADO, 2011, p. 27).
Há uma estreita relação entre a literatura surda e a história do povo surdo.
De acordo com Strobel (2009, p. 61), a literatura surda "traduz a memória das vivências surdas através das várias gerações dos povos surdos." Nesse sentido, o conhecimento da história dos surdos, de suas lutas pelo reconhecimento da língua de sinais, de sua identidade e de sua cultura permite uma melhor compreensão da sua literatura. Durante muito tempo, os surdos não tiveram o direito de expressar seus sentimentos e mostrar seus talentos literários, por causa do preconceito e rejeição da comunidade ouvinte que os tratava como seres sem alma, sem sentimentos, sem condições de aprender e incapazes de levar uma vida social normal.
Para Goldifeld (1997), a crença de que a pessoa com surdez era uma pessoa primitiva fez com que persistisse até o século XV a ideia de que ele não poderia ser educado. Sendo assim, tais pessoas viviam totalmente à margem da sociedade e não tinham nenhum direito assegurado.
No passado, os surdos contavam suas histórias em língua de sinais, porém não registravam em livros, muitas vezes por falta de oportunidade ou por não saber escrever. A presença constante do oralismo ofuscava as habilidades literárias dos surdos impedindo-os de mostrar seus direitos e defender sua identidade, poucos se desenvolveram no meio educacional, pois as escolas eram desprovidas de materiais didáticos produzidos em Língua de Sinais. Com o reconhecimento da pessoa surda como seres humanos capazes e após a legalização,houve um grande crescimento das línguas de sinais. Através desse crescimento, os surdos criaram sua própria cultura focando no desenvolvimento da comunicação e aprendizagem no espaço visual.
7 Apesar de todas essas dificuldades, mesmo antes de se fazerem gravações de histórias surdas em vídeo, os surdos encontravam-se em associações, festas, reuniões, etc. Nesses eventos, contavam histórias, piadas e outras produções.
Mesmo não havendo registro filmado, essas produções já faziam parte da literatura surda, que, conforme Karnopp (2010, p. 171), envolve "histórias produzidas em língua de sinais pelas pessoas surdas, pelas histórias de vida que são freqüentemente relatadas, pelos contos, lendas, fábulas, piadas, poemas sinalizados, anedotas, jogos de linguagem e muito mais".
Atualmente, a literatura infantil para surdos aos poucos começa a aparecer.Embora as dificuldades existam, os escritores surdos e ouvintes que se interessam pela aprendizagem e desenvolvimento da literatura surda, e têm se esforçado bastante para expandir o universo da literatura visual. A literatura surda começa a surgir no ambiente escolar, mostrando que os surdos estão ansiosos para serem reconhecidos como pessoa que produzem em qualquer lugar. A literatura surda é um canal de comunicação, muito importante para afirmação dos costumes, tradições e libertação.Entre os gêneros literários encontram-se piadas, anedotas, fábulas, contos de fadas, adaptações de vários gêneros como romance, lendas e outras manifestações culturais. Alguns textos são originais, surgidos e produzidos das histórias e das idéias existentes na comunidade surda:
percebe-se que os surdos contadores de histórias buscam o caminho da auto representação na luta pelo estabelecimento do que reconhecem como suas identidades, através da legitimidade de sua língua, de suas formas de narrar as histórias, de suas formas de existências, de suas formas de ler, traduzir, conceber e julgar os produtos culturais que consomem e que produzem (KARNOPP 2010, p. 172) No ambiente familiar, a literatura passa dospais para os filhos criando uma cadeia de comunicação afetiva que deixa incrustada na memória, histórias alegres, tristes, boas e ruins, fatos que não são esquecidos e que irão contribuir para a formação social/educacional da criança surda, pois a família é o apoio e a base de tudo, é a primeira escola na vida da criança, ou, pelo menos, deveria ser.
Sem a participação dafamília, o surdo não consegueaprenderem não podem torna-se um bom leitor visual. Por esse motivo, a família, em parceria com a escola, deve proporcionar meios que estimulem a utilizaçãoda LIBRAna comunicação entre surdos e ouvintes.
8 No caso da família de surdos ser constituída de pais ouvintes, em geral, há uma maior dificuldade em comunicar-se. Muitas vezes, busca-se a oralização, chegando-se, em muitos casos, ao desrespeito às suas diferenças e à negação de sua cultura e de sua identidade. Por outro lado, nas famílias de pais surdos, o ambiente é mais propício ao desenvolvimento infantil, uma vez que a Língua de Sinais é adquirida de forma natural e a cultura surda é preservada.
Para WillIams e Mclean (1997), as crianças surdas que têm contato com textos infantis ilustrados e em Libras têm mais habilidade para repassar as ações e emoções dos personagens através de desenhos e gravuras. As imagens são excelentes recursos visuais para contar histórias e entender os acontecimentos ocorridos no passado, levando a criança a discutir, pesquisar e mostrar seu ponto de vista a respeito do que mais chamou a sua atenção, mostrando a capacidade que cada uma possui de pensar, criar e expressar sua opinião. Além disso, ajudam o aluno a identificar os personagens, compreender mais rapidamente o contexto da história que está sendo narrada.
As imagens apresentadas nas histórias infantis atuam como fonte de incentivo para despertar na criança o interesse pela leitura, levando-a a interagir livremente na busca pelo sentido da história através da imagem apresentada.
Percebe-se a dificuldade que a criança sente em fazer a leitura de imagem, por isso professor precisa ter em mãos figuras expressivas que estimulem o entendimento dos alunos surdos ao contar uma história para os colegas na Língua de Sinais, Exemplo: livros sem palavras que contêm apenas as imagens sequenciadas.
A ilustração é parte constituinte das publicações endereçadas às crianças. Ela suplanta essa condição, apresentando-se como a matéria principal do livro, a que subordinam a palavra e a temática. A produção brasileira, representada por artistas como: Ziraldo, Juarez Machado, Angela Lago, Elvira Vigna e Eva Funari, chegou a um nível de excelência que a fez merecedora de toda a consideração. (ZILBERMAN,2005,p.163) Verificar uma imagem é fazer uma leitura analítica, descrevendo por parte toda ilustração com competência e riqueza de detalhes. Cabe ao professor instigar o aluno para o ato de trabalhar o imaginário e o querer registrar sobre sua comunidade e sua língua.

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