A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO ALUNO

 

 

 

Benedito Damaceno da Silva

INTRODUÇÃO

 

Nos últimos anos é grande a preocupação dos profissionais da área da educação quanto a formar na criança o interesse pela literatura, estes creditam que este hábito deve ser iniciado desde muito cedo, principalmente, na pré-escola, esta preocupação vem ganhando destaque entre os professores que sabem que a leitura vai além da decodificação de signos.

Desta forma esta pesquisa tem como propósito refletir de forma crítica sobre esta prática nas salas de aulas, e como conceituar a história infantil, observar que os alunos dizem sobre o ato de contar histórias, fazer uma breve concessão sobre literatura infantil. E para a obtenção de nossos objetivos, efetivou-se uma pesquisa bibliográfica verificando o que as teorias dizem a respeito deste tema. Em seguida foi feita a pesquisa de campo.

Na intenção de direcionar este ato para a formação de um aluno crítico, ouvinte e participativo, capaz de transformar a realidade existente, é que se busca entender a importância deste processo na vida do educando atual. E finalmente, deu-se a analise dos dados levantados na pesquisa de campo para verificar como está à situação das histórias infantis e que concepção os professores tem da mesma.


DESENVOLVIMENTO

Conceito de literatura infantil

O Dicionário de Língua Portuguesa Ximenes (2001, p.544), traz em seu contexto que o conceito da palavra “literatura”, diz respeito ao ato de produzir obras em “prosa ou verso”. É conjunto de obras literárias de um país ou uma época. Qualquer dos usos artísticos da linguagem. Então, entende-se que a Literatura vai além da leitura, atingindo a interpretação, cuja idéia principal é tornar o leitor capaz de produzir e reproduzir aquilo que está à sua volta. E que literatura não é somente voltada para a escrita e o ato de ler, mas sim toda e qualquer atividade que esteja ligado ao pleno desenvolvimento de um indivíduo. Nesse contexto, vemos que:

A Literatura não se situa no território de sombras de uma tradição de cultura falida, algo feito para fruição e enfalite; ela é conhecimento produzido historicamente. Além de ocupar, na prática cultural, um lugar de privilegio como exercício de liberdade, de inquietação e perplexidade. (FILHO, 1991, p.16)

Percebe-se na citação acima que o autor, conceitua que a literatura faz parte de uma cultura viva, portanto, que não foi criada para servir de enfeite nas escolas e bibliotecas. Afirma ainda que, a mesma é um recurso que pode introduzir o individuo no mundo da leitura, tornando-se capaz de refletir e agir sobre aquilo que está posto à sua frente, conduzindo-a a criatividade, que é um objeto primordial da escola.

A Literatura é uma forma de conhecimento da realidade que se serve da ficção e tem como linguagem artisticamente elaborada. Este conceito é bastante produtivo e nos servirá como referência ao longo de nosso estudo, pois ele, além de corroborar a conceituação de Wellek e Warron, a ampliar no sentido de inserir a idéia de conhecimento da realidade. (EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, 2006, p.10)

Através da leitura são executadas várias formas de transmissão de conhecimentos, a literatura é uma escrita que geralmente está baseada na realidade concreta. Sabemos que há outras formas de ver a realidade, mas que o conhecimento dessa realidade vai depender da forma que cada um a vê. Assim sendo, deduz-nos a pensar que o ser humano tem uma forma diferente de enxergar e compreender a realidade.

A literatura é expressão artística que serve como meio de cartazes e sublimação para os anseios, angústias, conflitos e buscas do homem. Faz, então, emergir uma liberdade de espírito, algo como deixar acontecer às coisas do mundo, sem o compromisso da culpa. Mas, está para além de cartazes e da sublimação, porque é capaz de tornar-se a própria vida. Por isso, não podemos perder de vista o caráter literário como fazendo parte do poético, objeto de um trabalho realizado no logo de palavras, ritmo, sonoridade, que já compõem e criam uma realidade própria, embora esteja, sobretudo, em busca de instaurar outras realidades. (CAVALCANTI, 2002, p. 12)

A literatura é tudo aquilo que possa servir para desenvolvimento do ser humano em relação às competências necessárias para resolver os conflitos oriundos de seu cotidiano. E por meio dela a pessoa pode se colocar dentro da história como um dos personagens da obra escrita ou até mesmo, de teatros ou cinemas.

Comumente nos deparamos com situações que no momento em que estamos ouvindo, contando ou assistindo uma história, temos a sensação de que tal história é muito parecida com que está vivendo atualmente. Neste momento o ouvinte, espectador ou leitor deixa sua realidade esse introduz num mundo de faz-de-conta.

Acredita-se que através de uma história contada corretamente utilizando-se de todos os meios artísticos e de comunicação, seja capaz de transportar o ser humano para um repleto de conhecimentos, esse processo que envolve a literatura é uma das formas estar formando futuros cidadãos viventes e sabedores de seus direitos e deveres.

Ressalta-se aqui a importância da Literatura Infantil e Juvenil, pois está intimamente ligada à educação onde busca transformar as crianças e adolescentes em leitores capazes de criar e recriar sua realidade.

Histórico da Literatura Infantil

A Literatura Infantil apareceu durante o século XVII, época de grandes mudanças na estrutura da sociedade e ocorreu com a influência da ascensão da família burguesa, do novo “status” concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Sua ascensão deveu-se, em primeiro lugar, à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram elaboradas para se converterem em instrumento.

Na segunda metade deste século se caracterizou pela Literatura Infantil pura sem preocupação didática. Mas, conseguindo agradar simplesmente pela arte, despertar o interesse e prender a atenção da infância. O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil em nosso século foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a inteligência como grande elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança ou do meio em que ela vive.

No século XIX, a criança começa a ser considerada pelas ciências psicológicas, sociológicas e educacionais como um ser diferente do adulto, com capacidade e necessidade próprias ao seu gradativo desenvolvimento, bem como, gosto. A história da literatura infantil como de outras literaturas, vem sendo muito discutida nas escolas brasileiras, pois como a história do Brasil, esteve muito ligada a outros países, acredita-se que os mesmos trouxeram influências tanto na vida social, quanto no campo educacional de todos s brasileiros. De alguma forma, pertencíamos a Portugal anteriormente e este país influenciou em muitos aspectos na cultura brasileira propriamente dita.

O fato de o Brasil ser uma ex-colônia de Portugal irá influenciar bastante na formação de uma literatura autenticamente brasileira. Esse comentário engloba a Literatura brasileiraem geral. Durantemuito tempo, a Literatura para adultos que era feita no Brasil apenas dava conta de reproduzir os modelos europeus e nada, ou quase nada, tinha de brasileira: os temas, o comportamento dos personagens, os valores e as crenças, além de a estrutura narrativa, eram todas importadas, como também, era importada a visão que se tinha do Brasil e do seu povo. (EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, 2006, p.59)

Acredita-se que a Literatura tenha sua origem na literatura européia, devido o caso do Brasil tem na sua história elementos que comprovam sua colonização por Portugal. Portanto, por algum tempo os escritores brasileiros apenas reproduziam o que era escrito pelos portugueses, deixando assim, a Literatura de nosso povo.

Sendo assim, podemos afirmar que a Literatura brasileira era empobrecida, pois funcionava como uma cópia baseada em todos os aspectos da Literatura européia.

O escritor Monteiro Lobato deixou uma grande herança literária, pois em suas obras buscava sempre enfocar o cotidiano brasileiro como, por exemplo, a “venda de seu nagibi”, “a vida no campo no sitio do pica-pau-amarelo”, nestes personagens pode-se perceber claramente que o passado está ligado na realidade presente e que o escritor ao contar as histórias de seus personagens cria meios de seus leitores entenderem suas necessidades através da sua literatura.

Devido a personagens como o “saci”, a “cuca” entre outros fez com que suas obras literárias se tornassem sucesso imediato entre os pequenos leitores, a realidade comum e familiar, a crença, e seu cotidiano é muito presente nas obras do escritor, isso tudo com muita naturalidade.

No entanto, só após a década de 70 houve um grande desenvolvimento da Literatura para crianças, com a entrada de grandes editores e editoras no mercado.

Ouvir histórias é uma das grandes atividades mais importantes do currículo pré-escolar. A história deve ser uma atividade de rotina, isto é, deve ter seu tempo reservado diariamente no horário da pré-escola. Deve ser apresentada sob diferentes técnicas como teatrinhos ou apenas contadas com auxílio do livro ilustrado. (RIZZO, 2002, p.202)

Em relação aos contos e fábulas, o Brasil, como foi dito anteriormente, teve como ponto de partida o ilustre escritor Monteiro Lobato. Suas obras até os dias de hoje tem atendido às expectativas das crianças e também dos adultos, no que se refere a uma leitura prazerosa.

A leitura de histórias pode ser uma forma de brincar com palavras e figuras e é uma atividade prontamente prazerosa para crianças e adultos, além de proporcionar uma rica fonte para a imaginação, pois as histórias transportam o ouvinte para uma viagem onde palavras novas são aprendidas e são ouvidas e contadas as culturas e conhecidas. (REVISTA DO PROFESSOR, 2008, p.9)

Portanto, quando uma criança ouve uma história, esta começa um processo de transporte para outra realidade criada e interpretada por ela, pois não é somente através das letras que lêem ou contam uma história, mas também pela sua imaginação pode contar utilizando figuras e outros meios que pode ajudá-las a interpretar teatralmente todos os mistérios contidos no texto.

Mas, para que isso ocorra, é preciso que haja uma preocupação por parte dos responsáveis por contar essas histórias, no caso estamos falando dos professores, quanto ao conteúdo nelas existentes e como a criança irá entendê-la.

A história é um dos espaços mais significativos para que se aprenda a caminhar com largueza e criação, portanto uma historia, quer seja como, lenda ou mito é sempre um “presente de amor” que se oferece às crianças e aos adultos também, pois da relação de intersubjetividade entre o texto e o leitor existirá sempre uma grande possibilidade de encontrar caminhos que nos ensinem alguns segredos de alma e da vida. (CAVALCANTI, 2002, p.18)

Sabe-se que a história influencia a criança em todos os aspectos relativos à educação, portanto, deve possuir a grata finalidade de educar, pois, esta influência ocorre nas áreas da afetividade, da sensibilidade e do sentimento.

Através do ato de contar história, o professor consegue desenvolver a leitura e a compreensão do texto, bem como o desenvolvimento da inteligência, e a aprendizagem.

Pode-se afirmar que o educador, seja qualquer área for, necessita primeiramente desenvolver em si próprio seu espírito de artista, e conhecer os conceitos e técnicas de contar história de forma que possa transmitir a sensibilidade, e conseguir a empatia com publico de forma total, a ponto de que todos prestem muita atenção na sua história, desta forma estará levando a criança ou adulto a  um mundo de fantasias.

Envolve mais facilmente o leitor, que o discurso indireto, que faça a cargo do narrador. Por tudo isso, se bem feita, numa linguagem realmente oral e adequada às características da personagem e a situação, o dialogo dá um grande realismo à cena. .(CUNHA, 2003, p.98)

Pode-se observar, portanto, que ouvir e contar histórias é entrar num mundo encanto, trabalhando a imaginação da criança, fazendo-a viver um momento de gostosuras e prazer. Isto provoca na criança várias emoções, parecendo que a história é verdadeira.

O ato de contar histórias constitui fator importante na formação do leitor, uma vez que serve de motivação à leitura, as crianças sentem necessidade de aprender a ler, para lerem sozinhas e terem acesso ao mundo encantado das histórias. Além disso, desenvolve a criticidade e a realidade da criança, tornando-a um cidadão crítico, capaz de ler tudo  que a roda. Conforme afirma                             Abramovich:

É através de uma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, geografia, filosofia, política, sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e, muito menos, achar que tem cara de aula... Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer e passa a ser didática, que é outro departamento, não tão preocupado em abrir portas da compreensão do mundo. (ABRAMOVICH, 1993, p. 17)

Então, contar histórias é um ato necessário, pois é através deste ato que a criança consegue se integrar no mundo de forma participativa. Entende-se que contar e ouvir histórias abre o leque do entendimento da criança.

A Literatura Infanto-juvenil tem suas raízes históricas na tradição oral, portanto, a oralidade é de grande importância no momento de “entrada” da criança no mundo da leitura. Mas, também é fundamental que a criança possa perceber que a narrativa oral tem sua representação  na escrita e em outras formas de expressão. (CAVALCANTI, 2002, p.72)

Entender a realidade fazendo uma relação com o que está escrito irá contribuir para o crescimento da criança, tendo em vista que poderá despertar o hábito de ler. É necessário que o indivíduo coloque em prática o exercício da leitura, pois é o caminho certo para chegar ao ponto da criticidade, conforme afirma o Referencial Nacional Curricular:

Contar histórias costuma ser uma prática diária nas instituições de educação infantil. Nesses momentos, além de contar, é necessário ler as histórias e possibilitar seu recanto pelas crianças. É possível também a leitura compartilhada de livros em capítulos, o que possibilita às crianças o acesso, pela leitura do professor, a textos mais longos. (RECNEI, 1998, v.3, p.153)

O bom de contar histórias é também porque as mesmas levam as crianças a descobrirem palavras novas, envolverem-se umas com as outras, promovendo a socialização e melhor aprendizado no grupo, o qual o trabalho está sendo desenvolvido.

O ato de contar histórias exige que o professor utilize expressões adequadas a cada história. Desta forma, consegue se aproximar mais a criança do mundo imaginário, onde o mesmo criará o cenário próprio e individual da história contada. Sem dispensar a dramatização das falas dos personagens, como afirma Cunha:

Assim a narração é mais agradável ao espírito infantil. Com relação às falas e aos pensamentos dos personagens, a melhor apresentação é através d discurso direto. O dialogo predominante no conto, em geral, torna-se mais necessário ainda para a criança: ela atualiza a cena, presencia os fatos. Suscitar o imaginário é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as personagens fizeram). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos – de um jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não), pelos personagens de cada história (cada um ao seu modo). É a cada vez ir se identificando com outros personagens (cada momento que corresponde aquele que está sendo vivido ela criança)...e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas [...] (ABRAMOVICH, 1998, p.17)

Pode-se perceber que atualmente muitos educadores vem retomando esse ato prazeroso de contar histórias, e o interessante que podemos observar é que a literatura infanto-juvenil tem maior atração na literatura oral, envolvendo, muitas vezes, até o público adulto, pois o ouvir histórias não é um ato intelectual, mas afetivo.

O cenário de se contar histórias em nossos dias mudou, hoje esta arte da literatura infantil tem se tornado recurso primário, pois tem dado ao professor a chance de colocar as crianças em vários tipos de trabalhos com a leitura de história infantil, conforme afirma Coelho:

Há quem conte história para enfatizar mensagem, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem “se ficarem quietos, conto uma história”. Se isso, se aquilo... Quando o universo funciona. A história aqueita, serena, prende a atenção, informa, socializa e educa. (COELHO, 1998, p.12)

Existem inúmeras formas de contar histórias em meio a tudo isso, mas o importante e o valor da história no processo de socialização da criança. A criança precisa perceber quando contamos uma história que a mesma não é somente oral, mas escrita em algum livro, em outras formas de expressão, pois se entende que ler não somente codificar e decodificar escritas.

Nesse contexto, Cavalcanti afirma que:

Ler é um prazer. São possibilidades infinitas de descobrir o mundo, os outros, os adultos, cavalgar nesse mundo através do imaginário, da brincadeira, do faz-de-conta. São respostas novas, perguntas, achados de questões perdidas. É buscar, é procura, é divertimento, é vibração, pura emoção. (OSTETO, 2002, p.173)

Ler é contar história, é viver o que o autor escreveu. O adulto deve participar desse momento de lazer. Também é renascer o imaginário para matar a curiosidade.

Toda criança passa por esse momento e todo adulto também já passou. Seria necessário e ao mesmo tempo bom que o professor tivesse o hábito de contar histórias utilizando-as como um dos recursos mais importantes em seu trabalho conforme afirma Fidelis:

Uma história é fácil de ser contada e não requer material, apenas disponha a fazê-lo. A história, portanto, é um recurso barato e pode ser contada a qualquer momento e de preferência diariamente, pois ela forma o gosto pela leitura. Os professores ensinam as crianças a gostarem de histórias desde que sejam apropriadas à idade e interesse delas e muito bem contadas digamos, até mesmo muito bem interpretadas, de uma forma teatral, vivenciando cada personagem. (FIDELIS, 2005, p.50)

Portanto, pode haver uma interação entre contar história e a brincadeira, pois os jogos e brincadeiras infantis desenvolvem a inteligência da criança, isso porque em muitas brincadeiras são utilizadas várias formas de contar uma história, como por exemplo, a cantiga de roda “fui no Itororó” ou “Terezinha de Jesus”, etc. Essas cantigas trazem em seu conteúdo história que levam a criança a imaginar tudo que vem ocorrendo com os personagens, e muitas dessas crianças utilizam da interpretação teatral para contar  e cantar essas cantigas.

Nos últimos anos mudou o cenário da Literatura, da mesma forma aconteceu no Brasil. Acredita-se que por necessidade de uma literatura cultural ampla começou então a aparecer às cobranças por parte de professores, no que se refere à Literatura propriamente dita. Desta forma:

A democratização da leitura passa por várias etapas, muitas delas sempre praticáveis pela universidade ou pelo professor. Dizem respeito antes a uma política cultural que torne o livro acessível e econômica que habilite a população ao consumo de obras artísticas. Porém, depende igualmente de uma decisão do professor, a facultar a entrada da literatura, dessacralizada, mas também, despida de intenções segundas, em sala de aula. Talvez então as pessoas leiam ou produzam textos, sem constrangimentos e com grande gosto. (ZIBERMAN, 1991, p. 144)

Neste sentido, a Literatura foi e é também uma prática que deveria ser cobrada dos acadêmicos nas faculdades. Subentende-se que através de suas leituras, os escritores colocam as ansiedades do leitor em situação de busca para uma solução. Outro aspecto é a diversidade de leitura com que o leitor tem se deparado. Essa diversidade é um caminho para aflorar o prazer pela leitura. Convém ressaltar que a leitura deve estar paralela a idade e que a criança pretende com determinada leitura.

Características das Histórias Infantis

Tudo começa com a frase: ERA UMA VEZ, isso desperta uma curiosidade na criança que leva a prender sua atenção buscando saber o que vai acontecer depois, ou até mesmo induz a criança a participar criando novos rumos para os personagens.

O Contador de histórias não pode ser inibido, precisa viver a história, pois é fato confirmado que ao contar uma história de maneira “seca”, sem expressão, sem trejeitos, as crianças logo se dispersam. Mas, quando o contador, começa a interpretar os personagens, fazendo caras e bocas, o som de uma porta, o relinchar de um cavalo, a voz do malvado, surte muito mais efeito, pois transporta quase que de imediato a criança para o mundo da fantasia.

Portanto, desde seu inicio a história, quando bem contada, o professor consegue dominar sua turma, prendendo a atenção para o que as crianças vão ouvir.

Logo após esta introdução, o professor começa a conhecer as histórias, fazendo a apresentação dos conflitos, uma característica que exige também cuidado do contador de história, pois segundo Rizzo (1998, p.205):

A descrição da situação inicial de local, época e personagem, seguem-se imediatamente à introdução gradativa dos conflitos gerados pelos personagens. Esse “miolo” é exatamente a sucessão de episódios que constituem a história. Ela durar o tempo necessário para a apresentação de toda a trama da história, mas o contador precisa ser hábil em manejar o tempo para não se prolongar, além de 10 minutos nessa apresentação. E sua voz precisa modular em altura, intensidade e velocidade, de acordo com a ação dos personagens, do contrário, ele não transmitirá o sentimento necessário à manutenção da criança “dentro da história”, isto é, inteiramente absorvida e ligada à ação dos personagens.

Quanto mais lúdico for o trabalho do professor, mais possibilidades terá a criança em desenvolver habilidades diversas, conforme afirma Fidelis:

Através do lúdico, a criança resolve problemas, desenvolve a linguagem e suas reações pessoais. Brincando desencadeia o seu próprio desenvolvimento, construindo o adaptando às mais diversas formas de conhecimento. A partir do brincar, portanto, desenvolve habilidades cognitivas que não só dependerão do conhecimento e pericia específicos, mas também do ambiente que facilitará o processo do brincar. (FIDELIS, 2005, p.23)

A atividade lúdica tem como objetivo atingir diretamente a criança, pois é uma única atividade que desperta inúmeras outras formas que todas tem significado muito amplo para a criança. O que mais interessa ao professor é a harmonia gral da criança, concedida isso através do simples ato de contar histórias infantis.

Assim, o brincar tem o gosto de desenvolver o que conhece, pois cada brincadeira inventada tem sempre algo a acrescentar, a relembrar e, às vezes, relembrar o passado. São várias formas de brincar, mas seja qual for, faz-de-conta, a imaginação da criança é melhor. Brincar é algo que deve levar o brincante a desenvolver com satisfação a descoberta, conforme afirma Abramovich:

Brincar é imaginar e comunicar de uma forma específica, que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser a personagem, que uma criança pode ser objeto ou animal, que um lugar faz-de-conta que é outro. (ABRAMOVICH, 1999, p.58-57)

Daí a importância do brincar, contar e ouvir história na vida da criança, onde a mesma vive no mundo de fantasia e imaginação. Desde muito pequenas as crianças são mergulhadas no maravilhoso mundo do conto de fadas, mesmo antes de entrarem para escola. O conto de fadas é uma forma especial de contar história.

O ato de contar histórias

Para se contar uma história, não precisa ter idade certa, desde que bem elaborada e bem contada agrada, chama à atenção e cativa qualquer pessoa. Todos nós já fomos criança um dia, portanto, também já viajamos muito em nossa imaginação, desta forma fica fácil entender os anseios da criança e contribuir de forma significativa na certeza de que essa criança não tenha sua infância prejudicada, pois, muitas coisas importantes só são adquiridas nesta fase e por isso esse momento é bastante importante na vida da pessoa. Essa viagem é prazerosa e nos dá a sensação de alegria. Contar histórias precisa ter este sabor. Conforme afirma Coelho:

A força da história é tamanha que narrador e ouvinte caminham juntos na trilha do enredo e ocorre uma vibração recíproca de sensibilidade, a ponto de diluir-se o ambiente real entre a magia da palavra que comover e enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela, ficando magicamente envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico, que é estimulado pelos enredos. (COELHO, 1998, p.11)

Contar histórias é um elemento amplo na vida da criança e até mesmo dos adultos com a vida real. A preocupação dos adultos em contar histórias já vem de muito tempo atrás, isto acontece na intenção de transmitir alguma coisa para a criança. Antes da linguagem escrita, esta já é uma atividade valorizada pela família, a qual se comunica para dentro das escolas, para o aprender das crianças.

Tem-se observado que o contar histórias é uma atividade que pode desenvolver habilidades para as crianças desde os seus primeiros dias escolares, até se tornar adulto.

O ato de contar histórias na educação infantil

É maravilhosa a idéia de que através da imaginação muitas coisas são suscitadas. O ler e interpretar a partir do que ouve o descobrir de um mundo em que tudo é novo e de que vida é uma descoberta. Isso tudo é fantástico e nos faz ver que contar história não é somente fazer e sim fazer valer o que se diz por que podemos estar encantando ou não. Desta forma, ler e ouvir histórias são uma atividade de linguagem. Mesmo voltando ao real, o professor precisa dar suporte à imaginação da criança, não deixando que isso se perca. Ora, é claro que a criança também é um ser que pensa e para isso o professor precisa estar ao seu lado e quando vierem as perguntas constantes por parte da criança, o mesmo fornecer a ela aquilo que quer saber.

Portanto, como ator ou ouvinte, as histórias infantis precisam ter esse contato. Sendo assim, viajando em fantasias e imaginação, podemos proporcionar alegria e sermos beneficiados também. Marcante é também o que a autora chama de desfecho final, sobre o qual a autora aponta:

Desfecho final é o momento que antecede a volta á realidade e produz o total alívio de tensões produzida durante a narrativa e, por esse motivo, desperta sensações de alegrias, prazer, felicidade, ânimo e bom humor. É o que a história infantil deve obter: satisfação do psiquismo infantil. (RIZZO, 1998, p.205).

Observa-se que a autora coloca de forma muito especifica cada uma das características que possui uma história infantil. E ainda sobre os cuidados que devemos ter desde a introdução da história, passo a passo, até alcançar o final e trazer a criança de  volta à realidade, momento em que esta deixará o mundo do faz-de-conta, deixando de lado as fantasias.

Sobre esse momento RISZZO (1998, p.205), afirma:

A volta à realidade deve ser feita com toda a habilidade que a criança precisa ter para deixar seu mundo do faz-de-conta e renunciar ás suas fantasias. A jardineira faz isso voltando a usar seu tom de voz habitual, dirigindo-se às crianças chamando-as pelo nome e fazendo um levantamento das opiniões delas sobre os personagens, a trama e o final da história [...].

Geralmente há professores de Educação Infantil que se destaca mais que outros, pois são aplicados e dedicam-se totalmente à sua profissão, fazendo com amor tudo aquilo que lhe cabe fazer. Neste momento, torna-se um artista, pois sobre seus cuidados está ligada uma função muito importante na vida das crianças despertarem o prazer pela leitura infantil pode ser conduzida de uma mensagem paralela á mensagem falada, conforme afirma Bettelheim:

O conto de fadas é orientado para o futuro e guia a criança e termos que ela pode entender tanto na sua mente inconsciente quanto consciente a abandonar seus desejos de dependência infantil e conseguir uma existência e conseguir uma existência mais satisfatoriamente independente. (BETELHEIM, 1978, p.19).

É fundamental a importância do conto de fada na vida da criança. Isso traz um conforto e independência, pois, à medida que a criança cresce e passam pela infância, muitas são suas imaginações. A partir de contos e histórias, a criança desenvolve melhor seu conhecimento. Estas histórias descritas desta forma parecem simples, mas podem não sê-lo, já que não há quem não se emocione com um conto de fadas bem contado, ilustrando e contendo comparações com a realidade onde nem tudo termina num finam feliz.

Cada criança tem uma forma diferente de compreender a história e criar sua imaginação própria, isso quer dizer que a mesma história toma rumos diferentes, de acordo com a imaginação do ouvinte, e contribui para desenvolver a criatividade e a imaginação da criança, despertando seu mundo de fantasias e suas alegrias. Sobre isso Fidelis afirma que:

A história faz com que a criança seja transportada a outros mundos, faz com que ela sonhe ser o personagem principal, ficando forte desta maneira, sentindo-se importante. A história  serve, também, para resolver pequenos conflitos, pois a criança transporta para a realidade fatos contados, podendo compreender melhor seus problemas e até mesmo tentando solucioná-los através das histórias. Ela passa a compreender o que com ela também pode acontecer com outras pessoas. (FIDELIS, 2005, p. 50).

Ouvindo história, muitas coisas podem se passar na imaginação de uma criança. Ela viaja, se admira, se encanta. Tudo isso se dá por causa desta arte que é encantadora. Conforme afirma Rizzo:

A história é, portanto, um poderoso recurso de estimulação do desenvolvimento psicológico moral que pode ser usado quando bem selecionada, adaptada ás necessidades psicológicas e afetivas da criança, como recurso auxiliar da manutenção da saúde mental do individuo em crescimento. (RIZZO, 1998, p. 204).

A pessoa que conta história passa a ter um papel fundamental na vida da criança, pois forma como essa história é contada pode levar a criança ao mundo que sua imaginação pode conduzir.

As histórias infantis estiveram e estão presente em nossas vidas muito antes da leitura e da escrita, isto é, nas cantigas de ninar, nas brincadeiras de rodas e no contar histórias. Para que isso aconteça, entende-se que o professor precisa estar ligado á criança e desenvolver seu trabalho com bastante clareza e alegria, tendo a criança.

Neste sentido, o que faz refletir, é que há uma necessidade muito grande de o professor planejar o que vai contar, pois assim, terá mais chance de prender o ouvinte á história.

Entende-se também que seria bom o professor verificar a questão do tempo, para que não se torne cansativo para a criança e esta venha a perder o interesse pela história. Outra característica que nos faz pensar nesse ato é o momento do clímax, pois conforme Rizzo (1998, p. 205):

O clímax se atinge quando o enredo chega ao máximo de intensidade. É certo que numa história pode haver vários pontos de suspense, mas o clímax supera a todos e exige a solução rápida e definitiva do problema apresentado. O contador de história para crianças pequenas não pode manter por mais de 5 minutos esse estado de suspense, pois ele gera um grau de tensão que se deteriorar em angustia.

Percebe-se que os cuidados ao apresentar e contar uma história para as crianças são várias. No momento em que o contador chega com a história, a criança está em estado de extrema curiosidade, pois quer saber o que  acontece com cada personagem.

Caso o professor segure por muito temo, ao invés de trazer ás crianças prazer em ouvir, transforma toda aquela alegria preservada até esse ponto em angustia, de forma que não vai conseguir prender a atenção e manter o interesse delas até o final. Isso a própria RIZZO (1998, p. 205) confirma: A resolução dos conflitos deve seguir-se imediatamente após a história atingir o clímax e deve ser rápida, pois de resolvidos os conflitos, a criança perde o interesse pelo desfecho da história. Entende-se que o prazer pela leitura nas crianças é despertado pelo professor desde a pré-escola até a fase adulta. Vale destacar que uma característica.

CONCLUSÃO

 

Levando em consideração que o ato de contar Histórias é a mais antiga das artes, elas são fontes maravilhosas de experiências. São meios de ampliar o horizonte da criança e de aumentar seu conhecimento em relação ao mundo que a cerca.

É através do prazer ou emoções que as histórias lhes proporcionam, que o simbolismo, implícito nas tramas e personagens, vai agir em seu inconsciente. Ali atuando, ajudamos, pouco a pouco, a resolverem os conflitos interiores que normalmente vivem.

Os significados simbólicos dos contos estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional, quando se dá a evolução, a passagem do eu para nós. A literatura Infantil, então, e principalmente os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo a sua volta.

As diferenças que mostram os personagens bons e maus, feios e bonitos, poderosos e fracos, facilitam à criança a compreensão de certos valores básicos da conduta humana ou do convívio social. Através deles a criança incorporará valores que desde sempre regem a vida humana. Confrontada com o bom e o belo a criança é levada a com eles identificar, por trazerem em si a semente da bondade e da beleza, identificando-se com heróis e heroínas, ela é levada a resolver sua própria situação, superando o medo que a inibe e ajudando-a enfrentar  os perigos e ameaças que sente à sua volta.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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REVISTA DO PROFESSOR.  Janeiro a Março de 2006, ano XXII nº. 65